segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Proseando sobre... Quero Matar meu Chefe


3 amigos e verdadeiras enrascadas. Não estamos falando de “Se Beber, Não Case”. “Quero matar meu Chefe” bebe da fonte de comédias com adultos em situações pra lá de curiosas. Mas não se trata de adultos idiotas ou com comportamentos infantis como a dos caras perdidos em Las Vegas, mas de um trio propenso a confusões por escolhas equivocadas. Este equívoco provém de um assunto extremo, o assassinato. A inexperiência sobre o assunto ganha ênfase pela dedução e por um conselho caríssimo cobrado por um personagem. Esgotados pelas obrigações postas pelos seus respectivos chefes, os três relembram Alfred Hitchcock e seu ótimo “Pacto Sinistro” para conceber a idéia de um matar o chefe do outro. Tem início a conspiração.

Para compreensão desse extremismo, somos apresentados dinamicamente aos chefes e empregados. Nick Hendricks (Jason Bateman) almeja uma promoção há anos, faz hora extra sem pestanejar e acredita piamente que subirá de cargo, até quando leva uma punhalada de seu chefe inescrupuloso e predisposto ao workaholic, Dave Harken (Kevin Spacey), e se percebe completamente escravizado e sem futuro na empresa; de outro lado, Kurt Buckman (Jason Sudeikis) aguardava para assumir o posto do gentil chefe Jack Pellit (Donald Sutherland, numa ponta), no entanto, após a morte desse, o filho Bobby Pellit (Colin Farrell, fantástico) assume a empresa e parece determinado em destruí-la; por último, muito embora pareça uma situação aprazível, se revela doentia com Dale Arbus (Charlie Day) sofrendo insinuações sexuais e ameaças da dentista ninfomaníaca Julia Harris (Jennifer Aniston). Tementes quanto ao futuro, decidem pelo assassinato.

Dirigido por Seth Gordon de “Surpresas do Amor”, este filme concentra-se no passo a passo do trio em busca de algo que provocasse mortes acidentais em seus chefes. A euforia incontida se manifesta na experiência da novidade, proposta bem desenvolvida pelo roteiro salientando o quanto os caras não tem a mínima idéia do que estão fazendo, se apoiando, em teoria, sobre o que viram em algum seriado investigativo ou num filme. O percurso é abarrotado de gags visuais e piadas machistas, baseando-se na história dos 3 enquanto amigos de longa data – os diálogos denunciam a intimidade. Fora desse contexto, o duelo com os patrões também motivam boas risadas e até suspiros, principalmente quando Aniston com sua silhueta provoca com fetiches e induções pervertidas. Spacey, controlador e compulsivo, irrita no melhor sentido. Já Farrell rouba a cena com um penteado incompreensível capaz de fazer alguém desprevenido gargalhar quando perceber quem é o ator.

Divertido e de narrativa bem explicada, o exagero joga a favor nas situações inusitadas contextualizadas, indo de envolvimento com drogas, perseguições – com uma piada no estilo “Johnny English” – e passeios em bairros perigosos até assassinatos. Jamie Foxx dá as caras, tatuado e de aparência ameaçadora, se revelando um péssimo negociador, o que leva o público a contestar sua origem e compreender, hilariamente, num ato, qual o crime que lhe manteve preso. Bateman é o protagonista, responde em algumas cenas principais, mesmo caindo fora de algumas situações pelo medo – vou esperar no carro. O ator funciona melhor quando está ao lado de Sudeikis e Day, uma vez desaparecer diante a imponência característica de Kevin Spacey. No meio de tantas comédias, essa relação cômica delineada por Seth Gordon sobre os papéis de chefe e empregado na sociedade é um feliz golpe numa composição cinematográfica onde, tratando-se de um gênero difícil como a comédia, termina como uma feliz experiência de entretenimento – ao menos acima da média atual.  


domingo, 28 de agosto de 2011

Proseando sobre... Super 8

 
Se “Super 8” consegue provocar algo é a saudade. Fica quase impossível sair da sessão sem que uma melancolia nos tome lembrando do tempo de criança, das aventuras, brincadeiras, primeiros flertes e ansiedade. Tudo isso acontece no filme e é absolutamente cômico e nostálgico. Somos convidados a acompanhar, de início, um velório. Sua causa não é clara, mas suficientemente capaz em abrir margens para um ciclo de relações entre pais e filhos, intenção do núcleo da narrativa. No centro da história estão o policial local Jackson Lamb (Kyle Chandler) e seu filho Joe (Joel Courtney), estremecidos e agarrados a um passado irreversível. 

