segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Promoção: "Desenrola"

Será aceita uma resposta por perfil. Não esqueça de se identificar.
Atenção: Para concorrer tem que estar seguindo este blog.
Agradeço a Downtown Filmes e a Raccord pela parceria.

Boa Sorte!!!

Proseando sobre... Educação

 
Uma viagem aos anos 60 é o que propõe o filme “Educação” da diretora dinamarquesa Lone Scherfig, surpresa no Oscar 2010 e no Bafta concorrendo à categoria principal. Esse já é um motivo para olhá-lo com mais atenção e procurar o que o levou a ser tão considerado. Muito embora não tenha se destacado na noite da cerimônia, o longa ganhou alguns fãs que se identificaram de imediato com a protagonista Jenny e sua paixão repentina por um homem mais velho. O contexto é outro. Bem diferente dos tempos atuais, o roteiro explora uma Londres conservadora onde qualquer pretensão romântica é uma aventura. Seguindo os passos de “Pequena miss sunshine” e “Juno”, este “Educação” tem prestígio popular, sendo um filme bastante leve e de humor sensato, cativando o grande público pela simplicidade.

Jenny, ansiando por cultura, está querendo vencer barreiras em seu colégio. Disposta a conhecer gente que ofereça algum conhecimento a ela, desejo presente em seu discurso ao longo do filme, a garota se mostra centrada dentro das idealizações de seus pais ao dedicarem a ela um bom colégio para que se forme e vá para uma boa faculdade: o objetivo é Oxford. Questiona-se aqui a educação enquanto real possibilidade de vencer na vida, ainda mais para uma família que vive nos subúrbios da capital inglesa. Imediatamente destacada como uma das melhores alunas de sua classe no primeiro ato da película, Jenny ainda é violoncelista, instrumento que liga a protagonista aos elementos artísticos que tinge o filme; e ao amor que impulsiona a história. Num dia de chuva, ela acaba conhecendo David, um galanteador boêmio cheio de segredos, responsável por uma nova perspectiva da garota que irá desafiar um futuro aparentemente promissor.

Lone Scherfig tem em mãos uma história elegante, comum enquanto desenvolvimento de um relacionamento, mas que fomenta perspectivas femininas. As várias personagens da história têm papel fundamental no direcionamento de Jenny, agora confusa quanto suas ambições e seduzida por um partido atrativo, o qual em poucas horas lhe apresentou um mundo que sempre lhe pareceu distante. A inglesa Carey Mulligan, indicada ao prêmio de melhor atriz, mostra solidez em seu papel, atraindo olhares da mídia e apresentando ao grande público o talento de uma jovem e grande atriz. Sua filmografia faz jus a tal afirmação.  Ao lado de Peter Sarsgaard, Emma Thompson e Alfred Molina a jovem rouba a cena. “Educação” faturou o prêmio de melhor filme estrangeiro na premiação do Independent Spirit Awards e melhor filme de acordo com voto popular no Sundance Film Festival.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Coração Louco

 
"...pegue seu coração louco e lhe dê mais uma chance"

 A música country embala "Coração Louco", filme que deu o Oscar a Jeff Bridges em 2010. Tendo a música como um dos elementos mais brilhantes da obra do diretor estreante Scott Cooper, com letras melancólicas e sentimentais juntamente aos acordes do violão, o longa se revela ineficiente ao tratar do principal tema que pretende: a adicção de seu protagonista. Nem mesmo o talento de Bridges salvam a precipitação do roteiro do próprio diretor propenso a inocentar o cantor Bad Blake das consequências do abuso do álcool, embora, seu maior descuido tenha sido mais um breve momento de desatenção do que por culpa das bebidas - apesar da distração se referir a mais um dos vários goles de whisky.

A dependência é exaltada com enorme insistência, exibindo Blake constantemente sobre os efeitos da bebida que o consome o afastando do estrelato, condenando uma carreira de sucesso de um homem de meia idade encontrando em seu corpo maltratado prováveis doenças que seus excessos poderiam estar lhe acometendo. Bem mais grave do que aparece na história, as soluções do homem do coração louco é mais uma deficiência do roteiro de Cooper, apressando a trajetória do vício de seu protagonista, que agora também vive numa crise financeira. Se a forma como o alcoolismo aparece é problemática, a redenção do cantor ao menos se aproxima da realidade, buscando resolver assuntos que ficaram para trás e vivendo um amor que o inspira a querer melhorar. 

