sábado, 30 de abril de 2011

Proseando sobre... Thor


É mais um filme de super-herói. A abordagem, no entanto, é diferente. Stan Lee, o criador de tantos outros heróis, vê Thor, seu personagem baseado na mitologia Nórdica, ser adaptado para as telonas. O responsável pelo feito, o diretor Kenneth Branagh, teve mais do que a dificuldade de transpor para o cinema a adaptação de um herói das HQ’s, teve que prezar o contexto de uma cultura sem banaliza-la – os nórdicos, portanto, senão ganharam uma filmagem a altura de sua importância, ao menos não foram transformados em seres secundários de uma narrativa obrigada a relacionar-se com a Terra. Tal transtorno seria causado pela história acontecer em tempos atuais e não com os vikings. Para o bem de “Thor”, esses universos tiveram distinção adequada e retratação convincente, especialmente à idealizada Asgard.

Odin (vivido com dignidade por Anthony Hopkins), rei de Asgard, preparou seus dois filhos, Thor (Chris Hemsworth) e Loki (Tom Hiddleston), para sucederem seu trono. Thor, dono de uma personalidade perversa e orgulhosa, inicia uma guerra anteriormente em trégua contra os Gigantes de Gelo. Suas ações impulsivas condenou sua continuidade em seu reino e foi expulso sem honra e sem seu Mjolnir, o martelo que detém seus poderes. O Deus do Trovão despenca em solo terrestre e lá passa por algumas provações, várias piadas, longas aventuras e vive um romance com a mortal Jane Foster (a recentemente oscarizada Natalie Portman).

Com quase duas horas, o espectador é convidado a viajar para 3 diferentes dimensões: o reino de Asgard, o Olimpo dos Deuses Nórdicos, que detém um design de produção e direção artística esplêndida; Jotunheim, o mundo escuro dos Gigantes de Gelo reinado por Laufey (Colm Feore); e a Terra, especialmente o Novo México. E quem lembra da cena pós créditos de “Homem de Ferro 2” irá identificar rapidamente em “Thor”. Os embates propostos são virtuosos,  o longa é movimentado, bem humorado e sem maiores pretensões como a maioria dos filmes do gênero, o que é uma pena. Reduzir um projeto potencialmente capaz de ser grandioso para se dedicar unicamente a diversão passageira e ação descerebrada é uma recorrência triste nesses projetos.

Essa fórmula dedicada a filmes de super-heróis só não é batida pelas inovações das histórias que se adaptam, e por contar com presenças ilustres que normalmente melhoram a carência das narrativas. Hopkins elucida em seu papel, Hiddleston rouba a cena e o australiano Hemsworth mostra mais músculos que talento, no entanto possui carisma suficiente para se engrandecer enquanto Thor. Stellan Skarsgård como o Dr, Erik Selvig pouco acrescenta enquanto Kat Dennings com sua Darcy Lewis, amiga de Jane, está completamente entregue a graça e ironia. Se o elenco enobrece, o roteiro falha, revelando-se, por vezes, medíocre. Ele conta com um arco dramático pouco convincente sobre a relação amorosa – muitíssimo mal desenvolvida, aliás – sucedente na trama utilizando da beleza e delicadeza de Natalie Portman para fazer cara de paisagem ao observar Thor, proferindo um esdrúxulo “Oh my God”. Sim, agora ele é o Deus particular da moça. Bom também é ver Rene Russo – a mãe do herói, Frigga – voltar a participar de uma grande produção.

A história de um personagem milenar, isso dentro da mitologia, vem para encantar fãs da HQ. Não dos Nórdicos, o que é compreensível, pensando no público alvo o qual o filme pretende acertar. Mas não deixa de servir como referência. Quem não o conhecia, agora poderá dizer que ouviu falar ou que já viu o filme. É raso, mas não é um completo vazio.

Thor é poderosíssimo empunhando Mjolnir, fica difícil imaginar alguém para fazer frente a ele. O Deus do Trovão estará em “Os Vingadores” como sugere a cena pós créditos – não se esqueçam de ficar na sala do cinema até todos aqueles nomes desaparecerem. Thor é submetido a uma lição, sua privação lhe garante a sabedoria anteriormente ignorada com sua arrogância posta em cena cegando a honra de um Deus esclarecido e sensato, seu pai, Odin.

Desvencilhar dessa mania de ser apenas mais um filme de herói e agradar todo mundo é uma tarefa que poucos se arriscam, mas quando fazem, torna seus filmes imortais pela ousadia em explorar narrações sem limitações. Não é o caso de “Thor”, infelizmente. Ainda assim é divertido e por vezes empolgante o bastante para estar acima da média de seu gênero.

