terça-feira, 29 de novembro de 2011

Proseando sobre... O Preço do Amanhã



 Quanta correria. E como não poderia ser, uma vez que o tempo move o mundo de todas as maneiras. O mercado não é abalado pelo dinheiro, mas pelo tempo, pelo valor deste, em seus minutos, horas, meses, anos. Um segundo vale tanto. Eis a moeda de troca pela sobrevivência. Os mais ricos detém séculos de vida, os pobres lutam por mais um dia. Dentro dessa lógica, “O Preço do Amanhã”, o mais novo trabalho do escritor e roteirista neozelandês Andrew Niccol, se prolonga trazendo um modelo de funcionamento hierárquico universal como metáfora a ganância insaciável dos poderosos.

As diferenças sociais sustentam uma trama deliberadamente agitada. De um lado, pessoas vivem de caridade, prostituição, roubos e caminham pelas ruas desviando de cadáveres como se fossem insetos; de outro, a coordenação desse universo, o controle dominado por uma minoria com potencial de ser imortal, uma vez que inspecionam a maior riqueza humana, o tempo. No longa, o homem conquistou um de seus maiores desejos, a fórmula da juventude. Eles conseguem paralisar o envelhecimento, e, seguindo uma ordem, aos 25 anos, as pessoas passam a contar com dias a mais de vida de acordo com sua prestação de serviço.

Se delonga uma discussão sobre a eternidade, com um primeiro ato apresentando o tema através de um sujeito centenário, questionando a morte, crendo que a mortalidade seja um bem. Bons personagens surgem acompanhando essa idéia e o filme emerge nesse conteúdo, porém atribui sua funcionalidade a um longa de perseguição. Não há qualquer esforço em explorar seus personagens, o roteiro não caminha com propósito de ressaltar quem são eles – alguns simplesmente desaparecem – e entrega personalidades mutáveis agindo em caráter impulsivo. Talvez isso funcione dentro da (im)possibilidade do tempo, a movimentação sugere precipitação e todos embarcam em tal plano.

Will Salas (Justin Timberlake) é morador de um gueto, luta diariamente pelo amanhã ao lado de sua mãe, Rachel (Olivia Wilde, sim, Olivia Wilde). O elenco é predominado por jovens. Em uma noite fatídica, decide fazer vingança e utiliza de um presente para tentar mudar as regras daquele meio. No caminho, um mar de referências quanto à percepção do tempo, desde piadas a desastres. Logo pinta um par romântico usual, Sylvia Weis (Amanda Seyfried, morena), filha de um milionário miserável, surgindo na trajetória de Will e resolvendo acompanha-lo numa fuga desenfreada, escapando da fúria de ladrões de bairro e dos implacáveis agentes do tempo, liderados por Raymond Leon (Cillian Murphy, ótimo em cena).   

Esses personagens, correndo indiscriminadamente, olhando preocupadamente o relógio marcado em seus braços, transmitem a energia hollywoodiana com seus exageros comuns – perseguições e tiroteios exacerbados –, pleiteando uma moral válida de um argumento hábil. Pena encostar aí, não indo além de uma mera aventura bem intencionada com seus justiceiros – uma versão de Bonnie e Clyde fugindo de rajadas de balas. Trata-se de um exercício de estilo com alguma profundidade, parecido com outros trabalhos de seu diretor, por exemplo, os bons “O Senhor das Armas” e “S1mone”. Há muito o que se fazer num dia, para quem não tem tanto tempo, um momento é substancial.  


Proseando sobre... Happy Feet 2



 Após o sucesso do primeiro filme lançado em 2006 (vencedor do Oscar de melhor animação), chega aos cinemas uma continuação que preza, igualmente seu precedente, a qualidade técnica e uma história com mensagens ecológicas. Foram 4 anos de desenvolvimento e pesquisas que incidiram até em expedições na Antarctica. O resultado da busca pela retratação é quase comovente, brilhante e sem dúvidas a maior força desta obra, novamente escrita e dirigida por George Miller. Já a narração arrisca alcançar novos horizontes, estagnando-se na noção já explorada com o pinguim dançarino Mano no longa anterior, com sua incessante busca de se colocar num meio o qual o canto é um bem primário. Aqui há uma inversão dessa idéia através de seu filho Erik, uma pequenina e adorável ave que não leva muito jeito com a dança.

