quinta-feira, 14 de abril de 2011

Proseando sobre... Um Crime Americano



Baseado em um dos casos mais chocantes da história norte americana, o filme trata da vida de Sylvia Likens que foi humilhada e torturada por Gertrude Baniszewski e por outras crianças. O crime impressionou a nação na década de 60 devido a sua ferocidade que, dispensando aqueles que possuem nervos de aço, fica impossível não se sensibilizar com o ocorrido e não se revoltar com os responsáveis. A amargura ganha vigor por tudo não ser apenas ficção. Assim, é importante ressaltar que nada escrito aqui refere-se ao contexto original por simplesmente desconhecer os fatos verídicos desse “Um Crime Americano”.

Dirigido e roteirizado por Tommy O'Haver, um cara cuja carreira está mais ligada a comédias, o filme parece disperso quanto sua finalidade ao não oferecer credibilidade à história. Mais parece um entretenimento sádico o qual mantém longos momentos de tensão. Uma pena para quem esperava uma complexidade do caso expressivo nas telonas que mesmo tendo cenas angustiantes limitadas pelos cortes secos das filmagens, parece ter sido feito pra funcionar como um atrativo gratuito e passivo para apreciadores a um estudo de personagem, ou, de caso. Com o longa, O'Haver praticamente diz: “olhem, isso aconteceu e foi desse jeito. O porque não importa”.

O filme conta a história de duas irmãs que foram morar por um tempo na casa de uma mulher que hospedava meninas enquanto os pais viajavam. No início da narrativa, vários indícios como dicas do que virá a seguir são apresentados nos levando a conhecer Gertrude Baniszewski com atitudes omissas, passando de uma mulher bondosa e voluntariosa para uma criatura áspera e arduamente severa. Nem seu próprio filho escapa de sua ira. O que virá a seguir é um verdadeiro show de horrores. Queimaduras de cigarros, violência física e rebaixamentos morais. Vítima nesse caso, Sylvia Likens, sobreviverá a horas de torturas. A jovem é vivida pela canadense indicada ao Oscar Ellen Page. Com expressões aterrorizadas angustiantes, sua comoção parte de um princípio aterrador, a inocência.

Filmado de modo cronológico, o longa mescla cenas dos tribunais com o caso enfatizado. Tal função é aceitável por procurar fugir de modismos, mas não surpreende enquanto condizente a proposta. Não que o longa precisasse ser uma obra inquestionavelmente fiel a história, no entanto, assumir responsabilidades cinematográficas com grandes potencias como esse requer no mínimo algum esforço em fazer dela considerável. Nesse sentido, o trabalho de O'Haver e da co-roteirista Irene Turner é falho.

Catherine Keener vive Gertrude, uma vilã de peso. Rouba praticamente todas as cenas em que aparece. A evolução de sua personagem é o grande atrativo de toda a narração. Sem perder o controle, a atriz se mostra capaz de segurar o filme com suas expressões retesadas sustentando os vícios da personagem e impondo um modelo déspota justificando dessa forma uma relação de poder em seu contexto sem permitir qualquer violação. Psicologicamente impulsiva e autoritária, transfere sua infelicidade a uma vítima como se necessitasse de alguém para punir. Infelizmente a personagem não teve tanta atenção como merecia.

Diante tudo isso, fica a sensação de que algo realmente bom foi jogado fora. A vida de Sylvia Likens, aqui, representada apenas como uma versão light de “Jogos Mortais”, parece filmada com um único propósito, impressionar. Me parece amargo o sabor de presenciar tanta crueldade na tela com tão poucas tentativas de especular seus propósitos e, por mais ocultos que estes fossem, fariam, pelo menos, de Gertrude Baniszewski, um ícone do horror no cinema recente.


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