segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Bruna Surfistinha


O novo sucesso de bilheteria nacional é “Bruna Surfistinha”, filme que retrata um pouco a vida de Raquel Pacheco, filha de pais adotivos de classe média alta paulistana que está disposta a vencer frustrações do cotidiano e conquistar autonomia. O caminho que encontra para isso é a prostituição. Adaptado a partir do livro O Doce Veneno do Escorpião” escrito pela própria Raquel, o longa inicia resgatando cenas do passado da garota intercalando com seu presente, sua aproximação da casa de prostituição, seus primeiros clientes e sua hegemonia que meses depois lhe glorificaria ao mesmo tempo em que lhe seria corrosivo. Seu dia a dia passou a ser retratado num blog recebendo mais de 10.000 visitas diárias e comentários desejosos de homens que economizavam por meses para passar uma noite com Bruna Surfistinha, codinome de Raquel.

O filme possui várias cenas de sexo e como não tê-las? Ao tratar da vida de uma prostituta cujo sexo é o responsável por seu sucesso, este não poderia ficar de fora acontecendo em cena por longos momentos e com vários homens. É o fio condutor da narrativa e através dele conheceremos a fragilidade de uma garota perdida em suas ambições. Nesse percurso sexual, é importante frisar, embora ainda seja tratado com algum humor pelo roteiro, traz uma temática séria ao abordar escatologias, perversão e fetiches que sugerem humor ou nojo, ou para os mais solidários, pena. É interessante como o roteiro expõe os prazeres e a composição proposta pelo diretor Marcus Baldini demonstra de forma recortada e breve o prazer urgencial que os clientes procuram naquela única hora com Surfistinha.

Baldini se revela burocrático na direção fazendo o básico sem aprofundamentos na história – embora essa tenha quase duas horas de projeção – e ignora circunstâncias do passado como a humilhação de sua protagonista no colégio, sua relação com os pais e irmão e a cleptomania que parece atingi-la compreendida por quem vê como uma reação à frustração. Tudo isso aparece em brevíssimos momentos no longa. O interesse do filme é outro: a prostituição como oportunidade de se dar bem na vida. Nesse caso, Bruna tem o auxilio de um blog que funciona como um diário e este lhe vende. É difícil assistir o filme e não recordarmos de Catherine Deneuve em “A Bela da Tarde” que vai parar opcionalmente numa casa de prostituição por motivos distintos aos de Bruna, ou fazer uma ponte com alguns filmes de nossa cultura como “O Céu de Suely”, “Falsa Loura” e recentemente com “Sonhos Roubados”. Entre tantos, principalmente, “Bruna Surfistinha” faz recordar o ótimo “Nome Próprio” devido a fama adquirida pela protagonista através de blogs.

E quem rouba a cena nessa história é Deborah Secco numa atuação marcada por sua lascívia já no primeiro ato quando num plano exibicionista incita o voyeur – ainda que distante daquela que mais tarde irá se tornar . Após conheceremos uma jovem insegura de si considerando-se a garota mais feia do colégio. De início, nada trás de sensual em seu cotidiano sempre vestida com roupas largas e com postura desajeitada. Sua personagem sofre uma grande mudança, exigência de sua nova condição e desabrocha nua frente à câmera sem pudores. Sua conduta é acertiva, a atriz ganha atenção não por ficar nua e transar com filas de homens – despertando imaginação em alguns que vão ao cinema unicamente para vê-la desnudar – mas por seu desempenho dramático exigido em vários atos.

A contemplação visual incita e recrimina preconceitos, uma vez ser um filme simples – pouco intenso – mas conveniente a sua pretensão. Esse “Bruna Surfistinha” trata com sinceridade o tema da prostituição e faz refletir trazendo idealizações de mulheres que decidiram largar tudo para tornar-se prostituta. O assunto é fértil e temos visto cada vez mais em destaque. Como exemplo dos últimos anos temos a ex-prostituta Gabriela Leite que largou o curso de sociologia na USP e decidiu virar prostituta ficando famosa mais tarde com a grife Daspu e o livro de memórias “Filha, mãe, avó e puta”. São exemplos brasileiros de mulheres que convivem com a resistência e preconceitos se submetendo a perigos e humilhações, e lutam para o reconhecimento dessa profissão vista por alguns como uma das mais antigas de nossa história. 


Vencedores do Oscar 2011

 Sem grandes surpresas, o Oscar 2011 veio desagradar a maioria e provar o quanto a academia é conservadora. Uma pena.
 
