quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Proseando sobre... Contra o Tempo


Modesto comercialmente, mas dotado de ingredientes típicos de Blockbusters, esse “Contra o Tempo”, filme que demorou para chegar aos cinemas brasileiros, se apropria de elementos narrativos hollywoodianos para contar uma boa história sobre um atentado num trem. O foco não é o desastre que vitimou centenas de pessoas, mas como identificar o terrorista responsável pela tragédia. Longe dos clichês do gênero e do modelo de investigação vigente em filmes de ação pulsantes, esse trabalho busca hipóteses científicas para chegar onde quer: entrar no corpo de uma das vítimas para que, em oito minutos – tempo da memória a curto prazo –,  indentificar o responsável e evitar novos ataques. Pura tensão em Chicago. 

O mundo seria diferente se tal prática existisse? A questão é relevante à narrativa que se preocupa em acentuar críticas sociais ao próprio país, levantando reflexões passageiras a cerca das guerras e do homem como objeto nesse meio, em defesa da pátria, entregando sua própria vida, ganhando uma medalha e qualquer outro reconhecimento póstumo. E o filme vai mais longe, mergulha em hipóteses oníricas e metafísicas, cita física quântica e idealiza realidades paralelas em atos repetidos, mas de funções diferentes e direcionamentos cada vez mais enérgicos. A direção do promissor Duncan Jones de “Lunar” estabelece um filme rico em argumentos, embora não explore nenhum com totais êxitos, e explana uma história ágil capaz de capturar vários tipos de público.

A história é sobre Colter Stevens (Jake Gyllenhaal), piloto envolvido com a guerra, preso no que parece ser uma câmara fria. As informações iniciais são poucas para este homem quanto para nós. Stevens não entende a razão de estar ali, frente a um monitor exibindo uma desconhecida lhe passando missões, Colleen Goodwin (Vera Farmiga), e fica ainda mais confuso quando se percebe no corpo de um outro homem, vivendo uma cena breve, dentro de um trem, até a explosão deste. Essa cena se repete várias vezes com o engajamento do piloto em descobrir onde está o terrorista ao mesmo tempo que busca a revelação sobre si naquele espaço novo e assustador. Há ainda uma estranha atraente agindo com bastante intimidade, Christina Warren (Michelle Monaghan, sem muitas funções na história a não ser oferecer um parêmetro romântico).

Duncan Jones vem de elogios, ganhou um status cult por sua obra anterior e todos aguardavam um novo trabalho. As fontes de discussão de “Contra o Tempo” são inesgotáveis, ainda mais pensando que recentemente trabalhos como “A Origem” e “Reencontrando a Felicidade” trouxeram sugestões análogas. Bom de se conferir, e mesmo que em alguns instantes perca o foco caindo num dramalhão – o que não é mal –, o filme consegue estabelecer um vínculo com o cinema popular ao mesmo tempo que trabalha para não ser apenas mais um entretenimento passageiro e esquecível.

O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS NO CENTERPLEX. CONFIRA A PROGRAMAÇÃO CLICANDO AQUI  

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Proseando sobre... Não tenha medo do Escuro


 Começou com um teor fantástico, assombrando, utilizando de pequenas criaturas saindo da escuridão trazendo horror, alimentando-se de dentes de crianças. A fisiologia desses seres remete a arte de seu produtor, Guillermo del Toro, do estupendo “O Labirinto do Fauno”. Afinal, como não recordar do Homem Pálido, devorador? Em volta de escuridão, o que parece uma maldição em dias atuais é herança do século XIX, cuja estilização gótica de um pintor salienta a loucura do realizador, através de imagens pavorosas que ajudam contar a história a qual o filme se desenvolve. O casarão escolhido guarda segredos e brinca com um medo comum, não compartilhado, mas real diante a ameaça que a cegueira turva guarda: a escuridão.

“Não tenha medo do Escuro” é uma refilmagem de um filme concebido para a televisão nos anos 70. A direção é de um estreante, o quadrinista Troy Nixey, visivelmente influenciado pelas obras de Del Toro, que aqui também assina o roteiro juntamente a Matthew Robbins. O diretor explora sem economias a sombra e a angústia que essa traz, apoiando-se na expectativa pela revelação das criaturas, sempre perigosas empunhando objetos cortantes. Essa revelação, por sua vez, funciona na espera, mas perde força quando acontece, o que gerará desconforto em boa parte de seus espectadores aguardando algo verdadeiramente assustador. Não que os pequeno monstros não ofereçam devido alarme, mas as pinturas concernentes a eles dão um aspecto brutal e consequentemente bem mais apavorante.

