quarta-feira, 28 de março de 2012

Proseando sobre... A Dama de Ferro



 Com um olhar romântico e apaixonado sobre os anos de Margaret Thatcher no poder, o novo filme de Phyllida Lloyd é um tipo de juras de amor a dama de ferro, trazendo suas lembranças do tempo em que dominou o Reino Unido. Não só isso, há ainda sua trajetória, seu início turbulento e difícil, tempos em que era alvo de gozação e aguentava a resistência dos homens poderosos, hostis quanto as investidas políticas de uma mulher, especialmente a filha de um quitandeiro. Para retratar um pouco da vida desse ícone inglês, o drama de Lloyd se prende a um roteiro cronológico, sem seguir uma direção única, o que rende complicações e desordens narrativas. Tudo é muito apressado. 

Somos ligeiramente apresentados as atuais condições de Thatcher, sofrendo de alucinações com o ex marido e revivendo o passado glorioso. Ela está doente e passa os dias rememorando os feitos, o que nos leva a eles. Estímulos em sua casa escurecida – o trabalho do fotógrafo é eficiente em revelar a frieza que permeia sua atual condição longe dos holofotes – traz a tona grandes momentos, sua inserção na política, os meses em que sofreu pressão para sair do poder imediatamente após o episódio da greve dos mineiros britânicos, como também seu momento de esplendor quando foi ovacionada pelo país assim que sucedeu sua vitória na Guerra das Malvinas. Tudo isso é mostrado em lapsos, sem se ater a maiores detalhes, o que faz muita falta. O que parece importar mesmo é a apresentação de sua estrela, que seria minúsculo caso a intérprete não tivesse o calibre de Meryl Streep.

Dona do filme, vencedora do Oscar por sua atuação nele, Streep faz valer cada segundo em que está em cena. A história de Tatcher quase fica de lado para apreciarmos a o talento da diva hollywoodiana, exuberante e absolutamente entregue a personagem, marcando mais uma estupenda interpretação em sua magnífica carreira. A atriz vive distintas épocas da biografada com uma maquiagem contribuindo para aproximá-la de sua homenageada. Meryl Streep demonstra uma solidez impressionante e uma transformação necessária proposta pelo roteiro: suas atitudes e seu modo de falar convertidos numa dicção fina. É interessante acompanhar de uma maneira próxima, porém econômica, a progressão do tratamento de Margaret Thatcher, semelhante a do Rei George VI em "O Discurso do Rei".

A empreitada dá certo pela empatia por Streep, não por sua personagem. Longe do que ocorrera em "A Rainha" com Helen Mirren dando vida a Rainha Elizabeth II num roteiro melhor elaborado, essa obra sente falta de coesão e ritmo. Poderia tudo ser ficcional, não faria tanta diferença, caso o espectador não conheça muito como foi o tempo em que a Dama de Ferro esteve no poder. Mas é bom percorrer seus anos a frente do país, sua luta, sua batalha diária pelo respeito e pelo bem almejado do seu povo, nem que isso rendesse sacrifícios. Rendeu. Ela lutou pelo Inglaterra, pôs seu nome na história, no entanto nunca se manteve unânime. Há quem torça o nariz por essa biografia na telona, romantizada e com faceta de heroína. Phyllida Lloyd parece não temer isso, aposta em sua protagonista e nos bons coadjuvantes em sua volta, principalmente Jim Broadbent que vive Denis Thatcher. A diretora já havia trabalhado com Streep em "Mamma Mia!", vale ressaltar. Tendencioso e pouco ousado, os defensores de Thatcher certamente ficarão insatisfeitos.