Melhor direção de arte- "Alice no País das Maravilhas"
Melhor fotografia- "A origem"
Melhor atriz coadjuvante:- Melissa Leo – “O vencedor”
Melhor curta-metragem de animação- "The lost thing", de Shaun Tan, Andrew Ruheman
Melhor longa-metragem de animação:- "Toy story 3"
Melhor roteiro adaptado- “A rede social”
Melhor roteiro original- “O discurso do rei”
Melhor filme de língua estrangeira- "Em um mundo melhor" (Dinamarca)
Melhor ator coadjuvante- Christian Bale – “O vencedor”
Melhor trilha sonora original- "A rede social" - Trent Reznor e Atticus Ross
Melhor mixagem de som- "A origem"
Melhor edição de som- "A origem"
Melhor maquiagem- "O lobisomem"
Melhor figurino- "Alice no País das Maravilhas"
Melhor documentário em curta-metragem"Strangers no more"
Melhor curta-metragem- "God of love"
Melhor documentário (longa-metragem)- "Trabalho interno"
Melhores efeitos visuais- "A origem"
Melhor edição- "A rede social"
Melhor canção original- "We belong together", de "Toy story 3"
Melhor diretor- Tom Hooper – “O discurso do rei”
Melhor atriz- Natalie Portman – “Cisne negro”
Melhor ator- Colin Firth – “O discurso do rei”
Melhor filme- “O discurso do rei”

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Atração Perigosa



No início, uma informação. Nenhum bairro de Boston gera tantos assaltantes de banco como Charlestown. Tal ofício tornou-se tradição familiar, herança de pai para filho. Tem início “Atração Perigosa”, filme que traz Ben Affleck enquanto protagonista como também na direção e roteiro. Adaptado a partir do romance de Chuck Hogan, o longa traz como cenário Boston e os grupos que se juntam para assaltar bancos e carros fortes locais, nem sempre com muito sucesso. Affleck vive Doug MacRay, um líder de uma quadrilha em destaque na região e, ao lado do braço direito James Coughlin (Jeremy Renner, estrela de “Guerra ao Terror”) e de outros dois amigos, é recrutado por um dono de uma floricultura a realizar assaltos milionários. Em um deles, o grupo se vê obrigado a fazer uma gerente como refém, ato que sucederá uma série de conflitos.

Affleck demonstra novamente o que já havia mostrado em “Medo da Verdade”: segurança na direção. Seus atuais projetos vem se consolidando como particularidades de um homem interessado em pesados dramas pessoais, implicantes no submundo do crime organizado. Não parece demorar muito para que ele abandone de vez as atuações e se mantenha por trás das câmeras. É discrepante a diferença. E nesse projeto, traduzido por aqui como “Atração Perigosa”, uma não tão infeliz tradução de “The Town”, mas que cairia melhor como “Ligações Perigosas”, uma vez possibilitar ressaltar duas relações vitais na trama e que se estendem até seu desfecho. São os casos do romance do protagonista com a jovem yuppie Claire Keesey (vivida pela inglesa Rebecca Hall) e também, a relação entre Doug e James, com o primeiro vivendo uma dívida com o amigo, implícita nos vários lembretes sobre o homem ter passado quase uma década preso em defesa do companheiro.       

O tema não é novidade no cinema, a composição de suas relações também não: o romance entre o bandido e a mocinha até a estremecida convivência entre moradores de um bairro cuja hierarquia vitimiza seus jovens. Não distante, está também, embora de maneira bastante fria, a cumplicidade entre pai e filho – Chris Cooper faz uma participação breve, mas fundamental a dinâmica paterna determinante. O que é novidade – talvez o termo novidade não seja adequado – é a tradução daquele contexto através dos olhos de alguém que verdadeiramente o conhece – estamos na cidade natal do diretor. Somos indiretamente convidados a seguir um jogo entre polícia e ladrão, cheio de obviedades que comprometem apenas a expectativa de se ver um trabalho primoroso, mas suficientemente capaz de exprimir interações, com perspectivas de mudança frente à realidade e futuro. Resta o desejo de uma nova vida e a dúvida sobre ser capaz de conquistá-la. 


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Valendo Ingresso para o Centerplex


Quem responder primeiro a pergunta leva o ingresso.

RESPONDA EM COMENTÁRIOS E SE IDENTIFIQUE.

No mês de Novembro, fiz um especial sobre a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com 5 textos. 


Pergunta: A história de qual desses filmes se passa numa cidade em Taiwan? 

BOA SORTE!