PS. E Jeremy Renner em? Com seu arco apontando para Thor, faz uma ponta de luxo adiantando a história de um outro herói. O Gavião Arqueiro.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Proseando sobre... The Spirit - O Filme


Frank Miller trouxe mais uma adaptação de HQ semelhante ao seu “Sin City”. Esse é “The Spirit”, obra inferior ao outro mencionado trabalho do diretor devido sua privação narrativa ao apresentar seu personagem Denny Colt (Gabriel Macht), um policial assassinado que retornou a vida assumindo a identidade de um herói mascarado, e também pela superficialidade intransigente dos finalmentes que a história conclui – ou pelo menos tenta concluir. Há ainda o risco do herói acabar ficando de lado graças ao apelo feminino que garante um rebuscado aparato sensual e sexual. As mulheres causam desorientação e influenciam a vida de Spirit que, nas mãos destas, passa por verdadeiras tentações.

O filme é enriquecido tecnicamente com a fotografia P&B e design de produção se apropriando do green screen em sua composição. A impressão final é de que tudo aquilo é mesmo uma história em quadrinhos. A narrativa repete fórmulas sendo maniqueísta e esquemática ao colocar frente a frente Gabriel Macht e Samuel L. Jackson como o herói e vilão respectivamente. Diante o charme visual, as lutas promovidas entre os dois não atrai muito por sua ação, mas ganha alguns pontos graças a sua estética. Em meio ao charme em cena, ainda compreende-se a existência de gatos caminhando na história como alusões as atitudes, trejeitos e várias vidas do personagem Spirit que fere-se gravemente em vários momentos. Eis um caçador noturno. Um símbolo perdido nessa simbiótica narrativa.

A utilização da narração em off de Miller é sinuosa ao apuro artístico da obra resgatando de certa maneira o bom e velho noir – aqui, um salto ao cinema nos anos 50. É em Central City que tudo ocorre, a cidade é a paixão de Denny Colt que a defende disposto a eliminar todos os crimes que a assombram. Um justiceiro a parte num cinismo urbano. Fortalecendo a ambientação noir, em dado momento no longa,  o ponto de vista da personagem Sand Saref (Eva Mendes) é realçado quando essa demonstra sua aversão aos policiais que seriam injustos ou corruptos.

“The Spirit” é um universo idealizado com caprichos do diretor que exalta traços puramente surreais imperados pelo P&B, esses interrompidos em alguns momentos pelo tom vermelho. É para se lamentar que a obra esteja presa unicamente a detalhes artísticos. E para alegrar os descontentes, ao menos o público masculino, as mulheres estão presentes em evidencia irradiando luz como se saíssem de um plano metafísico com sedução. O olhar do protagonista sobre elas coordena a câmera focando seus principais atributos. E o time é forte contando com presenças de Paz Veja, Scarlett Johansson, – que quase não coube nas pequenas roupas que o figurinista lhe arranjou – Jaime King, Stana Katic, Sarah Paulson e Eva Mendes. Com elas estão os melhores momentos da narrativa. Alguns diálogos com frases de efeito se sobressaem encontrando espaços para bom humor. Risível, mas tecnicamente competente, encontra seu público e consegue angariar outros. 


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Proseando sobre... Hop – Rebeldes Sem Páscoa


A Páscoa chegou e com ela um filme. Vamos lá, alguém se lembra de um filme cuja temática seja a Páscoa? Difícil né? Então, esse “Hop – Rebeldes Sem Páscoa” vem fazer parte da história e se tornar um longa de referência desta data e proporcionar diversão para toda família. Consegue. Tim Hill é o diretor, o mesmo cara que trouxe às telonas “Alvin e os Esquilos” e o pavoroso “Garfield 2”. Habituado em comédias desse gênero, o cineasta abandonou o gato e os esquilos e explorou tudo sobre o coelho e sua imensa e saborosa fábrica de chocolate. 

Júnior é filho do coelho da Páscoa e precisa assumir o cargo do pai mesmo contra a vontade. Seu verdadeiro sonho é se tornar um famoso baterista. Esse é o entrave que tem acontecido na ilha de páscoa. Já nos Estados Unidos, outro pai e filho duelam. O jovem Fred O'Hare (James Marsden, cara que viveu o Ciclope de “X-Men”) não quer saber de trabalho e vê deboches diários sobre sua condição. Os dois em uma noite após um acidente se cruzam. Júnior foi até Hollywood em busca de um sonho e nesse lugar encontrará um saudoso aprendizado.

