domingo, 29 de abril de 2012

Proseando sobre... Os Vingadores


Nos últimos anos, tem sido comum observar filmes de heróis emplacarem e arrecadarem milhões em bilheterias. Uns possuem qualidade discutível, outros triunfam pela diferenciação técnica, no entanto a maioria apenas soma, acumulando nas prateleiras como mais uma opção, apenas um outro conflito maniqueísta e esquemático de roupagem singular. Alguns desses provém de grandes sucessos solos, como “Thor” e o “Capitão América”; o “Homem de Ferro” consolidou uma franquia de êxito ao passo que “Hulk” obteve filmes questionáveis. Com isso, uma expectativa em relação a reunião do grupo e a constituição dos Vingadores inflamou quando Nick Fury (Samuel L. Jackson) surgiu recrutando os personagens. Há muito tempo prometido, o aguardado filme reunindo estes protagonistas da Marvel finalmente chegou às telonas trazendo tudo o que seus fãs desejavam ver: um expoente e superlativo filme de ação com figuras ilustres dos saudosos quadrinhos.

O planeta está ameaçado por forças alienígenas trazidas pelo asgardiano Loki (Tom Hiddleston) que invadiu a S.H.I.E.L.D roubando o Tesseract. O ataque é caótico, Nova York está sendo destruída. Os humanos com suas limitações pouco podem fazer. O desígnio de Fury é a possível solução para a defesa da terra. Com efeitos especiais eficazes e com uma produção generosa, o projeto muito bem dirigido e escrito por Joss Whedon é impactante, se estonteia pelo absurdo, metaforizando a iminência do fim e o cuidado que, numa sociedade destrutiva à espera do remate ocasionado pela própria, é esperado do homem em busca de solução.

Unir tanta gente numa só obra é uma aposta das mais perigosas. Cada um teria tempo de mostrar a que veio? Alguns são priorizados, certamente, porém ninguém sai depreciado. Os heróis juntos tem medida suficiente em cena para impressionar cada um a sua maneira, seja pela ironia ou pelas sutilezas, estabelecendo um vínculo com seu público sedento pela diversão pipoca, oferta natural e desejável quando se trata de longas deste gênero.

O equívoco passado pela própria Marvel há alguns anos, no caso o terceiro Homem Aranha, onde o excesso de antagonistas comprometeu o andamento da empreitada tornando-a por vezes maçante, parece ter sido um aprendizado para este projeto a fim de que tal problema não fosse repetido. Aqui tudo está bem amarrado com um roteiro afinado à proposta de distração sem temer o absurdo e tampouco o humor voluntário, este funciona não só como um alívio diante a ação estupefata, mas como um acréscimo de ânimo às investidas dramáticas nunca aprofundadas. Não é para se levar a sério em qualquer hipótese.

E justamente por não querer ser levado a sério é que a história contada não ultrapassa a barreira da diversão contagiante. Embora levante questões importantes relacionados aos seus personagens no atual contexto, nada vai além de uma menção, o que torna tudo por vezes juvenil. A falta de profundidade é driblada por carisma e humor. Tal ousadia tão produtiva é encarada como um revés, podendo afastar alguns públicos do cinema graças a possíveis complexidades. Há um solo fértil para tal investimento, todavia ousar fazê-lo requer muita competência e coragem. Fica a deixa, subestimando a capacidade intelectual de seus espectadores. 

Num roteiro que discute moral através de desentendimentos e rixas pela diferença, sobretudo de época e de lugar, o longa de Whedon exprime convicções sobre o coletivo e seus variados ideais. A narrativa é o herói em si, esse papel apreciado e seguido, embora, socialmente, debatido, segundo os valores estabelecidos. Daí divergem concepções, uns constatando como amparo enquanto outros sugerem aberrações, o ser diferente que assusta, importuna. O horror social com o que nos é estranho está presente nessa alegoria imaginária dos quadrinhos.

