quarta-feira, 23 de março de 2011

Proseando sobre... Violência Gratuita (2008)


Quando assisti "Laranja Mecânica" de Stanley Kubrick, pensei ter vivenciado uma experiência perturbadora única de fundo psicológico que viria a me motivar pensar razões pelas quais pessoas se inseririam de forma abrupta numa esfera de violência como Alex de Large e seus amigos fizeram. Em 1997 surgiu "Violência Gratuita" de Michael Haneke, outro flerte certeiro sobre crueldade contra o humano. Um bom tempo depois, o próprio Haneke dirigiu um remake de sua própria obra num contexto novo e com caras novas. Nas locadoras, uma flagelante história perturbadora, paradoxal, angustiante e admiravelmente cruel.

Dois jovens sem razão aparente decidem praticar jogos sádicos com uma família que desejava passar as férias numa casa em Long Island. A visita inesperada da dupla vai causar transtornos emocionais não somente nos personagens como também no público. Não são todos que assistirão o filme até seu final. O que sem dúvidas vai deixar o espectador totalmente aflito é a ausência de trilha sonora evocando o ambiente e seus ruídos. Tudo é penoso nessa obra. O silêncio que por várias vezes domina serve como um atrativo psíquico raro em filmes do gênero que, por sua vez, remete a uma tortura aflita da parte de todos prendendo a atenção dos mais dispersos e fazendo o botão stop do controle ser usado com maior frequência. Não há como julgar o que estamos vendo, o filme quer isso e nesse nosso voyeurismo, apenas sofremos juntamente.

Quem conhece um pouco melhor o trabalho do alemão Michael Haneke sabe o que se pode esperar de um filme roteirizado por ele: muita aflição combinado com mistérios revelados em detalhes. Seu trabalhos anteriores justificam esse combinado. "Caché", de 2005, exige muita atenção do público enquanto "O Vídeo de Benny", de 1992, o hediondo prevalece claro e desnudado. Tudo é incômodo em “Violência Gratuita” e raramente vivenciamos algum momento de passividade durante a exibição. O que Haneke quer é que soframos junto a seus personagens e consegue à medida que o longa avança tornando cada ato mais acerbo. A presença de uma criança fortalecendo a angústia proposta não é um mero acaso.

A dupla escolhida propensa ao sadismo é vivida com autoridade por Michael Pitt e Brady Corbet que despertam um verdadeiro mal estar e impedem os mais sensíveis de continuarem assistindo. A proposta do longa por vezes não é entendida, e há quem o condene por ser violento demais. Ei, o título nacional já adiantou. Quer acompanhar o que se sucede quando dois jovens cuja irascibilidade é alimentada através de jogos julgados divertidos? Confiram. Eis uma promoção com situações de verdadeiro terror. Tim Roth e Naomi Watts fecham o elenco vivendo o casal que sofre nas mãos da dupla dignificando os papéis de vítimas. Belo enquanto cinema, – veja, enquanto cinema – o longa vale ainda como um objeto de estudo. É um ensaio sobre a violência na forma mais deplorável não tendo a pretensão de agradar, e sim, incomodar. Olhares direto para a câmera ao longo da projeção quase pede para que nós, espectadores, julguemos os dois rapazes por seus atos.


Um comentário:

  1. Interessante, já ouvir falar sobre esse filme, mas nunca me interessei em saber detalhes ou assistir, agora fiquei curiosa...parabéns pelo blog super organizado e a postagem bem detalhada.

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