Proseando sobre... O Besouro Verde


Seth Rogen funciona bem em comédias que envolvem nerds. O estilo parece não abandonar o ator já especialista no assunto e agora ele vem tornar-se herói. Bem, ao menos seu novo trabalho se relaciona a filmes sobre heróis. Longe de ser um exemplo heróico a ser seguido, o personagem de Rogen é melhor compreendido como um aproveitador da inteligência e capacidade de outro fazer a diferença. Em cena “Besouro Verde”, o novo longa do diretor francês Michel Gondry que tem passado longe de realizar trabalhos tão importantes e envolventes como os passados “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” e “A natureza quase humana”. Aqui ele investe no mundo dos heróis dos quadrinhos e concebe um anti-herói.

Conhecemos Britt Reid ainda criança sendo frustrado pelo pai, Jack Reid (Tom Wilkinson), famoso diretor de um influente jornal local. Muitos anos mais tarde, veremos Britt cheio das regalias, longe de querer herdar a liderança do pai e sendo protagonista de escândalos vivendo em festas banhadas com bebedeiras e mulheres. Tal postura é condenada por Jack que minutos depois irá morrer de uma causa bastante curiosa. O filme engata à marcha nesse ato colocando o jovem irresponsável e irritante Britt a frente da empresa. Sem talento para nada, se revela frívolo nas empreitadas com muito pouco a acrescentar seja lá onde se relacione. Por sorte, conhece o homem do café, Kato (Jay Chou), um cara oposto a sua persona com intelecto admirável e com uma habilidade nas artes marciais que chamaria atenção de qualquer grande mestre. Não é à toa o desenho de Bruce Lee entre seus rabiscos.

Michel Gondry explora o potencial de seu protagonista, mas esse é fraco e indigesto. Agüentar Britt é uma tarefa árdua ficando quase impossível torcer por ele. Seth Rogen ajuda a esvaziar o personagem com sua postura fruto de filmes chapados anteriores como “Segurando as Pontas”. Em compensação, Jay Chou se não tem talento interpretativo, ao menos possui carisma e ganha pontos por seu personagem ser simples e propenso a aspirações futuras – sem falar que suas elaborações e construções chamam a atenção do público. O roteiro aborda essa dupla creditando muito mais o primeiro. E isso é absolutamente compreensível. Os dois decidem arrumar um uniforme, criar uma identidade oculta e ir as ruas fazer algumas justiças. Chegam então ao “Besouro Verde”. E que confusão reserva as aventuras desses dois dispostos a chamar atenção posando – acredite se quiser – de vilões.

No longa Cameron Diaz aparece vivendo a personagem feminina responsável por desentendimentos entre a dupla central, e responsável também pelos caminhos os dois irão trilhar para serem temidos na cidade. Por outro lado, o australiano oscarizado Christoph Waltz é o antagonista pouco levado a sério, mas que nunca se inibe em tocar o terror e deixar corpos pelo caminho. Sua necessidade de ser temido e impressionar é divertida, mas infelizmente pouco explorada. Que o diga o personagem de James Franco – que aparece numa ponta – vítima dessa obsessão. Waltz é Chudnofsky, líder do tráfico e dos crimes na cidade e ele tem tanto domínio que nos causa estranheza, ficando compreendido somente no terceiro ato da trama quando algumas questões se revelam. O filme se beneficia desse ponto e coloca ordem na bagunça. Parece que aí Gondry, apagado diante sua já conhecida competência, mostra a que veio e torna tudo melhor. Note que até os personagens, tanto os centrais como os de apoio, crescem e ganham mais atenção. Porém fica nisso e sem muita ousadia, “Besouro Verde” termina apenas como uma boa diversão.

 Eu vi, achei muito ruim, as história em si é legal,mas o roteiro não ficou bom, as cenas de ação são forçadas...não gostei.
@DanielHerculano 'Besouro Verde' é uma sessão da tarde.


Oscar 2011 - Podcast Especial


Interessados no Oscar? Os caras do @antennados criaram um podcast sobre o Oscar fazendo apostas num clima bastante descontraido a respeito dos indicados. Essa edição conta com minha participação batendo um papo com @georgegxp e @lord_vaynard . Vocês ainda podem ganhar um DVD vencedor do Oscar preenchendo o formulário.  

Boa Sorte e Divirtam-se. 