Maggie Gyllenhaal aparece como uma jornalista disposta a entrevistar Bad Blake. Um pequeno tempo de perguntas acaba numa turbulência introspectiva por parte do entrevistado, obrigando-lhe a adiar as perguntas para o dia seguinte, criando entre os dois um vínculo definitivamente fortalecido pela presença do filho da jornalista, o pequeno e carismático Buddy. Blake é o coração do filme, sugestão ideal do título, trazendo um cantor o qual outrora foi um grande sucesso, esquecido e fazendo shows menores em bares com a presença de alguns poucos restantes fãs. Com o tradicional romantismo dos filmes do gênero juntamente as baladas românticas dedilhadas no violão, se aproxima de um romance lá do início dos anos 90 num filme de relativo sucesso, "Pure Country", onde o personagem Dusty Chandler, vivido pelo cantor George Strait, emplacou sucessos próprios num filme que busca no amor um novo objetivo – no caso um homem de enorme sucesso esgotado pela fama.

É interessante o caminho trilhado, não muito distante do de Blake, apesar que em "Coração Louco" a realidade se descobre bem mais cruel. As locações deslumbram nos campos usuais da temática country, abusando dos contrastes do tempo e do pôr do sol. As músicas country ainda dão mais vigor, com o próprio Bridges assumindo o vocal. Longe de ser um dos grandes filmes do ano, “Coração louco” empolga o romantismo a partir de uma história simples, mas bem narrada e interpretada. Num encontro de grupo do AA, edifica simbolizando o resultado de suas ações com as coisas que Blake já não pode mudar. Jeff Bridges está impecável e faz do filme maior do que realmente é.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Proseando sobre... E Deus Criou a Mulher



A sensualidade domina e se exalta despertando certeiramente o desejo. “E Deus Criou a Mulher” traz um título o qual após assistirmos o filme duvidaríamos das intenções de Deus ao criar este ser tentador, tão bem representado pela estrela Brigitte Bardot que no filme vive Juliete Hardy, uma loura órfã que atrai os olhares de admiração dos homens da região e a reprovação da maior parte das mulheres. A atenção é voltada para ela que, ciente de sua beleza e sedução, nunca deixa de se exibir e atiçar todos em sua volta, encontrando desafios em seu percurso rebelde cuja libertinagem lhe traz prejuízos afastando um amor que nega por orgulho, no entanto prova ser incapaz de não ceder. O espectador tem a missão de resistir aos encantos de Brigitte Bardot que aqui concebe seu primeiro grande trabalho.

Passado nos anos 50, o filme que deveria ser um sucesso francês tornou-se um sucesso em Hollywood. Bardot, no entanto, vista como uma potencial musa, não se encontrou nos EUA por sua beleza européia não condizer aos ideais das musas americanas como Marilyn Monroe e Rita Hayworth. Seus filmes também não se tornaram sucessos comerciais absolutos, sua fama se reduziu a sua beleza e seu nome ecoado pelos milhares de corações conquistados em sua época. Em E Deus Criou a Mulher”, três são os alvos da moça: Eric Carradine (Curd Jürgens), um rico proprietário de terras locais; Michel Tardieu (Jean-Louis Trintignant), um jovem que a pede em casamento; e Antoine Tardieu (Georges Poujouly), irmão mais velho de Michel, o único por qual Juliete não resiste. Esse triângulo envolverá todo o filme.

Críticos da sensualidade no cinema como atributos atrativos frente a precárias histórias encontram aqui um exemplar. Mas é discutível. A essência do longa traduz de modo desvairado a mulher, como ela quer ser amada e desejada. Nessa busca de expressar sentimentos femininos, o diretor e roteirista Roger Vadim procura ao máximo salientar através de Juliete a carência de alguém que apesar da beleza jovial conquistadora ainda é incapaz de ser feliz ao não alcançar seus desejos. No filme ninguém os alcança verdadeiramente restando a frustração aos bem conduzidos personagens. E Vadim, cara que já foi casado com a própria Brigitte Bardot além de Catherine Deneuve e Jane Fonda, não se limita em explorar o universo feminino, seja quando investe nas atitudes por vezes impulsivas de sua protagonista, às vezes incompreensíveis, ou quando revela a atriz em si quando nua ou em poses disposta a chamar a atenção.

A cena inicial é um cartão de visitas: Bardot está nua por trás de um lençol branco o qual o espectador poderá conhecer suas curvas enquanto o personagem de Jürgens se perde oferecendo o mundo para a loira. Recheado de extravagâncias e referências sexuais – não é preciso dizer que a igreja condenou o filme – “E Deus Criou a Mulher” é um estudo da mulher, ou na pior das hipóteses, uma especulação de sua sexualidade e de sua busca por admiração. Nesse profundo investimento sobre si ocasionando desafetos, sua histeria fundamentada no desejo parece evidente e bem ressaltada no filme, este que não ficará na mente do público e não deverá ser encontrado nas listas de melhores filmes de alguém, mas é um registro preciso da década de 50 sobre a mulher e sua independência – sua imposição. De caráter sexual, o filme acaba falando de gente a procura de felicidade e centra em Juliete na sua fantasia pensando que daquela forma é feliz.  