domingo, 25 de março de 2012

Proseando sobre... Jogos Vorazes



 “Jogos Vorazes” é uma ficção futurista, vista com um olhar de reprova por seu público quando este acompanha, abismado, a proposta dos jogos que unem humanos numa arena, caçando-se até restar apenas um sobrevivente. O clemente dito salvo pelos senhores. A América do Norte, agora nomeada Panem, tornou-se uma capital com 12 distritos. Um casal jovem é selecionado por cada um para se enfrentar num verdadeiro campo de batalha. Apenas um sairá vivo. O vencedor garante privilégios ao seu povo. A diversão sublinhada pelo projeto roteirizado por Suzanne Collins a partir de seu Best-Seller é uma obra pessimista com o futuro, com as pessoas, com o que poderão se tornar. Estamos nos tornando, sejamos sensatos. Vivemos num ambiente próximo, devoramos o que nos é imposto e constantemente somos manipulados por artifícios midiáticos alcançando uma lógica de consumo movimentada e devoradora. E que a sorte esteja sempre a seu favor, é o que sugere o lema dos jogos, frisando o azar fatal.

O palco está montado, a distopia inflamada é bem coordenada pelo diretor Gary Ross (“Seabiscuit”). Trata-se de uma nova adaptação literária com óbvias intenções de alcançar o público mais jovem. Isso explica a censura. Se alguns filmes direcionados a eles buscam o entretenimento sem profundidade e questionamentos, este “Jogos Vorazes” destoa do lugar comum e vai além do aparato visual, exigindo de uma compreensão crítica do que está posto em cena, discutindo liberdade, política, conceitos morais e éticos, refletindo sobre o ser humano, seu papel social e sua responsabilidade com o mundo. Tudo isso divide espaço com a criatividade de seus realizadores, que, com uma direção artística corajosa, concebe um porvir luxuoso e vazio.  

De cara, percebe-se a natureza daquele universo. As tomadas na floresta, a beleza bucólica e a sensação de liberdade – até aparecer uma primeira cerca – remetem a um ideal perdido, um retorno ao passado primitivo. A caça indicada por armadilhas e arco e flecha explana o contexto que vive Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), moradora do Distrito 12, o mais ordinário, apresentando suas habilidades para conseguir mantimentos para a família, evitando sempre partilhar de auxílios do governo, o que lhe custaria uma chance a mais de ser um dos escolhidos para participar dos Jogos Vorazes. 

A narrativa é determinada por críticas sociais, centrando, de início, num ofertório mortal. Jovens são sorteados para defender seu distrito, como se ofertassem a alma a uma entidade divina, porém longe disso, divindades não cabem nesse universo. A vida tributada é unicamente em prol da diversão dos incautos. A forma com que estes assistem passivamente esse conflito bárbaro e hostil explicita a extinção do respeito pelo próximo, exaltando a vaidade individual egoica. Este futuro trabalhado em cena é magnânimo e já fora especulado antes em obras primas da literatura, como em 1984 de “George Orweel”. Podemos ver tipos de teletelas em vários locais, observando tudo o que acontece bem de perto.

A ideação de Gary Ross é plenamente crítica do ponto de vista urbano, com a confraria burguesa, representada de um modo futurista debochado com figurinos, penteados e maquiagens extravagantes, numa ótica sobre a alienação de um povo com cultura subvertida, alimentado por uma lógica de mercado amoral. As pessoas assistem e se divertem, e o que está em cena é um retrato do apogeu da violência, a arena do coliseu encaixotada em telas, marcada pela diferença social de 12 distritos se enfrentando em nome da sobrevivência e de um glamour absurdo. Traços desse futuro proposto pelo longa já são diagnosticados em nosso presente, com a sociedade do espetáculo notada na televisão, nas revistas, na internet; é a materialização humanitária como objeto a ser consumido, extirpado e descartado, substituído. Para despertar a atenção, vale abusar da violência.

Lawrence, ótima, representa a fragilidade e introspecção de sua personagem, crente quanto sua dificuldade em se socializar. A conversão de sua Katniss é intrínseca, frágil num início – sua estremecida segundos antes de ser lançada em combate é marcante – torna-se resistente, buscando se impor frente aos riscos ao redor. O romance é outro atributo significativo, longe dos imaginários compartilhados em super produções, ficam suas intenções em aberto ao lado do jovem Peeta Mellark (Josh Hutcherson). Essa é uma subtrama engenhosa do roteiro.  