Para baixar: Clique Aqui! (61 MB) - Alta qualidade
                  
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CLIQUE AQUI E PREENCHA O FORMULÁRIO COM SUAS APOSTAS. (VOCÊ AINDA PODE LEVAR O DVD DO FILME "ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ" PARA CASA)

Conheçam muito mais em http://osantennados.blogspot.com/

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Amor e Outras Drogas

 
O livro “Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman” de Jamie Reidy ganha sua adaptação no cinema através do cineasta Edward Zwick. Eis um ponto que já chama a atenção e será mencionado adiante. Estamos nos anos 90, a Macarena está fazendo sucesso e uma pílula azul está ocasionando largos sorrisos: o viagra. Há um choque entre indústrias farmacêuticas com drogas dispostas a aliviar sofrimentos, sobretudo acompanharemos um duelo entre Prozac contra o Zoloft. As conseqüências disso são expostas através de estatísticas de qual é o medicamento menos danoso. O roteiro tem em mãos um assunto poderoso, mas ele fica de lado. O foco é um romance permeando esse contexto e nele está o galã vendedor Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) cuja lábia sempre lhe garante noites acompanhado; e a jovem artista Maggie Murdock (Anne Hathaway) que convive com o mal de Parkinson e sempre na defensiva, afasta qualquer possibilidade de relacionamento vivendo apenas aventuras sexuais – e essas são muitas. “Amor e Outras Drogas” gira em torno dos avanços da indústria farmacêutica e de seu potencial lucrativo (e o diretor é hábil em metaforizar esse potencial através de um mendigo) e de um encontro casual entre um casal com possibilidade de um romance duradouro acontecer.

Randall prova ser o cara das vendas – engana muito bem – e sua apresentação inicial é o bastante para conhecermos sua virtude, sobretudo com as mulheres. Há uma competição entre sua família sobre a necessidade de se dar bem. Daí desenrola-se mentiras importantes para o aprofundamento da narrativa questionada mais tarde numa ligação. De início vendendo eletrodomésticos e mais tarde representando a indústria farmacêutica Pfizer, o cara logo tem que desenvolver planos de como conquistar a atenção de alguns médicos para que estes vendam seus produtos. Aí acompanharemos um jogo de persuasão interessante. É nesse percurso que Randall conhece Maggie durante uma consulta e diante a rejeição da moça se percebe estranhamente atraído por ela. O roteiro que começou bem cai no modismo e ignora potenciais pouco vistos no cinema. O diretor Edward Zwick, um cara dos filmes de ação (são dele filmes como “Nova York Sitiada”, “Um ato de Liberdade” e “O último Samurai”) investe num romance com boas pitadas de comédia. O mulherengo com uma garota doente, algo bastante visto no cinema se repete aqui, sem exageros, felizmente. Mas é terrível perceber que Zwick necessita exibir excessivamente as dificuldades da protagonista e não coloca fé no espectador quase duvidando que este perceba sozinho. Os frames nas mãos da garota segurando uma xícara são pra lá de desnecessários.

É tanto lobby que passamos boa parte do filme pensando nessa competição cruel entre os representantes de diferentes indústrias farmacêuticas. E é para tanto? Diante a previsibilidade de “Amor e Outras Drogas”, este que tem muito mais a dizer que outros semelhantes, resta a sensação de que a pouca ousadia – ou falta de coragem; ou censura dos produtores – impedem que projetos com potenciais alcem vôos mais altos. Mas é bom de se ver, é mesmo para se divertir e o que realmente funciona é a química entre o casal. Gyllenhaal é convincente, não só vende os produtos do filme como nos vende o próprio longa metragem. Já Anne Hathaway, numa atuação a baixo do que costuma realizar, se mostra a vontade em cena e não se limita à nudez, algo que já havia feito em outros filmes. O casal encanta e são, sem dúvidas, o melhor que o filme tem a oferecer. Nesse romance tão parecido com outros se escancara algo que alguns tinham como tabu, a constituição do sexo em cena sem ser gratuito. Ele acontece – e muito – trazendo ideais que o cinema lida com certa dificuldade ainda mais com filmes desse gênero. É uma reprodução lógica daquela situação com um homem propenso a aventuras sexuais com diferentes parceiras e uma garota desligada de fantasias que encontra na sexualidade um conforto para sua frustração. Trata-se de um romance para adultos e para quem não tem preconceitos. 


Assisti ontem 'O amor e Outras Drogas'. De forma simples o filme traduz que o amor supera qualquer dificuldade. Adoreei! ;-)

@ Assistimos e adoramos! Divertido e emocionante na medida certa!

Achei o filme despretencioso e, ao mesmo tempo, simpático e fofo. E Ane Hathaway e Jake Gilenghaal são um colírio pros olhos.

