domingo, 9 de outubro de 2011

Proseando sobre... O Filme dos Espíritos


 Bom perceber que uma obra como o "O livro dos espíritos" de Allan Kardec não tenha sido ousadamente adaptado para o cinema, mas surgido como inspiração significando o impacto das palavras segundo os espíritos para algumas vidas. Isso não quer dizer que tal realização tenha sido uma concepção certeira de uma moral. Triste é especular o filme como finalidade mercantil exaltando a doutrina espírita como também as Casas André Luiz. Para fundamentar essa estrutura de teor comercial, vários personagens somam a história através de subtramas breves encaminhadas a um mesmo lugar.

Na direção a dupla André Marouço e Michel Dubret fazem um trabalho convencional, e tentam através de planos detalhe elaborar significados em imagens, como “O livro dos espíritos” numa estante ao lado de pensadores evocando a importância da obra em meio a ciência; o quadro cuja face de Jesus é revelado durante um desvelo; ou a pintura “A Criação de Adão” de Michelangelo ao fundo num escritório de um dos mais notáveis seguidores da obra de Kardec. Tal percurso explícito na narrativa são apenas minúsculos momentos adequados a temática transposta, e poderia ser grandioso enquanto um filme que busca se apoiar no livro base do espiritismo.

A narrativa escrita por André Marouço sofre para ser minimamente crível. Há um acumulo de histórias que se entrelaçam que até Guillermo Arriaga teria dificuldade para solucionar. A rapidez dessa tentativa só é dada através de desenlaces frívolos sem outras razões a não ser comover o público, especialmente os adeptos da doutrina. É natural que estes apreciem a obra uma vez que buscam ver exatamente o que o filme propõe mostrar. Trata-se de uma grande disseminação de tal ideologia num olhar altruísta cheio de mensagens em pró da vida num otimismo voluntário.

Bruno (Reinaldo Rodrigues) é um professor universitário sofrendo pela morte da esposa. Com ela, ele compartilhava um segredo, algo ressentido capaz de provocar ainda mais lamentações por um passado escolhido. Nesse ponto uma temática polêmica é levantada e discutida seguindo os preceitos da filosofia espírita. Há uma resolução numa cena durante uma sessão de grupo proposta pelo Dr. Levy (Nelson Xavier) ligando o passado e o presente de um personagem caça níquel referente ao tema. A maneira utilizada pelo diretor em conciliar o significado da ação neste ato é embaraçosa e deslocada.

Se o roteiro falha, os aspectos técnicos também não oferecem muita coisa, entregando-se ao lugar comum sem inovações. A maneira de exibir o desalento de seus personagens através do excesso, como Bruno e suas constantes bebedeiras, ganham força pela fotografia turva e pela direção artística buscando sombras. A vida obscurecida celebra a luz através do esclarecimento, da influência aspirante propagada, do livro velho passando de mão em mão oferecendo conforto.

Sem complexidade e cheio de mensagens perdidas pelo exagero de sua composição relacionada às várias histórias cruzadas, “O filme dos Espíritos” deixa de ser uma homenagem a obra de Allan Kardec para soar como um produto da doutrina espírita com potencial de angariar novos adeptos. Não quer dizer que o longa tenha sido feito unicamente com este propósito, mas custa crer no contrário a esta hipótese devido sua inferência fílmica e fragilidade em contar uma história onde a força se dê também no seu desenvolvimento, dispensando as precipitações das conclusões determinadas.

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