segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Proseando sobre... Larry Crowne - O Amor Está de Volta


“Larry Crowne - O Amor Está de Volta” poderia ser resumido num trabalho o qual dois grandes nomes de Hollywood permitiram se divertir descompromissadamente, tentando ainda trazer alguma boa mensagem altruísta, prova da tamanha fé que Tom Hanks aparenta depositar na humanidade. Ao lado do astro, Julia Roberts se insere na trama em mão oposta a do personagem Larry Crowne (Hanks), vivendo uma professora azeda que leciona oratória, levando uma vida infeliz se entregando ao álcool para esquecer as frustrações cotidianas e do marido (Bryan Cranston) que passa os dias em casa vendo fotos pornôs. Nem tudo é fácil, na verdade, pouca coisa é, mas encarado de outra forma, costumam melhorar, principalmente com um sorriso no rosto e bons costumes. Isso é o que parece motivar Larry Crowne e é a lição propagada por seu longa.

Hanks não apenas protagoniza, mas também assina o roteiro e dirige – é seu segundo filme por trás das câmeras, o primeiro foi “The Wonders - O Sonho Não Acabou” em 1986. Cativando logo nas cenas iniciais, conheceremos um homem de meia idade dedicado ao trabalho num supermercado com muito humor e graça, é sempre favorito ao reconhecimento de funcionário do mês. Mas por não ter um curso universitário, a empresa entende que seu futuro ali está condenado e decide demiti-lo. Uma surpresa, um susto, uma ação que causa uma reviravolta em sua vida obrigando-o a tomar outros rumos, tentar outras opções; mal sabia ele que se tratava de um golpe de sorte do destino.

Simplista e de lógica demasiadamente otimista, este trabalho fere a dignidade de seus protagonistas ao transformarem sérios problemas em banalidades, como se tudo se resolvesse com tremenda facilidade, umas aulas e amigos com motos. Entende-se que é preciso se apegar a algo, viver da melhor maneira possível, mas tais idéias quando chocadas com a realidade frustra. Nem todos teriam a mesma sorte que Larry Crowne. As pessoas estão mais para a professora Mercedes Tainot, cheio de exigências, com problemas diários e infelicidades perturbadoras. Não se resolve apenas mudando, mas com bastante esforço, algo tirado de letra por Crowne. É um conto de fadas baseado no atual momento econômico americano? Se for, o filme é brilhante. Mas é preciso ter a alma do personagem de Hanks para crer nisso.

Vencendo pela simpatia de Tom Hanks e Julia Roberts, dois astros que figuraram nos anos 90 como os mais bem sucedidos, o longa encaminha ao público uma mensagem confortadora e esperançosa. Após trabalharem juntos em “Jogos do Poder” de 2007, a dupla volta a atuar nesta comédia romântica despretensiosa e divertida – o que garante sua validade. E este mundo de fantasia proposto por Hanks que muito embora nos pareça distante, é inspirador, servindo como meta para a humanidade. Os amigos contribuem, a educação encaminha e o amor nasce nesse percurso, ambientações diferentes complementares, esticando a trama e fazendo coisas acontecerem. Seria possível se realizar enquanto um chapeiro numa lanchonete durante toda a vida? Kevin Spacey no esplendoroso “Beleza Americana” procurou uma aspiração semelhante num Fast Food, mas lá as decisões foram provenientes de outras consequências. É bom sonhar. Ao sair desta sessão, tudo volta a normalidade, mas com um estranho sorrisinho de satisfação. 

sábado, 24 de setembro de 2011

Proseando sobre... Sem Saída



De cara, “Sem Saída” enfrenta um preconceito de alguns públicos: Taylor Lautner está no elenco e é a estrela. No entanto, Alfred Molina, Maria Bello e Sigourney Weaver também estão e compensam. A velha escola se destaca, mas trata-se de um filme que atende a demanda juvenil, portanto o investimento recai sobre a nova safra hollywoodiana, exibindo não só Lautner como também a atriz e apresentadora teen Lily Collins, filha do cantor Phil Collins. Resta ao público mais exigente aceitar. O longa é eletrizante, abarrotado de ação cujos finalmentes terminam constantemente em indagações, tanto para os personagens quanto para o espectador. Dirigido pelo indicado ao Oscar John Singleton, esta obra promete faturar nas bilheterias não pelo que propõe, mas por quem exibe... e como exibe.

