terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Cela 211



 Cena inicial: um suicídio. Logo, outra cena, no presídio, com um funcionário novo aprendendo às regras e fazendo o reconhecimento daquele que seria o lugar onde iria passar a maior parte da vida. Sem delongas, temos acesso a informações bastante importantes sobre o contexto e normas da instituição. Por ali, rondam os policiais com os presos permanecendo atrás das grades. A câmera pouco toma conhecimento deles. Este funcionário, Juan Oliver (Alberto Ammann), a princípio assustado com as brincadeiras dos novos colegas sobre os riscos daquele lugar, procura se soltar e causar boa impressão. Mas algo acontece. Um acidente fere o protagonista. Tem início um motim no presídio. Logo dezenas de presos enchem a tela dominando todo o território. Já Juan, desmaiado, é deixado dentro da cela 211, lugar que intitula o filme, e ali se descobre em meio aos prisioneiros temendo tornar-se refém. É preciso pensar logo.

Rápido, eficiente e dinâmico. “Cela 211” é um esplêndido filme de prisão espanhol. Há pouco tempo para o público pensar, tal como o protagonista. Entre os presos, pouco importa quem é quem, eles tem um desejo em comum e irão lutar juntos por ele. Dentro de uma hierarquia, de imediato reconhecemos seus líderes, especialmente Malamadre (Luis Tosar), ríspido e violento, tem o respeito da maioria. Aqui já é denunciado a solidez de um líder nato, mas crente sobre sua fragilidade caso cometa erros. Embora ali isso pouco importe, – a frase “eles não tem nada a perder” aqui faz todo o sentido – ele está à espreita a quem o desafia. Um embate inicial se concentra, de maneira até recreativa desenvolvida pelo roteiro, quando Juan esconde seus pertences e se declara um prisioneiro que acabara de chegar. Diante olhares de desconfiança, será obrigado a exercer um segundo papel durante a narrativa.

O filme trabalha com uma história bastante atrativa e consegue ir além de um simples filme de ação, percorrendo a natureza humana, instigando a transformação e adaptação de um personagem numa metamorfose em pró de sua sobrevivência. A vítima, Juan, tem um porque de lutar e permanecer vivo ali. Sua motivação é sua esposa e o filho que esperam. A mulher, do lado de fora, se desespera quando descobre pela televisão o que está acontecendo no presídio e grávida de 6 meses, decide ir até o local temente. Essa relação favorece a identificação do público que aflito, acompanha a jornada do protagonista vencendo barreiras e enganando a todo custo os homens a sua volta. Algumas cenas que funcionam como flashbacks revelam a íntima relação do casal, contentes e apaixonados, numa manhã antecedente a rebelião. A tensão que já tomara conta do público, apavora à medida que o filme se prolonga.

A loucura afronta a razão dentro da prisão. Percebemos seus personagens em situações extremas agindo de modo desconforme a perspectiva projetada; que instinto é esse que emerge frente ao risco da vida? Entra em cena a fúria. Acompanhar a mudança de seus personagens é um estudo e compreende-las é uma provocação. Não é trocar de lado, e tampouco esboçar o certo do errado – embora se trate de bandidos e policiais. Também não é um típico maniqueísmo tradicional, e acusações para qualquer um dos lados são injustas. “Cela 211”, assim, termina por ser uma referência do lado obscuro humano que se manifesta em seu convívio – notem a proximidade entre os presos unidos carregando histórias em comum sobre família e amores – e nos estímulos em sua volta – ver sua esposa sofrendo atrás dos portões junto a uma multidão justifica surpreendentes atitudes. Dirigido e escrito por Daniel Monzón a partir do romance de Francisco Pérez Gandul, este longa europeu, encontrado em locadoras, toca na ferida da tolerância, funcionando ainda mais com os espanhóis e sua cultura, devido ao ETA e os terroristas envolvidos na história do país.   


3 comentários:

  1. Adorei a temática do filme...
    Gosto quando além de manter um tema central interessante.. consegue seguir de forma dinâmica!

    Adorei a dica!

    ;D

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  2. Gostei do tema do filme. Acho que vou assistir

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  3. Parabéns pelo blog, gostei muito! Seus textos são ótimos, e já estou lhe seguindo!

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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