quarta-feira, 25 de abril de 2012

Proseando sobre... A Pequena Jerusalém



A diretora francesa Karin Albou estreou no cinema em 2005 trazendo um longa que discutia, em suma, a ortodoxia religiosa praticada por uma família rigorosamente judaica. “A Pequena Jerusalém” traz um subúrbio parisiense habitado por imigrantes judeus, local cuja religião dominante influi no povo nascido e criado ali, convivendo sob o preceito da doutrina judaica. Nesse espaço, uma família divide um pequeno apartamento e lidam com ideais e ideologias distintas, uma vez que, a protagonista Laura (Fanny Valette), tem como paixão a filosofia, sobretudo a de Immanuel Kant e conturba a relação familiar crente de que a verdade só pode ser encontrada na religião dispensando qualquer possibilidade de pensamento que não seja envolvido a ela.

Numa visão a qual a religião é o centro, os laços dessa família desatam a partir da dúvida, e inquieta pela propagação de problemas particulares expostos na desconfiança de Mathielde (Elsa Zylberstein) e na paixão impedida de Laura. De olhar conservador, uma desconstrução de ideologias tradicionais é feita no ato da angústia do viver e privações acometidas, enfatizando, não uma crítica a tradição judaica, – religião em questão explanada – mas os fundamentos impostos por ela num contexto completamente diferente daquele que a religião nascera. Embates acrescidos de receios e de novos óticas de encarar o mundo estremecem relacionamentos.  

Albou mostra inteligência ao compor um filme sério buscando na frieza daqueles personagens caracterizados tristes uma evocação empática pelas protagonistas irmãs que sofrem. E se uma ainda tem o recurso de usar como escudo a filosofia aprendida nas aulas – espaço o qual Laura demonstra completo domínio, ao contrário de sua vida privada – a outra, Mathielde, se limita e teme por cometer atos contrários aos ditames do Torá, sobretudo relativo ao sexo junto ao marido, se flagelando com a aflição da suspeita quanto à possibilidade desse homem estar traindo-a. Especula se a culpa possa ser sua.

É com um embate entre o tradicionalismo religioso contra a liberdade e o desejo que “A Pequena Jerusalém” se fortalece enquanto um trabalho sereno sobre privações, opressões e reverências. Laura, bem representada pela francesa Fanny Valette, carrega o filme com sobriedade e delicadeza, sempre na defensiva, – a conheceremos de um jeito e acompanharemos uma mutação. É uma personagem que carrega o conflito entre a ciência e religião, sofrendo com o parasitismo doutrinário que lhe consome em casa e nas ruas. Assiste a mãe emular rituais cabalísticos enquanto o genro propaga o judaísmo. Nesse percurso, o que Laura aspira é independência. Para conquista-la recorre a liberdade, essa liberdade custa caro.

Vencedor e indicado a importantes prêmios (Césars, Cannes), esse “A pequena Jerusalém” discute religiões através de situações corriqueiras cotidianas, trazendo um olhar sobre a periferia parisiense, conhecida como pequena Jerusalém por unir imigrantes Judeus experienciando o convívio com outras vertentes. E há violência dividindo os desiguais.  As relações impostas em cena não são nada modestas, e as tomadas dos breves e calorosos encontros entre um homem egresso da Argélia junto a Laura coloca a dificuldade que, ainda em dias atuais, devido ao tradicionalismo feroz da cultura de determinados povos, impede uniões de diferentes etnias. Karin Albou faz uma crítica sutil sobre esse universo, mas convincente e real. 


2 comentários:

  1. Gostei da história, parece ser um bom filme!!!

    www.minutomix.com

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pela crítica, fiquei curiosa ver esse filme, minha mãe iria adorar, sempre aos sabados e domingos acordo com ela assistindo filmes de manhã cedo no telecine :) dias de descanso dela.

    ResponderExcluir