Migrando por gêneros, o filme abre trazendo o dia a dia de Nathan com certo humor, adepto de aventuras radicais junto a amigos e entregue as bebedeiras em festas estudantis. Notamos sua atração por Karen e sua dificuldade em se aproximar da moça. Logo mais ele está num setting terapêutico sendo atendido pela Dra. Bennett, relatando um contínuo sonho que deixaria qualquer psicanalista aturdido, mas seu discurso logo é ignorado pela terapeuta. O drama de uma vida se acentua. Em outro instante, ele luta violentamente com o pai no que parece ser um treino bastante natural e rotineiro quando percebemos a passividade de sua mãe Mara, assistindo os socos e pontapés entre pai e filho. Algo está errado e o drama que se formava converte-se em ação eletrizante a partir de uma descoberta.  

Roteirizado pela dupla Shawn Christensen e Jeffrey Nachmanoff, o filme não se prende a um potencial dramalhão sobre indagações de identidade, numa diretriz próxima a de “Identidade Bourne”, e tampouco por perdas familiares. O importante é dar motivo para pancadarias imediatamente após recentes descobertas sobre um passado impensável quando o protagonista se descobre num site de desaparecidos. Em busca da verdade, Nathan encara missões impossíveis e torna-se um amador duríssimo de matar, alguém incapaz de perder uma gota de sangue e isso não é um elogio. Um ode ao público masculino, mas também tem algo para cativar as garotas presentes, um intrigado romance e Lautner sem camisa. Sim, de novo, isso já se tornou marca por onde ele passa.

É impossível não perceber que este novo astro não é inexpressivo apenas na série “Crepúsculo”, mas se mostra completamente sem vigor ao assumir o protagonismo nesta empreitada ao viver um jovem durão, temperamental, que vive uma relação singular com os familiares e mantém um encantamento pela vizinha e colega de sala. O ator recorre a expressões sérias e olhar cerrado pretendendo, de alguma maneira, revelar um ímpeto agressivo recalcado, nos levando a crer, ainda que desconfiados, a consagração de um provável novo grande nome dos filmes de ação. Enquanto isso, no mesmo ritmo, Lily Collins agrada pela simpatia, mas pouco acrescenta a trama com sua Karen frágil e obstinada. 

Dirigido de maneira despudorada por John Singleton, “Sem Saída” externa limitações narrativas quando as resoluções ganham novas perguntas, desviando o foco e consequentemente a lógica da história. Algumas seqüências deixam dúvidas sobre o que padeceu na sala de edição, por exemplo durante uma fuga, a ciência de Karen sobre assuntos íntimos anteriormente negados por Nathan. Claramente dedicado em promover Taylor Lautner, o diretor não economiza em planos que transformam seu personagem em ícone enérgico com combates freqüentes e aventuras movimentadas, herança maneirista de John McClane da franquia “Duro de Matar” – a maioria das cenas foram executadas pelo próprio ator dispensando dublês.

Sem surpresas, “Sem Saída” é diversão passageira e esquecível cujo roteiro raso não dá credibilidade a personagens encarnados por grandes nomes do cinema. Weaver oferece dignidade a psiquiatra, mas é esquecida durante boa parte da projeção; já Alfred Molina assume o papel de um agente da CIA gerador de desconfiança, mas isso nunca é trabalhado pelos roteiristas. No final, resta apreciar o sueco Michael Nyqvist de “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” vivendo um antagonista implacável, duelando com o personagem de Molina. E também, aos sarcásticos, se divertir com o lobisomem da saga Crepúsculo, já estigmatizado pelo papel do filme dos vampiros, esforçando-se para parecer de alguma forma ameaçador com músculos, cara feia e sem nenhuma ferida.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Proseando sobre... Conan - O Bárbaro



A ira que conduz o bárbaro é bem traduzida por Jason Momoa, o novo Conan, substituindo o icônico personagem concebido por Arnold Schwarzenegger no início dos anos 80. O guerreiro nessa nova versão está mais violento do que nunca, e seu diretor, Marcus Nispel, muito acrescenta para evidenciar a raiva na face do Cimério, letal contra os inimigos, tirando sangue com doentio prazer. Porém, isso é tudo que esta versão tem a oferecer, violência descontrolada e frases de efeito no estilo dos filmes machistas oitentistas. Nispel entende de sangue, são dele as novas versões de “Sexta Feira 13” e “O Massacre da Serra Elétrica”. No entanto, travar batalhas sangrentas não é o bastante para um filme funcionar. Sua direção é precária, seu objetivo parece unicamente direcionar todos os artifícios a irascibilidade.