Vítima de chacota numa cena inicial musical, Erik se fecha num buraco cogitando procurar um outro caminho, uma vez não atender as características do bando local. Aí surge um dos vários temas que o filme procura abranger, a relação entre pai e filho, cuja figura paterna não consegue aliviar a angústia do pequeno em ser diferente de seus semelhantes. Parecidíssimo com a proposta de seu antecessor. Entram nessa fria convivência representações de ideais desejados marcados em outros personagens e em distintas espécies. Até um Elefante Marinho obstinado aparece para ressaltar a função do pai, oferecendo um conflito conservador e de respeito.

O design de produção esplendoroso denota satisfatoriamente aquele universo, com as geleiras hiper realísticas e os personagens obsessivamente detalhados, sem contar nos planos marítimos, acentuado por cardumes e dois krills – obviamente criados com a finalidade de aliviar tensões recorrentes. A dupla de crustáceos garante as melhores cenas cômicas da história, propondo carisma e inspirando reflexão sobre a necessidade de se adaptar no mundo que para eles é demasiado hostil. Outros personagens também favorecem a comédia, como o galanteador Ramon e o burlesco Amoroso (dublado no Brasil por Sidney Magal).

Os homens que aparecem durante o longa – em forma real – são vistos pelos animais como extra terrestres, formas de vida diferentes que ora ou outra surgem do mar. Não há uma grande crítica sobre o papel dos humanos. A narrativa incita a culpa deles numa alusão a catástrofe do aquecimento global, trata deslocamentos nas calotas e icebergs como ameaças não naturais rendendo severas consequências. Isso é fortalecido ainda pelo tom verde até então desconhecido no pólo. Assim, esses humanos que num determinado ato irrompem com faceta de herói, logo são descartados. Percebemos que nas atuais condições da terra, é difícil depender deles.

Com um desenrolar de assuntos marcados por muita aflição, algo que deverá desagradar algumas crianças e interessar adultos, “Happy Feet 2” encontra agitação em cenas de grande impacto, como nos derretimentos de costas e ameaçadores predadores. Um clima de tensão por vezes reside, equilibrando bem com as várias canções ecléticas sugeridas – às vezes tanta composição irrita. É um exemplo de “já vi isso” difundindo lições morais como a aceitação do outro e conscientização social banhado com canções e sapateado. 


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Proseando sobre... A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1


 Há quem ame, há quem odeie, há quem seja indiferente. A saga “Crepúsculo” caminha para seu final, segue mutilando a história construída sobre vampiros durantes décadas. Isso é motivo de críticas de muitos. Não consideraria tal fato, sou a favor de adaptações, criações, muito embora essa concebida por Stephenie Meyer seja quase impossível de se levar a sério. Este universo novo proposto pela escritora não é charmoso, nem convincente e tampouco interessante enquanto cinema, no entanto há nele uma isca funcional, não só através de seus personagens fantásticos – lobisomens e vampiros –, mas na fusão do real e o imaginário. Estamos diante um relacionamento entre uma mortal com um imortal. Há muito em jogo. Parece ser o bastante para que milhões se deslumbrem com o que acontece em cena, mas será que esta saga tem, de fato, potencial para ser glorificada como está sendo? Será “Amanhecer” um capítulo capaz de fortalecer tudo o que já fora apresentado até agora?

