Com um olhar romântico e
apaixonado sobre os anos de Margaret Thatcher no poder, o novo filme de
Phyllida Lloyd é um tipo de juras de amor a dama de ferro, trazendo suas
lembranças do tempo em que dominou o Reino Unido. Não só isso, há ainda sua
trajetória, seu início turbulento e difícil, tempos em que era alvo de gozação
e aguentava a resistência dos homens poderosos, hostis quanto as investidas
políticas de uma mulher, especialmente a filha de um quitandeiro. Para retratar
um pouco da vida desse ícone inglês, o drama de Lloyd se prende a um roteiro
cronológico, sem seguir uma direção única, o que rende complicações e desordens
narrativas. Tudo é muito apressado.
Somos ligeiramente apresentados
as atuais condições de Thatcher, sofrendo de alucinações com o ex marido e
revivendo o passado glorioso. Ela está doente e passa os dias rememorando os
feitos, o que nos leva a eles. Estímulos em sua casa escurecida – o trabalho do
fotógrafo é eficiente em revelar a frieza que permeia sua atual condição longe
dos holofotes – traz a tona grandes momentos, sua inserção na política, os
meses em que sofreu pressão para sair do poder imediatamente após o episódio da
greve dos mineiros britânicos, como também seu momento de esplendor quando foi
ovacionada pelo país assim que sucedeu sua vitória na Guerra das Malvinas. Tudo
isso é mostrado em lapsos, sem se ater a maiores detalhes, o que faz muita
falta. O que parece importar mesmo é a apresentação de sua estrela, que seria
minúsculo caso a intérprete não tivesse o calibre de Meryl Streep.
Dona do filme, vencedora do Oscar
por sua atuação nele, Streep faz valer cada segundo em que está em cena. A história de
Tatcher quase fica de lado para apreciarmos a o talento da diva hollywoodiana,
exuberante e absolutamente entregue a personagem, marcando mais uma estupenda interpretação
em sua magnífica carreira. A atriz vive distintas épocas da biografada com uma
maquiagem contribuindo para aproximá-la de sua homenageada. Meryl Streep
demonstra uma solidez impressionante e uma transformação necessária proposta
pelo roteiro: suas atitudes e seu modo de falar convertidos numa dicção fina. É
interessante acompanhar de uma maneira próxima, porém econômica, a progressão
do tratamento de Margaret Thatcher, semelhante a do Rei George VI em "O
Discurso do Rei".
A empreitada dá certo pela
empatia por Streep, não por sua personagem. Longe do que ocorrera em "A
Rainha" com Helen Mirren dando vida a Rainha Elizabeth II num roteiro
melhor elaborado, essa obra sente falta de coesão e ritmo. Poderia tudo ser
ficcional, não faria tanta diferença, caso o espectador não conheça muito como
foi o tempo em que a Dama de Ferro esteve no poder. Mas é bom percorrer seus
anos a frente do país, sua luta, sua batalha diária pelo respeito e pelo bem
almejado do seu povo, nem que isso rendesse sacrifícios. Rendeu. Ela lutou pelo
Inglaterra, pôs seu nome na história, no entanto nunca se manteve unânime. Há
quem torça o nariz por essa biografia na telona, romantizada e com faceta de
heroína. Phyllida Lloyd parece não temer isso, aposta em sua protagonista e nos
bons coadjuvantes em sua volta, principalmente Jim Broadbent que vive Denis
Thatcher. A diretora já havia trabalhado com Streep em "Mamma Mia!",
vale ressaltar. Tendencioso e pouco ousado, os defensores de Thatcher
certamente ficarão insatisfeitos.
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