A atmosfera obscura é inegável, captando pequenos feixes de luz dando a impressão do mal escondido, a espreita e repentino. A fotografia muito contribui para o alcance sensorial da narrativa, sempre triste e nebulosa, ganhando cores somente quando uma luz difusa surge, a única esperança possível frente aos seres da escuridão. Sem afirmações sobre o que são essas estranhas criaturas, especulações não faltam: as fadas de “O Labirinto do Fauno” são lembradas em alguns instantes. Porém o filme tem outro atributo significativo, tão marcante nas obras de Del Toro: as crianças.

Sally Hirst (Bailee Madison, de “Entre Irmãos”) é uma menina que vai morar com o pai, Alex (Guy Pearce) e com a madrasta, Kim (Katie Holmes). Apresentada de uma maneira solitária num avião concebendo desenhos confusos e obscuros diagnosticando sua personalidade introvertida e insatisfeita, a menina vai morar no casarão o qual o pai vem restaurando. Não demora, e portas levam a lugares secretos – é a versão atual da jornada de Ofelia, também é uma caracteristica presente no sucesso espanhol “O Orfanato”, outra produção de Del Toro. As relações dispostas na casa são estridentes com a negação da menina pela madrasta e sua orientação se dá na descoberta: os sussurros das criaturas iniciam-se e perturbam.

Não é o melhor exemplar do gênero, mas sua ambientação e lógica garante arrepios. Seu finalmente não deverá agradar a todos, no entanto sua autoria é legítima, não se prende a brandura hollywoodiana envolvendo crianças, nem a carnificina gratuita de exemplares triviais da safra “Jogos Mortais”, é violento ao seu modo, o que lhe torna um autêntico filme de terror com características clássicas capazes de fazer Vincent Price sorrir. Não se compara as obras análogas semelhantes, inclui-se entre elas “A Espinha do Diabo”, portanto respeita a inteligência de seu público sem abandonar o estilo de cinema fantástico pretendido, o que já é o bastante para estar acima de obras semelhantes do gênero estocadas nas locadoras.

O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS NO CENTERPLEX. CONFIRA A PROGRAMAÇÃO CLICANDO AQUI  

sábado, 22 de outubro de 2011

Proseando sobre... Gigantes de Aço


 Tem Spielberg na produção e uma criança protagonista, vem emoção por aí. Isto é previsível, igualmente sua história. O público interessado em filmes que buscam alguma redenção ou algo sobre reconciliação terá nesse “Gigantes de Aço” uma bela pedida, uma vez que ainda contarão com um humor leve, efeitos especiais poderosos, um drama condensado e protagonistas queridos. Funciona em sua proposta, só. Os robôs até lembram mini transformers, mas felizmente o longa não atende a veia masturbatória de Michael Bay. É feito para a família e não coloca cenas de caráter libidinoso, porém não economiza nos ângulos exaltando as coxas de Evangeline Lilly.

Shawn Levy, diretor de comédias como “Uma Noite no Museu” e “Doze é Demais” entrega um de seus melhores trabalhos. Inegavelmente divertido, explana relações familiares e afeições com máquinas, humanizando-as. Assim surge Atom, encontrado num ferro velho – no que seria um cemitério –, um robô utilizado em treinamentos, servindo para resistir a ataques, mas nunca agredir os oponentes. O interesse do menino que o acolhe é comovente, fazendo o espectador recordar do ótimo “O Gigante de Ferro” de 1999 tanto na interação quanto na ligação amigável. Max (Dakota Goyo) o leva para casa sorridente, correspondendo sua paixão por aquele universo – seus olhos brilhando frente a famosos robôs, especialmente ao imponente Zeus, denuncia sua adoração. 

Quando os humanos saíram de cena, entraram as máquinas. O ex lutador Charlie Kenton (Hugh Jackman) sofreu com essa troca, mas não abandonou completamente o esporte. Investiu nos robôs, se arruinou e se endividou. Sua pilantragem bem delineada guarda negações daqueles que o conhecem e entendem seus interesses. Onde ele puder investir e faturar alguns trocados, ele fará sem pudor. O duelo de um robô com um touro numa arena foge completamente a regra estabelecida nos combates nos torneios, algo que pouco importa para Charlie propenso a feitos e lucros. As coisas mudam quando seu filho Max aparece logo após a mãe ter falecido. Legalmente, o pai é quem fica com a guarda da criança, para o desgosto do personagem de Jackman.