É essa a história que o roteiro da dupla Ken Daurio e Cinco Paul (ambos escreveram “Um jantar para Idiotas”) dedicou a Páscoa. Frágil e batida, é verdade, mas que possui a leveza e a graça necessária para dar certo com um público bem específico, o infantil. A lição proposta é propagada e busca na sua simplicidade explorar algumas angústias de seus personagens como a questão de um dia crescer e lidar com novas responsabilidades. A discussão jamais se acentua perdendo espaço para as várias cenas de humor envolvendo o jovem coelho – a cena a qual imita um brinquedo para enganar Sam O'Hare (Kaley Cuoco) é impagável. Há ainda um trio de coelhas ninjas inspiradas nos boinas verdes, as boinas rosas, elas são três e surgem como referência a vários outros filmes, para exemplificar: “Alvin e os Esquilos” e “As Panteras”.

Divertido como objetivado, “Hop – Rebeldes Sem Páscoa”, apesar de possuir um roteiro completamente perdido, consegue transmitir a magia da Páscoa com certa elegância e despertar nosso desejo pelos vários doces, principalmente quando concentrado na fábrica de ovos, e denota com destreza o quanto coelhos e pintinhos trabalham para levar a todos cestas de páscoa recheadas com chocolates. Tim Hill dá o tom humorado necessário a narrativa através da concepção de seus personagens fantásticos – estes estão aqui em primeiro plano – e dá carisma e beleza suficientes para alguns rapidamente se identificarem com os pequenos e desejar aperta-los e sentirem sua fofura. Nesse quesito, “Hop” se sai impressionantemente bem. 


terça-feira, 19 de abril de 2011

Proseando sobre... Eu Sou o Número Quatro


Parece aqueles típicos filmes colegiais numa versão sobrenatural. Os ingredientes são conhecidos e fazem parte das tradicionais receitas hollywoodianas. O mocinho diferente chega e causa um fervor na escola. Conhece uma garota, a ex de um dos principais atletas do colégio, esse que adora perseguir nerds praticando o bullyng. A diferença neste filme se dá na concepção de seu protagonista, um cara que veio do planeta Lorien e possui habilidades especiais. Ele e mais alguns jovens na terra foram presenteados com dons, mas atualmente estão sendo caçados e mortos pelos mogadorianos. Um verdadeiro terror. Esses jovens são obrigados a se esconder. “Eu Sou o Número Quatro” vem se tornar uma nova franquia falando de pessoas diferentes, ou, a partir da metáfora posta no longa, dos estranhos no paraíso.

O número quatro (Alex Pettyfer), um cara que atenderá por John Smith, migra de uma cidade a outra protegido por Henri (Timothy Olyphant), e nunca consegue manter qualquer vínculo. Chega uma hora que basta e se rebela impondo autoridade quando se percebe sozinho. Naturalmente, sua nova conduta, só acontece graças a uma paixão, a jovem fotógrafa, Sarah (Dianna Agron da série “Glee”). O romance, com cara de “Crepúsculo”, que se aproxima também do fraco “Jumper”, só não ganha exaltação por falta de tempo as fugas são constantes e o jovem se vê obrigado a se distanciar da garota. A história centra definitivamente na luta por sobrevivência desse jovem temente em abandonar a amada. Para ele, a falta desse amor dói mais, uma vez que sua espécie apaixona-se apenas uma vez e carrega esse sentimento para sempre.

Dirigido por D.J. Caruso (“Paranóia”, “A Sombra de um Homem”), “Eu Sou o Número Quatro” é o mais do mesmo que agrada pela sutileza. O diretor não se entrega a vícios e abandona o clichê do romance como cerne – apesar dos outros vários mencionados clichês – e dá certa dignidade a história. O filme, que anteriormente seria de inteira responsabilidade de Michael Bay, acabou sendo apenas produzido por ele, o que diminuiu categoricamente a quantidade de explosivos no decorrer do longa. Esses se concentram num ato final que é, sem dúvidas, poderosíssimo tecnicamente.

Simples de tudo, mas honesto, este é um trabalho que não figurará entre os grandes lançamentos de 2011. É um filme comercial cujo apelo marketeiro é falho e ganhará pontos apenas com os fãs do gênero que simplesmente o encontrarem. Deverá ganhar continuações. O filme também deve revelar um novo tipo de herói, embora este perca importância – e a moral quando aparece a loura Teresa Palmer, a número seis, montada numa moto e causando destruição – tem dedo do Michael Bay aí revitalizando o que fez com Megan Fox em seu “Transformers”. A líbido aqui é contida. “Eu Sou o Número Quatro” é um trabalho frágil, mas perfeitamente assistível, e só não é pior porque não teve a pretensão da inventividade abusiva e por ter escorregado das mãos de Bay.  Usa muito estereótipo evocando diferenças entre os seres humanos e  com isso mostra que não há nada errado em ser estranho de um ponto de vista social.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Proseando sobre... Alexandria