As respostas são óbvias. Não. A relação do fã com seu ídolo não precisa ser questionada, ainda mais tratando-se de uma série cujo grande interesse é alimentar o público e buscar o lucro. Com orçamentos milionários, os filmes garantiram melhorias técnicas, algo que possibilitou uma ressalva artística frente uma história insossa. A direção de arte contaminou os filmes após o lançamento de “Crepúsculo” – pena que tal atributo significativo tenha sido tomado pelo exagero nesse último. A fotografia é outro ponto frouxo nesse recente projeto, comparado aos outros. Então a saga que vinha melhorando retrocedeu? No ponto de vista narrativo, sim. Era mesmo preciso transformar o último livro em dois filmes?  Pouco provável, uma vez que “Amanhecer parte 1” oferece muito pouco.

Se artifícios técnicos garantiam a sessão daqueles desinteressados pela trama, então este trabalho irá frustrar ainda mais. Vale ressaltar que não é uma profunda perda de tempo, não diante a outras obras ordinárias lançadas anualmente. Visto que o longa tem um público muito bem definido, não há como ousar criticar sua funcionalidade com os fãs. Eles gostam, apreciam, se deslumbram e às vezes enaltecem com tanta demasia que chegam a gritar no cinema, fundindo adoração com falta de educação. O cinema é uma forma de arte, pena alguns não o compreenderem como tal. Se ao menos a elaboração de Woody Allen em “A rosa Púrpura do Cairo” fosse possível, tais reações seriam compreensíveis.

Bella (Kristen Stewart) finalmente se casa com Edward Cullen (Robert Pattinson) e engravida durante a lua de mel no Rio de Janeiro. Tal fato já garante um oceano de questionamentos por parte dos espectadores e dos personagens sobre possibilidades disso acontecer. Ao que parece, ninguém detém a resposta. Ignoro completamente isso, o cinema já nos apresentou muito nonsense, essa dá pra passar. O lobisomem Jacob (vivido pelo descamisado Taylor Lautner) aceita a contra gosto o casório, se rebela, mas cede. Ao menos seu personagem tem uma função mais enérgica na trama, impedindo-a de se empalidecer. Situações levam os lobos a enfrentarem os vampiros, colocando em risco a vida de Bella e do bebê. Este bebê, naturalmente, não é um bebê qualquer e condenará a vida da mãe mortal. Um lapso de discussão a respeito do aborto é tentado, porém logo é abandonado.

Com cenas românticas capazes de fazer os fãs se derreterem, e um aperitivo a mais para os brasileiros através de passagens no Rio em plena festa, esta primeira parte de “Amanhecer” se mostra frágil na apresentação de idéias. Quer explorar o romantismo sobrenatural transformando seres sanguinários em predadores tolerantes. A censura talvez explique qual é a demanda, sendo o público alvo o infanto juvenil. Não estranharia se em uma versão brasileira Xuxa e seus costumeiros elencos fossem os escolhidos para escalar os papéis principais. As atuações nada acrescentam, o destaque fica para uma coadjuvante, Anna Kendrick. Há uma defesa, o que há de melhor nesse trabalho é a comédia involuntária. Passagens bem humoradas garantem um suspiro no pedantismo. Há também um trabalho de efeito fenomenal, acentuado no emagrecimento de Kristen Stewart – o que, claro, não justifica um despertar maquiado num ato posterior inverossímil. “A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1” não é um desastre, não mesmo. Mas para uma série com tantos admiradores, resta a curiosidade sobre seu papel no cinema, uma vez que nada acrescenta a ele.

Bill Condon, o diretor, não foi mencionado durante o texto, pois pouco acrescentou a sucessão do longa, buscando um convencionalismo padrão a toda potência. 

domingo, 20 de novembro de 2011

Proseando sobre... O Retorno de Johnny English


O agente secreto atrapalhadíssimo Johnny English está de volta. Anos depois do sucesso do longa lançado em 2003, uma sequência demorou para ser feita. Ela finalmente chegou, demorou 8 anos desde o lançamento do personagem na telona e Rowan Atkinson finalmente a retomou. Há pouco tempo o ator aposentou sua mais notável criação, o icônico Mr. Bean. Aos seus fãs, uma grande oportunidade para rever os trejeitos do intérprete herdados de Bean. Outra vez metido em sérias confusões, English, anteriormente exilado após uma falha crucial em Moçambique, é chamado às pressas para uma missão na Inglaterra. Eis uma outra chance, um outro filme e outras graças.