Tony Stark se estabelece como o durame da narrativa, as coisas não acontecem em sua volta, mas se inclinam ao seu ego megalomaníaco. As melhores sacadas do texto são dele, desenvolvidas com graciosidade por Robert Downey Jr.. Thor mantém a imponência de um deus graças à vaidade de Chris Hemsworth enquanto Chris Evans garante o tom enérgico de Capitão América exalando americanismo. 3 armas cujos poderes notáveis dignificam Os Vingadores. Entre os heróis a coisa melhora quando Mark Ruffalo aparece com seu Hulk, provavelmente o melhor concebido pelo cinema. Aperfeiçoado e bruto como nunca visto, remete a Dr Jekyll and Mr Hyde, e ainda é capaz de fazer o público no cinema ovaciona-lo por sua violência desmedida constatada em atos estranhamente bem humorados com direitos a gags visuais cômicas. 

Em outra instância, outros dois personagens se equivalem sem os aparatos fantásticos dos já mencionados. A Viúva Negra com sua autoridade e eficiência se garante como um dos atributos mais significativos da trama em diálogos entusiasmados, ao mesmo tempo que esbanja sensualidade. Scarlett Johansson, esforçada no papel, incendeia. Já o ótimo Jeremy Renner dá dignidade ao seu Gavião Arqueiro em dois âmbitos importantes da narrativa, edificando um herói de guerra, nunca preparado para um confronto universal como o acontecido.

Ostentações técnicas sobressaem cena a cena, o som é expressivo, ouvimos com destreza o barulho da flecha do Gavião Arqueiro ou as latarias amassando. Já a trilha não tem novidades, empolga num dado instante cuja música clássica embala a ação de Loki na Alemanha com um sobrevivente do nazismo negando em se ajoelhar. As aspirações são tremendas e eloqüentes, e a produção constata isso: um filme de explosões, efeitos surpreendentes e adornos floreados. É sumo e acena com o sucesso e com um futuro promissor. De longe, é o mais expressivo trabalho da Marvel, garantindo um sorriso nos fãs das HQ’s que é, sem dúvidas, muito mais importante que qualquer outro resultante.  

“Os Vingadores” honram esses heróis da Marvel com a magnificência de uma grande produção cujo divertimento proposto é virtuoso. Divertido, engraçado e enérgico, o longa se fundamenta no que seus fiéis apreciadores querem e cumpre elegantemente a expectativa desses. Supondo que a idéia de Stark enquanto um herói trabalhando sozinho seja destituída do longa pela exigência das situações e pelo senso de justiça – e um motivo inspirador é levantado –, como denuncia uma cena num letreiro, a letra “A” parece perpetuar um novo paradigma ressaltando a inicial de “Avengers”, representação de unificação, totalizando diferenças como possibilidade real do sucesso. Dividir para conquistar, reunir para defender. E que defesa ao cinema popular a concepção dessa grandiosa produção.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Proseando sobre... A Pequena Jerusalém



A diretora francesa Karin Albou estreou no cinema em 2005 trazendo um longa que discutia, em suma, a ortodoxia religiosa praticada por uma família rigorosamente judaica. “A Pequena Jerusalém” traz um subúrbio parisiense habitado por imigrantes judeus, local cuja religião dominante influi no povo nascido e criado ali, convivendo sob o preceito da doutrina judaica. Nesse espaço, uma família divide um pequeno apartamento e lidam com ideais e ideologias distintas, uma vez que, a protagonista Laura (Fanny Valette), tem como paixão a filosofia, sobretudo a de Immanuel Kant e conturba a relação familiar crente de que a verdade só pode ser encontrada na religião dispensando qualquer possibilidade de pensamento que não seja envolvido a ela.

Numa visão a qual a religião é o centro, os laços dessa família desatam a partir da dúvida, e inquieta pela propagação de problemas particulares expostos na desconfiança de Mathielde (Elsa Zylberstein) e na paixão impedida de Laura. De olhar conservador, uma desconstrução de ideologias tradicionais é feita no ato da angústia do viver e privações acometidas, enfatizando, não uma crítica a tradição judaica, – religião em questão explanada – mas os fundamentos impostos por ela num contexto completamente diferente daquele que a religião nascera. Embates acrescidos de receios e de novos óticas de encarar o mundo estremecem relacionamentos.  