Assistir o pai morrer, ou pior, carregar o fardo de ter alguma culpa pela morte deste, seu ídolo e referência para a vida, é o que consome Conan. E se não bastasse essa recordação, o roteiro acrescenta algum potencial de virtuosismo enquanto combatente, seus treinamentos durante a infância matando e dilacerando oponentes, ou ainda mais, nascendo durante uma batalha. Tudo isso se soma para a personalidade impactante desse herói bem vivido por Jason Momoa, mas não justifica o caminho que a narrativa escolhe, preservando a vingança, mas ignorando outros ideais, sustentando uma obsessão cega e perigosa. Momoa apenas tem de fazer cara feia e lutar, sem maiores exigências, consegue transpor a frieza do guerreiro. Este novo “Conan” prova da tecnologia hollywoodiana, seus atributos estéticos e artísticos raramente impressionam, e até nessa faculdade não consegue superar os anteriores, “O Bárbaro” de 1982 e “O Destruidor” de 1984.


Com reais possibilidades de despertar fúria nos fãs da obra original, essa versão descerebrada e esculachada pouco acrescenta ao cinema convencional, correndo o risco de não ser apreciado nem por aqueles acostumados a filmes do gênero. Os duelos acontecem a exaustão, o que talvez colabore para alguma diversão. Tem até estranhas coreografias em algumas lutas tornando a experiência da ressurreição de Conan nas telonas num frívolo espetáculo de dança. Ao passo que a força física impera na narração, somos levados também a acompanhar magias. Os realizadores visam na história da feitiçaria uma muleta tentando algo a mais na trama, de uma maneira bem menos convincente daquela vista na época de Schwarzenegger. Para não correr o risco deste aspecto ser pouco, também expõem criaturas monstruosas. Tudo isso nos é apresentado de maneira funesta, exibicionista, procurando loucamente impressionar.

Passado na Era Hiboriana, o ideal de Conan é propagado e concluído em cada cena: vingar-se pela devastação de sua aldeia e pela morte dos entes, o que o torna um justiceiro bruto, ou o último dos Cimérios. Seu pai, o corajoso Corin (vivido modestamente por Ron Perlman), apresenta rapidamente preceitos daquela civilização, atitude que nos aproxima levemente desta cultura tão distante. Não nos apegamos a ela, mas a compreendemos. E segue a assolação do bárbaro, buscando também a espada de seu pai, símbolo do equilíbrio, imponente nas batalhas. O percurso reserva um romance como escape, Tamara (Rachel Nichols), que possui no sangue a substância para a concepção da magia de uma máscara ancestral.


Marcus Nispel tem em mãos algum requinte na direção artística, mas não aproveita. Sem noção de tempo e de espaço – isso será perceptível quando o público acompanhar a trajetória do de Conan –, o diretor ainda comete o erro na elaboração de seus personagens: a feiticeira Marique (Rose McGowan), que até ganha uma estilização saudosa, está engessada, sempre ofuscada pelo pai, Khalar Zym (Stephen Lang). Sua relação com este, que deseja trazer a esposa de volta a vida, nunca fica devidamente clara. Zym está bem objetivado e clichê, reconhecemos suas intenções, mas o roteiro o deixa tão vago que duvidamos que este seja o vilão ideal. O que esperar de um projeto escrito por Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer, os caras por trás do pavoroso “Dylan Dog”? Que fé colocar no trabalho de Marcus Nispel, tão ausente no longa, parecendo se divertir com algum gameboy. “Conan – O Bárbaro” é minúsculo comparado ao que uma vez foi.

sábado, 17 de setembro de 2011

Proseando sobre... Melancolia


 Lars von Trier narra distúrbios afetivos entre seus personagens enfatizando duas irmãs, Justine e Claire. De uma maneira próxima ao seu filme antecessor, “Anticristo”, o diretor explora o longa a partir de um prólogo intimamente simbólico e artístico, e divide-o em exatas duas partes. O filme ganha status de cinema de autor, o estilo von Trier empregado é identificável em toda a realização, o que certifica sua ótica em relação ao mundo, sempre pessimista, olhando o outro como indivíduo passivo de sofrimento e dor, sentimentos subitamente recorrentes e inevitáveis, e quando uma causa maior – nunca divina – provoca comoção comum, percebe-se, segundo sua visão, uma nova certificação: a necessidade do outro como segurança, mesmo que ela seja fantasia.