Abarrotado com um humor que referenciam a Mr. Bean, e isso talvez se dê ao fato de ter sido escrito por Hamish McColl, o cérebro por trás da história de “As férias de Mr. Bean”, este longa metragem funciona muito bem como sátira de filmes de espionagem, especialmente 007. Há carros e mulheres bonitas em volta do protagonista, igualmente ao modelo estabelecido na primeira empreitada. A diferença deste é centrar muito mais no espião, enfatizar sua arrogância orgulhosa quando pensa estar desempenhando um bom trabalho – fato auto motivador – e também ao demonstrar em detalhes as artimanhas furadas de seu método nada categórico de desenvolver as investigações.  

Dirigido por Oliver Parker, cara que recentemente trouxe às telonas uma nova adaptação de “O Retrato de Dorian Gray”, o filme é entusiasmado, reconhece o talento de seu protagonista em carregar sozinho a história e as piadas. Ele começa bem, mas vai despencando em autenticidade quando notamos repetições de idéias, sobretudo para quem conhece vários dos episódios da série “Mr Bean”. Atkinson é cômico, brilha, mas vai perdendo a força à medida que tantas piadas acabam sendo muito mais importantes que o roteiro. Este é visivelmente perdido e furado. Situações são jogadas em nosso colo e ninguém parece disposto a querer explicá-las.

A premissa da obra traz Johnny English treinando com monges, aprendendo novas técnicas e lições, até ser recrutado com chances de receber o perdão da Rainha, restituindo assim o posto que havia conquistado. Trabalhar essa idéia é algo ignorado por McColl, economizando atos a fim de favorecer novas possibilidades de recreação. Para isso vale de tudo, até caracterizar o vilão como uma senhora oriental fortemente armada. O trabalho ainda conta com Gillian Anderson de “Arquivo X” e com uma ex-bondgirl, a atriz Rosamund Pike – escolha bastante feliz ao constatarmos sua função em “Um Novo Dia Para Morrer”. E a personagem Lorna Campbell, vivida pela cantora Natalie Imbruglia no primeiro filme? Ninguém se lembrou de contar que fim ela levou. Explicações, realmente, não parecem interessar seus realizadores.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Proseando sobre... 11-11-11



 A expectativa em torno do 11 de Novembro de 2011 com relação a profecias e superstições motivou a concepção de um longa metragem de horror. Sua divulgação despertou curiosidade, sua temática também, e alguns aguardaram o tal filme “11-11-11” com certo interesse. A tentativa de se fazer terror com esta numerologia marcou o projeto constrangedoramente, graças a uma direção espanada, forçando sustos e cenas obscuras, e desenvolvendo uma história cujo potencial religioso, propagado num sentido crítico, mostrou-se propenso a finalidade polêmica sem grandes embasamentos. A reviravolta final, atributo constituído na série “Jogos Mortais”, residência de seu diretor, perde a força tamanha fenda de sua narrativa.

Legitimamente datado, este longa escrito e dirigido por Darren Lynn Bousman vem arrecadar alguma grana nas bilheterias para em poucas semanas ser completamente esquecido. Destino previsível. Vale até recordações: “Número 23” de Joel Schumacher é inevitavelmente lembrado. A obra desenrola-se fazendo constantes referências ao número 11, desde horários, datas, número de salas e apartamentos. Essa ordenação motiva a obsessão de seu protagonista, o famoso escritor Joseph Crone (Timothy Gibbs), um niilista transtornado por uma tragédia familiar que assombra suas noites com pesadelos.

