A ira que conduz o bárbaro é bem traduzida por Jason Momoa, o novo Conan, substituindo o icônico personagem concebido por Arnold Schwarzenegger no início dos anos 80. O guerreiro nessa nova versão está mais violento do que nunca, e seu diretor, Marcus Nispel, muito acrescenta para evidenciar a raiva na face do Cimério, letal contra os inimigos, tirando sangue com doentio prazer. Porém, isso é tudo que esta versão tem a oferecer, violência descontrolada e frases de efeito no estilo dos filmes machistas oitentistas. Nispel entende de sangue, são dele as novas versões de “Sexta Feira 13” e “O Massacre da Serra Elétrica”. No entanto, travar batalhas sangrentas não é o bastante para um filme funcionar. Sua direção é precária, seu objetivo parece unicamente direcionar todos os artifícios a irascibilidade.
Assistir o pai morrer, ou pior, carregar o fardo de ter alguma culpa pela morte deste, seu ídolo e referência para a vida, é o que consome Conan. E se não bastasse essa recordação, o roteiro acrescenta algum potencial de virtuosismo enquanto combatente, seus treinamentos durante a infância matando e dilacerando oponentes, ou ainda mais, nascendo durante uma batalha. Tudo isso se soma para a personalidade impactante desse herói bem vivido por Jason Momoa, mas não justifica o caminho que a narrativa escolhe, preservando a vingança, mas ignorando outros ideais, sustentando uma obsessão cega e perigosa. Momoa apenas tem de fazer cara feia e lutar, sem maiores exigências, consegue transpor a frieza do guerreiro. Este novo “Conan” prova da tecnologia hollywoodiana, seus atributos estéticos e artísticos raramente impressionam, e até nessa faculdade não consegue superar os anteriores, “O Bárbaro” de 1982 e “O Destruidor” de 1984.
Com reais possibilidades de despertar fúria nos fãs da obra original, essa versão descerebrada e esculachada pouco acrescenta ao cinema convencional, correndo o risco de não ser apreciado nem por aqueles acostumados a filmes do gênero. Os duelos acontecem a exaustão, o que talvez colabore para alguma diversão. Tem até estranhas coreografias em algumas lutas tornando a experiência da ressurreição de Conan nas telonas num frívolo espetáculo de dança. Ao passo que a força física impera na narração, somos levados também a acompanhar magias. Os realizadores visam na história da feitiçaria uma muleta tentando algo a mais na trama, de uma maneira bem menos convincente daquela vista na época de Schwarzenegger. Para não correr o risco deste aspecto ser pouco, também expõem criaturas monstruosas. Tudo isso nos é apresentado de maneira funesta, exibicionista, procurando loucamente impressionar.
Passado na Era Hiboriana, o ideal de Conan é propagado e concluído em cada cena: vingar-se pela devastação de sua aldeia e pela morte dos entes, o que o torna um justiceiro bruto, ou o último dos Cimérios. Seu pai, o corajoso Corin (vivido modestamente por Ron Perlman), apresenta rapidamente preceitos daquela civilização, atitude que nos aproxima levemente desta cultura tão distante. Não nos apegamos a ela, mas a compreendemos. E segue a assolação do bárbaro, buscando também a espada de seu pai, símbolo do equilíbrio, imponente nas batalhas. O percurso reserva um romance como escape, Tamara (Rachel Nichols), que possui no sangue a substância para a concepção da magia de uma máscara ancestral.
Marcus Nispel tem em mãos algum requinte na direção artística, mas não aproveita. Sem noção de tempo e de espaço – isso será perceptível quando o público acompanhar a trajetória do de Conan –, o diretor ainda comete o erro na elaboração de seus personagens: a feiticeira Marique (Rose McGowan), que até ganha uma estilização saudosa, está engessada, sempre ofuscada pelo pai, Khalar Zym (Stephen Lang). Sua relação com este, que deseja trazer a esposa de volta a vida, nunca fica devidamente clara. Zym está bem objetivado e clichê, reconhecemos suas intenções, mas o roteiro o deixa tão vago que duvidamos que este seja o vilão ideal. O que esperar de um projeto escrito por Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer, os caras por trás do pavoroso “Dylan Dog”? Que fé colocar no trabalho de Marcus Nispel, tão ausente no longa, parecendo se divertir com algum gameboy. “Conan – O Bárbaro” é minúsculo comparado ao que uma vez foi.
Ganhei ingressos pra assistir, mas não me sinto animado pela experiência, não.
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Ta aí um bom filme de matança! rsrs assista com a pretensão de apenas se divertir, afinal é pra isso que serve ué, distrair, entreter por 1 ou 2 horas.
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