Desenrolando-se como um novo “Falcão - O Campeão dos Campeões” – Stallone corre o risco de perder seu lugar na sessão da tarde para esse –, “Gigantes de Aço” é diversão familiar garantida embora convencional e pra lá de presumida. Tem Hugh Jackman novamente num papel que muito pouco lhe exige, cativando o público por seu carisma e rememorando resquícios do mutante Wolverine. Em “Gigantes de Aço” não se engrandece, divide a responsabilidade com o jovem Dakota Goyo (o “Thor” jovem) que segura bem o teimoso Max. A motivação do garoto é curiosa e compreendida por sua idealização paterna, figura ausente em toda a vida, surgindo repentinamente buscando não a guarda do pequeno, mas a grana provinda de sua recusa a ele.

A relação da dupla é desenvolvida com bastante naturalidade pelo roteiro, explicitando o ressentimento de Max por seu pai, pouco interessado em sua presença. Por perder a mãe recentemente, se vê dividido entre a família da tia ou os braços de Charlie Kenton. Shawn Levy bem envolvido com bons efeitos estabelece um grau parental de descobrimento, demandando cumplicidade, o que salienta interesses: o pai vê no garoto a possibilidade de faturar uma grana, percebe o talento do menino no controle das máquinas, mas não abandona seu pessimismo quando ao que Max, estranho para ele, tem a oferecer. Deste modo busca facilitações em toda a narrativa. Já Max experiência a novidade, ser o alvo das atenções e conviver com alguém que, além de pai, converteu-se num ídolo, apesar do suplício recalcado.

Funcionando também como um exercício de motivação – o “você pode” proferido irá empolgar –, o filme impulsionará comoção no público, não somente pela proposta inocente, mas pela energia de sua narração. Movimentadíssimo, o trabalho usa o melhor do Motion Capture para dar veracidade aos robôs. A mixagem de som é outro atributo significativo. Nas cenas de combate, ouvimos as latarias amassarem junto aos movimentos das ferragens se revirando. Nessa disputa vigente ao melhor estilo “Rocky Balboa”, o resgate de um sonho se concretiza com Charlie Kenton voltando a fazer o que sempre gostou: lutar. A glorificação se dá nesse retorno aos ringues e na possibilidade de criar um lutador poderoso e um vencedor para a vida. 

Passado em 2020 quando as lutas entre os humanos perderam a graça por não atingirem um arquétipo destrutivo almejado, robôs entraram em cena em duelos cujo cume era a aniquilação total de um deles. Um deleite aos apreciadores de violência exacerbada. As apostas nesses robôs são polpudas e niveladas, o mundo inteiro está envolvido nestes combates. A insinuação é óbvia: a falta de limites com a brutalidade e a relação nossa nesse meio cada vez mais transgredido. É preciso impressionar, chocar, seja no cinema, na televisão ou nas músicas. Devido ao ceticismo do público acostumado a essas cenas, a obrigação por uma novidade leva ao exagero, ao extremo. E a sociedade do espetáculo se alimenta e espera por mais.  

O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS NO CENTERPLEX. CONFIRA A PROGRAMAÇÃO CLICANDO AQUI  

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Proseando sobre... Os Três Mosqueteiros


A obra de Alexandre Dumas novamente é adaptada para o cinema, dessa vez em tempos da tecnologia 3D, garantindo espadas passando perto do nosso pescoço. Motivos para que coisas saltem em nossos olhos não faltam, ainda mais tratando-se de uma obra dirigida por Paul W.S. Anderson, o cara por trás da estúpida franquia “Resident Evil”, que não economiza em destruições e ruínas capazes de fazer Michael Bay e Roland Emmerich se orgulhar. Essa proposta caótica não é necessariamente um problema aqui, ela soma-se a diversão proposta e agrada quando não exagerada, porém, ao revitalizar um romance expoente da literatura mundial, espera-se um mínimo de sensatez em sua elaboração. Esta versão preenche o básico com o encontro dos quatro mosqueteiros, mas descamba numa bagunça narrativa, o roteiro é medíocre e impossibilita a obra ser maior do que é. Culpa de quem? Da necessidade da tridimensionalidade? Suspeita-se.