5 crianças estão filmando um curta de zumbi. Inevitavelmente confusos, ainda precisam chamar uma garota para protagoniza-lo e não poderia ser outra a não ser uma que desperta o interesse da turma, Alice Dainard, vivida pela sempre ótima Elle Fanning. A relação proposta no grupo e os olhares de contemplação focados na menina são grandes atributos da narrativa que evoca o primeiro amor e a admiração sufocante. Assim, empenhados em vislumbrá-la com a câmera Super 8, na hora certa, acabam presenciando um gravíssimo acidente de trem. O perigo ao invés de assustá-los, os fascina diante a curiosidade infantil sobre o caso. No entanto, circunstâncias os obrigam a manter segredo. 

Valores impostos no longa acentuam traços recorrentes da filmografia de seus realizadores – sobretudo do produtor Spielberg – e propõe uma homenagem aos filmes oitentistas. Como não lembrar da expedição dos garotos em “Conta Comigo”? Ou das luzes e militares de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”? Ou do próprio “ET” em sua elaboração? São referências óbvias que sintonizam a nova geração com o que foi outros tempos onde brincadeiras rolavam, em sua maioria, fora de casa, numa diversão coletiva, movimentada e sorridente. No longa, a aventura é expoente: dentro do trem, residia uma criatura guardada pela força aérea americana e agora ela está a solta pelo pequeno município, ocasionando desaparecimentos e destruições. O diretor e roteirista J.J. Abrams usa da fórmula de seu “Cloverfield” para esconder a identidade e forma do monstro, revelando-o em lapsos e explicando pouco a pouco sua origem e razão. 

Filmado para remeter a filmes imortais, este projeto singelo de teor fantástico, recria seguramente a época, a transição dos anos 70 aos 80 – e destacam-se as músicas de sucesso utilizando de Lionel Richie até o Walkman como novidade. A produção é impecável. As atuações, por sua vez, contidas. Estão ali caricaturas como o soldado enfurecido, o pai ausente e o chapado boa praça que, devido sua condição precária, perde todo o espetáculo. É um trabalho revitalizante de um gênero cuja jornada proposta vai de encontro aos ideais outrora estabelecidos, movidos principalmente pela curiosidade e possibilidade de alguma descoberta. Os túneis e o segredo escondido sinalizam outra obra, “Os Goonies”. Aqui, fica também a mensagem da necessidade de seguir em frente, tocar a vida e se desprender do passado, esvair, deixar ir.

sábado, 27 de agosto de 2011

Proseando sobre... Planeta dos Macacos: A Origem


Tocar num clássico é sempre uma proposta de risco que tende a arruinar algo devidamente construído. “Planeta dos Macacos” é histórico pela sua representação de mundo em virtude do papel humano na sociedade com sua civilidade questionada. Refazer essa obra é uma ousadia já tentada e frustrada – vide a de Tim Burton. Uma nova tentativa seria um disparate banal. Mas, se buscar acrescentar algo na série iniciada por Franklin J. Schaffner em 1968, a inconveniência poderia dar certo – e se não desse, seria descartado sem ofensas. Registrar a origem do domínio símio tem sua ousadia, mas também tem sensatez, o que torna a investida duvidosa do cineasta Rupert Wyatt, a partir do roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver, num projeto certeiro a pretensão projetada. “Planeta dos Macacos: A Origem” deslumbra a mitologia criada e utiliza da tecnologia atual para criar um início digno e certeiro a dimensão da importância da história desta saga no cinema.


Will Rodman (James Franco) é um cientista a ponto de descobrir uma cura para o Alzheimer através da fórmula ALZ112. Os testes são feitos em chimpanzés e os resultados estão cada vez mais promissores. Não somente apresentam melhorias nas células comprometidas do cérebro demenciado, mas potencializam funções cognitivas. A representação disso nos é mostrada em um filhote o qual acompanharemos por alguns anos percebendo sua inteligência superior comparada a de crianças da mesma idade. A troco de quê essa fórmula está sendo estudada? Não desejando apenas arrecadar milhões com a provável cura, Will tem o motivador em casa, seu pai, o pianista Charles Rodman (John Lithgow) caminhando para um estado vegetativo. O filme, nesse ato, nos revela a impossibilidade de mudança e o que os humanos são capazes de fazer para buscar contornos. Nos mostra, também, a relação com o outro, o apego, a necessidade de acolhimento e o cuidado. Afinal, a incansável pesquisa de Will tem a mesma lógica de um dos macacos agredindo os cientistas num laboratóo de um dos macacos fugir agredindo os cientistas num laboratado. gumas coisas no sua inteligrio numa cena inicial. Proteger.