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Zé Colméia



 Zé Colméia é um urso carismático, adepto de comilanças, falante e engraçadíssimo. O conhecemos por causa de seu desenho, talvez algumas crianças não saibam de quem se trata. No filme, lançado recentemente nos cinemas de todo Brasil, ele ainda carrega todas essas características mencionadas, – sobretudo a gula por alimentos que não são de ursos. Mas tanta simpatia parece ter tornado seu longa numa experiência aborrecida onde as piadas, que embora esforçadas e encaixadas em seus devidos lugares, parecem ser reciclagens, heranças do desenho e também de outros filmes parecidos acarretando frustração no espectador sobre a falta de algo novo. Assim, “Zé Colméia – O Filme”, que deveria ser um grandioso e divertidíssimo trabalho, nada mais é do que um filme morno cujo trailer reserva os únicos bons momentos do longa – ao menos aqueles envolvendo piadas. É claro que lições sobre natureza e preservação preenchem o roteiro e nessa reflexão, Zé Colméia e seu fiel parceiro Catatau muito tem a fazer.

Um prefeito não sabe de onde tirar dinheiro para comprar votos e, sem recursos e idéias, se lembra do Parque Jellystone e da mina de ouro que a reserva guarda com tantas árvores. Decide então lotear o local e bate de frente com o guarda-florestal Smith (Tom Cavanagh), defensor absoluto do parque e das famílias que procuram este anualmente em busca de ar puro e um visual bucólico, cada vez mais reduzido em todo o mundo. Algumas situações complicam os ideais deste guarda obrigando-o a somar forças com uma bióloga documentarista Rachel (Anna Faris) juntamente aos ursos Zé Colméia e Catatau. Outro que entra nessa é o ator T.J. Miller, um dos novos nomes das comédias, vivendo o confuso guarda Jones. Nada parece novo? Essa será mesmo a sensação ao final – até o vilão vivido por Andrew Daly cai nas caricaturas tradicionais de longas do gênero, perdendo força, graça e brio. Sem desânimo, isso não estraga o filme. Há alguma diversão.

O personagem Zé Colméia é auto suficiente e o roteiro do trio Jeffrey Ventimilia, Joshua Sternin e Brad Copeland não o difere daquele do desenho, o que é positivo. A direção de Eric Brevig (“Viagem ao Centro da Terra”) coloca seus personagens animados junto a pessoas reais e faz isso com certa competência – e investe ainda no 3D com coisas sendo lançados o tempo todo na tela. O público infantil deverá se divertir enquanto o mais velho talvez torça o nariz. Porém todos acabarão soltando algumas risadas com esse que mesmo não sendo o longa metragem de animação mais aguardado desse tão importante personagem dos desenhos, serve como descontração e lembrança para aqueles que tinham esquecido o atrapalhado Zé Colméia e o cômico Catatau. Entre os bichos ainda criaram uma tartaruga cujas caretas garantem bons momentos. Sem grandes reflexões, sem grandes atuações e sabotado por uma história pouco inventiva, “Zé Colméia – O Filme” não será um grande sucesso no cinema e tampouco com as crianças, na melhor das hipóteses fará com que daqui um tempo decidam trazer o urso para as telonas novamente – e que na próxima façam com que ele seja tão especial como foi nos desenhos o qual alguns aprenderam a idolatrar. 



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Todos os Indicados ao Oscar 2011

MELHOR FILME
127 Horas (127 Hours)
A Origem (Inception)
A Rede Social (The Social Network)
Bravura Indômita (True Grit)
Cisne Negro (Black Swan)
Inverno da Alma (Winter’s Bone)
Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right)
O Discurso do Rei (The King’s Speech)
O Vencedor (The Fighter)
Toy Story 3 (Toy Story 3)

MELHOR DIRETOR
David Fincher (A Rede Social)
Darren Aronofsky (Cisne Negro)
Tom Hooper (O Discurso do Rei)
David O. Russell (O Vencedor)
Ethan e Joel Coen (Bravura Indômita)

MELHOR ATOR
Colin Firth (O Discurso do Rei)
Jeff Bridges (Bravura Indômita)
Jesse Eisenberg (A Rede Social)
James Franco (127 Horas)
Javier Bardem (Biutiful)

MELHOR ATRIZ
Natalie Portman (Cisne Negro)
Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai)
Jennifer Lawrence (Inverno da Alma)
Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade)
Michelle Williams (Namorados Para Sempre)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christian Bale (O Vencedor)
John Hawkes (Inverno da Alma)
Jeremy Renner (Atração Perigosa)
Geoffrey Rush (O Discurso do Rei)
Mark Ruffalo (Minhas Mães e Meu Pai)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Melissa Leo (O Vencedor)
Amy Adams (O Vencedor)
Helena Boham Carter (O Discurso do Rei)
Hailee Steinfeld (Bravura Indômita)
Jacki Weaver (Reino Animal)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL:
O Vencedor (Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson)
A Origem (Christopher Nolan)
Minhas Mães e Meu Pai (Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg)
O Discurso do Rei (David Seidler)
Another Year (Mike Leigh)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO:
127 Horas (Danny Boyle e Simon Beaufoy)
A Rede Social (Aaron Sorkin)
Toy Story 3 (Michael Arndt)
Bravura Indômita (Joel Coen e Ethan Coen)
Inverno da Alma (Debra Granik, Anne Rosselini)
 