Albou mostra inteligência ao compor um filme sério buscando na frieza daqueles personagens caracterizados tristes uma evocação empática pelas protagonistas irmãs que sofrem. E se uma ainda tem o recurso de usar como escudo a filosofia aprendida nas aulas – espaço o qual Laura demonstra completo domínio, ao contrário de sua vida privada – a outra, Mathielde, se limita e teme por cometer atos contrários aos ditames do Torá, sobretudo relativo ao sexo junto ao marido, se flagelando com a aflição da suspeita quanto à possibilidade desse homem estar traindo-a. Especula se a culpa possa ser sua.

É com um embate entre o tradicionalismo religioso contra a liberdade e o desejo que “A Pequena Jerusalém” se fortalece enquanto um trabalho sereno sobre privações, opressões e reverências. Laura, bem representada pela francesa Fanny Valette, carrega o filme com sobriedade e delicadeza, sempre na defensiva, – a conheceremos de um jeito e acompanharemos uma mutação. É uma personagem que carrega o conflito entre a ciência e religião, sofrendo com o parasitismo doutrinário que lhe consome em casa e nas ruas. Assiste a mãe emular rituais cabalísticos enquanto o genro propaga o judaísmo. Nesse percurso, o que Laura aspira é independência. Para conquista-la recorre a liberdade, essa liberdade custa caro.

Vencedor e indicado a importantes prêmios (Césars, Cannes), esse “A pequena Jerusalém” discute religiões através de situações corriqueiras cotidianas, trazendo um olhar sobre a periferia parisiense, conhecida como pequena Jerusalém por unir imigrantes Judeus experienciando o convívio com outras vertentes. E há violência dividindo os desiguais.  As relações impostas em cena não são nada modestas, e as tomadas dos breves e calorosos encontros entre um homem egresso da Argélia junto a Laura coloca a dificuldade que, ainda em dias atuais, devido ao tradicionalismo feroz da cultura de determinados povos, impede uniões de diferentes etnias. Karin Albou faz uma crítica sutil sobre esse universo, mas convincente e real. 


Proseando sobre... Poder sem Limites



 Há algum tempo que os filmes de super heróis andam aborrecidos com relação aos temas trabalhados, o maniqueísmo já não tem tanta função senão entreter, é o mais do mesmo e do comum travestido com uniformes coloridos e contextos diferentes. Ainda tem muita atenção, sem dúvidas, no entanto alguns derrapam tanto em crítica quanto nas bilheterias. Algumas idéias, por sua vez, se destacam sem o calor das superproduções, menciono como exemplo "Kick-ass" que conquistou relativo sucesso. Agora é a vez de "Poder sem Limites" chamar a atenção, trazendo as consequências dos super poderes em mãos centradas na ira de alguém cuja vida fora oprimida. O filme é dirigido pelo estreante Josh Trank e tem muito mais a dizer que a maioria de seu gênero.

Três jovens entram no que parece ser um buraco causado pela queda de um meteorito. Um vez no local, escuro e úmido, notam uma luz atrativa, estranha. Este momento de descoberta transforma-se em desespero. Numa cena posterior, acompanhamos o trio mudado, buscando desenvolver seus poderes telecinésicos. Como um músculo exercitado diariamente, as novas habilidades são treinadas e pouco a pouco dominadas. Tudo isso nos é mostrado através das filmagens de Andrew (Dane DeHaan) que, com câmera em punho, registra o progresso das ações dos amigos. O caráter amador da filmagem acrescenta a hipótese do plott. Este é mais um exemplar da narrativa documental cujas intenções são satisfatórias.