O diretor Rupert Wyatt de “A Escapada” explicita relações em seu filme, colocando frente a frente o homem e o animal. Will, após receber negativas na empresa sobre sua descoberta, se vê obrigado a cuidar de um filhote de chimpanzé temporariamente. Logo, anos se passam e mais do que um animal de estimação, o macaco, nomeado César, torna-se parte da família e entra em conflito sobre seu papel, não compreendendo exatamente o que é, uma vez ter de ficar todo o tempo preso em casa. O vínculo formado na família Rodman é intenso, mesmo que César ainda seja um objeto de estudo. De inteligência impressionante, mas detendo força e violência explosiva, César, embora dócil, representa um perigo na sociedade, e não é a toa que supra a imagem de um líder quando ao lado de semelhantes. Seu nome, aliás, foi atribuído por Charles graças a Júlio César, o ditador do romance de Shakespeare visto sobre uma penteadeira.
Os efeitos distribuídos no filme são perfeitos. César criado pela tecnologia em CGI, impressiona pela autenticidade de formas próximas a dos humanos. Andy Serkis, famoso principalmente por viver Gollum em “O Senhor dos Anéis”, vive o símio com autoridade, emprestando seus movimentos e expressões faciais colidindo real e imaginário. Ele rouba completamente a cena, ficando ainda melhor quando interage com outros macacos, entre eles um Gorila e um Orangotango, este último é conhecedor de libras. Essa ligação disposta entre os macacos só acontece quando César é capturado e em cativeiro, preso em jaulas, inicia uma espécie de doutrina sobre os outros símios, demonstrando sua potencial liderança e talento, o que antecipa cenas enérgicas, espantosas e de faculdade tática capaz de fazer o público amante de artes de guerra suspirar com o que acontecerá a São Francisco. O homem enquanto vilão tem a imagem de Tom Felton (“Harry Potter”) como ostentação.


O ideal de liberdade proposto é brilhante. A fotografia de Andrew Lesnie enaltece os animais no meio da cidade. A trilha de Patrick Doyle reforça cenas de combate e ameniza nos momentos mais ternos. A vista que César tinha do sótão era um símbolo de sua condição enquanto um animal que, embora tivesse limitações espaciais, gozava de liberdade. Seu desenho na parede após enjaulado e a marca deixada em placas representando a janela a qual passava horas observando virou estigma de sua gana e de todos os outros animais que almejavam libertação, o que reside numa crítica direta ao uso de animais como cobaias em experimentos, levando-os a morte ou rendendo-lhes severas cicatrizes. Nessa origem, tem início uma guerra cujo resultado é conhecido por quem assistiu aos outros filmes da série. O homem coadjuva os protagonistas símios, são eles as vítimas de nossa ordem moral. A natureza se confronta com o interesse e não é ela quem perde.

O vigor narrativo do trabalho de Wyatt entusiasma. A essência humana é contidamente exibida em breves momentos em que o homem tem seu espaço na tela. É com certo desprezo e falta de crença na humanidade que se constituiu essa saga. Nós somos as vítimas do que nós fazemos. A história de colher os frutos cabe aqui. Mas, “Planeta dos Macacos: A Origem”, traz um pouco mais: além de deixar claro que a história está acontecendo no futuro através da notícia sobre o homem em Marte, traz também a individualidade como cerne, o distanciamento entre as pessoas. Sozinhos, fracos; juntos, fortes. A lição propagada por César corrobora o preço da desunião. E que momento sensível foi aquele em que o chimpanzé procurou unir Will Rodman com a veterinária Caroline (Freida Pinto) num dos atos mais compassivos da trama. Este é um filme que comprova que é possível conceber uma super produção utilizando de aparatos inteligíveis, com uma boa história para se contar. “A Origem” somou um prelúdio digno ao que é a história de “O Planeta dos Macacos”. Sua metáfora humana é condizente a nossa arbitrária realidade.