MELHOR EDIÇÃO:
Cisne Negro
O Vencedor
O Discurso do Rei
127 Horas
A Rede Social

MELHOR FOTOGRAFIA:
Bravura Indômita
A Origem
Cisne Negro
A Rede Social
O Discurso do Rei

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
A Origem
Bravura Indômita
O Discurso do Rei
Alice no País das Maravilhas
Harry Potter e as Relíquias da Morte

MELHOR MIXAGEM DE SOM
A Origem
O Discurso do Rei
Salt
A Rede Social
Bravura Indômita 

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
A Origem
Bravura Indômita
Toy Story 3
Tron: O Legado
Incontrolável

MELHOR FIGURINO
I Am Love
Alice no País das Maravilhas
Io sono l’amore
O Discurso do Rei
The Tempest
Bravura Indômita

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Como Treinar o Seu Dragão (John Powell)
A Origem (Hans Zimmer)
O Discurso do Rei (Alexandre Desplat)
A Rede Social (Trent Reznor, Atticus Ross)
127 Horas (AR Rahman)

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Biutiful (México)
Dogtooth (Grécia)
In a Better World (Dinamarca)
Outside the Law (Argélia)
Incendies (Canadá)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Exit Through the Gift Shop
Gasland
Inside Job
Restrepo
Waste Land

MELHOR ANIMAÇÃO
Toy Story 3 (Toy Story 3)
Como Treinar o seu Dragão (How To Train Your Dragon)
O Mágico (L’illusionniste)

MELHORES EFEITOS VISUAIS
A Origem
Alice no País das Maravilhas
Harry Potter e as Relíquias da Morte
Além da Vida
Homem de Ferro 2

MELHOR MAQUIAGEM
O Lobisomem
Minha Versão Para o Amor
The Way Back

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Country Strong (Coming Home)
Enrolados (I See the Light)
127 Horas (If I Rise)
Toy Story 3 (We Belong Together)

MELHOR DOCUMENTÁIRO EM CURTA
Killing in the Name
Poster Girl
Strangers No More
Sun Come Up
The Warriors of Qiugang

MELHOR CURTA EM ANIMAÇÃO
Dia & Noite
The Gruffalo
Let’s Pollute
The Lost Thing
Madagascar, carnet de voyage

MELHOR CURTAMETRAGEM
The Confession
The Crush
God of Love
Na Wewe
Wish 143

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Proseando sobre... À Flor da Pele



O experimento, a curiosidade e a dúvida permeiam nas cabeças de jovens na busca por satisfação. E algumas conquistas parecem para nós esquisitas, quase inexplicáveis. O protagonista Mickael (Johan Libéreau) sugere que na vida as coisas não são sempre claras. Desculpa para as razões obscuras do filme? Talvez seja. Mas há sentido. E ao falarmos da vida, falamos de pessoas, seres em transição a procura do outro. E por falar em gente, o protagonista diz: as pessoas mudam. Outra desculpa? Isso vai da cabeça de quem assistir “À Flor da Pele”, polêmico longa-metragem francês dirigido por Antony Cordier que trata um triângulo amoroso de maneira bastante intrigante.

Mickael é um jovem cuja vida dedicada ao judô lhe traz algumas exigências. Essas exigências por vezes se confrontam com os problemas financeiros de sua família. Para exemplificar, todos devem tomar banho frio por economia – e há ainda o alcoolismo do patriarca denunciado nas primeiras cenas. Sua frustração com tal realidade parece em certo ponto desaparecer quando ao lado da namorada, a insinuante Vanessa (Salomé Stévenin). Um dia Mickael conhece o filho de um homem prestes a patrocinar a equipe de judô e após algumas conversas, fica cada vez mais próximo do rapaz, abordando-o como um irmão e logo após passa a dividir suas coisas, inclusive Vanessa. Há uma interação estranha entre os jovens, e há quem suponha ou desconfie sobre a opção sexual dessa dupla que a medida que a narrativa avança mais confusa se revela.