A busca pelo conhecimento motivou atrocidades quando questionamentos iam contra dogmas religiosos. Duvidar da fé era considerado um crime. Soava estranho acreditar sem questionar, uma vez que a dúvida compreende a crença e somente fazendo-a podia-se (pode-se) escolher no que crer. Foi-se um tempo em que a fé religiosa era obrigação e relutâncias era heresia. “Alexandria” é o mais novo trabalho do ótimo cineasta Alejandro Amenábar que trata um passado violento e intolerante sobre conflitos religiosos enquanto fala também sobre o fim da considerada maior biblioteca da antiguidade em Alexandria. Nessa narrativa, destaca-se a história de Hypatia e suas contribuições para a filosofia e astronomia. Uma professora cuja fé residia nas pesquisas e na paz entre os homens, mas pagou por não se converter a obrigatoriedade da crença cristã.

Não considere o filme “Alexandria” unicamente como uma crítica religiosa. É um relato histórico de como várias obras se perderam em nome de um ídolo e de vidas condenadas graças ao fanatismo. Passado no Egito no séc. II d.C., iremos acompanhar a queda da biblioteca de Alexandria, obras pagãs queimadas publicamente, conflitos entre culturas judaicas e greco-romanas e o crescimento do cristianismo devastando e convertendo os homens e rejeitando as mulheres. O avanço da religião em cena é muito bem coordenado por Amenábar que se vale de um roteiro coeso. As cenas de violência nas praças são trunfos do diretor que filma normalmente numa tomada parecida com a plongée, revelando um vislumbre hierárquico do que se tornou aquela desordem. Numa suposição: Deus está olhando e não compreende o que fez.

Interessada quase que exclusivamente em astrologia, – o ímpeto em compreender as posições do sol em relação a terra é inspirador – Hypatia é uma personagem grandiosa. Ela é a única mulher no filme, uma professora dedicada, astróloga viril e filosofa influente. Diante essa imponência intelectual e doçura nas palavras, vê um de seus alunos, Orestes, – este mais tarde virá a ser prefeito – se apaixonar por ela. Davus, seu escravo pessoal, é outro que a ama, mas nunca se declara. Seu olhar contemplador por Hypatia e a necessidade do toque consolador quando esta está dormindo é sensorialmente arrebatadora, mas o conflito interno que o obriga a se afastar quando se percebe dividido entre sua crença e sua paixão predomina. Hypatia irradia luz e talvez seja a única personagem ilustre em todo o longa, entregando sua vida profundamente a busca pelo conhecimento. Rachel Weisz está deslumbrante enquanto protagonista.

“Alexandria” é um belíssimo projeto que não teve a atenção que merecia no Brasil. Encontrado em locadoras, é mais um grande trabalho na carreira de Alejandro Amenábar, diretor que já havia filmado maravilhas como “Mar Adentro” e “Os Outros”. Este, ao sutilmente discutir o politeísmo, fala de intolerância e embrulha o estômago quando em cena observamos covardias, apedrejamentos, violência e destruições de alguns patrimônios da humanidade. Fala também de amor, amor a fé e aos outros, e principalmente, amor pela sabedoria. Discute injustiças sociais, de acusações a condenações. Qual a moral das doutrinas que se enfrentam em Alexandria? A visão de mundo foi fragmentada a ideais impostos. Já a filosofia, no longa, abrange, acolhe e incendeia. Já Hypatia, esta teve seu trabalho impedido quando a religião se uniu a outra força, a política, e arruinou idéias, histórias, pessoas e a liberdade.  


sábado, 16 de abril de 2011

Proseando sobre... Pânico 4


Feito para quem gosta de terror e humor negro. Feito para trazer de volta a lembrança de uma importante franquia de sucesso e causar nostalgia naqueles que tanto a apreciaram. “Pânico 4” estreou sob olhares duvidosos. Será que, em dias como hoje, um filme assim pode dar certo? São tantos os filmes de horror que a criatividade precária vem enfileirando decepções ano após ano. E o que era para horrorizar, faz rir. Este gênero parece fadado ao fracasso. Felizmente ainda há mentes criativas. Wes Craven de “A Hora do Pesadelo” e da trilogia “Pânico” retorna com uma quarta parte que sustenta terror, humor, expectativa e brincadeiras com clichês usuais próprios do gênero. “Pânico 4” não perdeu a essência dos primeiros filmes e ainda conseguiu, em alguns pontos, ser ainda mais imaginativo.