Tal artifício estético de filmagem favorece o roteiro, os furos encontrados podem ser descartados devido à dinâmica narrativa empregada. “O que é aquela rocha no buraco?” ou “o que proporcionou os poderes aos jovens?” são questões perfeitamente ignoráveis. Não há preocupações com tais respostas. A idéia central se estabelece na mescla de filmagens feitas por câmeras distintas compondo o longa e revelando a transformação dos atos, com a situação cada vez mais fora de controle. Algo bastante atual é a geração que registra tudo com micro câmeras documentando o que alcançam. O que vale é o espetáculo, não importa o que custe seria um lema a necessidade de difusão na internet. Uma criança no decorrer da história filma com um celular um catastrófico conflito. Apropriadíssimo.

Descompromissado com a lógica narrativa, o filme vislumbra um foco e o atinge: o poder utilizado em detrimento do outro, como um superpredador opondo-se a uma massa julgada inferior. O trio é bem apresentado e explorado, induzindo nossa proximidade: têm-se o notável e popular Steve (Michael B. Jordan) cujas atuais pretensões referem-se a vitória numa eleição no colégio; Matt (Alex Russell) apresenta dificuldades de relacionamento com uma garota e fundamenta-se em teorias filosóficas e psicológicas citando nomes como Schopenhauer e Jung para exprimir seu descontentamento com a sociedade, racionalizando as circunstâncias; e por último, Andrew, sofredor de violência em todos os âmbitos, ignorado popularmente e agredido por outros, o que, em tese, ajuda a justificar seus feitos e delírios quando se assume o mais forte. O glamour do ser herói é desconstruído, o próprio filme evoca um visual triste, turvo. Existe a demasiada responsabilidade certa vez sugerida em “Homem Aranha”, denunciada nas distintas proporções atingidas pelo filme de Trank. O resultado disso é superlativo e temeroso. 


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Proseando sobre... A Guerra está Declarada


O cinema está repleto de longas cuja narrativa inclina sobre alguma doença, seus malefícios, as situações as quais algumas pessoas são obrigadas a vivenciar. Costumeiramente, o assunto rende lágrimas. Tratar dele é quase como ser obrigado a emocionar pela proposta de superação, às vezes inalcançável. Representante francês no Oscar 2012 (este não foi selecionado), "A Guerra está declarada" é mais do que um filme que trata de uma enfermidade e da batalha contra ela. É um relato biográfico, sem tanto sentimentalismo, enfrentado por seus realizadores e contada por Valérie Donzelli que dirige, atua e assina o texto.

Um casal se conhece numa balada, um encontro casual que rendeu uma noite juntos, encontros posteriores, declarações e uma gravidez. Essa apresentação está imersa na cultura pop, com músicas embalando e bebedeiras recorrentes entre jovens. Mas algo está estranho meses após o nascimento, o bebê tem dificuldade para andar, vomita constantemente e possui uma pequena deformidade facial. Motivo natural de alarme, o jovem casal corre atrás de um médico especialista. Logo um neurologista apresenta o diagnóstico: o pequeno Adam tem um tumor no cérebro e precisa ser operado urgentemente.

A expectativa é de que esses pais virem às costas para tudo, isolem-se e dediquem-se pessimistamente a essa criança. A coisa toda não acontece assim e o roteiro de Donzelli demonstra uma forma alternativa de lidar com a situação, desprendendo-se do sentimentalismo usual e fixando num viés otimista, pretendendo aproveitar o que há de melhor na situação, buscando forças nas minúcias. Honesto em sua proposta de representar um drama familiar, o projeto não se prende ao maneirístico esquema emotivo facilitador, isso é evidenciado em piadas de conotação discutível, mas que funcionam como escape para aquela incessante aflição: destaca-se a cena em que cogitam prováveis seqüelas após a cirurgia.

O filme oferece uma narração branda, variável em momentos de terna melancolia – como o telefonema avisando sobre o diagnostico e a reação de cada familiar – e outros de puro humor descontraído, abstrato, por exemplo a sensatez do climão provocado pela descoberta e as maneiras de abstraí-lo. É preciso tocar a vida. Outro acerto do roteiro é a forma como apresenta a gravidez, a presença do bebê em casa. Longe do glamour estampado em revistas, o nascimento de uma criança acarreta uma série de problemas, estresses, noites mal dormidas, o que não faz sua presença perder o brilho e o carinho de seus dedicados e humanos pais.