A cena de abertura é um convite aos temores de Joseph. Terrores noturnos, imagens de chamas, gente no meio delas. Recorrentes sonhos que o atormentam, lhe obrigando a encontrar qualquer controle em pílulas. Sem saída, o cara freqüenta grupos de ajuda, tenta escrever um novo livro e flerta com uma estranha garota – essa nunca diz a que veio. Quando recebe a notícia de que seu pai está com os dias contados na Espanha, viaja até o país para revê-lo e enfrentar um passado abrupto que nos é temporariamente privado.

Desdobram-se especulações sobre os segredos dessa família. O irmão de Joseph, Samuel (Michael Landes), dedicado à religião, leva a palavra à comunidade, acreditando num acréscimo de seguidores da doutrina. O embate entre a descrença e a fé persiste em pelo menos dois atos sem conceitos, exprimindo opiniões como aversão voluntária. Em volta disso, sombras e representações aterrorizantes garantem um clima sombrio, contando com uma fotografia escurecida, esperando uma luz reveladora daquela cegueira aflita e incerta.

Imagens aparecendo em gravações, nos espelhos, na penumbra, juntamente a aparições repentinas de personagens hostis, buscam surpreender seu espectador – é a velha fórmula, mas muito mal utilizada. Há passagens que até dão fôlego a história, porém são sabotadas rapidamente quando o filme, quase se convertendo em um romance investigativo, busca aqui e ali algum susto. Sem sucesso, o diretor insere outro artifício a trama, um labirinto cuja única proposta é servir de alusão à busca de Joseph pela verdade. De melhor, o longa de Lynn Bousman oferece uma piada recordando “Louca Obsessão” e atuações controladas. O clímax sugere uma grande revelação, como às crenças sobre a data. Ela passou e nada aconteceu, igualmente o filme: esperado, passageiro e subitamente ignorado. 


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Proseando sobre... Atividade Paranormal 3



 Tem gente que vai olhar e questionar o porque fizeram mais um. Há o apelo comercial por trás, sem dúvidas, mas também existiu a necessidade de se fazer algo que trouxesse a origem dos apavorantes eventos. É a desculpa para outro filme, o terceiro, caso ignorem a realização em Tóquio. E se continuações costumam decepcionar, às vezes até mais, costumam destruir o que já foi criado, então nos resta com esse comemorar. “Atividade Paranormal 3” não é nenhuma bomba, longe disso, é uma feliz surpresa, não banaliza o original e ainda acrescenta novidades na história.

A estrutura é a mesma. O formato também, com algumas ressalvas. Câmera em punho, enquadramentos, trabalho profissional. O filme se passa em 1988, antecedendo a história dos outros dois, trazendo, dessa vez, um cinegrafista de casamentos, Dennis (Christopher Nicholas Smith), decidido em descobrir o que são os estranhos barulhos acontecidos de madrugada. A narrativa é idêntica, naturalmente, no entanto tem algo extra para ser contado. Há ainda a relevância histórica, as fitas daquele ano foram arquivadas. A história somente ocorre quando elas são descobertas e revistas. Completando a família, a esposa Julie (Lauren Bittner) e suas duas meninas, Katie (Chloe Csengery) e Kristi (Jessica Tyler Brown) – as protagonistas dos dois primeiros filmes.      

A direção é da dupla Henry Joost e Ariel Schulman de “Catfish”. Eles esboçam novos princípios a trama renovando-a. O auxílio de efeitos especiais e de um personagem cômico contribui para a narrativa não ser tão engessada e formulaica igualmente as anteriores. Se a expectativa perdurava antecedendo inevitáveis sustos, aqui o roteiro vai direto ao ponto, preparando terreno para as assombrações se manifestarem sem demora. Vale até um lençol imitando um fantasma – uma das melhores sacadas do roteiro – e também a lembrança da maldição Bloody Mary em frente a um espelho. Já a ambientação não é tão exaltada, a não ser pela referência a “De Volta para o Futuro” e os tipos de câmera da época.     