Com uma introdução indicativa do que será o filme através de diálogos entre personagens utilizando o recurso da metalinguagem, uma desconstrução de narrativas sobre longas de horror acontece especulando novos caminhos que esses, acompanhando a tecnologia, deveriam seguir. O feito é um tiro certeiro e o diretor Wes Craven mostra a que veio com seu tradicional bom humor e revisitando o primeiro filme da série – esse poderá ser reconhecido em várias cenas. A franquia “Pânico” ressuscita com outras idéias e com novas regras.

Sidney Prescott (Neve Campbell) é mais uma vez o alvo dos ataques. Ela se destaca nas cenas de luta contra seus perseguidores – a garota aprendeu bastante com os outros 3 filmes. Após 10 anos, um livro de sua autoria está sendo lançado contando os apuros que passou com o mascarado. A cidade de Woodsboro ficou famosa com os trágicos acontecimentos e, anualmente, jovens comemoram a semana de ataques uma espécie de halloween local espalhando imagens do Ghostface e fazendo sessões com a série “Stab”, 7 filmes baseados nos assassinatos. Esses são fantasiosamente dirigidos por Robert Rodriguez condecorando essa como uma das melhores sacadas de todo o longa. Ghostface segue atrapalhado – ele nunca foi um assassino profissional e em vários momentos falha. Outro que também continua sem lá muito jeito em combates é o agora Xerife Riley (David Arquette), este que tem o papel mais infeliz nessa empreitada.

Já Courteney Cox retorna na pele de Gale Weathers Riley, vários anos após ter abandonado as reportagens. Ela é outra que pretende lançar um livro, mas sofre com a falta de idéias. Vive como uma mera coadjuvante de todos os acontecimentos na cidade. Sua personagem ganha destaque na trama ao buscar retomar sua profissão. Mais tarde se percebe ultrapassada com os avanços tecnológicos – eis um contraste com o ideal proposto no filme que traz adolescentes com celulares de última geração e filmadoras. É um novo ciclo do horror que flerta com comédias. As sátiras continuam indispensáveis.

Seguem várias tomadas que acessam outros filmes de sucesso. Os típicos “Halloween” e “Sexta Feira 13” ficam para trás e abrem espaço para outras brincadeiras. A pergunta “qual seu filme de terror favorito?” permanece viva e outras opções entram em cena. Até Alfred Hitchcock entra na roda. Um assassinato acontece num quarto vizinho e é possível observa-lo por uma janela. Em um dos quartos, o cartaz de “Janela Indiscreta” enfeita a parede. Personagens secundários com nomes como Marnie e Rebecca não parecem ser escolhas aleatórias (“Marnie, Confissões de uma Ladra” e “Rebecca – A Mulher Inesquecível” são dois clássicos hitchcockianos).

Se sucederá em “Pânico 4” um verdadeiro banho de sangue. Muitas mortes e também muitas piadas. O terceiro ato é promissor e tão discutível como fora o primeiro longa. O roteiro de Kevin Williamson encerra com saldo positivo, apesar de certas incongruências e comicidade por vezes excessiva. Em tempos em que a fama é um desejo e a forma de conquistá-la está cada vez mais hostil e humilhante, o longa triunfa com seu exagero sobre uma ode a reputação e a glória. Isso garante, não somente o sucesso que o longa terá com seu público fiel, mas uma inovação anteriormente recalcada em longas que, sem sucesso, abusam da carnificina e o vazio se consagra. Aqui, ao menos, diverte e insinua com vários elementos. 

Nessa brincadeira, entram em cena jovens atrizes de relativo sucesso, mas que são figuras comerciais carimbadas do público teen: casos de Anna Paquin, Hayden Panettiere e Emma Roberts. Essa última é prima de Sidney na história. O desregramento toma conta, e em alguns momentos acaba demasiada, transtornando a pretensão e expulsando definitivamente quem não está familiarizado – ou quem não gosta – com esta combinações de gênero. Eis um trabalho que funciona dentro de uma ótica sem limitações onde o exagero é objetivado e fruto de um estilo banalizado. Usar isso a seu favor é um trabalho para poucos. Entre esses poucos, está Wes Craven.

PS. Bom também é conferir a ponta de Heather Graham revivendo a personagem de Drew Barrymore em “Pânico” de 1996 na tal paródia “Stab”.