Há uma cena durante os créditos que fecha o longa ilustremente.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Proseando sobre... Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo



O bordão presente no título poderia servir como desculpa para resultado final do filme. A premissa traz pai e filho pegando a estrada realizando golpes por onde passam. Sem escrúpulos, o patriarca Ramon Velasco (Tarcísio Meira) não passa impune em nenhum lugar, o que lhe obriga a viver uma vida cigana, mudando-se constantemente junto ao filho e ao veículo que carrega o título “Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo”. Cansado de seguir o pai, Lalau (Gregório Duvivier) após receber uma proposta, não pestaneja e decide aceitar em troca de uma boa grana. Ele abandona Ramon e parte para a cidade maravilhosa a fim de viver uma farsa. As confusões dessa escolha são pra lá de preocupantes.

Levar essa proposta pessimista do bordão que intitula o longa tem algo de otimista baseado nas desventuras de seus personagens, pois, qualquer coisa que contrarie tal afirmação é benéfica. A expectativa jamais é frustrada. A narrativa carrega essa idéia com um humor brando, mas geralmente falho. O roteiro do experiente Paulo Halm (que dirigiu recentemente o bom “Histórias de Amor duram apenas 90 Minutos”) se apóia no stand-up comedy do protagonista Lalau, mostrando as histórias contadas pelo rapaz durante o show, o que denuncia a relação entre pai e filho.

Destaca-se nesse meio a jornada da dupla, um segue ao Rio encarnando um falso guru indiano, o que o leva a ser acusado por um grave crime; o outro, adepto da representação, assume distintas identidades, calcando em sua performance a mensagem do ser artista e sua entrega, embora intencionalmente canastrona, a arte de representar. O diretor Hugo Carvana (“Casa da Mãe Joana”, “O Homem Nu”) propõe sutilmente a reflexão do papel do artista no modelo itinerante e logo insinua, em cena, a dificuldade de se fazer arte no país. Aí entra o trunfo do roteiro, o dinheiro e o que as pessoas são capazes de fazer por ele. As notas de reais e dólares tornam-se divindades palpáveis em meio a tantas.

Com um olhar crítico e atores dispostos a fazer jus a proposta do longa, Hugo Carvana entrega mais uma comédia ao cinema nacional, utilizando piadas incapazes de causar gargalhadas, mas potenciais em manter um ritmo recreativo. Fraco nas suas pretensões por falta de ousadia e por tornar a crítica social secundária, o filme só garantirá atenção por essas minúcias as vezes inspiradas e pelas atuações convincentes, especialmente com Tarcísio Meira que claramente se diverte em cena num registro idealizado falsamente boêmio. Na arte de representar, entram as aparências. Duvivier se mostra bem como protagonista em um filme que muito lhe exige, ao contrário de seu desempenho no simplório “Apenas o Fim”. Também estão no elenco Flávia Alessandra, Ângela Vieira, Herson Capri e Mariana Rios – essa última numa participação especial, simbolizando a saudade e o conforto o qual esses artistas abrem mão em nome de sua arte.

sábado, 20 de agosto de 2011

Proseando sobre... Lanterna Verde


Lanterna Verde” chega atrasado ao país, vem trazer a história de um dos mais curiosos heróis da DC Universe e entra de cabeça num mundo completamente idealizado, o planeta Oa onde residem os guardiões do universo. Lá se reúnem os Lanternas Verdes, cada qual representando um povo, entre eles aparecerá um terráqueo. Já na terra, um teste nas alturas denuncia a irresponsabilidade e o temor de um jovem piloto, Hal Jordan (Ryan Reynolds) que, exibicionista, arrisca a pele para não sair por baixo durante a apresentação de um projeto. Jordan será o escolhido para usar o poderoso anel que fora do Lanterna Abin Sur, mas para converter-se em um verdadeiro Lanterna Verde, também terá que mudar de conduta e assumir, de vez, a maior das responsabilidades, defender seu mundo, atributo que necessita de coragem, bravura e vontade.     

Demonstrando sua total falta de apego a mulheres e a família, – seus irmãos e a loira que acorda ao seu lado no primeiro ato simplesmente desaparecem do filme – Hal parece se interessar unicamente com sua vida, pouco se importando com eventos exteriores e julgamentos morais a seu respeito, uma vez estar ciente de seu status irretocável por ser filho de um famoso e idolatrado piloto morto num acidente. Esse acidente, aliás, ganha tremenda importância na primeira metade do filme, sendo esquecido posteriormente, comprometendo algum teor dramático sério e complexo que poderia se encarregar do personagem. Se não bastasse tantos equívocos do roteiro de 4 escritores, ainda não entendemos qual é a de Carol Ferris (Blake Lively), inicialmente aversiva ao personagem de Reynolds para logo após se revelar uma admiradora fiel e apaixonada do rapaz.