@ ahh eu adorei "o Amor e outras drogas" ehueh tirando "algumas" cenas achei suuuper legal (:

@ eu viiiii! lindooooooo filmeee!



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Caça às Bruxas


São inúmeros os fãs de Nicolas Cage. Esses foram conquistados por conta de filmes populares onde o carisma do ator seduziu. Mas Nicolas Cage é mesmo um bom ator? Ou será que não sabe escolher projetos para atuar? Talvez esteja precisando de uma graninha? Ou é mal gosto mesmo? Seu novo projeto é “Caça às Bruxas”, filme que traz dois guerreiros lutando em cruzadas sangrentas em nome de Deus. A cena inicial pode até empolgar, mas comparada a vários outros filmes – pelo menos quem vai ao cinema regularmente – percebe que elas não tem nada de tão impressionante quanto se supunha. Esses dois guerreiros são o herói Behmen (Cage) e seu parceiro fiel Felson (Ron Perlman) e juntos, após matar centenas, percebem que algumas mortes foram injustas e se revoltam contra o que acreditavam. A crise de consciência – e isso parece piada – dessa dupla irá abrir o filme.

O filme é dirigido por Dominic Sena (“Terror na Antártida”, “60 Segundos”) e percebemos que o cara não tem lá muito jeito para despertar nossa atenção com o que acontece na narrativa passiva de seu novo trabalho. O que se segue é uma seqüência de eventos os quais poderíamos supor antes mesmo de acontecer: não é difícil, o rumo que “Caça às Bruxas” toma nunca é diferente do que estamos acostumados a ver e seu diretor em momento algum utiliza algo verdadeiramente novo. Para explanar, os dois amigos logo após se desligarem da legião que defendiam, descobrem a Europa devastada pela peste negra e seus líderes colocando a culpa nas bruxas. No percurso ambos são presos, mas logo incumbidos de levar uma jovem bruxa até um morasteiro para que essa seja julgada – felizmente não é só para isso – e nesse caminho irão se deparar com tormentas e tentações dessa garota engaiolada.

Caso permita-se divertir com o que está rolando, irá conseguir, há alguma ação e algumas piadas cuspidas por vezes sem propósito (leia-se sem sentido).  As caracterizações de Behmen e do fiel escudeiro Felson são até bem feitas, entendemos que são grandes e inseparáveis amigos e que um daria a vida pelo outro. Esse é um viés que o roteiro poderia explorar melhor, mas esquece para se concentrar na ira contra as bruxas – e se pegarmos a história, a santa inquisição e afins, esse filme irá apenas centrar seu argumento numa proposta metafísica que não existiu e padecer na crença da magia e derivados. Mas se trata de uma ficção, ainda assim seu conteúdo é discutível. E voltando a falar do astro central inexpressivo, Nicolas Cage apenas enfeita, vive um bom herói que topou fazer o serviço para defender sua espada. De cada 6 projetos ruins, Cage realiza 1 bom. Que essa média melhore pelo bem do cinema.  



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... As Múmias do Faraó


O diretor e roteirista francês Luc Besson retorna com seu novo filme, “As Múmias do Faraó”, atualmente disponível em DVD, que é baseado em quadrinhos de Jacques Tardi. Passou quase despercebido pelos cinemas nacionais. Alguns ainda dizem que sua estréia por aqui foi uma surpresa, uma vez que quadrinhos europeus não costumam emplacar no Brasil salvo algumas exceções. O filme conta a história de Adèle Blanc-Sec, jornalista a procura de matérias extraordinárias após o fim da primeira guerra. Ela tem em mãos um material que pode ser um sucesso, sobretudo para salvar a vida de sua irmã que tem vivido em estado vegetativo por causa de... é melhor nem comentar. Adèle vai até o Egito em busca de uma tumba de um faraó pretendendo despertar a múmia de um médico o qual segundo a história tinha grandes poderes de cura. Para ressuscitá-lo, a jovem aventureira conta com um apoio inusitado.

Luc Besson é famoso por célebres trabalhos como “O Profissional”, “Imensidão Azul”, “O Quinto Elemento”, mas também já foi alvo de chacotas graças a fiascos como seus roteiros para “Bandidas” e “Táxi 4”. O roteiro parece ser um costumeiro problema na carreira do cineasta. Em As Múmias do Faraó” tudo é bagunçado, algumas coisas custam a fazer sentido e outras temos de esquecer completamente para apreciar a obra. A atenção em seu novo trabalho é voltada para Adèle, jovem que faz o tipo Indiana Jones de saia, protagonizando cenas engraçadas e não deixando sua sensualidade se perder com a bizarrice de alguns momentos – algumas tomadas com a garota, que é vivida pela aparentemente delicada Louise Bourgoin, ganha luxúria e certa provocação inesperada. Os efeitos especiais não são hollywoodianos, mas são bons. O figurino então, é rebuscado, revitalizando a Paris pós primeira guerra.  