PS 2. Kristen Bell é outra que marca presença no ato inicial discutindo possíveis novidades não só no filme, mas nessa nova provável trilogia.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Proseando sobre... Um Crime Americano



Baseado em um dos casos mais chocantes da história norte americana, o filme trata da vida de Sylvia Likens que foi humilhada e torturada por Gertrude Baniszewski e por outras crianças. O crime impressionou a nação na década de 60 devido a sua ferocidade que, dispensando aqueles que possuem nervos de aço, fica impossível não se sensibilizar com o ocorrido e não se revoltar com os responsáveis. A amargura ganha vigor por tudo não ser apenas ficção. Assim, é importante ressaltar que nada escrito aqui refere-se ao contexto original por simplesmente desconhecer os fatos verídicos desse “Um Crime Americano”.

Dirigido e roteirizado por Tommy O'Haver, um cara cuja carreira está mais ligada a comédias, o filme parece disperso quanto sua finalidade ao não oferecer credibilidade à história. Mais parece um entretenimento sádico o qual mantém longos momentos de tensão. Uma pena para quem esperava uma complexidade do caso expressivo nas telonas que mesmo tendo cenas angustiantes limitadas pelos cortes secos das filmagens, parece ter sido feito pra funcionar como um atrativo gratuito e passivo para apreciadores a um estudo de personagem, ou, de caso. Com o longa, O'Haver praticamente diz: “olhem, isso aconteceu e foi desse jeito. O porque não importa”.

O filme conta a história de duas irmãs que foram morar por um tempo na casa de uma mulher que hospedava meninas enquanto os pais viajavam. No início da narrativa, vários indícios como dicas do que virá a seguir são apresentados nos levando a conhecer Gertrude Baniszewski com atitudes omissas, passando de uma mulher bondosa e voluntariosa para uma criatura áspera e arduamente severa. Nem seu próprio filho escapa de sua ira. O que virá a seguir é um verdadeiro show de horrores. Queimaduras de cigarros, violência física e rebaixamentos morais. Vítima nesse caso, Sylvia Likens, sobreviverá a horas de torturas. A jovem é vivida pela canadense indicada ao Oscar Ellen Page. Com expressões aterrorizadas angustiantes, sua comoção parte de um princípio aterrador, a inocência.

Filmado de modo cronológico, o longa mescla cenas dos tribunais com o caso enfatizado. Tal função é aceitável por procurar fugir de modismos, mas não surpreende enquanto condizente a proposta. Não que o longa precisasse ser uma obra inquestionavelmente fiel a história, no entanto, assumir responsabilidades cinematográficas com grandes potencias como esse requer no mínimo algum esforço em fazer dela considerável. Nesse sentido, o trabalho de O'Haver e da co-roteirista Irene Turner é falho.

Catherine Keener vive Gertrude, uma vilã de peso. Rouba praticamente todas as cenas em que aparece. A evolução de sua personagem é o grande atrativo de toda a narração. Sem perder o controle, a atriz se mostra capaz de segurar o filme com suas expressões retesadas sustentando os vícios da personagem e impondo um modelo déspota justificando dessa forma uma relação de poder em seu contexto sem permitir qualquer violação. Psicologicamente impulsiva e autoritária, transfere sua infelicidade a uma vítima como se necessitasse de alguém para punir. Infelizmente a personagem não teve tanta atenção como merecia.

Diante tudo isso, fica a sensação de que algo realmente bom foi jogado fora. A vida de Sylvia Likens, aqui, representada apenas como uma versão light de “Jogos Mortais”, parece filmada com um único propósito, impressionar. Me parece amargo o sabor de presenciar tanta crueldade na tela com tão poucas tentativas de especular seus propósitos e, por mais ocultos que estes fossem, fariam, pelo menos, de Gertrude Baniszewski, um ícone do horror no cinema recente.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Proseando sobre... Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles


Uma exaltação aos que se consideram superiores. É mais ou menos isso. Bem, melhor dizendo, é uma afirmação de caras que se garantem em combate carregando insígnias e a bandeira dos Estados Unidos. É por aí. Tantos filmes trataram disso não é? Dá pra lembrar de vários. Mas ainda há um público comprando essa idéia e delirando com os feitos desses considerados heróis norte-americanos. Aqui não se trata de uma história real, é uma ficção. O oponente não são homens, são alienígenas – e dos bons. O tiroteio vai rolar incansavelmente em cena com o diretor empunhando a câmera – essa em altíssima definição – e correndo atrás dos soldados que irão enfrentar uma invasão. Esse é “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles”.

A direção é do desconhecido Jonathan Liebesman, um cara que concebeu o horroroso “No cair da Noite” e que anos depois propôs “O Massacre da Serra Elétrica: O Início”. O cineasta fez um percurso já percorrido por outros realizadores, e só ganhou pontos aqui pelo uso dos recursos tecnológicos de primeira linha. A história quase fica de lado. Na boa? Ela fica de lado. Penso na hipótese do diretor ter o propósito de nos colocar bem perto daquela guerra com a característica, por vezes, documental de sua câmera. Soldados e civis são expostos perdidos numa Los Angeles destruída tomada por ruínas e chamas. Liebesman não inova, reiventa. Ninguém vai lembrar do filme dele, ao menos não enquanto o filme da vida.