“Melancolia” exprime a dinâmica de relações familiares e profissionais naquela que deveria ser uma grande festa de casamento. A primeira parte, intitulada e centrada em Justine, traz a jovem vivida por Kirsten Dunst comemorando seu matrimônio com Michael (Alexander Skarsgård). Constantemente sorridente e demonstrando satisfação pela presença dos familiares e amigos, revela uma comoção fingida quando confronta os ideais de sua mãe (Charlotte Rampling), claramente amarga condenando a união da filha, provavelmente como desgosto a sua vida de casada com Dexter (John Hurt), este que se mostra passivo com relação às filhas, se importando muito mais com algumas convidadas.

O segundo momento, nomeado Claire, acompanha a angústia da irmã de Justine, muito bem interpretada por Charlotte Gainsbourg, capturada pela notícia do planeta Melancholia se aproximando da Terra. Temente com a possibilidade do fim, e isso reflete diretamente sua condição enquanto mãe, a mulher, embora de aparência serena, expressa seu terror frente aos dias em que o estranho planeta se aproxima. Buscando crer na afirmação de seu marido John (Kiefer Sutherland) de que não há perigo de ocorrer um choque, se afasta de notícias e se concentra como válvula de escape no casamento da irmã. John até desconfia de que a esposa tenha acessado a internet a fim de saber mais notícias do evento como referência a aflição prevalente da dúvida.

Concentrado na mulher, como feito nos estupendos “Dogville”, “Manderlay” e “Dançando no Escuro”, o diretor e roteirista insere símbolos durante toda a projeção, explicitando nas minúcias daquele contexto do durante e pós festa, a relação prevalente daquela família. Claire às vezes diz que não suporta a irmã, mas contraditoriamente a tem por perto como alívio. Seu cunhado oferece sua mansão e o campo de golfe para a construção da festa e pede em troca algo tocante e de certa forma revelador, denunciando quem é Justine. Na exuberante cena inicial, takes lentos emergem o espectador no universo do longa, trazendo as irmãs vivenciando o cuidado e a solidão deprimente – se destaca nesse meio, como ligação com o mundo, Justine presa no que parecem ser raízes.

Não só isso, os significados atribuídos por von Trier vão de encontro a crença de seus espectadores, o que permite várias interpretações sobre um mesmo fato, como o campo de golfe e o estranho número 19 no ato final, ou na contemplação quase mística de Justine completamente nua iluminada por Melancholia. Essa discussão aberta torna o filme ainda maior e prova a genialidade do diretor em alcançar o âmago de seu público com crueza e autenticidade, sem entregar respostas prontas, mas permitir discussão e reflexão. E se tratando da iminência do fim, se agarrar a algo como consolação faz parte do ser humano. Aí entra a proposta da fé não importando quem está certa, a ciência ou a religião. Ambos são devidamente representados, o primeiro pelo conhecimento de astronomia de John, já o outro pela função do cavalo cujo nome Abraham, ou Abraão, faz a menção religiosa. Não é só um que pode montá-lo, como sugestiona um personagem. Há ainda outra indagação, a limitação do animal quando este não consegue atravessar uma ponte trazendo como metáfora a incapacidade de sua dona atravessar algumas situações. Acaba punido.

Com câmera em punho, tradicionalmente trêmula, mas com impressionante domínio espacial e sensorial, o diretor entrega um projeto artisticamente esplêndido, alinhado a uma fotografia opressiva de Manuel Alberto Claro. É fascinante o potencial de von Trier na direção, captando detalhes e explorando com solicitude seu ótimo elenco. Kirsten Dunst vive sua mais importante personagem – sua conquista de melhor atriz no Festival de Cannes é benemérita. Demonstrando sempre uma dualidade de sentimentos, Dunst contrasta bem sua necessidade em parecer satisfeita com sorrisos aparentes refutando sua real sensação, deprimida, carregando uma expressão esgotada com lágrimas reprimidas.