A diretora esclarece um ponto de vista marcado pelas possibilidades de cuidado. Na França, são várias as práticas de intervenções, os hospitais e médicos são aduzidos de uma maneira lúcida, perspicaz e até cômica, rendendo bons momentos durante a projeção: como a cena retratando a espera ansiosa dos pais em descobrir quem é o famoso cirurgião de Paris, especulando-o como se este fosse invisível. Uma boa piada envolvendo a comparação destes profissionais e Deus funciona perfeitamente num ato. Mas e se estivessem em outros países, o que teriam em mãos? A guerra está declarada contra a doença, o rádio contextualiza a época que se passa a história quando uma guerra é anunciada. A alusão à ação.

Outra consideração é a impossibilidade de realizações pessoais. Não só pela doença, ou pelo casamento, mas pelas exigências diárias, cobranças. Os sonhos evaporam, e em troca ficamos imunes à vida, suas turbulências e insatisfações. Nem todo mundo está feliz, mas há maneiras de buscar, pelo menos, algum conforto e qualquer sorriso. É o que parece querer mostrar Valérie Donzelli, trazendo uma mensagem otimista sobre o que viveu, nesta experiência considerada por alguns um intento. Não é costume do cinema explorar esse universo com um teor crítico, abrindo mão de emoção contagiante. É justamente aí que reside à comoção do filme, em seu panorama e resultado, em seu apresso pela realidade elegantemente estampada no rosto de seus bons atores.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Proseando sobre... Projeto X - Uma Festa Fora de Controle



Amoral, talvez lhe seja uma definição apropriada. Jovens não tão populares se reúnem para comemorar os 18 anos de Thomas (Thomas Mann) e, temendo o fracasso desta, decidem disparar convites aos quatro ventos. Eles querem ter uma grande noite e ganhar popularidade antes do término do ano letivo, além de vislumbrarem mulheres nuas, ter sexo (especialmente esse), música alta e drogas. Tudo vai rolar na bela casa dos pais do aniversariante que viajaram no final de semana. Os preparativos são feitos rapidamente, os convites virais feitos por Costa (Oliver Cooper) logo chegam a pessoas desconhecidas, muito longe dos vários e conhecidos grupos da escola. A noite se aproxima, ninguém parece se interessar em aparecer. Logo, surpresa, chegam alguns, outros, centenas, talvez milhares. Os estereótipos convencionais não demoram a aparecer. As proporções são magnânimas e a talvez maior festa de todos os tempos é constituída.

Incontáveis filmes do gênero buscam se apropriar do universo nerd para explorar seus objetos de desejo, sobretudo suas idealizações pelas mulheres, costumeiramente inalcançáveis. Porém, nenhum exemplar atingiu o nível de escatologia como "Projeto X" e seus lampejos insanos. A censura de 18 anos diagnostica o que o filme trará. Mulheres nuas, consumo abusivo de drogas e violência entre adultos e crianças. É a exposição de gêneros, vivenciando juntos um momento, com suas irresponsabilidades e desnorteamentos. Não é um bom exemplo para ninguém, óbvio. E nem quer ser, não precisam. É uma festa, irresponsável e enlouquecida, o filme a concebe como tal. É para ofender moralistas.

O roteiro da dupla Matt Drake e Michael Bacall, este segundo escreveu “Scott Pilgrim”, vai além da inocência de seus protagonistas, transcendendo ideais morais e éticos. E tudo isso é registrado em primeira pessoa, como a típica filmagem documental, o atual Mockumentary. Essa, aqui, tem função importantíssima, ao contrário do que andamos vendo por aí. E isso é natural, hoje em qualquer lugar, jovens registram sem pudor tudo com celulares. Não importa a qualidade, desde que esteja capturado e possa ser propagado. É uma marca polêmica de uma geração cujos aparatos tecnológicos tornaram-se extensões do corpo humano. O filme tem a assinatura do produtor Todd Phillips, diretor de “Se Beber, Não Case!”.