D'Artagnan (Logan Lerman) é um jovem ordinário, irresponsável e galanteador. Quer ser um mosqueteiro e não demora para que sua jornada em solo francês transforme-se em intrigas, inclusive com os três mosqueteiros, Athos (Matthew Macfadyen), Aramis (Luke Evans) e Porthos (Ray Stevenson). Ele ainda compra briga com Rochefort (Mads Mikkelsen), desavença que se delongará. Os quatro unidos deverão atravessar o oceano em direção a Inglaterra atrás de uma preciosa jóia roubada que incitaria desconfianças adúlteras na monarquia. Para chegar até esse objetivo, a narrativa atropela pequenas subtramas: a bela Milady De Winter (Milla Jovovich) e sua traição; o papel tartufo do Cardeal Richelieu (vivido pelo ótimo Christoph Waltz) e a dificuldade em relacionamentos do Rei Luis XIII (Freddie Fox), demasiadamente preocupado com as vestimentas, tornando-se iconicamente fútil e cômico.  

A fragilidade do texto dos roteiristas Andrew Davies e Alex Litvak é notável. Como disfarce, artifícios técnicos dão conta de mascarar equívocos – ninguém viu um dirigível daquele tamanho chegar ao palácio? – através da direção artística explanatório e das batalhas breves, mas bem coordenadas. Destaca-se o confronto entre os navios nas alturas. O figurino de Pierre-Yves Gayraud é outro atributo estético formidável no filme – e quanto humor e ironia inspiraram a concepção das roupas do Rei Luis XIII. A direção de Paul W.S. Anderson é esquemática e pouco inventiva – não há grandes inovações, a não ser a utilização de câmeras de última geração, gosto adquirido em sua última empreitada, “Resident Evil 4”. 

Bons personagens não faltam, carisma na maioria deles também não. O inglês Matthew Macfadyen assume a liderança da quadra com segurança ao passo que Logan Lerman (Percy Jackson) frustra por nunca parecer realmente brilhante empunhando uma espada, mas sim um nerd, um tipo no melhor estilo Michael Cera revoltado com piadas a seu respeito. Ainda tem Orlando Bloom como o Duque de Buckingham com pouco tempo em cena, preparando um terreno para prováveis continuações.

É um filme de combates, em certo momento dois dos personagens emobrpõem um jogo de xadrez indicando duelos. Os tabuleiros expostos com recurso de contar a história são elegantes e frisam brilhantemente a contextualização da história. Assinaladamente marcado como um filme almejando sucesso e continuações consolidando uma nova franquia, esse “Os três Mosqueteiros” ganhará a atenção de uma nova geração, e que essa se preocupe em procurar sua origem na literatura. Paul W.S. An já tem serviço garantido para os próximos anos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Proseando sobre... Pronta para Amar


 Há uma fuga de clichês, pelo menos uma tentativa. Há a mocinha arredia a relacionamentos sérios e adepta do sexo casual. A negação quanto a amores é pesada nessa loura, a publicitária Marley Corbett (Kate Hudson), ótima profissional, mas que leva uma vida cheia de excessos. O sorriso contagiante converte-se em desgosto, acompanhando a mudança de gênero, da comédia romântica ao melodrama. É convencional, mas ainda emociona. Em obras menores e pífias, temas semelhantes se glorificaram. Essa não teve tanta sorte, mas deverá ganhar fãs pouco a pouco pelo boca a boca. O projeto é dirigido por Nicole Kassell do ótimo “O Lenhador” trazendo uma doença como cerne da trama.

Tudo ia muito bem na vida de Marley até quando fora diagnosticada com câncer. A premissa básica faz lembrar de outros filmes. Este se diferencia por tratar a doença não como uma fonte de redenção do amor ou reconciliamento, não é um “Um amor pra Recordar” da vida, felizmente! O roteiro viabiliza outras elaborações, entre elas a do papel de sua protagonista, longe dos padrões moralmente impostos em filmes do gênero, tratando-a como um modelo do ser errado, mas ela aprende uma lição, como seu título em português – horrível, diga-se de passagem – entrega. Mas há uma ajudinha nonsense para aprender alguns valores. Deus fala com ela, surge para ela e aparece na forma de Whoopi Goldberg. A atriz é alguém que Marley admirava. Piada pronta, aceitável. Até Alanis Morissette já foi Deus na telona.