Servindo também como objeto de estudo tanto de personagem como da filosofia empregada, “Melancolia” atinge seu ápice em seu fim. O estranho planeta que se aproxima carrega o título do longa, se revela após ter se escondido atrás do sol, igualmente a quem passou por alguma depressão ou tristeza contínua, resguardando o inevitável, a melancolia. Quando esta surge, desconforta, deprime e perdura. Um estudo Freudiano sobre o filme renderia longas constatações. Ao final, a narrativa submete ao acalento, a possível catástrofe anunciada exalta a esperança depositada no outro, aí o humano se distingue. O medo nos olhos da criança, sem compreender exatamente a dimensão do acontecimento, é confortada em quem considera mais forte, o Quebra-aço, aquela que há muito tempo está a espera do fim e, uma vez preparada, afaga.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Proseando sobre... Cowboys & Aliens


O duelo sugestionado causa um certo espanto. Colocar Cowboys fazendo frente a Aliens nos parece, no mínimo, inusitado. Jon Favreau sabe disso e pouco se importa, concebe o filme e o faz bem, dito do ponto de vista técnico. O roteiro escrito por 5 pessoas a partir dos quadrinhos de Scott Mitchell Rosenberg é o grande entrave para o filme decolar como as naves alienígenas rasantes. Resta o estímulo da ação bem coordenada para camuflar a série de equívocos que decorrem durante o longa. Tem início a sessão captadora de gêneros buscando elementos básicos do faroeste convencional (o homem sem nome, a prostituta, o rancheiro impetuoso, o saloon como palco), a ficção (debruçando sobre alienígenas) e a comédia (pontualidade tradicional dos projetos de seu diretor).

O ano é 1873. Um homem acorda no meio do deserto seminu, amnésico, com um grande bracelete no braço esquerdo e uma foto de uma mulher que não reconhece. O cartão de visitas do filme é dado quando 3 homens aparecem e o estranho sem nome os ataca roubando suas roupas e armas. Esse estranho é perigoso, brutal e vivido pelo atual James Bond, Daniel Craig. Rumo a uma cidade em busca de respostas, encontra um povoado oprimido por um rancheiro rico, Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford) e seu filho estúpido, bem representado pelo talentoso Paul Dano, num papel que nos leva a recordar, pelo contexto, o pastor que viveu no estupendo “Sangue Negro”. Há ainda uma mulher misteriosa, Ella Swenson (Olivia Wilde) e um personagem fragilizado pela insegurança, o bartender encarnado pelo ótimo Sam Rockwell.

Conflitos começam quando o estranho chega na pequena cidade de Absolution, no Arizona. Situações o levam a prisão na mesma noite em que luzes aparecem no céu. O que surge surpreende atacando violentamente os moradores, abduzindo através de laçadas, numa referência óbvia ao western. Sem entender e sem saber como se defender, os confusos moradores fogem, até que o estranho preso descobre uma solução consigo. Favreau elabora cenas fundamentadas de ação ligeira, apropriando seus personagens a novidade daqueles seres, considerados por eles demônios. Craig, viril, assume a identidade do herói sem sorrisos, e confronta os aliens com finalidade operante e imponente. As informações sobre seu passado e relação com os OVNIS nos é apresentado através de flashbacks explicativos, o que decepciona.

Esses alienígenas estão em busca de um recurso terrestre e aparecem para nós como metáfora de nós mesmos, afinal, o planeta desses deixou de ser o bastante. A corrida espacial e a gana humana condiz com a proposta desses alienígenas a procura de riqueza pelo universo. Eles subestimam a raça humana, como conta um dos personagens. Somos irrelevantes, estamos a procura de poder, mas ainda não estamos maduros e seguimos a passos largos até a destruição. É natural que se passe no Séc. XIX como resquício de nosso presente cuja natureza vem sendo condenada.  