Com um figurino cafona, o que o torna interessantíssimo e engraçadíssimo, a composição dos vindouros é cômico, ficando melhor quando representado por seus envolvidos personagens. O produtor Seneca Crane (Wes Bentley de “Beleza Americana) – vale ressaltar aqui a sociedade das aparências – com sua barba desenhada, é aberto a qualquer possibilidade de tornar seu show mais atrativo, valendo-se até de exorbitâncias. Elizabeth Banks como Effie Trinket  com sua moda indiscreta é um auxílio cômico, ao passo que Stanley Tucci compõe, talvez, o personagem mais mirabolante como o apresentador Caesar Flickerman. Ainda surgem, de uma maneira mais contida, no entanto com importância inestimável atores como Woody Harrelson vivendo o tutor Haymitch, Lenny Kravitz interpretando o gentil Cinna e Donald Sutherland, com notável excelência, encarnando o Presidente Snow. Alguns nomes, notadamente, reporta a um caráter romano, como Sêneca, Caesar. Afinal, o que são os participantes senão juvenis gladiadores?

Unindo atributos de grandes blockbusters sem abrir mão de uma boa história, “Jogos Vorazes” se revela uma próspera surpresa, acarretando um mundo arquitetado sem belezas, senão a gana pela sobrevivência e por justiça. Questões vencidas pelo ser humano através da história, conquistadas com sangue em guerras, novamente almejadas numa segregação social futura, cega pelo poder. Gary Ross convence com uma narrativa sóbria, cheia de detalhes, entretanto otimamente conduzida e relativamente bem explicada durante sua longa duração. O trabalho do montador viabiliza o progresso da história sem nos cansar, abrigando valores e referências durante as duas saudosas metades: a preparação e a ação. As duas se equivalem.





sexta-feira, 23 de março de 2012

Proseando sobre... Guerra é Guerra

 
Suficientemente divertido com relação a sua proposta, dinâmico em seu desenvolvimento e bem sacado em sua maneira de levar ao público o amistoso plott, "Guerra é Guerra" é uma comédia funcional, com atores carismáticos e piadas inspiradas. Contudo não são só elogios, a fraqueza de sua história somada ao acumulo de clichês pra lá de irritantes fazem o filme carecer de originalidade e inteligência. É humor pipoca, com um roteiro precário e previsível, mas de energia contagiante. Vale a espiada.

Dirigido por McG, o cara por trás do fiasco "As Panteras", o longa estabelece prioridades: provocar ação na mesma medida de recreação. Obtém em alguns atos, inicia mal e vai melhorando, porém a qualidade narrativa, ao contrário, vai decaindo, restando apenas piadas pelas condições afetivas de seus protagonistas – o que é bem interessante na trama. Há uma perigosa missão sendo executada durante esse romance repentino. É difícil engolir a história, talvez nem devêssemos. Alguns a encara com naturalidade inquestionável. Mas a verdade é que diante tanta obra análoga torna a tarefa de simplesmente ignorar muito difícil.

Dois agentes e grandes amigos, Tuck (Tom Hardy, o Bane do próximo “Batman”) e FDR (Chris Pine) fracassam numa missão. Na geladeira, encontram tempo para conhecer uma garota, Lauren (Reese Witherspoon), o que os coloca em oposição. Um faz o tipo meigo e carinhoso, enquanto o outro se revela um galã inveterado. Já vimos isso tantas vezes. Aí entra o espectador, na expectativa e na torcida por algum deles. Todavia sabemos desde início qual será a escolha da loira. Nesse meio, entra algo mais sério na narração, pelo menos uma tentativa de sensatez: vale a pena arriscar uma amizade de anos por uma aventura amorosa? É o que McG quer questionar.

