O clima é western. Sugeriria até o assobio de “Três Homens em Conflito” para iniciar este texto. E como um belo western, possui paisagens fascinantes, desde o deserto empoeirado e seco, até o por do sol que banha cânions, propriedades velhas e rostos cansados e sedentos. Ali vários personagens convivem sofrendo com o calor. Costumam se acomodar em saloons mantendo a esperança que as coisas possam melhorar – esta esperança é mantida por um líder local. Não se trata de pessoas, se trata de animais dos mais variados, os adaptados a um clima tão hostil. Nessa cidadezinha quase esquecida próxima a uma rodovia, são surpreendidos pela visita de um camaleão perdido que adota o nome Rango – até faz recordar, mas não é Django – e conta histórias imaginadas de um passado heróico longe ter realmente acontecido.
Rango acidentalmente é lançado no meio de uma rodovia movimentada imediatamente após conhecermos sua solidão num aquário onde uma boneca quebrada funciona como seu par romântico. De início reconheceremos a criatividade e inventividade desse réptil criando situações para fugir de sua desolação e solidão. Seu vazio é questionado o tempo todo enquanto busca respostas existenciais. Sozinho vagando por um deserto, encontra uma pequena comunidade e se dirige até o saloon. Os olhares ameaçadores dos animais presentes lhe fuzilam. A chegada de um forasteiro irá mudar aquele lugar.
“Rango” impressiona pela concepção de seus personagens desenhados com detalhes significativos que evocam sem dificuldades sentimentos através de expressões atormentadas e sofridas. Vários são os animais inseridos nesse contexto pacato carente de água. Esta está cada vez mais rara. São vários dias sem uma única gota e esse esgotamento começa a causar desconfiança entre os moradores. Rango, então, entra em cena como a possibilidade de fazer alguma diferença principalmente por alimentar a esperança dos animais com suas histórias e com um ato de coragem que contou muito mais com a sorte do que com bravura. Se configura, assim, um autêntico faroeste que irá recordar vários filmes passando por Sergio Leone a John Ford, visitando também outros gêneros como homenagem sendo o grande momento uma longa cena de perseguição num cânion recordando o ataque aéreo de “Apocalypse Now” enquanto toca “The Ride Of The Valkyries” de Wagner.
Dirigido por Gore Verbinski (da franquia “Piratas do Caribe”, “O Chamado”), o filme se desenvolve com naturalidade sempre se encontrando com referências. Verbinski que parece nunca se concentrar a um único gênero, acerta a mão nessa animação divertidíssima apoiando-se no design de produção primoroso da empresa de George Lucas, a “Light & Magic” que parece vir rivalizar com a Pixar. O filme também é feliz em sua trilha assinada por Hans Zimmer, e ainda iremos apreciar em vários momentos quatro corujas mexicanas cantarolando. “Rango” é uma diversão tanto para adultos quanto para crianças e quem tiver a sorte de vê-lo nos cinemas com a língua original poderá ainda encontrar outra lembrança proposta tanto na concepção de seu personagem título como naquele que lhe empresta a voz, no caso, Johnny Depp. Quem assistiu “Medo e Delírio” irá saber do que se trata.
Apenas visualmente bonito, pois de resto é muito chato.
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