Há espaço também nessa guerra para os mais emotivos se emocionarem com apelos dramáticos e lições de honra e coragem. Uma apresentação inicial dos personagens visa provocar uma identificação entre eles e os espectadores. Alguém aí decorou o nome de todo mundo? A tropa do Ten. William Martinez (Ramon Rodriguez) jamais recua – o que significa que... vocês sabem. Também há o pesar do Sgt. Michael Nantz (Aaron Eckhart) que sobreviveu a uma antiga missão, mas passa os dias obrigado a carregar um fardo quase insuportável. As aparições de Michael Peña e Michelle Rodriguez pouco acrescentam à narrativa. O primeiro, suspeito, em sua curta aparição, funciona como metáfora do elo pai e filho e a separação que a guerra ocasionam; a segunda, dispensa a sensualidade e novamente se envolve com armas – e ela toca o terror numa postura masculinizada.

E a história? Meteoros são identificados vindo a caminho da terra. Esses cairão no mar. O impacto é inevitável, mas, parece não assustar tanto. Engano. Não são meteoros, são alienígenas e esses querem colonizar a terra, sobretudo tomar posse de um bem natural terrestre. Daí em diante, explosões e longos tiroteios dominarão o filme. Para quem gosta, será um deleite. Para quem não curte, será um sofrimento, e dos longos. Tenso em sua medida, ele apresenta uma versão diferente de aliens, mas uma idéia completamente batida de invasão sendo, nós, novamente as vítimas. E sendo os Estados Unidos novamente o alvo principal. Vai ser sempre assim? Os cinéfilos clamam por originalidade. Se lança uns 7 desses para cada “Distrito 9”. Assim fica difícil.  

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Proseando sobre... Marley & Eu



Uma falsa imagem nos é vendida. Não se trata de mais um filme de cachorros que aprontam durante toda a história para divertir o público, especialmente o mais jovem. Não deixa de ser também, porém, deve-se esquecer filmes como “Beethoven”, “Lassie”, “Napoleon”, entre outros. O que há em cena em “Marley & Eu” é mais do que uma diversão, é a retratação de uma família, é uma relação fiel entre homens e um cão com os erros e acertos, com os problemas e conquistas, estando a vida exposta de maneira que foge o artificial configurando o longa como um atrativo especial e acima de tudo humano em sua tênue simplicidade. É um dos filmes mais belos, sinceros e emocionantes dos últimos tempos. Sem exageros, é uma obra para ser eternizada pelo que conseguiu ser.

De longe foi uma das sessões de cinema mais emocionantes que assisti.  Ei, o filme fala de um cão, mas esse é coadjuvante. Fala, entre muitas outras coisas, de questões reais da vida, como a constituição de uma família, o cruel passar dos anos, as dificuldades do dia a dia, centrando casal muito bem estruturado financeiramente. Baseado na vida de John Grogan, esse que escreveu o livro homônimo o qual o filme foi adaptado, a história de aparência simples reserva momentos estonteantes para o público que deveria ser principalmente adulto para uma melhor compreensão do que a obra sugere.

John e sua esposa Jennifer adotam um filhote de Labrador com o intuito de testar suas habilidades no cuidado com um ser, pois, avistavam filhos num futuro próximo. Nesse ensaio descobrem que aquele simpático cachorrinho é um verdadeiro destruidor que não perdoa nada que sua boca possa alcançar. Anos mais tarde, após enfrentarem algumas barreiras o casal tem filhos. A mulher é obrigada a abandonar o serviço para cuidar da casa e John começa a escrever colunas num jornal (algo que não era de seu interesse) sobre o dia a dia com seu cão. Logo esse trabalho vira um sucesso.

O roteiro escrito pela dupla Scott Frank e Don Roos têm problemas comuns no desenrolar de sua história sem nunca comprometer, felizmente. O clima leve percorre toda a narração sem se aprofundar no tema. Um subgênero acaba sendo empregado revirando toda aquela comédia admissível, o ar dramático cai como uma avalanche quando a família Grogan passa por algumas dificuldades. Destaca-se a primeira gravidez de Jennifer. O diretor David Frankel, elogiado pelo trabalho em “O Diabo Veste Prada”, acerta a mão mais uma vez ao assumir uma direção precavida evidenciada pela sua preferência em retardar o drama e utilizá-lo em momentos oportunos retirando o melhor de seus atores, sobretudo de Jennifer Aniston no drama, e aproveitando-se do que Owen Wilson sabe fazer melhor, humor.

