sábado, 3 de setembro de 2011

Proseando sobre... Professora sem Classe


 A relação entre professores e alunos já rendeu trabalhos orgulhosos ao cinema, sobretudo quando relacionado às funções de ambos na sala de aula e o contexto em que se passam. Isso é distorcido aqui. O roteiro escrito pela dupla Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg, responsáveis pelo desastroso “Ano Um” e pela série “The Office”, tem a liberdade de seguir caminhos sem comprometimento com qualquer moral. Assim fazem piadas com tudo, estruturando um modelo de escola e brincando com ele, explorando brevemente seu corpo docente essim fazem piadas com tudo, estruturando um modelo de escola e brincando com ele, explorando brevemente seu corpo docente  demarcando características em seus professores dispensando qualquer resquício de seriedade, o que de certo modo despe a imagem sisuda estigmatizada de outros filmes. “Professora sem Classe" é a nova aposta do diretor Jake Kasdan que vislumbra a professora Elizabeth Halsey, vivida irresistivelmente por Cameron Diaz, transmitindo com autenticidade seus reais interesses tornando-se uma figura vil, traiçoeira e estranhamente adorável.

O clima é quente, e como não seria diante tanta incitação sexual? Qualquer pudor foi ignorado por Diaz, entregue de corpo e alma ao papel, iniciando o filme com palavrões como um indicativo do que se sucederá a diante. Seu golpe de se aposentar e ser tratada por algum indivíduo rico foi frustrado. Ela precisa retornar ao posto na escola onde passou tempos dando aula até encontrar algum outro partido que lhe banque. O alvo aparece rápido. O engomado professor substituto Scott Delacorte (Justin Timberlake) surge aparentando ser o cara ideal e rapidamente a moça lança-se sobre ele. Nessa investida, encontra uma oponente anteriormente impensável, igualmente pérfida, a desvairada professora Amy (Lucy Punch de "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos"). A loura se vê ameaçada quando seios tornam-se símbolo de disputa. Seu objetivo passa a ser conseguir algum dinheiro para uma prótese de silicone. É sobre esse desejo que o filme irá se desenrolar. 

Com reais possibilidades de ser visto como um longa de mal gosto e de intenções duvidosas, o diretor dispõe cenas em que Elizabeth, usuária de drogas e rejeitada por sua índole, nos é mostrada como um atrativo voyeur libidinoso – seu desempenho ao lavar carros brincando com a mangueira é suficiente em nos apresentar diretamente sua persona, tentadoramente indecente, o que é contingente a narrativa. Nesse ato, a atriz deslumbra. Faz lembrar de Liv Tyler em “Que Mulher É Essa?”. Elizabeth Halsey não é somente moldada como um aparato sexy, mas a ausência de valores denunciada por suas ações lhe garantem um status transviado referente ao esperado socialmente, ainda mais de uma professora de colégio.

A didática da moça quando motivada pelo interesse surpreende, torna-se uma déspota punitiva. Em certo ponto encarava a sala de aula como um fardo, largava alguns filmes para os adolescentes assistirem enquanto dormia na cadeira. Afirmava, como desculpa ao seu desapego, que os filmes eram os novos livros. Essa é a grande inversão de valores a qual o filme está inserido ao não tratar de alunos problemáticos ou professores salvadores. “Mentes Perigosas” surge como menção durante uma aula e logo notamos a diferença. Quando um dos adolescentes procura por um conselho, ouve inconveniências. Não é “Ao Mestre, Com Carinho”, mas “Ao Dinheiro, a qualquer custo”.  

O elenco ainda traz Jason Segel se responsabilizando por boas piadas na trama vivendo um professor de educação física nada convencional. Proveniente de comédias de relativo sucesso de crítica como “Eu te amo, cara” e “Ressaca de Amor”, o ator garante sequências bem humoradas através do seu trejeito descompromissado, fortalecido por gags visuais. Timberlake está contido enquanto um professor nerd; já Punch com sua personagem determinada em derrubar seu desafeto, se revela uma ótima surpresa cômica e histérica. São 90 minutos de situações razoavelmente recreativas, centrando quase que exclusivamente numa só pessoa a qual acompanharemos amando ou odiando.

Feito para divertir e funcionar como quebra gelo da pretensão romântica envolvente em projetos semelhantes, esta nova obra de Jake Kasdan se orgulha por não ser politicamente correta, mas sim uma comédia romântica desbocada, suja e singular, comparada as levas anuais que despontam no mercado. Não é para todos os gostos. Kasdan que já filmou comédias como “A Vida é Dura: A História de Dewey Cox” e “Um Elenco do Barulho” coloca seu nome no cenário entre trabalhos de humor sórdido e sem compromisso distanciando-se do clichê usual. O diretor ganha atenção pelo feito, mas a força do projeto é mesmo Cameron Diaz que não se inibe com o que tem de fazer, tornando seu infame texto num artifício favorável a conduta de seu desempenho enquanto uma professora sem classe, escrúpulos e bom senso – as cenas de maquiagem no volante e do sutiã são marcos. 

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