Tem Spielberg na produção e uma criança protagonista, vem emoção por aí. Isto é previsível, igualmente sua história. O público interessado em filmes que buscam alguma redenção ou algo sobre reconciliação terá nesse “Gigantes de Aço” uma bela pedida, uma vez que ainda contarão com um humor leve, efeitos especiais poderosos, um drama condensado e protagonistas queridos. Funciona em sua proposta, só. Os robôs até lembram mini transformers, mas felizmente o longa não atende a veia masturbatória de Michael Bay. É feito para a família e não coloca cenas de caráter libidinoso, porém não economiza nos ângulos exaltando as coxas de Evangeline Lilly.
Shawn Levy, diretor de comédias como “Uma Noite no Museu” e “Doze é Demais” entrega um de seus melhores trabalhos. Inegavelmente divertido, explana relações familiares e afeições com máquinas, humanizando-as. Assim surge Atom, encontrado num ferro velho – no que seria um cemitério –, um robô utilizado em treinamentos, servindo para resistir a ataques, mas nunca agredir os oponentes. O interesse do menino que o acolhe é comovente, fazendo o espectador recordar do ótimo “O Gigante de Ferro” de 1999 tanto na interação quanto na ligação amigável. Max (Dakota Goyo) o leva para casa sorridente, correspondendo sua paixão por aquele universo – seus olhos brilhando frente a famosos robôs, especialmente ao imponente Zeus, denuncia sua adoração.
Quando os humanos saíram de cena, entraram as máquinas. O ex lutador Charlie Kenton (Hugh Jackman) sofreu com essa troca, mas não abandonou completamente o esporte. Investiu nos robôs, se arruinou e se endividou. Sua pilantragem bem delineada guarda negações daqueles que o conhecem e entendem seus interesses. Onde ele puder investir e faturar alguns trocados, ele fará sem pudor. O duelo de um robô com um touro numa arena foge completamente a regra estabelecida nos combates nos torneios, algo que pouco importa para Charlie propenso a feitos e lucros. As coisas mudam quando seu filho Max aparece logo após a mãe ter falecido. Legalmente, o pai é quem fica com a guarda da criança, para o desgosto do personagem de Jackman.
Desenrolando-se como um novo “Falcão - O Campeão dos Campeões” – Stallone corre o risco de perder seu lugar na sessão da tarde para esse –, “Gigantes de Aço” é diversão familiar garantida embora convencional e pra lá de presumida. Tem Hugh Jackman novamente num papel que muito pouco lhe exige, cativando o público por seu carisma e rememorando resquícios do mutante Wolverine. Em “Gigantes de Aço” não se engrandece, divide a responsabilidade com o jovem Dakota Goyo (o “Thor” jovem) que segura bem o teimoso Max. A motivação do garoto é curiosa e compreendida por sua idealização paterna, figura ausente em toda a vida, surgindo repentinamente buscando não a guarda do pequeno, mas a grana provinda de sua recusa a ele.
A relação da dupla é desenvolvida com bastante naturalidade pelo roteiro, explicitando o ressentimento de Max por seu pai, pouco interessado em sua presença. Por perder a mãe recentemente, se vê dividido entre a família da tia ou os braços de Charlie Kenton. Shawn Levy bem envolvido com bons efeitos estabelece um grau parental de descobrimento, demandando cumplicidade, o que salienta interesses: o pai vê no garoto a possibilidade de faturar uma grana, percebe o talento do menino no controle das máquinas, mas não abandona seu pessimismo quando ao que Max, estranho para ele, tem a oferecer. Deste modo busca facilitações em toda a narrativa. Já Max experiência a novidade, ser o alvo das atenções e conviver com alguém que, além de pai, converteu-se num ídolo, apesar do suplício recalcado.
Funcionando também como um exercício de motivação – o “você pode” proferido irá empolgar –, o filme impulsionará comoção no público, não somente pela proposta inocente, mas pela energia de sua narração. Movimentadíssimo, o trabalho usa o melhor do Motion Capture para dar veracidade aos robôs. A mixagem de som é outro atributo significativo. Nas cenas de combate, ouvimos as latarias amassarem junto aos movimentos das ferragens se revirando. Nessa disputa vigente ao melhor estilo “Rocky Balboa”, o resgate de um sonho se concretiza com Charlie Kenton voltando a fazer o que sempre gostou: lutar. A glorificação se dá nesse retorno aos ringues e na possibilidade de criar um lutador poderoso e um vencedor para a vida.
Passado em 2020 quando as lutas entre os humanos perderam a graça por não atingirem um arquétipo destrutivo almejado, robôs entraram em cena em duelos cujo cume era a aniquilação total de um deles. Um deleite aos apreciadores de violência exacerbada. As apostas nesses robôs são polpudas e niveladas, o mundo inteiro está envolvido nestes combates. A insinuação é óbvia: a falta de limites com a brutalidade e a relação nossa nesse meio cada vez mais transgredido. É preciso impressionar, chocar, seja no cinema, na televisão ou nas músicas. Devido ao ceticismo do público acostumado a essas cenas, a obrigação por uma novidade leva ao exagero, ao extremo. E a sociedade do espetáculo se alimenta e espera por mais.
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