Quem acompanha a carreira no cineasta Alejandro González Iñárritu irá notar algo diferente em seu novo trabalho: o roteiro. Esse é o primeiro projeto do diretor depois do rompimento com o parceiro roteirista Guillermo Arriaga após os ótimos bem sucedidos longas “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”. Esse “Biutiful” que estreou recentemente no Brasil – e que é um dos cotados para receber o Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro – é um filme intensamente triste desde as primeiras cenas, trazendo o pai de família Uxbal sofrendo de uma doença terminal e ainda tendo de enfrentar outras adversidades como questões financeiras e a bipolaridade da ex esposa. Não somente ele parece fazer parte de uma fase de verdadeiro horror, mas os outros personagens que de alguma forma se ligam ao protagonista, estes também passam por vários apuros, destaque para os chineses homossexuais.
O assunto da imigração e tragédias que envolvem famílias sempre apareceu na obra do diretor. A diferença aqui é como a história toda se desenvolve e é aí que Iñárritu peca. A narrativa ainda traz a cronologia, mas de forma áspera e confusa até certo ponto. Ela não flui com clareza como nos tempos de Arriaga e põe o espectador em constante dúvida sobre o que está rolando em cena. A partir do segundo ato da trama, as coisas funcionam melhor, no entanto fica pra trás aspectos importantes do filme que tão bem diagnosticam o pessimismo de seu diretor sobre o mundo visto que tudo é filmado de maneira prioritariamente trágica e suja onde os personagens estão completamente desfigurados inseridos naquele mundo caótico e infeliz. O vislumbre de mundo de Iñárritu assusta.
A história se passa em Barcelona, e longe de ser retratada como aquela magnífica cidade a qual outros filmes exploraram de maneira turística, em “Biutiful” ela aparece fria, agressiva e solitária, reunindo em seus subúrbios famílias imigrantes, especialmente africanos e chineses, realizando trabalhos ilegais como a pirataria. Uxbal aparece como o facilitador da chegada desses povos até a cidade e dá abrigo a cada um. Bem caracterizado, o protagonista soma condutas distintas no longa e se a menção a fragilidade e deturpação do mundo tão evidenciada pelas obras de Iñárritu acontecem com maior impacto aqui, deve-se exatamente a Uxbal que não só é o precursor das relações daqueles povos, mas também é um médium, evocando diferenças de distintos mundos onde a terra parece ser uma penitencia.
“Biutiful” sugere a grafia errada de “Beautiful”, palavra inglesa que remete ao belo, algo que não existe no filme. A distorção da palavra metaforiza o drama dos personagens cujas vidas carecem de brilho, beleza e também de sentido. Seu cerne é Uxbal, e seu personagem ganha força graças a Javier Bardem, um monstro em cena, garantindo uma performance marcada pela inquietação. Seu personagem é muito bem explorado, o conhecemos e o entendemos em seus atos, as cenas durante o jantar junto as crianças são bem caracterizadas onde com a cabeça a mil, o pai é incapaz de prestar a atenção em perguntas ou afirmações consideradas triviais proferidas por seu filho. Orgulhosamente retratado por um elenco inspirado, o filme só não é melhor graças a cenas que parecem distantes da proposta do argumento, problema saliente de seu roteiro – há quem critique o modo de ver o mundo do diretor, mas é justamente essa particularidade que faz do filme melhor, pois propõe muita reflexão.
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