Fotografado com êxito por Matthew Libatique e com uma edição de som saudosa ressaltando a sonoridade das máquinas voadoras e o barulho das armas, “Cowboys & Aliens” se fortalece unicamente pelos seus aspectos técnicos. Acompanhar a procedência dos acontecimentos em campos, desertos e desfiladeiros remete diretamente ao Velho Oeste com suas paisagens e ameaças. E se o roteiro falha em dar mais coesão e sentido – fora os furos – a trama, as atuações compensam, assim notaremos que o elenco de peso é devidamente utilizado. Harrison Ford tem a índole questionada, mas sua brandura traz um tipo de homem cuja história o moldou; Rockwell se distancia das tradicionais personas que assume e entrega um homem temente, incapaz de manobrar uma arma ou cavalgar rumo a guerra; e Olivia Wilde, com seu inacreditável olhar, dá um alívio a grosseria daqueles homens a partir de gestos doces, embora se revele uma mulher de fibra. A cena em que aparece nua junto a uma fogueira rodeada por índios lhe transforma numa espécie de divindade, portanto, não é estranho que junto a ela nasça a esperança.

Divertido e ágil, mas entorpecido por uma narrativa desmembrada, este novo projeto de Jon Favreau tem a presença marcante da ação e humor comum em seus filmes, como “Homem de Ferro”, mas carece de mais, de ligação entre os eventos propostos e também de sentido na trama, muito embora o nexo entre Cowboys e Aliens não faça tanto. No entanto, vale a descompromissada espiada. 

sábado, 10 de setembro de 2011

Proseando sobre... Deu a louca na Chapeuzinho 2


A desconstrunção da história de “Chapeuzinho Vermelho” surgiu há alguns anos com “Deu a louca na Chapeuzinho” como uma aposta curiosa e ousada diante a pretensão de se fazer uma nova história sobre o conto mundialmente conhecido. Inverter valores e dar novos significados aos personagens foi uma conquista bem elaborada pensando na hipótese da paródia de bom gosto. Não foi um grande sucesso, mas serviu para divertir, principalmente comparada as enxurradas de comédias que parodiam anualmente grandes produções. Em 2011, uma segunda parte vem transtornar ainda mais esse conto.

“Deu a louca na Chapeuzinho 2” continua esquartejando a obra original, saindo do plano investigativo reinado no primeiro para colocar ação abrupta, baseando no compromisso de manter ordem, proposta de Chapeuzinho, do farsante lobo, da super agente vovozinha e do simpático esquilo ligeirinho. Mais disposto em divertir a partir de gags visuais, este trabalho dirigido por Mike Disa se expande a outras histórias – de forma até semelhante a “Shrek” – colocando no meio da bagunça personagens como João e Maria, os 3 porquinhos e o gigante de “João e o pé de Feijão”.

A premissa traz Chapeuzinho treinando numa organização secreta, a mesma em que sua avó passou, e repentinamente é convocada para se unir ao grupo do primeiro filme – com uma ausência notável, explicada no segundo ato – para investigar um desaparecimento. Recrutada pela agência de espionagem “Feliz para Sempre”, terá de liderar, mesmo com constantes intrigas que levarão a diferentes morais, o caso envolvendo João e Maria e uma estranha bruxa mascarada.

A graça que por vezes residia na primeira empreitada está ainda mais escassa aqui. Feito as pressas, talvez para aproveitar o lançamento de “A Garota da Capa Vermelha”, esta animação deverá ser ignorada até pelas crianças que verão muito pouco acontecer. As piadas são fracas, a direção sem personalidade credita recreação na bagunça desenvolvida por um roteiro frio e fraco, embora tenha, sim, muitas boas questões a tratar. No final, resta apenas a saudosa lembrança da verdadeira história e alguma graça envolvendo as referências e as reviravoltas deixadas ao léu. 

domingo, 4 de setembro de 2011

Proseando sobre... O Homem do Futuro

 
Venderam mal o filme. Difícil não encara-lo como uma típica comédia banal de nosso cinema. “O Homem do Futuro” tem potencial para ser cult, tem elementos para aspirar grandes distinções. Concebido pelo imaginativo Cláudio Torres, o mesmo por trás do bom “Redentor” e do descartável “A Mulher Invisível”, este filme que capta muito bem viagens no tempo se condensa como uma experiência apaixonante sobre um assunto compartilhado por humanos, o “e se”. E se tivesse feito isso, e se tivesse dito aquilo, poderia ter sido diferente? Questão recorrente, inevitável quando se vive, erra e aprende. E com o perdão de uma pequena alteração de pronome na letra da esplendorosa canção de Renato Russo, “Tempo Perdido”, que embala o filme, delinho a proposta do longa: “todos os dias quando acordamos, não temos mais o tempo que passou, mas temos muito tempo, temos todo o tempo do mundo...”.