Se falta alguma liga nesse roteiro quebradiço, ao menos há alguma ação e efeitos especiais contagiantes, porém não rebuscados. A caracterização de Oa é luxuosa, seus habitantes também são fortalecidos com personalidade e riqueza de detalhes, – destaca-se Sinestro (Mark Strong) – e o uniforme do Lanterna Verde é outro trunfo certeiro. O filme se vale da técnica para esconder a história toda atropelada e de conteúdo limitado, o que piora quando percebemos algum potencial desperdiçado como as imagens inconscientes que surgem em momentos de grande estresse em Hal Jordan, ou a relação entre o cientista Hector Hammond (Peter Sarsgaard, o grande nome do filme) e seu pai, o Senador Hammond (Tim Robbins). Hector demonstra uma total mágoa diante sua expectativa em fazer parte da ação dos planos do país, mas por ser desacreditado pelo pai, sempre figurou em segundo plano. Sarsgaard é inteligente ao montar o caráter e habilidades de seu personagem, pouco a pouco transformando-se num vilão deforme, perdendo espaço unicamente devido a Parallax, um monstro de dimensão assombrosa, que faria frente a Kraken.

Priorizando os efeitos e a ação embutida, o diretor Martin Campbell (de “Cassino Royale” e “Contra GoldenEye”) explora contidamente as possibilidades de seu herói, uma vez que, ao criar o que quiser com o anel, poderia abusar da criatividade, o que influiria diretamente no orçamento. É interessante notar a criatividade do protagonista relacionada a situações de seu cotidiano, como os caças, a pista de carros e socos. Ryan Reynolds tem carisma, dá credibilidade ao Lanterna Verde e imortaliza seu nome como o herói no cinema. Num filme em que mais do que percorrer seu destino portando o anel dos escolhidos, busca tratar de virtudes humanas e o quão essas podem ser influentes. O medo como vilão é um argumento valioso, mas muito mal aproveitado. Se vier uma segunda parte, que traga a essência do universo de Lanterna Verde e não apenas os efeitos custosos para parecer interessante. 


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Proseando sobre... Dylan Dog e as Criaturas da Noite


Novo filme adaptado a partir de histórias em quadrinhos. Novo equívoco. Dirigido por Kevin Munroe, o cara responsável por “As Tartarugas Ninja – O Retorno”, este “Dylan Dog” traz uma das investigações de um detetive criado por Tiziano Sclavi nos anos 80. O cara não vai atrás de assuntos humanos, mas se aventura no mundo sobrenatural, combatendo seres como vampiros, lobisomens e zumbis. De início não compreendemos o que foi-se feito com este investigador que anda pegando casos sobre vidas privadas. Logo teremos a resolução, ele é requisitado e veste o uniforme, torna-se o letal Dylan Dog.

A premissa é batida, mas ainda sedutora: o pai da jovem Elizabeth (Anita Briem) foi morto por alguma criatura, um monstro. A polícia desconfia, não acredita e nega ajuda. A garota é obrigada a procurar um detetive particular, o nome Dylan Dog não foi uma escolha aleatória. Há segredos nesse crime e todos são suspeitos. Ok. Até poderia-se pensar numa ambientação noir com resquícios de longa de investigação fantástica mas, aqui, tudo é absolutamente frívolo, atropelado e frustrante. O salto no mar de piadas prontas faz o público desconfiar se está rindo do que se sucede em cena ou de puro constrangimento.

A estrela é Brandon Routh, o último Superman. Inexpressivo e pouco íntimo da persona Dylan Dog, o ator até busca investir com esforço alguma agressividade nas cenas de ação – que são muitas, diga-se de passagem – mas a falta de personalidade e bagunça narrativa apenas empalidece o filme diante obras semelhantes. “Max Payne”, que já é frágil, fica melhor comparado a esse. Há ainda algumas lembranças soltas ao longo da narrativa como “True Blood”, “Wes Craven” e “Spawn”, este último por sua infâmia. Discorre-se aqui um comentário unicamente referente ao longa, uma vez que jamais li as HQ’s do detetive.  