Cordier explora relacionamentos, ora exalta a interação entre mãe e filho, ora namorado e namorada alcançando as amizades. Assusta e assombra a entrega de Mickael, seu consentimento a respeito do sexo a três, compartilhando sua namorada que experimenta sem se queixar. Planos ousados caracterizam essa experiência que se torna freqüente na vida do casal. As coisas ficam ruins quando o rapaz percebe sua namorada cada vez mais próxima de seu amigo Clément (Pierre Perrier) e quando se percebe de lado, toma atitudes severas e violentas. Amargurado e distanciado, muda seu comportamento e jeito, como sugeriu uma menção no prólogo do filme. Juntamente a essa conturbada relação, Mickael ainda tem de conviver com um regime rigoroso para atingir o peso ideal na competição, o que lhe traz prejuízos.

Obscuro e por vezes encarado como indecente, À Flor da Pele” é um romance difícil de digerir e potencialmente capaz de frustrar seu espectador com seu desenvolvimento – o que o torna diferente e passível de reflexão. O que começou como uma brincadeira, avançou e enraizou de forma atordoadora e aterradora, destruindo laços e ferindo, sempre de modo conflituoso e nunca esclarecido. Se na vida as coisas não são sempre claras como o roteiro coloca durante uma narração, o filme atinge o propósito e joga no espectador um emaranhado de sentimentos motivado pelo prazer sem tabus ou censuras, mas conduzidos pela satisfação imediata como alívio, no entanto termina frio e pouco compreendido. O destaque fica para a trilha e para Salomé Stévenin que parece uma versão da Leelee Sobieski morena.


sábado, 22 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Entre os Muros da Escola


“Quando os mestres se revelam aos alunos, também estes se revelam a seus mestres”
Miguel Arroyo

Existe uma grande diferença entre ser um professor e ser educador. Ser os dois, não parece ser uma tarefa fácil. Para que serve os conhecimentos que adquirimos ou fingimos adquirir nas escolas? O que estamos, na realidade, fazendo dentro dessa instituição? “Entre os muros da escola”, longa francês dirigido por Laurent Cantet, abre margens para discussões ao relatar o dia a dia de uma escola de periferia parisiense a qual o professor François está preparando o calendário letivo pretendendo, sobretudo, levar aos seus alunos toda uma visão ideal, já imposta pelo governo francês, discutindo relações de poder, alfabetizando e ensinando o idioma oficial do país. Tal meta é um adorno que convém a proposta de uma tradicional escola, mas o potencial se encontra no diferencial de ir além do aluno, chegar no seu humano. E é justamente esse o ponto central do longa que irá percorrer suas mais de duas horas de projeção. 

Dentro do objetivo de explicitar o cotidiano escolar, o filme encontra grandes desafios que vão além dos geralmente difíceis comportamentos dos alunos, se arrastando até bem mais longe, além dos muros da escola como sugestiona o título, com uma política que lida com a segregação racial limitando seus povos imigrantes, na maioria Argelianos. Nesse abalo de culturas distintas, nos é sutilmente apresentado vários embates que ocorreram na região com o preconceito pela desigualdade acontecendo alarmantemente. 

Sem querer provocar somente uma análise acerca da imigração que assola alguns países Europeus (neste caso a França), o filme levanta questões sobre o social num panorama educativo, sem o pessimismo do caminho para onde aparentemente o método educacional o qual conhecemos está se endereçando. Cantet juntamente a François Bégaudeau, autor do romance o qual “Entre os muros da escola” foi baseado, referem-se à proposta de expressar a sala de aula numa profunda reflexão de particularidades estando à diferença étnica, econômica e racial demasiada escancarada. 

 É visto, no interior da sala de aula, as típicas tribos, que nunca soam indiferentes diante o convívio imposto pela escola. Os adolescentes nas salas de aula parecem não ter voz, e quando tomam alguma atitude se rebelam. Sem generalizações, e concentrando na obra cinematográfica, fica claro esse apuro, ao expressarem suas opiniões, ocupando um lugar defensivo, funcionando como vítimas da sociedade. Entre os muros que menciona o título, várias são as questões exploradas que rondam a desigualdade exprimindo o retardamento dessa ideologia escolar tradicional, com fileiras, carteiras e posições hierárquicas, onde outrora visava à educação. No longa a escola deixa de ser um espaço de conhecimento para se tornar um abrigo das carências que permeiam os personagens da narrativa. O costume regrado escolar perde então sua identidade.

Sobre tal contexto, François surge como um modelo de educador, ao tentar, mais do que expor e transmitir conhecimentos, se aproximar de seus alunos conhecendo as perspectivas de cada um visando à realização de sua profissão, cada vez mais gasta e questionada. Para isso, faz-se necessário um novo olhar, uma outra perspectiva, cumprindo um papel ideologicamente imprescindível. “Entre os muros da escola” não explora a fundo seus personagens, no entanto, baseia sua estrutura evolutiva no coletivo, desenvolvendo o grupo de estudantes sem todo aquele vigor romântico encontrado constantemente em longas do gênero.