Há cenas de ação de satisfatório potencial que faria inveja em algumas produções medíocres na telona. O que não quer dizer muito, pois essas são limitadas, no mínimo o bastante para atrair a atenção do público masculino. McG consegue driblar os problemas do roteiro com bons manejos cinematográficos, conciliando o dinamismo com o bom humor e carisma de seu trio central. Há ainda uma amiga de Lauren com graça estigmatizada. São ingredientes comuns e usuais, a receita para um filme dar certo comercialmente. Reese é pura simpatia, o troféu dos galãs cheios de hematomas. Ao final, o mesmo de sempre: machucados, abraços e declarações. Pelo menos o diretor está mais contido, compenetrado ao entretenimento sadio sem azedá-lo.


quarta-feira, 21 de março de 2012

Proseando sobre... Tão Forte e Tão Perto


 Há pouco tempo a tragédia de 11 de Setembro completou 10 anos. Alguns filmes trouxeram o acontecido, mostrando que o ocorrido ainda não foi devidamente digerido pelos norte americanos. "Tão forte e Tão perto" utiliza esse fato histórico como plano de fundo para contar uma história de relações familiares, centrando a narrativa num menino, Oskar (Thomas Horn), que inicia uma verdadeira expedição por New York atrás de uma fechadura. Ele só tem uma chave e um nome, Black, este que incide numa lista de mais de 400 possibilidades de pessoas morando nos distintos cantos da cidade. Sua aventura está nessas ruas, motivado pela perda, por um enigma não resolvido e pela esperança sobre um possível contato com seu pai morto no desastre do World Trade Center.

Exageradamente sentimental, o novo projeto de Stephen Daldry (“As Horas”) não economiza em cenas comoventes. A obra, aliás, parece querer almejar lágrimas de seu público através de uma história fraternal, uma ainda em reconciliação com a morte do patriarca. Outras ao redor também estão tentando superar perdas. O país inteiro ainda está estremecido. O ano é 2002 e Oskar sai sozinho pelas ruas de New York atrás daqueles que detém o sobrenome Black e que possam ter tido algum contato com seu pai (Tom Hanks). A proposta nos parece inverossímil, constatamos uma criança solitária atravessando aquela cidade. Comprometidos com o cinema, acabamos aceitando o que rola em cena.

Baseado no best-seller de Jonathan Safran Foer, o longa de Daldry roteirizado por Eric Roth, vencedor do Oscar por "Forrest Gump", inflama emoção, demonstrando dualidades sentimentais, do ódio ao amor em instantes. Segue-se nesse ponto a construção do personagem central, o menino Oskar. Sempre envolvido com enigmas e brincadeiras investigativas, o garoto demonstra uma inteligência incomum, ao mesmo tempo que revela sua infantilidade irritante. Nos pegamos detestando-o em alguns momentos. Ele é apenas uma criança, frágil e inocente, embora às vezes não pareça. Alto destrutivo, neurótico obsessivo e com resistência a qualquer coisa que possa lhe colocar em perigo (o metrô, um balanço), Oskar vai rompendo fronteiras e se desprendendo de um luto prolongado à medida que reconhece o mundo ao seu redor e as pessoas que lhe oferecem alento.

Sua incursão pelas ruas de New York é um pretexto do roteiro para representar as pessoas naquele universo, cada qual com suas vidas, dividindo experiências. É quando entra o locatário vivido por Max von Sydow que a história ganha um fôlego a mais, sem palavras, mas com gestos e uma dinâmica eficiente, numa relação de descoberta e cumplicidade entre dois estranhos, tornando-os íntimos e iguais. Outros coadjuvantes fortalecem essa ligação com o mundo real ao contrário da idealização proeminente de Oskar, como a relação dele com o porteiro, ou até mesmo com Abby Black (Viola Davis) – essa é especialmente trabalhada, quando o jovem oferece afago ao seu pranto mais por obrigação que por desejo. 