Banhado com doses de ação e efeitos toscos, o que é aceitável dentro de uma proposta trash, o filme, que por vezes visivelmente economiza no orçamento, – evidente nas cenas em que a câmera prioriza o atirador, não mostrando o ataque – traz uma temática visando um público bastante específico. Até estes provavelmente sairão decepcionados da sessão recheada de elementos narrativos que quase forçam o público a ter qualquer comoção, nem que seja a de se levantar e ir embora. O abuso de cenas com o personagem Marcus (Sam Huntington, também de “Superman”) mostra a pretensão do diretor em propor alguma recreação, mesmo sendo de profundo mal gosto, herança de piadas dos pastelões mais desprezíveis. “Dylan Dog” é indefensável!

sábado, 13 de agosto de 2011

Comentando sobre... O Cheiro do Papaia Verde


No que se dispõe a graça de um acompanhamento intimista, este filme vietnamita explora, além de uma cultura diferenciada, uma década cuja situação econômica preocupava. Os anos 50 estão em cena, tempos antes da guerra do Vietnã. No filme, longe desse futuro conhecido, busca retratar a condição da mulher naquele meio social trazendo a pequena Mui (Man San Lu) entrando na adolescência, saindo de sua aldeia a caminho da cidade de Saigon a fim de trabalhar como doméstica para uma família comerciante. As relações entre esses membros são, por vezes, distantes de nossa compreensão por não sabermos a finalidade exata de suas intenções, como o pai que repentinamente abandona a casa com o dinheiro e retorna após algum tempo longe. A relação entre as crianças, que também atinge a jovem Mui, são saudosas pela inocência e pelas características dessa fase. Somando a densidade do tema com uma fotografia rica que prioriza o ambiente em contraste aos sentimentos dos personagens, esse “O Cheiro do Papaya Verde” registra um período de transição da vida de uma jovem e de uma família frente a dificuldades financeiras. Nesse âmbito, encontram-se paixões, experiências reais de vida, compreensões e lembranças, algumas geradas pela saudade de um tempo, de um som, de um cheiro, de um sabor. 


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Proseando sobre... Os Smurfs


Se adaptar a história dos carismáticos Smurfs para a telona foi uma proposta de revitalizar na memória os desenhos baseados na obra de Peyo, então o filme fracassou.  “Os Smurfs”, na verdade, parece buscar uma nova abordagem. Foca nas crianças que não se lembram e tampouco sabem quem na verdade são esses seres azuis. Os adultos que se recordam com satisfação da animação televisiva ou até dos quadrinhos, deverão se frustrar diante a expectativa, porém, se aguardarem apenas uma aventura despretensiosa, então poderão aproveitar melhor a história desenvolvida. Ela é frágil e boba, mas os Smurfs digitalizados compensam e transformam o longa num filme smurfilegal.

Legal, só. As risadas acontecem, embora sejam previsíveis e por vezes forçadas. Simplesmente acontecem. É difícil não se interessar nem que seja um pouco por estes pequenos que saem de seu reino encantado na floresta e vão parar em New York acidentalmente. Atrás deles, o vilão Gargamel (vivido por Hank Azaria) e seu fiel gato também adentram em solo americano. Uma caçada se inicia com os Smurfs se escondendo na casa de um publicitário, Johan (Neil Patrick Harris), que está prestes a receber uma promoção no trabalho. Junto a esposa grávida Grace (Jayma Mays), irá cuidar dos pequenos, o que traz, de imediato, uma representação fraternal, sobretudo na de funções maternas e paternas. Isso faz com que nos interessemos, um pouco, pela narrativa.

Papai Smurf, Desastrado, Smurfete, Gênio, Ranzinza e Corajoso são os seis Smurfs que adentram o universo humano se perdendo pelas ruas movimentadas e iluminadas de Nova York. Cheio de lições cujo significado é estipulado através da personalidade dos personagens – isso explica suas nomeações – e também sobre quem na verdade somos ou quem podemos ser, o filme discorre sobre um roteiro leviano a importância da união de grupo e de se manter próximo um do outro enquanto família. A direção ficou a cargo de Raja Gosnell, o cara responsável pela adaptação de “Scooby-Doo” e, demonstrando a mesma fraqueza da obra do cachorro, revela uma profunda incapacidade de contar uma boa história, se prendendo, quase que exclusivamente, aos maneirismos e a possibilidade de fazer alguma graça com o que tem em mãos, embora não precise de tanto esforço aqui. A presença dos Smurfs é quase auto-suficiente.