O filme explana relacionamentos e não antecede suas resoluções como a maioria das comédias românticas fazem, ele vislumbra outros artifícios buscando se distanciar do local comum residente, criando uma intriga familiar, explorando a defesa de sua protagonista longe de ser um tipo de garota ideal. Também veicula os amigos próximos digerindo a notícia sobre a doença e tomando rumos distintos ao encararem a situação. O longa ainda ganha uma discussão mais acentuada, a empatia que alguns profissionais tem por seus pacientes. Naturalmente o filme não busca estender essa questão, o que é uma pena, é sua grande força nas entrelinhas, quando explora o interesse do médico Julian Goldstein (Gael García Bernal) mais do que empenhado em salvar sua paciente.

O melodrama paira no segundo ato, mas as piadas continuam, e se envolvem com metafísica, exames, amigos gays, cães e anões. A atriz Lucy Punch, destaque recente em comédias, novamente coadjuva adequadamente. A variação condensa um ritmo agradável, afinal é um filme fácil, mas difícil de se levar tão a sério. Deverá derramar lágrimas dos mais emotivos, no entanto nenhum dos atores serão lembrados por este trabalho. Até Kathy Bates está no meio e sabotada vivendo a mãe de Marley, sustentando duelos verbais com a filha. Também há a consideração sobre alguns não conseguirem transmitir emoções, inocentando-os num determinado ato. Eis uma diversão feminista a qual a protagonista é um dos piores exemplos desse universo da mulher, ao menos segundo as idéias de Hollywood. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Proseando sobre... Missão Madrinha de Casamento


Foi-se versões de comédias masculinas com homens chutando o balde. Agora as mulheres se responsabilizam – ou se desresponsabilizam – pelas atitudes assinaladamente escatológicas nas situações as quais se envolvem. Esse é “Missão Madrinha de Casamento”, opondo a amizade íntima e o ciúme sobre um dos maiores desejos da mulher: o casamento. A ambientação do roteiro brincando justamente com o pré matrimônio explana óticas feministas, salientando o desejo pela troca de alianças e o seu pós. A magia se mantém e corresponde a expectativa dessas mulheres a beira de um ataque de nervos, mas sem a genialidade transposta por Almodóvar, se assim me for permitido usar seu filme como exemplo.

Lillian (Maya Rudolph) vai casar e convida sua amiga de infância, Annie (Kristen Wiig, ótima no papel) para ser a madrinha de honra. Extasiada, Annie quer fazer uma cerimônia inesquecível, mas se depara com uma outra madrinha, Helen (Rose Byrne de “X-Men – Primeira Classe”), linda e elegante, rica e talentosa no arranjo de grandes festas. O duelo entre as duas irá levar todo o filme, opondo distintas perspectivas e busca pela atenção. A primeira vem de derrotas, falência numa loja de Cupcakes e desprezo por homens; já Helen mora num imenso casarão, veste grifes e exalta superioridade, mas ressente pela soledade, o que garante um dramalhão responsável por não estigmatiza-la como vilã.

A proposta de colocar mulheres em situações costumeiramente vista com homens no cinema é o diferencial dessa cômica empreitada. Diverte-se ao seu modo pensar que a mulher não tem a camaradagem masculina, respira outras dinâmicas de relacionamento, se intricam e se alfinetam. É justamente nesse ponto que a comédia do diretor Paul Feig se intensifica criando recreação, trazendo distintos laços da união entre as madrinhas de casamento, propondo disputas pessoais pela atenção da noiva – e mais interessante do que simplesmente jogar desavenças é evidenciar que apesar das resoluções, as rixas nunca se perdem. “É a última...”, indaga umas das personagens. Feig assina o projeto, mas é a produção quem parece comandar com Judd Apatow (de tantas outras boas comédias como “Ligeiramente Grávidos”) ditando as regras.

Passado inteiramente na disputa pessoal de Annie buscando cada vez mais esclerosadamente a atenção da noiva, o filme acaba ignorando as outras personagens, meros coadjuvantes acrescentando frustrações pessoais através de breves diálogos indiciando, brevemente, quem são e quais as intenções dessas mulheres pelo casamento. Annie, com a lanterna traseira do carro queimada, explicita sua condição de mulher após os 30 anos completamente frustrada, entregando-se a relacionamentos pelo puro prazer sexual, duvidando da integridade dos outros a sua volta. Trocar essa lanterna, algo tão simples, torna-se um catalisador de personalidade, colaborando para concluirmos sobre a resistência da personagem em mudar. Negação e puro orgulho. Quando essa luz surge, outras iluminações vêm junto a ela. Cômico e grosseiro, característica autoral do produtor, o filme certamente divertirá vários públicos.   


