terça-feira, 25 de outubro de 2011

Proseando sobre... Não tenha medo do Escuro


 Começou com um teor fantástico, assombrando, utilizando de pequenas criaturas saindo da escuridão trazendo horror, alimentando-se de dentes de crianças. A fisiologia desses seres remete a arte de seu produtor, Guillermo del Toro, do estupendo “O Labirinto do Fauno”. Afinal, como não recordar do Homem Pálido, devorador? Em volta de escuridão, o que parece uma maldição em dias atuais é herança do século XIX, cuja estilização gótica de um pintor salienta a loucura do realizador, através de imagens pavorosas que ajudam contar a história a qual o filme se desenvolve. O casarão escolhido guarda segredos e brinca com um medo comum, não compartilhado, mas real diante a ameaça que a cegueira turva guarda: a escuridão.

“Não tenha medo do Escuro” é uma refilmagem de um filme concebido para a televisão nos anos 70. A direção é de um estreante, o quadrinista Troy Nixey, visivelmente influenciado pelas obras de Del Toro, que aqui também assina o roteiro juntamente a Matthew Robbins. O diretor explora sem economias a sombra e a angústia que essa traz, apoiando-se na expectativa pela revelação das criaturas, sempre perigosas empunhando objetos cortantes. Essa revelação, por sua vez, funciona na espera, mas perde força quando acontece, o que gerará desconforto em boa parte de seus espectadores aguardando algo verdadeiramente assustador. Não que os pequeno monstros não ofereçam devido alarme, mas as pinturas concernentes a eles dão um aspecto brutal e consequentemente bem mais apavorante.

A atmosfera obscura é inegável, captando pequenos feixes de luz dando a impressão do mal escondido, a espreita e repentino. A fotografia muito contribui para o alcance sensorial da narrativa, sempre triste e nebulosa, ganhando cores somente quando uma luz difusa surge, a única esperança possível frente aos seres da escuridão. Sem afirmações sobre o que são essas estranhas criaturas, especulações não faltam: as fadas de “O Labirinto do Fauno” são lembradas em alguns instantes. Porém o filme tem outro atributo significativo, tão marcante nas obras de Del Toro: as crianças.

Sally Hirst (Bailee Madison, de “Entre Irmãos”) é uma menina que vai morar com o pai, Alex (Guy Pearce) e com a madrasta, Kim (Katie Holmes). Apresentada de uma maneira solitária num avião concebendo desenhos confusos e obscuros diagnosticando sua personalidade introvertida e insatisfeita, a menina vai morar no casarão o qual o pai vem restaurando. Não demora, e portas levam a lugares secretos – é a versão atual da jornada de Ofelia, também é uma caracteristica presente no sucesso espanhol “O Orfanato”, outra produção de Del Toro. As relações dispostas na casa são estridentes com a negação da menina pela madrasta e sua orientação se dá na descoberta: os sussurros das criaturas iniciam-se e perturbam.

Não é o melhor exemplar do gênero, mas sua ambientação e lógica garante arrepios. Seu finalmente não deverá agradar a todos, no entanto sua autoria é legítima, não se prende a brandura hollywoodiana envolvendo crianças, nem a carnificina gratuita de exemplares triviais da safra “Jogos Mortais”, é violento ao seu modo, o que lhe torna um autêntico filme de terror com características clássicas capazes de fazer Vincent Price sorrir. Não se compara as obras análogas semelhantes, inclui-se entre elas “A Espinha do Diabo”, portanto respeita a inteligência de seu público sem abandonar o estilo de cinema fantástico pretendido, o que já é o bastante para estar acima de obras semelhantes do gênero estocadas nas locadoras.

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