O novo sucesso de bilheteria nacional é “Bruna Surfistinha”, filme que retrata um pouco a vida de Raquel Pacheco, filha de pais adotivos de classe média alta paulistana que está disposta a vencer frustrações do cotidiano e conquistar autonomia. O caminho que encontra para isso é a prostituição. Adaptado a partir do livro “O Doce Veneno do Escorpião” escrito pela própria Raquel, o longa inicia resgatando cenas do passado da garota intercalando com seu presente, sua aproximação da casa de prostituição, seus primeiros clientes e sua hegemonia que meses depois lhe glorificaria ao mesmo tempo em que lhe seria corrosivo. Seu dia a dia passou a ser retratado num blog recebendo mais de 10.000 visitas diárias e comentários desejosos de homens que economizavam por meses para passar uma noite com Bruna Surfistinha, codinome de Raquel.
O filme possui várias cenas de sexo e como não tê-las? Ao tratar da vida de uma prostituta cujo sexo é o responsável por seu sucesso, este não poderia ficar de fora acontecendo em cena por longos momentos e com vários homens. É o fio condutor da narrativa e através dele conheceremos a fragilidade de uma garota perdida em suas ambições. Nesse percurso sexual, é importante frisar, embora ainda seja tratado com algum humor pelo roteiro, traz uma temática séria ao abordar escatologias, perversão e fetiches que sugerem humor ou nojo, ou para os mais solidários, pena. É interessante como o roteiro expõe os prazeres e a composição proposta pelo diretor Marcus Baldini demonstra de forma recortada e breve o prazer urgencial que os clientes procuram naquela única hora com Surfistinha.
Baldini se revela burocrático na direção fazendo o básico sem aprofundamentos na história – embora essa tenha quase duas horas de projeção – e ignora circunstâncias do passado como a humilhação de sua protagonista no colégio, sua relação com os pais e irmão e a cleptomania que parece atingi-la compreendida por quem vê como uma reação à frustração. Tudo isso aparece em brevíssimos momentos no longa. O interesse do filme é outro: a prostituição como oportunidade de se dar bem na vida. Nesse caso, Bruna tem o auxilio de um blog que funciona como um diário e este lhe vende. É difícil assistir o filme e não recordarmos de Catherine Deneuve em “A Bela da Tarde” que vai parar opcionalmente numa casa de prostituição por motivos distintos aos de Bruna, ou fazer uma ponte com alguns filmes de nossa cultura como “O Céu de Suely”, “Falsa Loura” e recentemente com “Sonhos Roubados”. Entre tantos, principalmente, “Bruna Surfistinha” faz recordar o ótimo “Nome Próprio” devido a fama adquirida pela protagonista através de blogs.
E quem rouba a cena nessa história é Deborah Secco numa atuação marcada por sua lascívia já no primeiro ato quando num plano exibicionista incita o voyeur – ainda que distante daquela que mais tarde irá se tornar . Após conheceremos uma jovem insegura de si considerando-se a garota mais feia do colégio. De início, nada trás de sensual em seu cotidiano sempre vestida com roupas largas e com postura desajeitada. Sua personagem sofre uma grande mudança, exigência de sua nova condição e desabrocha nua frente à câmera sem pudores. Sua conduta é acertiva, a atriz ganha atenção não por ficar nua e transar com filas de homens – despertando imaginação em alguns que vão ao cinema unicamente para vê-la desnudar – mas por seu desempenho dramático exigido em vários atos.
A contemplação visual incita e recrimina preconceitos, uma vez ser um filme simples – pouco intenso – mas conveniente a sua pretensão. Esse “Bruna Surfistinha” trata com sinceridade o tema da prostituição e faz refletir trazendo idealizações de mulheres que decidiram largar tudo para tornar-se prostituta. O assunto é fértil e temos visto cada vez mais em destaque. Como exemplo dos últimos anos temos a ex-prostituta Gabriela Leite que largou o curso de sociologia na USP e decidiu virar prostituta ficando famosa mais tarde com a grife Daspu e o livro de memórias “Filha, mãe, avó e puta”. São exemplos brasileiros de mulheres que convivem com a resistência e preconceitos se submetendo a perigos e humilhações, e lutam para o reconhecimento dessa profissão vista por alguns como uma das mais antigas de nossa história.
Ótima prosa! rs
ResponderExcluirRealmente você citou tudo que eu analisei do filme e um pouco mais, hehehe
Eu também achei o filme um tanto quanto longo, e por isso poderia aprofundar em alguns temas mais dramáticos como os que você citou, mas pelo jeito esse não foi o foco do diretor, mas de qualquer forma acredito que o filme conseguiu atingir seu objetivo.
Sabem porque as outras escolhidas para fazer o filme não aceitaram? quando viram que teriam que representarem com muitas cenas de sexo e viverem como prostitutas num bordel, cairam fora. Mas Deborah Secco...é com ela ela mesma esse tipo de situação. Caiu bem para ela. O seu tipo, a fala, o seu corpo, é como se ela própria fosse a Raquel. Tem mulher que é assim maesmo: dentro de quatro paredes, na vida real, é amesma coisas de uma prostituta...e Deborah não fica para trás...
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