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Proseando sobre... A Hora do Espanto (2011)



A leva de filmes trazendo os sanguessugas noturnos não tem data para encerrar. Felizmente, para seus apreciadores, esse assunto cultiva bons elementos mesmo em tempos em que a saga “Crepúsculo” marcou uma nova idéia do ser vampiro. A moda tradicional segue soberana, um brinde de sangue a isso. E quando inovações entram num limbo, refilmagens acabam assumindo e a bola da vez é este “A Hora do Espanto”, baseado no clássico oitentista, mantendo os personagens originais e dando a eles uma nova ótica e um banho de modernidade. O vampiro presente segue carniceiro, é perigoso e letal como o tubarão de “Tubarão”, exemplo dado por um dos personagens, ao mesmo tempo em que debocha da versão de Stephenie Meyer.

Dirigido por Craig Gillespie, o cara por trás do ótimo “A Garota Ideal”, este filme não vislumbra um tema sério cujo humor de escape sugerido balanceie uma temática discutível. Aqui não há pretensões, há recreio e horror através de um vampiro exterminador. A história não é das mais atrativas, mas diante ao que deseja oferecer, funciona. O jovem estudante Charley Brewster (Anton Yelchin) mora com a mãe, Jane (Toni Collette), com quem tem uma relação bastante amistosa. Passa os dias com Amy (Imogen Poots de “Extermínio 2”), sua namorada, uma das garotas mais desejadas do colégio. Leva uma vida boa, invejável, mas carrega segredos, um passado nerd guardado a sete chaves – assunto que renderá uma subtrama. Seus problemas começam quando conhece seu estranho vizinho, Jerry (Colin Farrell), um vampiro sedento e decide voluntariamente combate-lo em defesa das mulheres de sua vida.

O vampiro Jerry, cujo nome parece tão ameaçador como Bill de “Tue Blood”, ganha uma piada inspirada. Mas fica só essa sugestão, a maldade impera sem sátira, mas com sangue e bom humor. O filme é inteiramente movimentado, com o roteiro de Marti Noxon (“Eu sou o Número Quatro”) debruçando-se completamente sobre as perspectivas do primeiro, com o mesmo charme e descompromisso dos filmes do gênero do anos 80. É quase nostálgica a experiência de conferir esta obra que encara reais possibilidades de não ser levada a sério. Mas será que é pra levar? Não importa a postura frente a ela, a diversão nos é devidamente proporcionada.

Com produção notoriamente inspirada nos pioneiros do gênero, “A Hora do Espanto” é um aglomerado de situações comuns numa versão dinâmica, apoiada na moda vampiresca para resgatar um de seus clássicos com direito a cruzes, alho, queimaduras solares e estacas. As atuações não fogem a regra do convencional, se destaca Colin Farrell (que já vinha de um ótimo desempenho em “Quero matar meu Chefe”) e David Tennant que encarna um mágico canastrão interessado em mitos fantásticos. As ambientações também triunfam, se sobressai a direção artística expondo a casa de Charley e seu quarto juvenil contrapondo a enigmática e escurecida casa do vizinho. Com esse resgate, resta esperar, com pessimismo, se “Fome de Viver” ou “Drácula” correm o risco de ganharem também uma nova versão.


domingo, 9 de outubro de 2011

Proseando sobre... O Filme dos Espíritos


 Bom perceber que uma obra como o "O livro dos espíritos" de Allan Kardec não tenha sido ousadamente adaptado para o cinema, mas surgido como inspiração significando o impacto das palavras segundo os espíritos para algumas vidas. Isso não quer dizer que tal realização tenha sido uma concepção certeira de uma moral. Triste é especular o filme como finalidade mercantil exaltando a doutrina espírita como também as Casas André Luiz. Para fundamentar essa estrutura de teor comercial, vários personagens somam a história através de subtramas breves encaminhadas a um mesmo lugar.

Na direção a dupla André Marouço e Michel Dubret fazem um trabalho convencional, e tentam através de planos detalhe elaborar significados em imagens, como “O livro dos espíritos” numa estante ao lado de pensadores evocando a importância da obra em meio a ciência; o quadro cuja face de Jesus é revelado durante um desvelo; ou a pintura “A Criação de Adão” de Michelangelo ao fundo num escritório de um dos mais notáveis seguidores da obra de Kardec. Tal percurso explícito na narrativa são apenas minúsculos momentos adequados a temática transposta, e poderia ser grandioso enquanto um filme que busca se apoiar no livro base do espiritismo.

