Há algum tempo que os filmes de
super heróis andam aborrecidos com relação aos temas trabalhados, o maniqueísmo
já não tem tanta função senão entreter, é o mais do mesmo e do comum travestido
com uniformes coloridos e contextos diferentes. Ainda tem muita atenção, sem
dúvidas, no entanto alguns derrapam tanto em crítica quanto nas bilheterias. Algumas
idéias, por sua vez, se destacam sem o calor das superproduções, menciono como
exemplo "Kick-ass" que conquistou relativo sucesso. Agora é a vez de
"Poder sem Limites" chamar a atenção, trazendo as consequências dos
super poderes em mãos centradas na ira de alguém cuja vida fora oprimida. O
filme é dirigido pelo estreante Josh Trank e tem muito mais a dizer que a
maioria de seu gênero.
Três jovens entram no que parece
ser um buraco causado pela queda de um meteorito. Um vez no local, escuro e
úmido, notam uma luz atrativa, estranha. Este momento de descoberta
transforma-se em desespero.
Numa cena posterior, acompanhamos o trio mudado, buscando
desenvolver seus poderes telecinésicos. Como um músculo exercitado diariamente,
as novas habilidades são treinadas e pouco a pouco dominadas. Tudo isso nos é
mostrado através das filmagens de Andrew (Dane DeHaan) que, com câmera em
punho, registra o progresso das ações dos amigos. O caráter amador da filmagem
acrescenta a hipótese do plott. Este é mais um exemplar da narrativa documental
cujas intenções são satisfatórias.
Tal artifício estético de
filmagem favorece o roteiro, os furos encontrados podem ser descartados devido à
dinâmica narrativa empregada. “O que é aquela rocha no buraco?” ou “o que
proporcionou os poderes aos jovens?” são questões perfeitamente ignoráveis. Não
há preocupações com tais respostas. A idéia central se estabelece na mescla de
filmagens feitas por câmeras distintas compondo o longa e revelando a
transformação dos atos, com a situação cada vez mais fora de controle. Algo
bastante atual é a geração que registra tudo com micro câmeras documentando o
que alcançam. O que vale é o espetáculo, não importa o que custe seria um lema
a necessidade de difusão na internet. Uma criança no decorrer da história filma
com um celular um catastrófico conflito. Apropriadíssimo.
Descompromissado com a lógica
narrativa, o filme vislumbra um foco e o atinge: o poder utilizado em
detrimento do outro, como um superpredador opondo-se a uma massa julgada
inferior. O trio é bem apresentado e explorado, induzindo nossa proximidade:
têm-se o notável e popular Steve (Michael B. Jordan) cujas atuais pretensões
referem-se a vitória numa eleição no colégio; Matt (Alex Russell) apresenta
dificuldades de relacionamento com uma garota e fundamenta-se em teorias
filosóficas e psicológicas citando nomes como Schopenhauer e Jung para exprimir
seu descontentamento com a sociedade, racionalizando as circunstâncias; e por
último, Andrew, sofredor de violência em todos os âmbitos, ignorado
popularmente e agredido por outros, o que, em tese, ajuda a justificar seus
feitos e delírios quando se assume o mais forte. O glamour do ser herói é
desconstruído, o próprio filme evoca um visual triste, turvo. Existe a
demasiada responsabilidade certa vez sugerida em “Homem Aranha”, denunciada nas
distintas proporções atingidas pelo filme de Trank. O resultado disso é superlativo
e temeroso.
Eu gostei! um dos poucos filmes de super-heróis que fogem do maniqueismo. Bem divertido, com ação e aventura em doses certas. Recomendo.
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