O que compromete a trama são algumas cenas que, por sua vez, não permitem que a obra torne-se crível em absoluto, como a câmera mais parecendo uma extensão do corpo de Dennis nas horas mais inapropriadas. Entendemos sua profissão e fixação pelo objeto, bem como seu voyeurismo – a proposta de filmar um ato sexual denuncia sua adoração pelo que a máquina proporciona. Ainda assim, custa acreditar em sua capacidade de largar para trás a família e as roupas, exceto a câmera. Se ignorarmos tal fato, o filme melhora, pois é limpo e sem pretensões de causar o mesmo espanto que seus antecessores. Esse garante admirável autenticidade, algo visado pela série em seu prelúdio e que quase se perdeu com o esgotamento de idéias cujas intenções eram exclusivamente aterrorizar.  


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Proseando sobre... Terror na Água 3D



 Tubarões famintos no cinema. Isso nos faz recordar de incontáveis filmes, especialmente de “Tubarão” do Spielberg, obra chocante dos anos 70. Ainda hoje ela funciona. Porém a prole de filmes semelhantes afundaram o gênero. Alguns até divertem, outros não temem a bizarrice e se orgulham de ser trash, como o recente “Piranha”. A onda 3D motivou a construção deste novo trabalho, afinal, que legal seria ver tubarões devorando pessoas através da tridimensionalidade. Ou não. Essa expectativa é deturpada, quase não vemos membros dilacerados e assistiremos pouco banho de sangue. Testemunhamos apenas água, movimentos e gritos. Que público o filme busca? Ahhh, mas é um filme da Disney, um filme de terror da Disney... assim até o Bruce de “Procurando Nemo” nos parece bem mais ameaçador.

Um grupo de jovens sai da cidade em direção ao lago em Louisiana a fim de passar um final de semana na casa de Sara (Sara Paxton). O clima descontraído de seu início rendendo piadas sobre os personagens converte-se em tensão quando, durante uma parada, deparam-se com dois homens do campo, arredios quanto a presença dos universitários. Após a primeira intriga, o grupo segue para o lago e iniciam a curtição até que sofrem o primeiro ataque. Trama usual. Priorizar os dois caipiras talvez teria sido bem mais curioso. A ótica dos habitantes locais, inclusive a desses dois, caras que provavelmente passam muito tempo conferindo reality shows, daria uma tonalidade nova a narrativa.  

O lago de água salgada – sim, o filme faz questão de focar que isto é possível – onde vivem tubarões guarda outros segredos. Estes segredos responsabilizam-se por reviravoltas estapafúrdias, esperando da platéia um sobressalto e indignação. O roteiro de Will Hayes e Jesse Studenberg insiste em querer ser sério, amedrontar e horrorizar. Funcionaria, talvez, com crianças. Os espectadores já perderam a fé neste tipo de obra. Alguns querem ver carnificina, outros não esperam menos do que mulheres nuas. Isso é incitado, mas no final o diretor recorre ao bom comportamento. E mais, o longa prova da caridade e gentileza do grupo. Em cena estão jovens românticos e heróis. Num ato tornam-se primitivos, mas desejando vingança por um amor. Esqueceram? É da Disney.  

Há ainda algo a se acrescentar. O melhor amigo do homem está presente, e não é preciso comentar muito para prever qual sua função dentro da trama. Eis o ser pensante no filme, o labrador. A saída ao tentar aproveitar alguma coisa no projeto é justamente o 3D. Não é uma exuberância, mas ele garante alguns sustos e closes interessantes. Só. O diretor David R. Ellis de “Premonição 2 e 4” prioriza mais a estética que o conteúdo. Os personagens pouco acrescentam, são figuras estereotipadas e marcadas pelo selo da produtora. Faltou eles ensaiarem alguma coreografia e começar a cantar. Já as máquinas assassinas sobressaem, fazem o que tem que fazer, devorar, sem que nós vejamos. E dizem que “Piranha 3D” é uma droga, ao menos dentro do que propõe, ele é bastante autêntico.  