Adèle é o cerne da história, – ao menos Bourgoin a conduz com sensatez e elegância fina – mas a narrativa é toda falha e absolutamente surreal. Claro que conhecemos sucessos de bilheteria cujo irreal funciona. Não tão distante, está a bem realizada franquia “A Múmia”. Mas em “As Múmias do Faraó” tudo soa dissonante demais e verdadeiramente bizarro. Enquanto Adèle vive aventuras mortais no Egito atrás da múmia que detém a cura, em Paris um pterodátilo de 136 milhões de anos saiu de um ovo exibido num museu e está sobrevoando a cidade e apavorando alguns de seus moradores. A medida que o filme avança, o dinossauro se transforma de uma criatura perigosa num animal de estimação tão assustador quanto um coelho. Essa incoerência extrapola, atrapalha o desenvolvimento da história que se inicia perdida e termina confusa. Mas é engraçada, tem sua fineza e sua beleza, e tem uma protagonista suficientemente cômica que faz o filme dar certo. Há ainda o vilão vivido pelo extraordinário Mathieu Amalric, irreconhecível em seu papel. Pirado, mas divertido, para aproveitá-lo, é necessário não levá-lo a sério.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Lixo Extraordinário


Documentários reservam surpresas soberbas. “Lixo Extraordinário” é extraordinário por sua sutileza em tratar o dia a dia de catadores de lixo do maior aterro sanitário da América Latina em Duque de Caxias, o Jardim Gramacho. A história de vida empolga, não no sentido de nos identificarmos com a situação desses trabalhadores em tal contexto, não o invejamos, nos surpreendemos e essa sensação causada pelo filme é um ode, pois fala de vidas consideradas por alguns como classe ordinária e encontramos em seus sorrisos sinceridades que não vemos em muita gente que tem muito mais do que eles. Com “Lixo Extraordinário” aprendemos arte e também a ver felicidade na simplicidade e que sim, apesar de tudo, apesar das mortes, do odor, da dor, da doença, é possível tirar algo. E como esse pessoal que divide espaço com máquinas e urubus tem a ensinar. Não que eles sejam felizes, no entanto suas tolerâncias são um exemplo.  

A proposta é ousada: mudar a vida desses trabalhadores através da arte. É com esse discurso que o artista plástico Vik Muniz inicia seu projeto entrevistando alguns trabalhadores locais, ouvindo um pouco de suas vidas, suas ambições e seus desejos. Acompanhamos sempre atentos o que se passa naquele contexto e a realidade amarga e injusta que alguns são sujeitados. Não é para sentir pena, é vibrar com o orgulho daqueles que não tiveram oportunidade – ou sorte, como julga o filme. E isso por que? Porque eles não serão apenas peças do projeto de Vik, mas participantes, conceberão arte e ganharão com isso. É lançada a oportunidade de sair por uns dias daquele contexto e investir em outro assunto.


Os catadores de lixo, ou melhor, de materiais recicláveis, acompanharão o passo a passo da concepção de quadros feitos a partir de fotos tiradas enquanto trabalhavam. Num barracão as imagens das fotos são projetadas e as sombras são tomadas por lixo. A coisa toda fica esplêndida e como é bom acompanhar esse desenvolvimento, a conclusão do trabalho enche os olhos. A satisfação daquelas pessoas ao verem o que fizeram é tão evidente que emociona – as cenas finais denunciam esse prestígio ufano. Concluir essas imagens é só o início, o filme prepara uma viagem com grandes dimensões. Vik Muniz é um artista plástico e fotógrafo brasileiro de sucesso que mora nos Estados Unidos e é uma referência graças a sua originalidade. Sua história não está longe das contadas pelas pessoas que acompanhou durante as filmagens e a impressão final é otimista e satisfatória. Diante a chance de fazer diferença com o lixo, fica uma lição para todos referente a possibilidade de fazer arte com o que tem em mãos. Eis uma lição de conscientização.

99 não é 100, cabe a cada um fazer sua parte. Ok, isso fará mais sentido para quem assistiu o filme.



