quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Proseando sobre... Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo



O bordão presente no título poderia servir como desculpa para resultado final do filme. A premissa traz pai e filho pegando a estrada realizando golpes por onde passam. Sem escrúpulos, o patriarca Ramon Velasco (Tarcísio Meira) não passa impune em nenhum lugar, o que lhe obriga a viver uma vida cigana, mudando-se constantemente junto ao filho e ao veículo que carrega o título “Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo”. Cansado de seguir o pai, Lalau (Gregório Duvivier) após receber uma proposta, não pestaneja e decide aceitar em troca de uma boa grana. Ele abandona Ramon e parte para a cidade maravilhosa a fim de viver uma farsa. As confusões dessa escolha são pra lá de preocupantes.

Levar essa proposta pessimista do bordão que intitula o longa tem algo de otimista baseado nas desventuras de seus personagens, pois, qualquer coisa que contrarie tal afirmação é benéfica. A expectativa jamais é frustrada. A narrativa carrega essa idéia com um humor brando, mas geralmente falho. O roteiro do experiente Paulo Halm (que dirigiu recentemente o bom “Histórias de Amor duram apenas 90 Minutos”) se apóia no stand-up comedy do protagonista Lalau, mostrando as histórias contadas pelo rapaz durante o show, o que denuncia a relação entre pai e filho.

Destaca-se nesse meio a jornada da dupla, um segue ao Rio encarnando um falso guru indiano, o que o leva a ser acusado por um grave crime; o outro, adepto da representação, assume distintas identidades, calcando em sua performance a mensagem do ser artista e sua entrega, embora intencionalmente canastrona, a arte de representar. O diretor Hugo Carvana (“Casa da Mãe Joana”, “O Homem Nu”) propõe sutilmente a reflexão do papel do artista no modelo itinerante e logo insinua, em cena, a dificuldade de se fazer arte no país. Aí entra o trunfo do roteiro, o dinheiro e o que as pessoas são capazes de fazer por ele. As notas de reais e dólares tornam-se divindades palpáveis em meio a tantas.

Com um olhar crítico e atores dispostos a fazer jus a proposta do longa, Hugo Carvana entrega mais uma comédia ao cinema nacional, utilizando piadas incapazes de causar gargalhadas, mas potenciais em manter um ritmo recreativo. Fraco nas suas pretensões por falta de ousadia e por tornar a crítica social secundária, o filme só garantirá atenção por essas minúcias as vezes inspiradas e pelas atuações convincentes, especialmente com Tarcísio Meira que claramente se diverte em cena num registro idealizado falsamente boêmio. Na arte de representar, entram as aparências. Duvivier se mostra bem como protagonista em um filme que muito lhe exige, ao contrário de seu desempenho no simplório “Apenas o Fim”. Também estão no elenco Flávia Alessandra, Ângela Vieira, Herson Capri e Mariana Rios – essa última numa participação especial, simbolizando a saudade e o conforto o qual esses artistas abrem mão em nome de sua arte.

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