Zero é um físico quarentão frustrado por uma vida de arrependimentos cujas lembranças atormentam como fantasmas. Recluso no mundo científico, sozinho e enfurecido, é reconhecido por promissoras pesquisas estando a ponto de criar uma energia sustentável capaz de mudar o mundo. Porém, o teste o leva até a data determinante de seu futuro, uma noite inesquecível pela experiência do amor e do abandono. E se fosse diferente? Inicia-se uma interação de personagens com 20 anos de diferença centrando em Zero procurando convencer sua versão mais jovem de fazer as coisas de um outro modo. As conseqüências disto levarão o filme a uma viagem sensorial e oportuna sobre aquilo que fazemos sobre nós mesmos.

Cláudio Torres ilustra o longa com artifícios recorrentes das distintas épocas, contrapondo a tecnologia recente com a vivacidade do início dos anos 90. Sobre isso, o trabalho de fotografia de Ricardo Della Rosa assinala a distinção juntamente a canções de outros tempos, passando por INXS, Radiohead, Ultraje a Rigor e Legião Urbana – aliás, com isso, percebemos o quando decaímos no sentido musical. É inevitável a comparação, ou referência, a “De volta para o Futuro”, e tampouco esquecer das inferências de “Efeito Borboleta”, no entanto, “O Homem do Futuro” é honesto e original no que propõe sem pretensões. Zero está diante oportunidades de se fazer um novo futuro a partir de qualquer alteração no passado. O foco é um amor perdido, Helena, representada por Alinne Moraes, sem exageros em cena.

“A tempestade que chega é da cor teus olhos, castanhos...” Helena entusiasma e aquece o coração de um solitário universitário que jamais imaginou poder estar com uma mulher como ela. E numa noite tempestuosa, onde uma brisa trouxe um êxtase anunciando uma tempestade aterradora que deixaria Zero em pedaços, um caminho foi trilhado. Seria uma perspectiva simples caso não tivesse o reforço de Wagner Moura que encarna Zero com um entusiasmo edificante dando ciência e autenticidade em seus personagens de distintas épocas, evocando o entusiasmo do prazer, a repercussão da traição e a conscientização da necessidade de ser. Acompanhá-lo em sua jornada é um trabalho aprazível para qualquer cinéfilo, evocando proximamente o percurso de “Corra Lola, Corra”.  

Torres elabora um romance de uma maneira satisfatória, enfatizando o papel do tempo em nossas vidas, enriquecendo o cinema nacional e provando que assuntos relacionados a viagens no tempo e futuro não estão esgotados, vide um outro bom exemplar brasileiro dirigido por Philippe Barcinski, “Não por Acaso”. Há tanto a se pensar e muito a se divertir, mas no final, trata-se de um drama socialmente comum, com a conjuntura de um personagem em poder mudar e sofrer os efeitos desta chance. No elenco também estão Maria Luisa Mendonça divertidíssima e Fernando Ceylão como um grande amigo de Zero. Nessa ótica, levamos algumas coisas por toda a vida, no caso, a amizade. Desfrutar dessa experiência afirmada por um roteiro interessante e dinâmico, embora falho em alguns aspectos, nos faz lembrar de que nada que vivemos e do que fazemos é tempo perdido, mas parte de nossa irredutível história, afinal, temos nosso próprio tempo... temos nosso próprio tempo. 

sábado, 3 de setembro de 2011

Proseando sobre... Professora sem Classe


 A relação entre professores e alunos já rendeu trabalhos orgulhosos ao cinema, sobretudo quando relacionado às funções de ambos na sala de aula e o contexto em que se passam. Isso é distorcido aqui. O roteiro escrito pela dupla Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg, responsáveis pelo desastroso “Ano Um” e pela série “The Office”, tem a liberdade de seguir caminhos sem comprometimento com qualquer moral. Assim fazem piadas com tudo, estruturando um modelo de escola e brincando com ele, explorando brevemente seu corpo docente essim fazem piadas com tudo, estruturando um modelo de escola e brincando com ele, explorando brevemente seu corpo docente  demarcando características em seus professores dispensando qualquer resquício de seriedade, o que de certo modo despe a imagem sisuda estigmatizada de outros filmes. “Professora sem Classe" é a nova aposta do diretor Jake Kasdan que vislumbra a professora Elizabeth Halsey, vivida irresistivelmente por Cameron Diaz, transmitindo com autenticidade seus reais interesses tornando-se uma figura vil, traiçoeira e estranhamente adorável.