A narrativa escrita por André Marouço sofre para ser minimamente crível. Há um acumulo de histórias que se entrelaçam que até Guillermo Arriaga teria dificuldade para solucionar. A rapidez dessa tentativa só é dada através de desenlaces frívolos sem outras razões a não ser comover o público, especialmente os adeptos da doutrina. É natural que estes apreciem a obra uma vez que buscam ver exatamente o que o filme propõe mostrar. Trata-se de uma grande disseminação de tal ideologia num olhar altruísta cheio de mensagens em pró da vida num otimismo voluntário.

Bruno (Reinaldo Rodrigues) é um professor universitário sofrendo pela morte da esposa. Com ela, ele compartilhava um segredo, algo ressentido capaz de provocar ainda mais lamentações por um passado escolhido. Nesse ponto uma temática polêmica é levantada e discutida seguindo os preceitos da filosofia espírita. Há uma resolução numa cena durante uma sessão de grupo proposta pelo Dr. Levy (Nelson Xavier) ligando o passado e o presente de um personagem caça níquel referente ao tema. A maneira utilizada pelo diretor em conciliar o significado da ação neste ato é embaraçosa e deslocada.

Se o roteiro falha, os aspectos técnicos também não oferecem muita coisa, entregando-se ao lugar comum sem inovações. A maneira de exibir o desalento de seus personagens através do excesso, como Bruno e suas constantes bebedeiras, ganham força pela fotografia turva e pela direção artística buscando sombras. A vida obscurecida celebra a luz através do esclarecimento, da influência aspirante propagada, do livro velho passando de mão em mão oferecendo conforto.

Sem complexidade e cheio de mensagens perdidas pelo exagero de sua composição relacionada às várias histórias cruzadas, “O filme dos Espíritos” deixa de ser uma homenagem a obra de Allan Kardec para soar como um produto da doutrina espírita com potencial de angariar novos adeptos. Não quer dizer que o longa tenha sido feito unicamente com este propósito, mas custa crer no contrário a esta hipótese devido sua inferência fílmica e fragilidade em contar uma história onde a força se dê também no seu desenvolvimento, dispensando as precipitações das conclusões determinadas.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Proseando sobre... Elvis & Madona


O filme dispensa polêmica, seu tema já é tratado com certa espontaneidade, embora ainda encontre aversões. Há algum tempo “Transamérica” de Duncan Tucker foi agraciado, chegou em boa hora trazendo uma viagem de um travesti junto ao filho. Agora, “Elvis & Madona”, que rodou o mundo ganhando prêmios, finalmente chegou aos cinemas do Brasil. O longa explora um relacionamento inusitado, uma lésbica que se apaixona por um travesti. O diretor Marcelo Laffitte escreveu o roteiro logo após assistir num programa da TV Americana um transexual pai de família tentando se reconciliar com os filhos. A inspiração levou-o a concluir esse trabalho rodado desde 2008, com histórico de crises financeiras. O resultado é morno, exibe com sutileza um encontro impensável de modo trivial, similar a proposta de “Além do Desejo” de Pernille Fischer Christensen, mas aqui referente a um caso de amor súbito.   

Elvis, codinome escolhido por Elvira (Simone Spoladore), é uma fotógrafa gay apreciadora de Copacabana, mas que não consegue se manter apenas com esse trabalho. Fã de motos, decide trabalhar como entregadora de pizza, escolha que a leva ao apartamento de Madona (Igor Cotrim), uma cabeleireira travesti frustrada por ter sido extorquida por um antigo caso amoroso. De imediato a relação entre as duas se estreita, com o vislumbre da primeira projetando uma idealização conceitual sobre a outra, o que garantirá uma afeição íntima e de cumplicidade entre ambas.

A ambientação carioca se condensa nas ruas onde Elvis percorre com sua moto ou na orla, local escolhido para fotografar. Neste ofício, um registro acidental colocará energia na trama, um estímulo para testar a relação do casal. O contexto indubitável explana possibilidades de encontros, de paixões – a angústia, tolerância e aceitação –, sonhos – um espetáculo de drag queens, a contratação num jornal local –, a obrigatoriedade de conseguir algum dinheiro exclamado em vários diálogos, e o futuro. Dentro desse olhar que Laffitte sutilmente dá sobre estes típicos elementos da vida, às vezes esquecemos do romance e de sua singularidade a partir do momento que notamos dificuldades iguais a de qualquer um. Uma constatação: todos somos iguais, embora desiguais.