Com performances sem destaques, a não ser por Hank Azaria que assume o antagonismo com ímpeto, o longa deverá ganhar a afeição das crianças – no que diz respeito ao humor – e despertará uma sensação nostálgica dos mais crescidos – estes provavelmente adorariam ter um Smurf em casa. Sobram investidas hilárias combinadas com moralidade e alguma ação, no entanto, termina pequeno e passageiro, mantendo a expectativa que sua continuação supra as adversidades encontradas nessa primeira empreitada. Ao menos a musiquinha irritante cantarolada pelos Smurfs não fica martelando em nossa cabeça ao final da sessão. Ufa.  


domingo, 7 de agosto de 2011

Proseando sobre... Meia Noite em Paris



De natureza quase onírica, essa nova obra de Woody Allen exalta Paris, exala sua intimidade e prova de sua cultura através de uma narração ilógica e fantasiosa, percorrendo décadas, saindo de 2010 e mergulhando nos anos 20 em meio a companhias pra lá de extraordinárias. O longa abre trazendo Paris com seus pontos turísticos, e o trabalho de fotografia explora um dia nessa cidade até seu anoitecer com sua beleza ficando ainda mais vigente. O cenário é romântico, o que se trata é uma paixão absolutamente perceptível do público sobre uma declaração de amor do diretor pela cidade. Isso nos soa admiravelmente belo.

Um roteirista americano, Gil Pender (Owen Wilson), quer escrever um romance. Ele vai buscar inspiração na capital francesa ao lado da noiva Inez (Rachel McAdams) e dos sogros. Ali, pouco a pouco revela sua frustração pela década a qual vive, idealizando a possibilidade de ter vivido nos anos 20 e tido contato com seus ídolos, entre eles F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Tal desejo é compartilhado com muitos de nós, afinal, quem nunca se imaginou vivendo em outros tempos? O foco dessa narrativa escrita por Allen denota um desejo distante, principalmente ao constatarmos o universo o qual Gil está inserido, ignorado por Inez, interessada no irritante intelectual Paul (Michael Sheen) e pouco preocupada com as dificuldades de seu noivo com o livro.

Allen justifica seu estilo ao apresentar seu protagonista. De fala rápida e neurótica, parece fascinado unicamente com o passado não notando as relações a sua volta. Owen Wilson absorve com seu carisma o trejeito marcante de seu diretor, tornando-se uma figura simpática e cômica na trama, fórmula que o consagrou, aqui ainda mais usual e necessária. McAdams, atriz costumeiramente envolvida com personagens doces e delicadas, nos irrita com sua mesquinhez e proposta parasita, evidenciada por sua futilidade naquele contexto. Após embaraços, Gil se perde pelas ruas de Paris e diante o badalar da meia noite, é convidado a entrar num carro estranho... e sua jornada se inicia.

Os anos 20 ganham forma, ícones do passado surgem em cena. Cole Porter (Yves Heck) está tocando em um bar, Zelda Fitzgerald (Alison Pill) e F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston) lhe assistem. Hemingway (Corey Stoll) está bebendo sozinho e lhe dá conselhos. Gil Pender não acredita, sorri como se aquilo fosse um sonho. Parece. Não é. Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo) aparece junto a Gertrude Stein (Kathy Bates), que por sua vez ouve as angústias do pintor espanhol que acabara de conceber uma nova obra cuja estrela é a bela Adriana (vivida pela estonteante Marion Cotillard). Que universo fantástico se transforma nas noites parisienses para o escritor que consegue acessar seus maiores ídolos e cruzar com nomes imortais – que cena espetacular é a de Salvador Dali (Adrien Brody) e sua obsessão por rinocerontes.

A narrativa proposta por Allen é uma fantasia semelhante às ocorridas em outras de suas obras, como “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Desconstruindo Harry”. Aqui, o lampejo criativo é extenso, sobra beleza e ganha vivacidade, é impossível ignorar o que realmente está acontecendo. O interesse proposto já nos era conhecido, e como metáfora de sua própria história, o livro de Gil antecede seu destino num determinado ato. Seu real interesse se confronta aos preceitos da família da noiva, mas se dividem com personagens sensíveis, como a guia turística (vivida por Carla Bruni numa ponta) e a garota da loja de antiguidades, Gabrielle (Léa Seydoux, de “A Bela Junie”). O trabalho de fotografia de Darius Khondji reporta a luzes cuja sensação de calor e prazer logo é realçada, ao passo que o presente triste é iludido.