O aluno passa a ser visto não somente como um alguém que está ali para seguir regras, aprendendo leis e normas sociais, tornando-se o que a sociedade quer que ele se torne. É nesse embate que se acentua o fracasso para com a pessoa aluno, ao deixarmos de prestarmos à atenção no que esses são e o que podem trazer, simplesmente pela vaidade da imposição. Como um guia acolhedor, o professor leva seus alunos a reflexões, mesmo com os reveses pela insistência, hierarquizando seu papel e levantando soluções. Tudo isso parece bonito e empolgante, na ficção realmente é e estamos cheios de filmes que movimentam essa temática encontrando em seu final o ‘feliz para sempre’. O diferencial de “Entre os muros da escola” é a tentativa de buscar humanizar seus personagens, com o mocinho não sendo perfeito, obrigado a lidar com suas ansiedades e próprios preconceitos. A história exerce essa função de questionar o que está acontecendo, exibindo a escola como um campo de concentração. Não é a toa algumas tomadas das grades e do pátio remeterem de imediato à impressão daquilo tudo ser, na realidade, um presídio.  Não há aqui uma busca de soluções, a história está mais para o relato das causas do que para seus efeitos.

Nessas várias temáticas, o filme de Laurent Cantet permanece firme na sua proposta de incomodar e provocar o espectador, abrindo muitas vezes espaços para compreensões mais filosóficas, direcionando a interdisciplinaridade, graças ao seu protagonista professor. No entanto, o assunto gera uma série de contestações. O filosofo educador Fernando José de Almeida já lançou uma dura crítica a respeito desse altruísmo pedagógico: “muitos dos olhares que se têm dirigido às questões da educação em nome da interdisciplinaridade não passam de um emaranhado de boas intenções misturadas a falsos problemas, ausência de profundidade, falta de rigor, perda de identidade epistemológica das ciências envolvidas.”

François Bégaudeau assume, além do roteiro inspirado em seu próprio romance, o papel central do filme. E veja só: impressiona com uma atuação suficientemente convincente. Quanto à história, esta parece abrir um leque de arquétipos, analisando com minuciosidade o que está sendo feito nas escolas, produzindo cidadãos que atendam o que a sociedade com suas leis exigem e nada mais. O nada mais aqui deve ser entendido como somente um processo educacional convencional proposto pela própria sociedade. Não é um longa detentor de soluções, não irá mudar a maneira a qual conhecemos e concebemos o ensino hoje, mas exigirá um pouquinho mais de reflexão sobre seu assunto. Sua originalidade é acertiva no que propõe, e não poderia ir além disso. Trata-se de um estudo de caso obrigatório que deve ser visto.




sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Não por Acaso



Sem intenções diretas de criticar a condição atual do trânsito de São Paulo, o filme “Não por acaso” de Philippe Barcinski, disponível em DVD, absorve da correria da Paulicéia para retratar uma tragédia amorosa. Nessa aglomeração caótica, a vida de algumas pessoas de cruzam após um acidente. Dê um lado, a ordem representada por Ênio, personagem de Leonardo Medeiros, um engenheiro que controla o fluxo dos carros nas ruas da cidade. Ênio vê sua vida, igualmente metódica tão quanto seu trabalho, sofrer sérias mudanças após perder a mulher que adorava e perceber a aproximação da filha enlutada. De outro, Pedro (Rodrigo Santoro) tocando em frente uma marcenaria deixada pelo pai cuja especialidade é a confecção de mesas de sinuca.

Com um talento impressionante para o jogo, o jovem vive confortavelmente com tal ocupação, fazendo sucesso em campeonatos, e garantindo um futuro ao lado de Teresa (Branca Messina). Seus ideais são postos em prática em seus treinamentos, com tacadas repetidas e minuciosas, dispostas unicamente a dar conta do jogo através de caminhos já trilhados vencendo o quanto mais breve possível. O tempo, nas duas situações, parecem preciosismos essenciais para o sucesso, sendo qualquer atraso fatal. E é justamente do tempo a responsabilidade pelos acontecimentos de “Não por acaso”. Catástrofes familiares nas imprevisões do destino dão o tom penoso dessa brilhante e cronológica história. 

Santoro retorna ao cinema nacional com um dramalhão sofrido e cheio de verdades, atuando junto a um elenco de peso que conta ainda com Letícia Sabatella e Cássia Kiss. Nessas vidas atropeladas pelas horas diárias, a ordenação parece sucumbir ao caos fortalecendo a lição de que algumas coisas são simplesmente incontroláveis. O controle, aliás, é o que movimenta o filme trazendo reflexões a respeito do que pode se suceder em segundos, do que um atraso acarretaria ou a pressa resultaria. Daí a importância do tempo, já mencionado no parágrafo anterior. Parece que estamos todos conectados e nossas ações alteram naturalmente o ciclo dos acontecimentos. “Não por Acaso” deixa questões sem explicações no ar provocando a dúvida da possibilidade, jamais resolvida por nós. O diretor Philippe Barcinski dita um ritmo e nos emociona no final. Deve e merece ser visto. 


