quarta-feira, 6 de abril de 2011

Proseando sobre... Amantes


“Amantes”, de James Gray, olha só, é um dos melhores romances já realizados pelo cinema. É também o filme cuja atuação de Joaquin Phoenix é, em absoluto, emblemática. Não se trata de um romance excitante, caloroso, romântico em si, mas de uma concepção cinematográfica detentora de um realismo melancólico impressionante, amargo, penoso e demasiado humano. Sem exageros, é importante mencionar que este não é o melhor filme dos últimos anos, no entanto, é bom o bastante para figurar-se entre as inspirações amorosas mais bem sucedidas do cinema, abrindo mão de vender fantasia para vender verdades.

Leonard Kraditor (Phoenix) surge em cena numa suposta tentativa de suicídio ao mergulhar no mar para logo ser resgatado. Um símbolo de um novo início para sua vida, não desejável diante todas suas frustrações. Bipolar, dependente de remédios, foi abandonado pela noiva. Vive uma existência comum e leviana comparada aos seus sonhos, numa inquietude transitória, constantemente cabisbaixo e amparado pelos pais. Leonard estará o tempo todo em cena dividindo a tela com seus desejos. Para isso, o filme se concentra em nunca perder o personagem do foco, com a intenção de Gray incorporar em seus espectadores a essência de seu protagonista, fazendo-nos enxergarmos o mundo pelo viés do fascinante personagem de Phoenix.

Dois serão os pontos de colisão de Leonard, o primeiro é o amor idealizado, Michelle Rausch, uma loura que mora no mesmo prédio, com caráter discutível, levando uma vida desregrada, excedendo-se nas noites com drogas e se iludindo com um amante; a segunda é Sandra Cohen, filha de amigos de seus pais, apresentada pelos próprios, soa um belo partido, está apaixonada por Leonard e está disposta a ficar ao lado do rapaz a qualquer custo. É aí que surge uma encruzilhada, com duas possibilidades, duas belas garotas (Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw, respectivamente). A primeira funciona como um atrativo expositivo, um troféu que Leonard jamais imaginara poder conquistar – é também a projeção de uma liberdade que ele é impedido de ter. A outra é uma relação garantida, correspondida, mas sem cara de uma conquista, compreendida como um remédio semelhante às medicações às quais depende. Ainda estão no elenco Isabella Rossellini, filha de Ingrid Bergman e do diretor Roberto Rossellini, e o canadense Elias Koteas.

Os diálogos propostos pelo roteiro do próprio diretor juntamente a Ric Menello dignificam a narrativa dando a ela impressão de realidade – atributo indispensável para dramas desse porte. Fala com cuidado de seres humanos e de um mar de sentimentos que os acomete. A ótima fotografia de Joaquín Baca-Asay é outro trunfo do longa. Cheio de símbolos, esse novo trabalho de James Gray é um convite a estudar um personagem que se humilha e se desconstrói enquanto busca algo que lhe faça alguma diferença. “Amantes” é um romance comovente que oferece uma história comum e de fácil identificação, sujeita a qualquer pessoa, se diferenciando pela originalidade e pela segurança de seus grandes personagens. Gray se consolida como um dos mais notáveis diretores dessa geração, trabalhando aqui pela terceira vez com Joaquin Phoenix. Anteriormente havia feito “Caminho sem Volta” e “Os Donos da Noite”.  “Amantes” fecha essa parceria como o melhor desses trabalhos. 


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