Carismático, porém prolongado, “Tão forte e tão perto” é um turbilhão de sensações, experimentadas por quem acessa o filme e seu interesse em destacar um fato marcante da história americana sem que essa fosse o mais importante na narrativa. Resta como conseqüência as lembranças e histórias dos sobreviventes, contadas como forma de manter o passado vivo. Num ato, afinal, um personagem sugere: “histórias precisam ser compartilhadas”. Que outra frase salientaria tão bem a oferta de Daldry?


sexta-feira, 16 de março de 2012

Proseando sobre.. John Carter


 Não surpreende que muita gente saia da sessão de “John Carter” pensando que já viu isso ou aquilo antes. É natural, fica difícil não se lembrar de tantos outros projetos, como “Gladiador”, “Avatar” ou “300”. Não só pelas cenas de combate, mas pela trajetória de seus personagens centrais bem como seus costumes e passados. Porém, esse tal John Carter possui uma existência longa, ele já tem um século. O personagem foi concebido em 1912 por Edgar Rice Burroughs, o mesmo que criou Tarzan. A obra já foi alvo de adaptações cinematográficas, mas essas fracassaram. Portanto, o ar de reciclagem termina aí. “John Carter” é original, um ícone que finalmente ganhou vida nas telonas e que terá, provavelmente, militantes em sua defesa.

O título original da obra era “John Carter of Mars”, esse se despedaçou, ficando apenas com “John Carter”, ganhando ainda um subtítulo, “Entre Dois Mundos”. Terra e Marte, os dois universos em que a história se desenrola. Um homem está em busca de uma caverna com ouro, sem nada a perder e atormentado por lembranças familiares, ele se revela um fora da lei em solo western, o que de imediato nos apresenta suas habilidades acrobáticas e potencial de fuga. Num ato, ao fugir de uma tribo indígena, acaba chegando até essa caverna e se depara com um ser sobrenatural responsável por levá-lo a Marte!

A ambientação marcada por um cenário deserto, próprio para expor o planeta vermelho rochoso, é um diferencial neste trabalho de Andrew Stanton, famoso roteirista e diretor da Pixar (ele têm no currículo “WALL·E” e “Procurando Nemo”, além de ter escrito a trilogia “Toy Story”). “John Carter” é o primeiro filme de Stanton longe das animações, embora não se desprenda das técnicas dos estúdios e dos efeitos especiais magnânimos, além da direção artística marcada pela fantasia. Marcianos, ou melhor, os Tharks, são elaborações interessantíssimas da produção, constituídos como seres verdes e enormes com 4 braços. Outros monstros concebidos detalham as criaturas no planeta, sempre veiculadas a algum tipo de exagero: patas, velocidade, força.

Se a elaboração técnica do longa é um primor, o roteiro mastigado é simplista, algo que talvez não deva ser encarado como um aspecto negativo da produção. Devido à diversidade de longas que sugeriram coisas em comum, reduziu quase toda a novidade de “John Carter” a quase zerp, restando poucos e inspirados momentos. O diretor esbanja familiaridade com a técnica em CGI, compondo figuras genuínas. A execução das diferenças entre os planetas também é um ponto interessante na trama: a chegada de John Carter a Marte e sua adequação com a diferença gravitacional rende piadas entretidas, igualmente quando tenta comunicar-se com os estranhos habitantes, rendendo-lhe temporariamente um outro nome: Virgínia, nome de sua terra.

Funcional com o público jovem, “John Carter” diverte enquanto procura laborar assuntos mais sérios. Piadas não faltam, centradas justamente no herói e num monstro carismático, uma espécie de cão de guarda marciano. No percurso sugerido pelo roteiro, somam-se situações: intrigas entre tribos, um casamento favorecendo trégua entre povos e um passado amargo de seu protagonista, vivido pelo pouco conhecido Taylor Kitsch (o Gambit de “X-Men Origens: Wolverine”).  No elenco também estão Willem Dafoe como Tars Tarkas, o líder da tribo dos já mencionados Tharks; Dominic West com faceta do subordinado Sab Than; e Mark Strong, novamente encarnando um vilão. Naturalmente, Carter vive um romance, não poderia faltar: a musa da vez é a texana Lynn Collins, com uma silhueta libidinosa exibindo o corpo em forma e avermelhado.

