segunda-feira, 7 de março de 2011

Proseando sobre... Bravura Indômita

 
Resgatando o velho western, esse “Bravura Indômita”, refilmagem do original homônimo de 1969 estrelado por John Wayne, tem o primor de explorar seus personagens de modo prático subvertendo o maniqueísmo tradicionalmente empregado em filmes vinculados a faroeste, transformando-o não só num exemplo atual dinâmico e tecnicamente rebuscado, mas num filme de essência poderosa conquistada pela excelência de uma direção magnífica dos populares irmãos Coen.  Sugerindo logo em seu início uma rebeldia incontrolável de uma protagonista jovem sedenta por vingança, o longa engata um teor melancólico num contexto rural traduzido na sobriedade da adolescente Mattie Ross (Hailee Steinfeld) em determinar um objetivo de vingança e pouco se importar com qualquer conseqüência. E tudo é melhorado pela composição dessa persona jovial trajando roupas maiores a seu número o que, por óbvia dedução, carrega as roupas de seu pai, assassinado covardemente por Tom Chaney (Josh Brolin).

Acompanharemos a jornada de Ross fazendo negociações de maneira ousada e instigante (nos perguntaremos, quantos anos essa menina tem mesmo?); e também recrutando homens que possam vingar a morte de seu pai. Suas escolhas são questionáveis, principalmente quando conhecemos o caçador de recompensar Rooster Cogburn (Jeff Bridges) normalmente largado em pequenos espaços juntamente a garrafas de bebida alimentando sua profunda adicção o que nos leva a crer que, aquele homem, naquelas circunstâncias, talvez não seja a pessoa ideal para acompanhar a garota. Isso surpreende. Bridges que em 2009 viveu um cantor de música country alcoólatra agora vive um matador que nunca dispensa o álcool. Suas palavras cuspidas e trejeito capenga creditam um personagem despretensioso e por várias vezes não levado a sério diante seu histórico de ações. Ao lado da dupla, o oficial LaBoeuf (Matt Damon) atravessa estados em busca de Chaney numa postura mais fina e controlada que o personagem de Bridges, o que renderá boas intrigas.

O trabalho dos Coen é sensato e recheado de detalhes que o fazem gigante, explorando, mais do que qualquer outra coisa, a persona de seus tão bem caracterizados personagens. E as paisagens reforçam e deslumbram, nesse clima western, aprazível aos olhos, são representadas pela beleza tradicional da fotografia de Roger Deakins. “Bravura Indômita” é mais um acerto na larga e bela carreira dos Coen que não abandona aqui uma de suas principais características, o humor negro. Ele constantemente ocorre, seja nas sacadas de seus personagens, nas discussões ou na composição de seu vilão vivido por Brolin. Seu complexo e figuração faz do personagem um dos grandes trunfos do longa, uma vez que, esperamos boa parte do filme para seu aparecimento com expectativa de encontrarmos uma profunda ameaça resultante de violência abrupta. Nesse cenário e percurso, este é um trabalho bastante feliz que retorna ao filme de gênero western colocando uma adolescente feminina no centro. E que metáfora a inserção dela nesse contexto opressor e perigoso com sua queda num ninho de cobras.   

Um comentário:

  1. Esse filme realmente é ótimo, foi revê-lo no cinema hoje mas já não estava mais em cartaz...

    Apesar de ser bem diferente (pelo menos ao meu ponto de vista) de "Um Homem Sério" e "Onde os Fracos Não Tem Vez", uma pena não ter sido ele o destaque no Óscar, no lugar do Discurso do Rei.

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