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Proseando sobre... As Viagens de Gulliver



Jack Black é inegavelmente um dos grandes nomes da comédia. O astro de “Escola do Rock” que a pouco protagonizou o terrível “Ano Um” ao lado do nerd Michael Cera, retorna as telonas para viver um personagem até conhecido, – baseado na obra de Jonathan Swift Gulliver, e faz um filme cuja sua interpretação e irreverência são as únicas boas coisas – seu constante esforço para nos tirar alguma risada é notável. “As Viagens de Gulliver” traz a aventura de um escritor sem muitas ambições na vida e covarde emocionalmente que fica incumbido de ir até as Bermudas fazer uma matéria. Tal viagem o direciona até a ilha de Liliput e seus simpáticos habitantes locais se apavoram com a presença deste que para eles é um gigante. Somos convidados a irmos a esse reino cheio de pequeninos com várias lições de moral para nos passar.

Black ao longo da história vive 3 contextos diferentes: sua desmotivada carreira sabotada por sua falta de gana e seu medo de se aproximar de sua paixão, Darcy (Amanda Peet), sentimento traduzido em seu nervosismo quando ao lado da garota; num segundo momento, ele é um gigante, uma ameaça local que mais tarde se torna herói – e isso não é um spoiler – passando a ser um conselheiro amoroso e um exemplo de virilidade e coragem; por último, talvez o mais divertido, não vale a pena contar. São extremos que simbolizam personalidades, tudo isso para nos dizer que devemos ser quem nós somos e lutar sempre pelo que desejamos. História repetida, ecoada em nossas cabeças graças a centenas de outros filmes. Aqui as boas sacadas e inovação se reduzem as menções sobre tecnologia e referências a outros filmes – as cenas do teatro e da construção da Times Square juntamente aos sucessos do rock com Kiss e Guns n’ Roses são impagáveis.

Essa é a máxima diversão encontrada. O elenco ainda conta com Jason Segel vivendo um dos pequeninos, T.J. Miller (ator cada vez mais engajado em comédias) com pouco tempo em cena e a inglesa Emily Blunt interpretando novamente uma princesa – sua caracterização remete a seu papel na cine biografia “A Jovem Rainha Vitória”. O roteiro da dupla Joe Stillman (“Shrek” e “Shrek 2”) e Nicholas Stoller (“Sim Senhor!”) parece ter sido escrito em 10 minutos com idéias jogadas sem propósito e fora de lugar. Muito pouco faz sentido e os 85 minutos colaboram para a história ser atropelada. Os efeitos também são fracos e numa versão 2D é perceptível toda a enganação e jogo de câmera. O diretor Rob Letterman (“Monstros vs. Alienígenas”) tem em mãos um fiasco narrativo que só irá agradar os fãs de seu protagonista e de suas tradicionais piadas. Ao menos é bom de se ouvir – Jack Black leva consigo um iPod com ótimas canções. Algumas inspirações de “Tenacious D” também ficam de certa forma declarada. Nos resta a lição: “não existe cargos pequenos e sim pessoas pequenas”. Aproveite a frase e sua moral, e aproveitará ao menos um pouco do longa. 
 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Proseando sobre... O Escritor Fantasma



Escritores fantasmas são aqueles que escrevem em nome de outras pessoas. É baseado neles que o cineasta cheio de problemas com a lei, Roman Polanski, concebe seu mais novo e aguardado projeto. “O Escritor Fantasma” é um suspense elegante e obscuro, indicativo em suas cenas passadas em locais que embora luxuosos são escuros e misteriosos. Escrito pelo próprio Polanski a partir da adaptação do romance de Robert Harris, o filme é regido pela desconfiança e levará o público a tal âmbito onde a curiosidade se encontrará com a dúvida e isso irá carregar o filme e permitir que sua função de thriller prospere. O diretor ainda consegue tirar de Ewan McGregor um surpreendente desempenho.

McGregor vive o fantasma – e percebam que seu personagem não tem nome – e meio a contra gosto aceita escrever uma biografia sobre um importante político polêmico, Adam Lang (vivido pelo raramente inspirado Pierce Brosnan). Ao viajar até os Estados Unidos, percebe um clima pouco amistoso ao se encontrar com Lang ficando ainda pior quando descobre que seu antecessor morrera em decorrência de um acidente pouco explicado. Cada vez mais, a medida que explora a vida do político, se percebe preso em uma rede de mentiras onde qualquer impulsiva atitude pode lhe custar a vida. O clima que se prolonga nesse percurso narrativo incomoda pela insegurança em volta do fantasma e levará o público a participar de toda a investigação.