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Proseando sobre... O Patinho Feio


A história é a mesma velha conhecida de Andersen. A diferença se dá em sua concepção, feito em massa, igualmente ao australiano “Mary & Max”. Essa nova versão é russa, e não se restringe apenas a animação, também é um musical, adaptando a obra “O Lago dos Cisnes” de Tarkovsky em vários tristes e cômicos momentos. O carisma dos personagens não é tão grande como se supunha, mas os efeitos e o estilo são encantadores, a começar pela caracterização e pela conduta em apresentar seus personagens com galinhas, patos e gansos convivendo juntamente num pequeno espaço cercado. Eles tem seu hino, suas sanções e regras. Lutam para ser o melhor entre todos os poleiros e ignoram o que consideram diferente.

Numa tarde, o galo esperando por um filhote que o substitua, encontra um grande ovo fora da cerca. Ele o esconde e guarda junto a outros ovos crendo que dali sairia um imponente galo. Após todos chocarem, percebem que uma das aves é completamente diferente, não atendendo as características de nenhuma espécie. O galo disfarça e estranha. Abandonado, o pequeno “patinho” é obrigado a viver sozinho, sendo negado por todos e gozado por outros, devido sua aparência distinta. Nesse meio, a narrativa considera também a possibilidade da liberdade, uma vez que, ao procurar seu espaço, a ave se percebe fechada e idealiza um dia poder voar juntamente aos cisnes no céu.

A narração em formato de fábula estiliza o comportamento dos animais como se fossem humanos. É uma pequena sociedade retratada. O diretor Garri Bardin apóia-se na versão concebida por Andersen, destacando várias canções que discursam sensações e empregam a moral. Não são poucos os momentos que nos flagramos fatigados pelo excesso de composições, até o pessoal da Disney teria dificuldade em digerir tanta música. E como “O Lago dos Cisnes” foi a escolha – feliz, diga-se de passagem – para a adaptação, ao final, a melodia permanecerá em nossa cabeça. 

Singelo do ponto de vista dramático, o filme ganhará nossa atenção graças à forma como foi construído. A dimensão da segregação racial, digamos assim, nunca é plenamente compreendida pelo “patinho” que faz de tudo para ser aceito. O diretor não exita em transformá-lo num herói em certo ato, para depois nos provar, a partir das atitudes de seus personagens, que o preconceito pesa mais que o heroísmo. Tanta humilhação nos causará a mesma compaixão que tivemos em nosso primeiro contato com a história. É bom para a geração que a desconhecia, ficará mais uma lição já tantas vezes propagada a respeito de diferenças, valores sociais e morais. Tirará alguns sorrisos também, principalmente pela presença de coadjuvantes inusitados que funcionam como alívio para aquele disparate entre os bichos, como uma minhoca nervosa em constante fuga, acompanhando tudo proximamente, igualmente a gente. 

domingo, 6 de novembro de 2011

Proseando sobre... Sauna on Moon



 Selecionado para o Festival de Cannes esse ano, “Sauna on Moon” não retrata a beleza da cultura oriental. Artifícios recorrentes como a direção artística normalmente irrepreensível destacando as cores e a arquitetura é ignorada, nem tem a elegância pungente da arte chinesa, país a qual a história é ambientada. O que veremos é a província de Guangdong, a cidade de Macau, cercada por favelas, em meio a degradações e ruínas. Ali, uma casa de prostituição funciona coordenada por Wu, homem de negócios, otimista quanto ao futuro daquele local e de suas garotas. O filme acompanha sua investida esperançosa apoiado por clientes poderosos e mulheres sem nada a perder.

O diretor e roteirista Zou Peng coloca neste seu segundo trabalho – o primeiro fora “Dongbei, dongbei” – o sonho de seus personagens em atingirem status sociais desejáveis através do entretenimento local, no caso, um prostíbulo pequeno. O lugar é limpo e organizado, atendendo importantes figuras que usam codinomes. A China com seu potencial econômico funciona como antagonista a história narrada, sugestionando os entraves sociais e a mistificação valorativa de seus cidadãos.