O clima é quente, e como não seria diante tanta incitação sexual? Qualquer pudor foi ignorado por Diaz, entregue de corpo e alma ao papel, iniciando o filme com palavrões como um indicativo do que se sucederá a diante. Seu golpe de se aposentar e ser tratada por algum indivíduo rico foi frustrado. Ela precisa retornar ao posto na escola onde passou tempos dando aula até encontrar algum outro partido que lhe banque. O alvo aparece rápido. O engomado professor substituto Scott Delacorte (Justin Timberlake) surge aparentando ser o cara ideal e rapidamente a moça lança-se sobre ele. Nessa investida, encontra uma oponente anteriormente impensável, igualmente pérfida, a desvairada professora Amy (Lucy Punch de "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos"). A loura se vê ameaçada quando seios tornam-se símbolo de disputa. Seu objetivo passa a ser conseguir algum dinheiro para uma prótese de silicone. É sobre esse desejo que o filme irá se desenrolar. 

Com reais possibilidades de ser visto como um longa de mal gosto e de intenções duvidosas, o diretor dispõe cenas em que Elizabeth, usuária de drogas e rejeitada por sua índole, nos é mostrada como um atrativo voyeur libidinoso – seu desempenho ao lavar carros brincando com a mangueira é suficiente em nos apresentar diretamente sua persona, tentadoramente indecente, o que é contingente a narrativa. Nesse ato, a atriz deslumbra. Faz lembrar de Liv Tyler em “Que Mulher É Essa?”. Elizabeth Halsey não é somente moldada como um aparato sexy, mas a ausência de valores denunciada por suas ações lhe garantem um status transviado referente ao esperado socialmente, ainda mais de uma professora de colégio.

A didática da moça quando motivada pelo interesse surpreende, torna-se uma déspota punitiva. Em certo ponto encarava a sala de aula como um fardo, largava alguns filmes para os adolescentes assistirem enquanto dormia na cadeira. Afirmava, como desculpa ao seu desapego, que os filmes eram os novos livros. Essa é a grande inversão de valores a qual o filme está inserido ao não tratar de alunos problemáticos ou professores salvadores. “Mentes Perigosas” surge como menção durante uma aula e logo notamos a diferença. Quando um dos adolescentes procura por um conselho, ouve inconveniências. Não é “Ao Mestre, Com Carinho”, mas “Ao Dinheiro, a qualquer custo”.  

O elenco ainda traz Jason Segel se responsabilizando por boas piadas na trama vivendo um professor de educação física nada convencional. Proveniente de comédias de relativo sucesso de crítica como “Eu te amo, cara” e “Ressaca de Amor”, o ator garante sequências bem humoradas através do seu trejeito descompromissado, fortalecido por gags visuais. Timberlake está contido enquanto um professor nerd; já Punch com sua personagem determinada em derrubar seu desafeto, se revela uma ótima surpresa cômica e histérica. São 90 minutos de situações razoavelmente recreativas, centrando quase que exclusivamente numa só pessoa a qual acompanharemos amando ou odiando.

Feito para divertir e funcionar como quebra gelo da pretensão romântica envolvente em projetos semelhantes, esta nova obra de Jake Kasdan se orgulha por não ser politicamente correta, mas sim uma comédia romântica desbocada, suja e singular, comparada as levas anuais que despontam no mercado. Não é para todos os gostos. Kasdan que já filmou comédias como “A Vida é Dura: A História de Dewey Cox” e “Um Elenco do Barulho” coloca seu nome no cenário entre trabalhos de humor sórdido e sem compromisso distanciando-se do clichê usual. O diretor ganha atenção pelo feito, mas a força do projeto é mesmo Cameron Diaz que não se inibe com o que tem de fazer, tornando seu infame texto num artifício favorável a conduta de seu desempenho enquanto uma professora sem classe, escrúpulos e bom senso – as cenas de maquiagem no volante e do sutiã são marcos.