Igor Cotrim doa simpatia e autenticidade ao seu personagem através de meneios bem construídos ao passo que Simone Spoladore investe em flertes, seduzindo com olhares desejosos, assumindo um papel masculinizado. O desempenho e química da dupla é um dos maiores trunfos do longa que não satiriza os papéis de seus protagonistas, mas desenvolve com sinceridade a relação que a princípio nos soa estranha, chegando a questionar num determinado ato o que é o normal. No elenco, ainda se destacam Maitê Proença assumindo uma persona dual e picaresca, e José Wilker numa ponta, impagável, revelando um papel anteriormente omisso, mas presente em toda a trama.

O relacionamento disposto capaz de afugentar alguns espectadores ganha status de comédia romântica pelas situações empregadas, tornando, por vezes, a narrativa problemática, quando a seriedade de algumas conjunções são ignoradas a troco de piadas, como aparente defesa do diretor em não propor uma reflexão ampla sobre o assunto da identidade sexual. Mas tal reflexão existe, e questionamentos são cabíveis nessa dinâmica proposta cujo roteiro não transfere opiniões particulares, mas trata tudo esbanjando bom humor. Fica só nisso, com a dupla central roubando todas as cenas e uma jornada em busca de felicidade, para com o mundo e para com o outro, numa atmosfera claramente inspirada nos trabalhos de Almodóvar.

sábado, 1 de outubro de 2011

Proseando sobre... Premonição 5


 Premonição 5 segue os mesmos passos dos outros 4 filmes, procura elaborar mortes de uma maneira descontraída e surpreendente, tudo para brincar com a expectativa de seu público, sedento para se divertir com o desastre alheio, sempre iniciado por uma grande catástrofe. A história dessa vez baseia-se na queda de uma ponte, uma calamidade sem precedentes julgada como obra da natureza. Um jovem tem a premonição e consegue salvar alguns amigos, mas não demora, e a morte que não pode ser enganada, volta para buscar um a um. O desgaste da história é visível, a novidade fica por conta do 3D sem economias, sempre direcionando tripas para a tela, banhando o espectador com sangue, tirando de muitos deles gargalhadas ao mesmo tempo que horroriza.

O interesse desta quinta parte é puramente comercial, econtinua dando certo. Para não ficar no vazio, até existe uma tentativa de provocar uma nova discussão sobre a relação disposta após o acidente. O convívio entre os sobreviventes não se torna um jogo de ameaças, mas a medida que a comprovação da inevitável morte chega, os ânimos estremecem e tentativas atônitas de contornar a situação são criadas: entra em cena a intolerância pela possibilidade da morte, a justiça do porque uns devem morrer enquanto outros não. Nesse sentido, o roteiro de Eric Heisserer e Jeffrey Reddick permeia lamentações e frustrações garantindo não somente a morte – personificada por sombras e brisas – como vilã, mas a insegurança de alguns como ameaça.

Dirigido por Steven Quale, Premonição 5 parece aproveitar idéias descartadas da franquia "Jogos Mortais" na proposição das armadilhas. Faz uso, por sua vez, de eventos novos a fim de explorar novos meios de acidentes sem temer a bizarrice. Até a acupuntura surge como possibilidade. O jovem cozinheiro Sam Lawton (Nicholas D'Agosto) é perseguido pela polícia como suspeito do acidente, uma vez ter dito que sabia o que iria acontecer. Nesse ato, o deboche, marca característica da série, levanta questões sobrenaturais sem explicá-las apenas para desarmar o público, obrigando-o a curtir o filme apesar de qualquer coisa. Nem seus realizadores levam a sério.  

Tonny Toddy, o ex "Candyman", novamente marca presença avisando os sobreviventes sobre a impossibilidade de driblar a morte e sugere que matem alguma outra pessoa, tomando assim seu lugar. Com esta prevenção, cria o conflito no grupo que especula sobre coragem e capacidades. O sobrenatural está afoito nessa quinta parte, porém divide com a moral o caminho de suas finalidades. Quale explora o 3D com precisão e entrega cenas bastante criativas, destaca-se a ginasta na barra (Ellen Wroe). Com jovens e desconhecidos atores, destacam-se Courtney B. Vance, David Koechner e Emma Bell – esta última teve experiência recente de sofrimento no cinema no torturante "Pânico na Neve" –, Premonição 5 se finda como um célebre entretenimento sádico e ganha ainda um bônus por sua ligação com as outras histórias, criando um fluxo surpresa sobre os desastres ocorridos.