A cineasta Rosane Svartman investe na onda adolescente que vem permeando o nosso cinema e constitui um filme leve e bastante correto sobre essa fase da vida, apostando na visão de uma personagem feminina disposta a perder a virgindade com um dos caras mais cobiçados da praia. Entender a mente adolescente é um desafio. A proposta empregada por Svartman não se preocupa em compreendê-los, mas exibi-los em suas angustias, sobretudo frente à sexualidade e centra numa sala de aula incumbida de realizar um trabalho quantitativo sobre um tema qualquer. O grupo de Priscila (Olívia Torres), nossa carismática protagonista, decide levantar dados sobre a virgindade das garotas no colegial e assim desmistificar mitos.
A história irá percorrer 20 dias da vida de Priscila que ficará sozinha em casa. A garota logo percebe que com esse tempo poderá transformar sua vida amena em aventuras extraordinárias e determinantes. Assim, o filme caminha com suavidade se atentando a aspectos da adolescência e levantando temáticas sem necessariamente discuti-las. Para exemplificar, a homossexualidade e as drogas. Aqui a questão é o sexo, a perda da virgindade, o desejo da experiência ser algo bom e inesquecível – como se na primeira vez fosse obrigatório ser prazeroso. É um mito desconstruído com cuidado pela diretora que acena todo o tempo com perspectivas adolescentes. Eles não estão sós largados à deriva. O filme evoca preocupações familiares, principalmente a paterna, representada pelo personagem de Marcello Novaes (engraçadíssimo em sua inquietação) ao contrário da personagem de Claudia Ohana que deixa a filha adolescente sozinha – o que por lei é ilegal.
O argumento do roteiro da própria diretora juntamente a Juliana Lins é um grande trunfo. O bullyng atualmente está estampado em capas de revistas, jornais, sites. É um assunto presente cada vez mais em filmes desse gênero. Aqui não é diferente, a novidade é como lidar com este. E adianto: Priscila é uma vítima de comentários maldosos do colégio e a garota, num instante assustada com a difamação, decide usar o falatório a seu favor para conquistar um objetivo. Tal sacada é uma arma do filme que funciona e nos faz refletir. Mérito não só da produção, mas de Olívia Torres singela em sua performance. Juntamente a ela, Lucas Salles (que vive o confuso Boca) e Juliana Paiva (numa aflição frente a uma nova condição em sua vida) creditam atuações corretas viabilizando nossa ligação com o universo adolescente.
O filme diverte e fala de uma fase com cuidado e sabedoria, alcançando o âmago adolescente, seus medos e manias, seus gostos e linguagens. A diretora Rosane Svartman concebe um trabalho importante sem abusar e tampouco transformar seus personagens em seres patéticos como alguns filmes – sobretudo os hollywoodianos – fazem. As músicas e o clima ensolarado do longa ainda transmite o calor dessa fase de busca e recompensa atraindo-se cada vez mais a tendências, estilos e exigências dos outros a respeito de tabus. Denota também, para assustar o público mais velho, como algumas coisas estão cada vez mais precoces e soa até perigoso por à vista que tem sido natural ser irresponsável, despreocupado, divertir-se e embebedar-se nessa fase –felizmente nem todos são assim. Desenrolando mitos e tabus, “Desenrola” é mais um daqueles trabalhos diferenciados do nosso cinema que muitas vezes não tem o reconhecimento que merece, mas andam sendo descobertos e ganhando seu espaço.
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