Wu não está sozinho em seu desejo, o que exalta laços amplos diante aos constantes fracassos, embora estes estejam escondidos atrás de alguém em defesa do sonho, otimizado e esperançoso. O roteiro alinha a realidade com exatidão. Não estamos frente a um filme que aspira finais revolucionários, felizes. Aquele papo de que ao final tudo vai dar certo não cabe aqui e isso não é um spoiler, sua narrativa compreende essa conclusão desde o início, o diferencial se dá no como lidar com isso. Aí o filme ganha discussões interessantes a partir da perspectiva de seus personagens, quem continua tentando ou quem cai fora.

Vislumbrando seus personagens, principalmente as mulheres, numa clara característica da filmografia oriental no uso de planos detalhe, “Sauna on Moon” é um filme passivo, com uma história lenta e que diz muito pouco, trazendo sonhos e incertezas futuros, busca por felicidade e dinheiro, e também de fama. Um trabalho repetitivo e fustrado, e não importa quais sejam as novidades para se faezr algo diferente – no caso, estoque de produtos do Sex Shop. É um filme para se ver, pensar qualquer coisa sobre o tema repetitivo e aguardar por uma nova sessão.   


Proseando sobre... Nervos à Flor da Pele


A temática adolescente ganhou um exemplar islandês com esse “Nervos à flor da Pele”, longa que trata, entre outras coisas, do descobrimento da sexualidade de seu protagonista durante uma viagem até a Inglaterra onde, além de estudar, deixou amizades e experienciou um caso homossexual. Seu retorno à Islândia é marcado por esse evento, um segredo angustiado, um céu de incertezas sobre si, piorando ainda mais quando ao lado de uma garota, confessadamente apaixonada por ele. Nesta cidade, acessamos a índole adolescente vista em vários outros filmes, festas regadas a bebedeiras, amizades, estudos e problemas com os familiares. Nesse meio, outras questões são levantadas, com certa demasia ao terem pouco tempo para melhores explorações.

O trabalho tem ótica condolente à perspectiva adolescente, tudo é meio bagunçado, mal resolvido e confuso. A direção do estreante Baldvin Zophoníasson capta esse viés, mas desdobra para tantos rumos que corremos o risco de confundir histórias e personagens. O foco é a sexualidade de Gabriel (Atli Oskar Fjalarsson), garoto adorado entre os amigos, porto seguro para alguns, mas não é somente ele a ser considerado pelo roteiro. Uma garota apaixonada, o amigo traidor, tentativas de suicídio, o preconceito com imigrantes, são apenas alguns exemplos do que o filme busca tratar em seus 90 minutos.

Tanto assunto que poucos conseguem alcançar algum fundamento na narrativa, um destes que alçam vôos mais altos é o de relações familiares, sobretudo no papel de mães devoradoras, ou ao menos aquelas que exercem função semelhante com autoridade, caso da avó conservadora de Stella (Hreindís Ylva Garðarsdóttir). Gabriel não possui nenhum vínculo satisfatório com a mãe. Arredio a todas as investidas da mulher, até quando discursa sobre sua família denuncia antipatia, ao mesmo tempo que sai em defesa do pai que não mora junto a ele. É um filme bastante simples, bem intencionado, mas falho. Em nosso cinema, temos acompanhado bons filmes com este tema, como “As Melhores Coisas do Mundo” de Lais Bodanzky e “Antes que o mundo acabe” de Ana Luiza Azevedo. Comparações são inevitáveis.

Visando elaborar alicerces da fase adolescente, o longa explana horizontes e desaparece com eles. É feliz na concepção dos atos relacionados aquele universo, porém acaba expositivo demais, com fugas e desordens, não conciliando as dificuldades naturais deste período com as propostas vigentes sugeridas na trama, desenrolando-se, assim, para lugar nenhum. Decepciona, uma vez que possui bons personagens com questões pessoais que dariam longas metragens particulares e provavelmente não terminaria como um filme contemplativo juvenil, mas sobre os percalços os quais estão envolvidos seja lá qual classe social ou cultura pertençam.