Com dois fortes personagens, o terceiro rouba a cena pelo seu carisma sem nunca exagerar. Marley é um sucesso, um cachorro que funciona ainda como um alicerce do casal, e mesmo que apronte e infernize, é importante e absolutamente necessário. No filme, Marley é constituído como um cão comum, – não fala nem faz graça – mas ama os donos enquanto cães. Só. É o bastante. Está longe de ser água com açúcar e tampouco piegas, trata-se de um filme terno que não comete exageros, mas acomete emoções. Explora com delicadeza pequenas coisas que precisam ser valorizadas e o tempo que passa sem notarmos. “Marley & Eu” nos faz sorrir, refletir e profundamente se emocionar. 


domingo, 10 de abril de 2011

Proseando sobre... Rio


“Rio” finalmente estreou e veio com todos os elementos básicos que poderiam garantir uma animação dar certo. Os personagens são cativantes, já conquistaram a nossa atenção no trailer empolgante. O cenário é deslumbrante, o Rio de Janeiro representado com empenho turístico. E o argumento é originalíssimo. No entanto, toda essa beleza é sabotada por sua narrativa e estrutura frágil onde os acontecimentos nunca parecem naturais. Porém, “Rio” é suficientemente divertido, faz bom uso do carisma de seus tão bem desenhados personagens e tira proveito ainda de uma trilha realçando o samba e utilizando dos vários pássaros cantando e dançando – e se canções, hoje em dia, costumam irritar quando inseridas em longas de animação em excesso (como as animações da Disney costumam fazer), essas podem, ao menos, se justificarem aqui por tratar de um filme com aves, e essas, constantemente, cantarolam.

Um plano inicial bem realizado evidencia os acontecimentos do que virá a ser a história imediatamente após uma festa na floresta com os coloridos pássaros dando ainda mais beleza para aquele bucólico lugar. De repente, vários desses pássaros são presos, inclusive o protagonista, o filhote de arara azul Blu (Jesse Eisenberg), e se tornam vítimas do tráfico de animais silvestres. Eis a temática de “Rio”. Blu irá crescer nas mãos de uma dedicada cuidadora, Linda (Leslie Mann), e desenvolver hábitos nada naturais. Ele está distante de casa, em Minnesota, num clima frio, contraposição ao seu habitat natural. A apresentação dessa relação faz recordar outros filmes como o recente extraordinário “Toy Story 3”. Acompanhamos nesses planos iniciais uma ave sendo humanizada.

É quando um ativista surge em Minnesota que as aventuras começam. É preciso levar Blu até o Brasil para procriação evitando a extinção de sua espécie. É também a hora que a arara, pela primeira vez, encontra um semelhante, a bela arara azul Jade (Anne Hathaway), essa que nunca teve a liberdade privada. O longa metragem sugere uma Rio de Janeiro límpida, em plena festa. É carnaval. A folia está tomando conta das ruas, impressionando os turistas com as fantasias. Nesse território, há, infelizmente, uma imersão em conceitos e estereótipos. Uma cidade inteira se dedica a festa, uma dentista e um vigia (responsabilizado por um grave erro em um ato) são vistos como se todos – todos mesmo – se entregassem de corpo e alma ao carnaval. O que não soa bem também é a aparição de micos assaltando turistas.  

A viagem até o Rio de Janeiro não é restrita apenas aos cartões postais da cidade. As favelas não são esquecidas e surgem em contraste a beleza dos pontos turísticos. Nesse exuberante cenário, Blu vive uma incrível jornada redescobrindo sua animalidade e encontrando a liberdade. Com amigos e um par romântico, a arara irá em busca de um aprendizado, o vôo, – só faltou tocar “I believe i can fly” – ao mesmo tempo em que irá procurar por sua dona. Situações afunilam destinos e colocam todos esses personagens num lugar em comum.

O diretor carioca Carlos Saldanha, responsável por animações como “Robôs” e a trilogia “A era do gelo”, faz uma viagem em sua terra explorando a cultura, a etnia e a fauna, concebendo um projeto primoroso tecnicamente. Sua arte requintada atravessa o gênero da animação e da diversão procurando emocionar. Ora investe numa melancólica solidão, ora inspira um discurso de redenção centrando num garoto órfão morador das ruas, ora aquece o longa com a conquista de um sonho, esse correspondente a Blu, tanto na sua redescoberta quanto em seu alcance. O Brasil como contexto para uma grande animação e dirigido por um brasileiro em franca expansão. Nós temos grandes mentes criativas envolvidas com o cinema... e estes fazem cinema da melhor qualidade.