quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Proseando sobre... Ponto de Partida



 “Ponto de Partida”, disponível em DVD, é tão desregradamente triste que pode levar pessoas momentaneamente descontentes com a vida a entrarem num estado de plena angústia. Se o filme proporciona esse risco, ele também oferece consolo ao continuamente nos lembrar que todo mundo tem seus problemas. Para tanto, traz um ex padre aspirando suicídio; uma stripper ganhando trocados para tentar manter o filho vivo; um agente funerário asmático incapaz de gozar de um relacionamento; um ex presidiário com um tumor no estômago e um travesti acovardado pelos insucessos amorosos.

As vidas desses personagens se entrelaçam nas ruas de Los Angeles, alcançadas pela solidão, apunhaladas pela insegurança e pelo distanciamento. O clima dos mais lutuosos ganha bons momentos com trilhas que filtram e amenizam a dor desses personagens. Cercado de mistério, o filme conta com uma narração típica de múltiplas histórias, como ocorrido em “Magnólia” e “Crash – No Limite”, mas sem o ímpeto que fizeram desses dois filmes referências recentes do gênero. Se o diretor e roteirista Timothy Linh Bui não corresponde à eficiência de “Crash” e tampouco a complexidade tão bem amarrada de “Magnólia”, ao menos, ele acerta na frieza com a qual explora seus protagonistas, pendendo mais para as características do mexicano Iñárritu dos ótimos “Amores Brutos” e “Babel”.

No elenco recheado de estrelas, chama a atenção o empenho surpreendente de Jessica Biel, em seu papel mais ousado da carreira, provando não ser somente um rostinho bonito de Hollywood. Muito mais do que dividir créditos com um grande elenco, os melhores momentos do filme são dela, onde a nudez é um mero atrativo de sua tão viçosa protagonista. Ao lado da atriz, o carismático Forest Whitaker sintetiza ira e aflição, enquanto Ray Liotta volta a desempenhar um belo papel após alguns anos. Ainda aparecem Eddie Redmayne, Lisa Kudrow, Kris Kristofferson e o falecido Patrick Swayze, em um de seus últimos trabalhos, e talvez o mais atrevido.

Na aflitiva ordem dos acontecimentos de “Ponto de Partida”, onde esboços de sorrisos competem com lágrimas, esperanças parecem não faltar. E muito embora a esperança apareça como um reforço da tragédia, algo verdadeiramente bom pode sobrevir. Fundamentalmente triste, “Ponto de Partida” escorrega na sua simplista direção e na sua proposta de almejar alguma luz no fim do túnel, distante e turvo como a história em questão.  


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