domingo, 10 de abril de 2011

Proseando sobre... Rio


“Rio” finalmente estreou e veio com todos os elementos básicos que poderiam garantir uma animação dar certo. Os personagens são cativantes, já conquistaram a nossa atenção no trailer empolgante. O cenário é deslumbrante, o Rio de Janeiro representado com empenho turístico. E o argumento é originalíssimo. No entanto, toda essa beleza é sabotada por sua narrativa e estrutura frágil onde os acontecimentos nunca parecem naturais. Porém, “Rio” é suficientemente divertido, faz bom uso do carisma de seus tão bem desenhados personagens e tira proveito ainda de uma trilha realçando o samba e utilizando dos vários pássaros cantando e dançando – e se canções, hoje em dia, costumam irritar quando inseridas em longas de animação em excesso (como as animações da Disney costumam fazer), essas podem, ao menos, se justificarem aqui por tratar de um filme com aves, e essas, constantemente, cantarolam.

Um plano inicial bem realizado evidencia os acontecimentos do que virá a ser a história imediatamente após uma festa na floresta com os coloridos pássaros dando ainda mais beleza para aquele bucólico lugar. De repente, vários desses pássaros são presos, inclusive o protagonista, o filhote de arara azul Blu (Jesse Eisenberg), e se tornam vítimas do tráfico de animais silvestres. Eis a temática de “Rio”. Blu irá crescer nas mãos de uma dedicada cuidadora, Linda (Leslie Mann), e desenvolver hábitos nada naturais. Ele está distante de casa, em Minnesota, num clima frio, contraposição ao seu habitat natural. A apresentação dessa relação faz recordar outros filmes como o recente extraordinário “Toy Story 3”. Acompanhamos nesses planos iniciais uma ave sendo humanizada.

É quando um ativista surge em Minnesota que as aventuras começam. É preciso levar Blu até o Brasil para procriação evitando a extinção de sua espécie. É também a hora que a arara, pela primeira vez, encontra um semelhante, a bela arara azul Jade (Anne Hathaway), essa que nunca teve a liberdade privada. O longa metragem sugere uma Rio de Janeiro límpida, em plena festa. É carnaval. A folia está tomando conta das ruas, impressionando os turistas com as fantasias. Nesse território, há, infelizmente, uma imersão em conceitos e estereótipos. Uma cidade inteira se dedica a festa, uma dentista e um vigia (responsabilizado por um grave erro em um ato) são vistos como se todos – todos mesmo – se entregassem de corpo e alma ao carnaval. O que não soa bem também é a aparição de micos assaltando turistas.  

A viagem até o Rio de Janeiro não é restrita apenas aos cartões postais da cidade. As favelas não são esquecidas e surgem em contraste a beleza dos pontos turísticos. Nesse exuberante cenário, Blu vive uma incrível jornada redescobrindo sua animalidade e encontrando a liberdade. Com amigos e um par romântico, a arara irá em busca de um aprendizado, o vôo, – só faltou tocar “I believe i can fly” – ao mesmo tempo em que irá procurar por sua dona. Situações afunilam destinos e colocam todos esses personagens num lugar em comum.

O diretor carioca Carlos Saldanha, responsável por animações como “Robôs” e a trilogia “A era do gelo”, faz uma viagem em sua terra explorando a cultura, a etnia e a fauna, concebendo um projeto primoroso tecnicamente. Sua arte requintada atravessa o gênero da animação e da diversão procurando emocionar. Ora investe numa melancólica solidão, ora inspira um discurso de redenção centrando num garoto órfão morador das ruas, ora aquece o longa com a conquista de um sonho, esse correspondente a Blu, tanto na sua redescoberta quanto em seu alcance. O Brasil como contexto para uma grande animação e dirigido por um brasileiro em franca expansão. Nós temos grandes mentes criativas envolvidas com o cinema... e estes fazem cinema da melhor qualidade. 

Um comentário:

  1. Eu gostei muito do filme, apesar dos exageros como o que você citou de todos brasileiros irem para o carnaval, e o dos micos assaltantes, o filme é muito divertido e mais uma vez mostra a face do brasil que todo o mundo está acostumado a ver, e que quando algum estrangeiro vem pra ca deve se assustar um pouco, pq não somos exatamente como eles pensam...

    Ótimo post...

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