quinta-feira, 10 de março de 2011

Proseando sobre... Onde Vivem os Monstros



 “Eu tenho um destino para a solidão...”

Bem mais sério do que parece, "Onde vivem os Monstros", disponível em DVD, fala da infância e de seus conflitos de modo fantástico, expressando com sensibilidade as diversões e atitudes de Max (Max Records), logo no início, ao brincar com um cachorro, atirar bolas de neve nos amigos da irmã e fugindo de casa após brigar com a mãe. As tentativas de chamar a atenção articulada as brincadeiras, afeições e carências, sofrem com privações, rompendo com júbilos infantis dando lugar a revoltas, culpa e melancolia. Somando frustrações, Max encontra consolo em um mundo idealizado, num cenário triste, confrontando o mar furioso, uma floresta escura e um deserto. Nesse lugar vivem monstros. Esses monstros, grandes e gordos, acolhem o menino como um rei, depositando nele a possibilidade de ordenar e creditando a chance de fazê-los felizes.

A imaginação vai longe com Max criando junto aos monstros um reino que julga perfeito, porém, logo é obrigado a confrontar com responsabilidades e obrigações que o fazem questionar suas próprias condutas aversivas – e por vezes desafiadoras e perturbadoras – a sua família. Sua birra sobre a mesa de jantar e sua fúria após ter seu iglu destruído tornam-se menores frente sua nova condição, não correspondendo as expectativas de seus dependentes, os quais em outro momento ameaçavam lhe engolir. Esse universo fabuloso e exótico foi concebido pelo diretor promitente Spike Jonze, trazendo recursos visuais que não só exaltam um mundo fictício, mas que dá forma a significados explícitos, simbolizando a infância e o quão difícil pode ser vivê-la. Jonze é um diretor jovem e um dos mais promissores dessa geração. Está sempre por trás de longas bastante originais (para não dizer estranhos), casos do ótimo “Quero Ser John Malkovich” e do bem sucedido “Adaptação”. Dessa vez traz uma metáfora da infância, baseada no livro de Maurice Sendak, mergulhando de cabeça numa fantasia amena juntamente ao roteirista Dave Eggers (Por uma vida melhor).

Fantasia

Surgindo como uma fábula, o filme traz brevemente a rotina de Max brincando sozinho em casa e na escola entre amigos, procurando ser o centro das atenções de maneira infantil, natural de sua idade. Para confrontar tudo que lhe cerca, Max elabora um mundo perfeito: uma terra sua em que esteja no centro sendo admirado por todos. Chega até ela de barco enfrentando um mar tempestuoso, imediatamente após brigar com a mãe. Passado esse momento de raiva, Max, agora introspectivo, pensa no que fez e encontra num plano de natureza onírica, numa floresta escura, monstros. Não demora muito para o garoto interagir com eles, ganhando respeito através de mentiras. Cada um daqueles monstros reflete alguns de seus conflitos diários como insegurança, incerteza, inveja, raiva entre outros. Unido àquelas criaturas fantásticas, o menino vive situações conferindo as ações do mesmo no dia a dia em sua vida real, e tem a idéia de construir um forte que abrigue somente ele e seus novos amigos, como desejaria em casa, uma vez que disputa a atenção com quem está fora: os amigos da irmã e o namorado da mãe.

Não é um engano a compreensão de que Max tem, entre todos os monstros, algumas preferências, como Carol e KW, respectivamente representando a si próprio com sua desordem e inquietação, e as representações femininas de sua vida (irmã e mãe). Mergulhado em simbolismos, "Onde vivem os Monstros" deixa de ser um filme juvenil para atrair adultos com situações extraordinárias realizadas magnificamente. A fotografia de Lance Acord dá um clima triste a narrativa da mesma forma que as trilhas da dupla Carter Burwell e Karen Orzolek combinam alegria e melancolia. Atores como Paul Dano, Catherine O'Hara, Forest Whitaker e Chris Cooper emprestam suas vozes aos personagens enquanto Mark Ruffalo surge numa ponta enquanto Catherine Keener vive a mãe do menino. Preciso em sua proposta, é um filme indispensável sobre a infância e as dificuldades desse período.  



Um comentário:

  1. Salve Poços! Marcelo, justiça seja feita: Poços de Caldas é uma cidade pra lá de linda! Foi aí que conheci no ano passado os ilustres Rubem Alves e Milton Hatoum. Porém mais do que tudo isso, Poços possui uma bela blogosfera, onde encontrei durante uma blogagem um cara que curte escrever tanto quanto eu e possui uma foto de perfil pra lá de mágica. É o jovem Messias Daniel editor do prisioneirodasolidão.blogspot. Confira e confirme.

    Convido-te também para que leia e comente no http://jefhcardoso.blogspot.com/

    “Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso.” (Jefhcardoso)

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