O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS DE CALDAS PELO MENOS ATÉ DIA 17 (QUINTA), ÀS 20h30. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... O Turista


Quando dois astros de Hollywood estampam o cartaz muitos correm atrás de ingressos para vê-los. Muitas vezes a história pouco importa, o que vale é a quantidade de espectador e de fãs que vão assistir. E quem ousaria dizer que o cineasta Florian Henckel von Donnersmarck (do ótimo “A vida dos Outros”) não teria um grande público? Angelina Jolie e Johnny Depp formam a dupla central desse longa de ação cheio de subgêneros. Dentre esses subgêneros, a comédia se destaca, principalmente quando ligadas às cenas envolvendo o personagem confuso de Depp, novamente mostrando o grande ator que é. Já Jolie apenas desfila, funciona como uma sereia tentando e atraindo os olhares, mas pouco faz em cena – ao menos enquanto atuação.

“O Turista” conta a história sobre uma viagem de Frank (Depp), um professor de matemática que está passando uma temporada em Veneza – você vai querer viajar pra lá – e sozinho, um disparate naquela cidade, se depara com uma mulher misteriosa e igualmente sedutora que passa a acompanhá-lo. Há uma razão para isso e tomamos conhecimentos logo no início quando Elise (Jolie) nos é devidamente apresentada. Daí em diante só rolo acontece na vida do turista Frank que é confundido com um famoso ladrão procurado em vários países e passa a ser perseguido tanto pela Scotland Yard quanto por um grupo de mafiosos. Mas algo nos incomoda durante essa projeção: o provável vilão simplesmente é ignorado e outro surge em cena vivido pelo cara de poucos amigos Steven Berkoff que tantas vezes viveu antagonistas no cinema.

O roteiro explora Veneza nas cenas de ação, seja nos telhados ou nos barcos, mostrando toda esta beleza italiana. Mas ali a paz não reina, ao menos não no filme e nas divertidíssimas cenas de perseguição que são mal desenvolvidas. Bem, não são somente elas que não acontecem com fluidez, o filme é meio quadrado e a história apressada, passa por cima de eventos importantes e parece que devemos esquecê-los ou preenche-los segundo nossa própria idéia. Sua funcionalidade narrativa se limita a despistar os perseguidores seja com a persuasão e inibição da personagem de Jolie ou nas atrapalhadas de Frank. Note que no início do filme nos é informado que a polícia sabe que o turista americano realmente não é o homem que procuram,  e ainda assim vão atrás dele. Isso dá um outro crédito a narrativa que infelizmente termina sem ser aproveitado.     


Frágil diante a expectativa que se firmou a respeito de seu argumento, ainda mais frustrante por vê-lo indicado no Globo de Ouro – o que é inconcebível – esse novo projeto de von Donnersmarck comparado a seu trabalho anterior é apenas divertido e perfeitamente esquecível, dada a filmografia de seus protagonistas e do elenco de apoio. Paul Bettany também está em cena e talvez seja o dono do melhor desempenho da trama, esta que promete ficar na cabeça de quem não é acostumado a acompanhar alguns tipos de filmes e facilmente se impressione finais "surpresinha". Os espectadores de “O Turista” também devem terminar com indagações do tipo “e se...” e isso motiva apenas a nossa dúvida de que o filme parece ter outras intenções do que entreter. Vale como diversão passageira e para ver os astros Hollywoodianos contracenando.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... O Casamento de Rachel



É natural que, ao deparamos com longas de ordem dramática reforçada pelas personalidades de seus personagens, nos apreendamos e procuramos intimamente questionar suas atitudes e, numas suposições por vezes equivocadas, rotular o que determinado personagem é por uma simples espreitada. É fácil banalizar termos, muitos se tornaram populares demais como: se está triste, está depressivo; se está muito alegre, é hiperativo. Não é só isso, há o que se considerar. No filme, um drama familiar está escancarado, contando pouco a pouco as razões pelas quais Kym foi internada numa clínica de desintoxicação, tendo alta somente nove meses depois para ir até o casamento de sua irmã Rachel. E esse retorno ao contexto familiar irá tocar feridas incicatrizáveis.

Com um título que faz lembrar comédias românticas, este de "O casamento de Rachel" é um entusiasmado drama familiar intenso. Os diálogos concebidos pelo roteiro preciso do estreante Jenny Lumet são pertinentes à cadência da história refletida nas ações de sua protagonista que, devido as suas posturas mutáveis, causa um verdadeiro mal estar entre os familiares principalmente ao abalar as aspirações otimistas que estes vinham cultivando sobre sua melhora. Desenrolam-se aí algumas explicações sobre o passado dessa família, bem como seus conflitos omitidos por opção nessa trincheira fingida e obstinada em afastar algumas infelizes lembranças.