Dirigido magistralmente por Woody Allen, – esse é seu grande trabalho em anos – este longa prova que o diretor está em plena forma realizando trabalhos anuais. Esse salto no tempo ganha um interesse considerável ao refletirmos sobre o passado, suas possibilidades e o “e se”. Não dá para estar sempre satisfeito. Nessa concepção romântica temporal, a era de ouro é elevada, nela Adriana também idealiza um retorno, a Belle Époque, e a constância disso é interminável. São filmes como esse “Meia Noite em Paris” que nos faz pensar o quanto o cinema, em sua excelência, é capaz de nos encantar. Não somente isso, emocionar e nos fazer rir. Destaca-se em projetos desse tipo sacadas de grandes nomes do cinema que permanecem irretocáveis. Dentre várias cenas expostas aqui, é difícil não mencionar a discussão no museu e a indicação de Gil para Luis Buñuel (Adrien de Van) a respeito do trabalho que filmaria, “O Anjo Exterminador”. É extasiante. 

sábado, 6 de agosto de 2011

Comentando sobre... Sob O Céu do Líbano


Se existe uma pipa voando descontrolada na brisa, então essa representa Lamia (Flavia Bechara), jovem de 15 anos prometida para casar. Na fronteira entre o Líbano e Israel, crianças brincam com suas pipas dividindo o céu de ambos os países. No meio delas Lamia caminha com ousadia, arriscando a pele diante o conflito sempre tenso, prestes a estourar, separada por arames. Nesse solo intolerante, famílias são divididas e as mulheres subjugadas apenas acatam ordens sem enfrentar tabus. A diretora Randa Chahal Sabag levanta as relações dispostas no âmbito árabe, estando Lamia prometida a um primo contra sua vontade, ela troca olhares com um dos guardas da fronteira, Youssef (Moher Bsaibes), e ambos vivem numa profunda angústia sobre a possibilidade de descoberta dos seus íntimos desejos. Áspero do ponto de vista dramático, o filme carece de ação e em certo ato se revela aspirante da fantasia ao esboçar o desejo e seu consumo. Diagnosticando a discrepância cultural logo em seu início, tomamos contato pouco a pouco com aquele universo social correndo o risco de o considerarmos absurdo. Observar o conflito religioso segregador e a condição de apresentar noivos através de imagens é algo para se discutir dentro da narrativa que trata seus acontecimentos com certo humor, como por exemplo a conversa a distância entre mulheres que se afrontam através de megafones. Leve, é uma distração curiosa sobre uma cultura que nos é distante, nos oferecendo um caso de amor proibido.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Comentando sobre... A Guitarra


Acompanharemos uma vida vazia, sem grandes lembranças, sozinha. A protagonista dessa vida é Melody, sem vínculos, descobrindo uma grave doença. Ela tem câncer e pouco tempo lhe resta. Juntamente a isso, mais dois grandes golpes: ela é demitida de seu cargo e abandonada pelo namorado. Desiludida, deseja gastar seus últimos meses num apartamento espaçoso. Pouco a pouco ela compra luxuosos móveis sabendo da impossibilidade de pagá-los. Pouco a pouco ela enche este apartamento como também enche sua vida de novidades, de relações e experiências, entre elas a concretização de um sonho infantil o qual teremos acesso graças a vários e iluminados flashbacks. Melody – e que nome poderia ser mais adequado? – sempre quis tocar guitarra e sempre manteve uma obsessão por uma guitarra vermelha na época da infância, instrumento o qual jamais pode ter. Melody é vivida pela atriz Saffron Burrows que contracena com mais dois atores, Isaach De Bankolé e Paz de la Huerta. Junto aos dois, a garota percebe uma mudança grande em sua vida, novos hábitos aprazíveis e sorrisos frente a sua condição. É um trabalho de poucos equívocos e de profundas reflexões a respeito do que têm-se feito da vida e quais alegrias temos adquirido. Dirigido com segurança por Amy Redford, filha de Robert Redford, “A Guitarra” fala de sonhos e ambições sobre uma vida sem ânimos e expectativas e quão alguns desejos podem nos ser viscerais.