Ansiando e prometendo ganhar a atenção de uma geração, “John Carter” se revela um projeto eficaz, porém modesto no que diz respeito a sua história e dimensão. Tem suas limitações narrativas e planos demasiadamente cadenciados, o que torna a condução por vezes vagarosa e insossa. Sua duração já denunciava isso, todavia o humor vêm balancear e aliviar esse arrasto. É diversão quase garantida, ainda mais para os fãs de universos fantásticos e conflitos épicos. É bom, também, para revitalizar uma produção perdida e trazer definitivamente um antigo herói da literatura para os cinemas e ganhar fortunas com ele. 



terça-feira, 13 de março de 2012

Proseando sobre... Os Descendentes

 
Novo filme de Alexander Payne (Sideways) trata de um drama familiar no paraíso havaiano. Espera-se ver beleza, ondas, pessoas bonitas e sorrisos satisfatórios. A beleza de tudo para aí nessa percepção de mundo, nas paisagens e nas mansões locais, pois a vida é como em qualquer outro lugar. Altos e baixos, tragédias, traições e famílias destruídas. Há a riqueza dos descendentes de realezas, aqueles que convivem com mordomias, pomposas heranças. Nesse meio está Matt King, que, ao contrário dos primos que apenas gozam da fortuna, trabalha como advogado, ficando pouquíssimo tempo em casa. A ausência deste homem é retratada em diálogos breves, coisas que ele não percebeu, momentos que ele perdeu. Sua instalação definitiva se dá após o grave acidente de sua esposa, hospitalizada em coma com poucas perspectivas de retornar a vida.

O filme exalta vários assuntos através das relações familiares estabelecidas, sobretudo com Matt e suas duas filhas, Scottie (Amara Miller) de 10 anos e a obstinada adolescente Alexandra (Shailene Woodley, indicada ao Globo de Ouro), completamente arredia aos pais, revela-se uma cópia da mãe, como sugere Matt. Payne busca dar relevo a veracidade e seriedade desse contexto através de diálogos expositivos, otimamente esboçados pelo roteiro, priorizando o encontro desta família atrás de soluções para o caso da mãe, omitindo da filha mais nova. Sem ficar preso unicamente a esse conflito, a obra busca mostrar os negócios familiares. A família está prestes a vender um enorme terreno praiano. Frente a isso, reflexões transformarão a vida de todos os membros, sobretudo do advogado, com uma retrospectiva pessoal, repercutindo merecimentos por feitos e atitudes.

A obra deixa como herança a possibilidade de identificação, algo que garante a afeição de alguns públicos. O roteiro bem elaborado trata de temas do cotidiano, encontrados em todas as culturas. O desenvolvimento disso marca no espectador uma emoção compartilhável, graças ao reconciliamento e progressão de sentidos, através de uma família estremecida por infortúnios particulares. A falta de maniqueísmos é outro trunfo do filme, que ressalta pessoas com defeitos, longe de funcionarem como modelos padronizados a serem seguidos, seja na idealização de mundo de um dos primos de Matt, ou nos interesses pelo poder, algo aprendido pelos familiares desde a infância, entre outros igualmente importantes para essa composição. E as crianças, tratadas como o futuro daquele vazio, essas contam com riqueza e carecem de carinho, cuidado e atenção, refletindo em suas personalidades marcantes, distantes e hostis.