Polanski submete seu personagem a opressão de um contexto que em primeira instância é desconhecido, em outra é suspeito e finaliza perigoso, sempre do ponto de vista de seu personagem central e das conclusões que este tira com suas questionáveis descobertas. Para estabelecer esse terreno nocivo, o diretor faz uso de aparatos técnicos como a fotografia sempre turva que ganha ainda mais aspecto de incerteza com a neve; e das locações isoladas numa casa rodeada de seguranças – eles estão ali o que representa perigo iminente – e o cenário de uma praia inabitada. A construção de seus personagens é outro trunfo do roteiro: não só reconhecemos o fantasma e sua ambiciosa investigação, mas também o político Adam Lang vai ganhando cada vez mais atenção igualmente a sua incógnita esposa, Ruth Lang (Olivia Williams), sempre acrescentando estranhezas na já dúbia história.

Sem ter ganho a atenção que merecia, esse “O Escritor Fantasma” atualmente nas locadoras, é um daqueles grandes exemplos de como os diretores influem de maneira fundamental as suas narrativas. Em mãos erradas, esse projeto seria mais um a tomar as prateleiras e cair no esquecimento, mas aqui, com Polanski, há pelo menos dois atos que permanecerão marcados por quem assistir: o plano o qual um bilhete passa de mão em mão, e outro, já em seu ato final, num polêmico acidente, tão sombrio quanto todo o resto do filme. Este projeto é uma concepção nada equivocada, mas habilidosa e competente, aproximando-se de “Chinatown”, obra clássica do diretor. Os homens nos filmes de Roman Polanski estão sempre perdidos em lugares totalmente desconhecidos e ameaçadores, característica difundida que não parece se renovar, mas ainda não nos cansou ou deixou de nos interessar. 


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Ervas Daninhas



 “Ervas Daninhas” é o mais novo trabalho de Alain Resnais, diretor francês ícone, um dos grandes nomes do cinema em atividade. Atualmente com 88 anos, o homem é um astro quando se trata em explorar a natureza humana e seus comportamentos. Para retratá-los, o diretor, ao longo de sua carreira, fez uso de várias técnicas, esboçando ações muito além de inusitadas para constituir seus personagens, atrevendo-se a instigar no espectador dúvidas a respeito do que está rolando em cena. Poucos fazem isso tão bem. Igualmente a alguns trabalhos anteriores, Resnais aplica essa indagação em “Ervas Daninhas”, atualmente nas locadoras, e num cenário parisiense, esboça o amor louco sobre personagens bem caracterizados segundo sua tradição, cujas ações incondizentes justificam a particularidade já consagrada do diretor e de certa forma, causa desconforto em seus espectadores. Louco na perspectiva do senso comum, o filme é uma aula de direção e de câmera, e explora sem qualquer delicadeza, mas com notável intensidade, o ser humano e suas ações.    

O filme, naturalmente, utiliza de uma metáfora já denunciada no título: as ervas daninhas brotando repentinamente em lugares inesperados. Tal como elas, o amor, a curiosidade brota e aquece o coração. Em cena, uma dentista ruiva, Marguerite Muir (Sabine Azéma), após comprar sapatos tem a bolsa levada por um ladrão. Somos inseridos em sua mente, em suas reflexões, e é muito pouco provável que o espectador concorde com elas. Minutos depois, num estacionamento de um shopping, Georges Palet (André Dussollier), encontra a carteira da Srta. Muir e estranhamente encantado pela mulher, decide por conta própria descobrir quem é ela. Se desenvolve a partir desse estranho acontecimento um relacionamento conturbado, rodeado de condutas questionáveis e situações nada corriqueiras, atingindo ainda a esposa do protagonista, a polícia (um dos policiais é vivido pelo ótimo Mathieu Amalric) e os pacientes da dentista.

Observe que uma sensação estranha ao fim da projeção é algo comum. Resnais se especializou nisso. Se ele consegue o feito, é que seu objetivo com o filme fora conquistado. Não é para ser normal, que ser humano o é? E não é para ser comum, sua particularidade cinematográfica garantiu-lhe status de gênio. Situações estranhas, um clima nonsense e uma trilha amena garantem a “Ervas Daninhas” uma revisitação a suas importantes antigas obras. É aula de cinema enquanto técnica e linguagem. A forma escolhida para contar a história é arrastada, porém charmosa, e permite ainda um humor refinado diante toda a piração. A intenção ao menos é clara, falar de condutas triviais humanas por vezes inexplicáveis que acomete a todos. Em seus filmes, reproduz a realidade de maneira vulgar, mas não falsa. Resnais admite a noção de homem cujos propósitos nos são íntimos e igualmente assustadores. Georges Palet é um personagem complexo e nos revela como proferir um “eu te amo” tem sido cada vez mais fácil.