sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Proseando sobre... O Segredo dos Seus Olhos


Uma velha máquina de escrever que falta a imprescindível letra A é tão próxima do protagonista que já não é mais jovem e também carece de algo em sua vida. Tal metáfora é simples de notar, e tal sentido favorece uma explanação da vida cujas paixões a movimenta. Assim, o argentino “O Segredo dos Seus Olhos” trata através de sua longa duração aspectos da existência, reais em sua composição, a qual inevitavelmente nos atinge por uma perspectiva óbvia: nossa afeição com as coisas e pessoas. O percurso escrito por seu diretor Juan José Campanella acompanha os passos de um homem, Benjamín Esposito (Ricardo Darín), escrevendo um romance baseado num crime que investigou há anos, relembrando não somente os detalhes de uma paixão interrompida, mas sua ambição romântica reprimida e seu olhar admirador e idealizador sobre um homem que dedicou meses em busca daquele que destruiu seu amor.

Trabalhando num tribunal penal, Esposito e um amigo, Sandoval (vivido pelo comediante Guillermo Francella), trabalharam num caso cuja solução rendeu-lhes apenas frustração. Uma bela jovem brutalmente assassinada, um crime passível de ser arquivado mas, ao conhecerem o marido viúvo, o bancário Morales (Pablo Rago), perceberam um luto dolorido, um sentimento de vingança não mortal, mas desejoso quanto a possibilidade do assassino sofrer preso e perceber uma vida vazia, dedicada ao nada. Nesse âmbito surge um questionamento sobre pena de morte por parte dos homens, corroborando o universo político argentino nos anos 70 – contexto histórico bem retratado por Campanella. Passado em duas épocas distintas, esta década e a de 30 anos atrás, o filme faz um salto no tempo com franqueza e desenvolvimento dinâmico, tornando a narrativa fluente e convincente aos espectadores.

Ao lado de Ricardo Darín, a atriz Soledad Villamil tem muito tempo em cena vivendo Irene Hastings, o amor de anos o qual Benjamín Espósito jamais ousou conquistar. São tantas as cenas que instigam uma possível abertura por parte da própria moça que aguardava alguma declaração do rapaz mesmo estando noiva, e sua decepção tão evidente não precisou ser dita em palavras. Quando o protagonista retorna muitos anos depois aposentado e pretendendo escrever um romance sobre o que vivera, encontrou-a casada e com filhos. O diálogo da dupla é sempre apurado vislumbrando o passado com coisas que simplesmente não aconteceram – e é bom perceber o quanto os olhares trocados salientam a paixão que se sentem, especialmente Esposito, vivido por um ator extraordinário, fazendo com que seu personagem seja incapaz de omitir o encantamento pela mulher.

A vida atropelou este casal e o retorno a Buenos Aires serviu apenas para reacender uma chama. Após um plano seqüencial num trem, tristíssima, somos levados diretamente à história. O ambiente temporal alcança os personagens, bem maquiados denotando os anos que lhe acometeram. Algumas peças soltas vão se juntando e o roteiro muito bem amarrado do diretor baseado no romance de Eduardo Sacheri, transfere toda informação com clareza e em alguns momentos, lança surpresas preparando o público para um grande final – talvez o melhor dos últimos anos. Tanta precisão faz da obra um trabalho próximo da perfeição, alinhando modestos lapsos da historia do país a um romance terno e a um homicídio nunca devidamente solucionado. Caso este que exprime a injustiça – a justiça não é justa – e leva a uma solução árdua. A sentença “...não fique pensando no que aconteceu, no que não aconteceu... senão vai ter mil passados, e nenhum futuro” faz todo o sentido. E a frase “peça a ele que ao menos, fale comigo!” dificilmente sairá da cabeça de quem assistir. 


4 comentários:

  1. Esse filme parece ser beem interessante :)
    Quando eeu tiver oportunidade irei ve-lo !

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  2. Realmente, parece ser ótimo :) Feliz 2011

    []'s

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  3. O template do seu blog é muito bacana. Gostei

    http://comentariosobrelivros.blogspot.com/

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