Vivida idoneamente pela promissora Anne Hathaway, Kym é uma personagem central susceptível de discussão. Sua inacessibilidade e obscuridade funcionam não só em suas atitudes, mas também na aparência da atriz que colabora para tal sensação do público. Bem também está a desconhecida Rosemarie DeWitt encarnando Rachel. Dirigido por Jonathan Demme, um cara de visão soberba e inovadora quanto à arte cinematográfica com câmera em punho, consegue despertar ainda mais o interesse de seu público ao desenvencilhar o óbvio caracterizando seu filme, não como apenas mais um do gênero, mas como um diferencial diante tanta mesmice.

A ausência de trilha sonora sufoca o espectador, as cenas são auto suficientes em manter a atenção. Não é um filme difícil de se ver, mas também não é convencional e por isso pode passar despercebido por alguns e talvez tornar-se um cult, uma adoração para os interessados e envolvidos pelo assunto em questão. "O casamento de Rachel" é um drama familiar apurado que merece ser visto, exibindo um incuti a desestabilidade da família de Kym. E quão grave é, o bastante para influir um de seus membros à toxicomania! São questões recorrentes em "O casamento de Rachel", com a desordem dramatizando a necessidade de reparo, e principalmente, a dificuldade em resistir ao que parece insuportável.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Santuário



A nova aposta de James Cameron no 3D é “Santuário”, filme que traz uma expedição de um grupo apaixonado por aventuras cujas ambições referem-se a ultrapassar os limites humanos. Eles encontram uma imensa caverna, quase inacessível e decidem explora-la até o fim, observar sua beleza e claro, serem os primeiros a passarem por ali – quem sabe figurar em alguma capa de revista famosa com o feito. O percurso reserva grandes desafios e tudo é perigoso. Segundo um dos exploradores, um único erro pode custar a vida. A sensação local é claustra, insegura, e nas pequenas passagens que os personagens juntamente a câmera adentram quase nos tira o ar. Essa impressão permanece e incomoda, ainda mais com a tridimensionalidade fortalecendo nossa percepção de que estamos presos, sem fôlego. A produção executiva de James Cameron corrobora o único grande êxito do longa: fazer-nos sentir mal e provocar diversão com isso. Soa estranho, mas é essa a proposta.

Iremos conhecer cavernas inexploradas cuja acessibilidade é precária. Iremos também acompanhar um duelo de egos que se seguirá do início ao fim da projeção. Carl (Ioan Gruffudd, mais conhecido por viver o Senhor Fantástico na franquia “Quarteto Fantástico”) e Frank (Richard Roxburgh) duelarão para chegar na frente nos lugares e serem os primeiros a ver a beleza que tais cavernas inóspitas reservam. E de fato são muitas. O lugar inteiro encanta, a sensação bucólica no início do filme é um trunfo nos fazendo sentir bem para logo após tirar nosso ar. A equipe desce e tudo se inicia. Temos a informação de que uma tempestade está se aproximando, mas isso não parece preocupar os aventureiros acostumados a diferentes adversidades. A coisa toda fica feia quando descobrimos que essa tempestade converteu-se num ciclone e todos devem sair de lá o mais rápido possível. Logicamente, eles ficam presos e tem que correr contra o tempo e ter muita sorte para sobreviver. A água irá inundar toda a caverna e não há caminho para fugas.

A direção é do desconhecido Alister Grierson que sem espaços para novidades, utiliza do básico para atingir sucesso e pelo menos cumprir o que o longa propõe: uma experiência sensorial aflita. O roteiro se baseia inteiramente numa aventura mortal e pela limitação espacial, procura investir na personalidade de seus personagens cujos egos inflados subsidiam constantes desentendimentos. Há ainda uma discussão sobre a vida, sobre pessoas feridas tornarem-se fardos e o que, naquelas condições, podemos fazer por elas. Isso deverá dividir o público que passará a concordar com um ou outro personagem. A moral fica de lado nessa questão e a história toma sim um partido, seu diretor parece saber o que é melhor e coloca isso em cena. Desesperador, o cinema tem feito muitos trabalhos que estimulam sensações parecidas vide “127 Horas” e “Enterrado Vivo”. Esse “Santuário” é uma verdadeira viagem que testa os limites físicos e psicológicos humanos, tanto de seus personagens quanto do público.



O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS DE CALDAS PELO MENOS ATÉ DIA 17 (QUINTA), ÀS 16h50, 19h15 e 21h40.