O suspense “O Ritual” se arrisca em caminhos perigosos ao trazer como temática o exorcismo e procura se segurar ao máximo no embate ciência e religião reservando cenas assustadoras para quebrar a discussão que por vezes se acentua. O perigo reside na elaboração de seu fato, argumento baseado na obra de Matt Baglio, nos avisando logo no início que é inspirado em fatos reais reforçando o temor daqueles aversivos a filmes dessa categoria. Funciona em sua pretensão de causar temor e sufocar o público, e se mostra inteligente nos artifícios que visam se desprender de filmes conhecidos do gênero, mas o clímax distante desagrada reservando surpresas nada surpreendentes que acabam dando certo somente graças a Anthony Hopkins que potencializa seu personagem com gritos, sussurros e expressões perturbadoras.
O que se sucede é conhecido: um cara descrente que terá provações. Michael Kovak (Colin O'Donoghue) é um jovem que cresceu assistindo o pai arrumar mortos para velórios. Carrega a lembrança da mãe morta quando ainda era criança e costuma relembrar dos poucos momentos que passara com ela. Essas recordações seguem sendo os únicos momentos iluminados da turva história, caracterização do diretor (Mikael Håfström (“1408”) que impõe algum brilho na vida escurecida de seus vários personagens. Segue-se crises de fé e de confiança culminando num aprendizado determinante em Roma: o exorcismo. Lá o jovem anteriormente decidido a abandonar o celibato conhece o pouco ortodoxo padre Lucas (Hopkins) e a jovem curiosa Angeline (Alice Braga numa participação menor que a esperada). O filme nos possibilita conhecer alguns locais de Roma, sua arquitetura e um pouco de sua cultura em volta da fé.
Funcional em sua proposta, o longa discute religião rebatendo crenças científicas e prováveis transtornos mentais dos possuídos, e também diverte assustando com os surtos de seus personagens utilizando vozes alteradas, arranhões, olhos fundos e pele quase necrosada dispensando vômitos e levitações – em certo ponto há uma piada sobre isso referente ao clássico “O Exorcista”. Para os religiosos, o filme é uma condecoração do poder da fé mostrando aos demônios e a qualquer outro que quem manda é quem está lá em cima. Já os céticos e niilistas se tornam onipotentes com a relevância que o filme dá a fé e aos exorcismos comparando aos métodos psiquiátricos. Bom como distração, este “O Ritual” termina sendo uma grata surpresa dentro de um gênero tão desgastado quando este, mesmo carecendo de abordagens inovadoras e não fissuradas no embate ciência x religião, ao menos não de um modo tão frouxo como esse conflito costuma ser exibido.
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