Com um grande elenco em mãos, destaque para George Clooney em estado de graça, Payne demonstra cuidado na coordenação de seu elenco. Ele é um grande diretor de atores, como já provou em “Sideways” e “As Confissões de Schmidt”. Uma cena em especial, tão curta, mas importante, revela esse cuidado: quando Scottie resiste em sair de um quarto no hospital, uma cena particularmente primorosa no que diz respeito ao apreço pela representação do real, quase documental na ficção proposta. É um pequeno grande filme, um representante sensato do cinema indie, tragicômico, como as outras empreitadas de seu realizador, mas robusto, merecedor de todos os elogios que vem recebendo.


sábado, 10 de março de 2012

Proseando sobre... Cada um tem a Gêmea que Merece


 Algumas coisas não deveriam sair do papel, o que garantiria menos constrangimentos. Al Pacino, por exemplo, viver ele mesmo de uma forma escrachada e infeliz, era algo que nenhum fã esperava. Johnny Depp aparecer numa ponta com a camiseta do Justin Bieber funcionou apenas como uma piada imbecil e datada. E Adam Sandler fazer outro filme de humor fácil, tolo e sem graça, bom, isso já era aguardado. Mas jogar sua carreira no lixo com o, talvez, pior filme de sua filmografia, era demais até mesmo para os mais pessimistas, comparando a leva de filmes horríveis que o comediante – não ator – andou protagonizando. “Cada um tem a Gêmea que Merece” é uma atrocidade e suspeito que nem crianças se divertiriam com tamanha bobagem e ridicularidades pra lá de juvenis.

Aturar um Adam Sandler tem sido uma tarefa árdua, mas dois é algo quase impossível. Acompanharemos, assim, a crise entre dois irmãos, Jack e Jill, com o primeiro (Sandler) ignorando completamente a irmã, esquivando-se de todas suas investidas afetuosas, temendo a vergonha e os prováveis desastres freqüentes de quando ela está por perto. Já Jill (Sandler, horrendamente travestido), é de fato a irmã monstruosa que num início é pregado através de uma abertura ressaltando o crescimento da dupla. Ela causa um furor por onde passa e, por razões torpes, chama a atenção de Al Pacino durante um jogo, o que a torna importante para seu irmão, que necessita contratar o ex Michael Carleone para um comercial.
Habituado a um humor grosseiro e de sucesso comercial graças a presença de Sandler, o diretor Dennis Dugan vem de vários equívocos (“Esposa de Mentirinha”, “Zohan”), mas nenhum desses conseguiu a proesa desta nova empreitada: ser ridículo a ponto de envergonhar o espectador. As piadas não são inteligentes e tampouco inspiradas, os diálogos são reciclados e bobos e os acontecimentos tão banais que fica difícil acreditar no senso do ridículo ou na condição mental de seus realizadores. Duas piadas até instigam alguma graça, caso do momento em que a estátua do Oscar de Pacino é quebrada – ele só tem uma, embora o mundo crê que ele tenha mais – ou quando o próprio ator reproduz uma frase de “O Poderoso Chefão”. Logo um humor vil destrói essa tentativa humorada. Quando um longa passa a apelar para piadas relativas a gases e diarréia, então podemos esperar um turbilhão de outros escárnios.

O sucesso comercial é certo, dada à quantidade de fãs do ator que acredita tratar-se de uma boa comédia envolvendo seu ídolo, se bem que tal ídolo anda perdendo fãs. Assim, “Cada um tem a Gêmea que Merece” se sustenta no ridículo e faz graça com isso, objetivando trazer uma lição de moral sobre a relação entre irmãos. Mas essa moral é tão rasa, tão imposta e expositiva que quase a compreendemos como outra piada do roteiro medíocre. Tantos, também, são os estereótipos que o filme brinca, mencionando com um gosto duvidoso piadas relativas a crenças. Claro que o filme não deve ser levado a sério, em sua defesa, salientaria isso, porém, uma narrativa que ofende a inteligência do público deve ser levada a sério pelo senso, afinal, ninguém deixa o cérebro em casa para ir ao cinema.