A direção deste é de Nima Nourizadeh, com atores desconhecidos e belas mulheres, desfilando com seus corpos jovens e embriagados. Não há controle na direção e tampouco senso, o que torna o projeto mais autêntico diante os sucessivos desastres. O roteiro despreocupado com lógica martela essa idéia do cúmulo, do exagero, de forma anteriormente vista contidamente no icônico "Curtindo a vida adoidado" nos anos 80, este intensamente vivo até hoje. E esse valor empregado tratado na composição da diversão ilimitada atravessa gerações, algo bem marcado pela presença de um quarentão na festa, a princípio ignorado, porém logo absorvido como mais um com desejo em comum. Não são poucos os que se identificarão com o projeto e desejarão fazer parte de um evento assim, apesar se seus custosos pesares. 


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Proseando sobre... Fúria de Titãs 2



Novo filme e novas idéias. A originalidade com os mitos por sua vez continuam falhos. "Fúria de Titãs 2" é um entretenimento convincente, divertido e nada equilibrado. Tem um 3D eficaz, o que garante a graça do projeto, mas não passa muito disso, da diversão passageira com personagens da mitologia grega adaptados para um novo universo. Os fãs do filme anterior certamente irão gostar pois esta obra está bem mais movimentada e com efeitos ainda mais requintados. Assim a continuação garante a atenção de um publico bastante específico e talvez fiel, no entanto, não será, nem de longe, um projeto imortal como seus personagens são.

Perseu (Sam Worthington) retorna, ele é um pescador que leva uma vida tranquila ao lado de seu filho, Hélio. Celebrado pelas civilizações graças ao seu feito diante o monstro Kraken, ele agora busca fugir de todas as batalhas, até quando seu pai, Zeus (Liam Neeson), reaparece pedindo sua ajuda. Ele hesita, porém logo se vê imerso em mais um conflito antológico. E como quem é rei nunca perde a majestade, Perseu não demora para mostrar seus dotes heróicos enfrentando as mais cruéis criaturas e iniciar uma expedição ao submundo de Hades (Ralph Fiennes). Auxiliado pelo filho de Poseidon (Danny Huston), o desastrado Agenor (Toby Kebbell) e pela rainha Andrômeda (Rosamund Pike), o herói seguirá numa batalha ainda mais perigosa, tendo pela frente o imponente Cronos.

Personagens com grande importância na mitologia são trabalhados pelo roteiro de Dan Mazeau com deturpações tão monstrengas quanto boa parte de suas aberrações. Ainda assim, seria possível utiliza-los de uma maneira minimamente verossímil e até respeitosa, diante suas importâncias históricas. É o caso, nesse filme, do Minotauro e seu labirinto, e dos ciclopes. Servindo para tapar buracos ou lembrá-los sem se importar com suas funções, "Fúria de Titãs 2" funciona apenas em seu aspecto enérgico e pela estilização de seus personagens, agraciados por uma direção artística atraente. Os efeitos especiais que dão importância à trama e a tridimensionalidade também merecem crédito.

Estremecido pelo roteiro pífio, o projeto do diretor Jonathan Liebesman é um ode aos deuses fragmentados, ignorando boa parte deles, o que visivelmente faz falta a trama, algo especialmente sentido seus apreciadores. É plena desculpa para promover nova franquia, pecando pelo desvairo e pela necessidade de impressionar com suas dimensões estrondosas. A constituição de Cronos revela o caráter de perigo a qual Perseu e os outros Deuses estão inseridos. É pra botar medo, mas parece que estamos tão acostumados a coisas assim. Com um elenco bom e desperdiçado, o filme enterra potenciais em busca de dinheiro. Destaca-se Edgard Ramires, aparecendo bem como o inescrupuloso Ares, roubando boa parte das cenas. Propenso a combates e coreografias supérfluas, o filme é um novo fracasso no quesito investimento na mitologia grega, mas com boas doses de ação que quase compensam o disparate.