sexta-feira, 18 de março de 2011

Proseando sobre... Scott Pilgrim Contra o Mundo



“Scott Pilgrim Contra o Mundo” parece ser um filme para não se levar a sério. Mas como não, é preciso siiiim. Tudo que ele não consegue ser é um filme clichê. Mais um dessas centenas por aí que tentam sem sucesso adaptar quadrinhos. Aqui, mais do que quadrinhos, parece um vídeo game e não estranhe se ao final ficar a vontade de procurar algum console. É um filme de fantasia, isso fica manifesto; também é um filme de amor, embora não pareça. E nele há formas de amor: a dedicada ao outro e o amor próprio, este segundo, quase vencido, é racionalizado, defendido pela ternura do temor de se entregar e da insegurança após o término de uma relação.

O filme centra em Scott Pilgrim, um baixista, participante de uma banda procurando quem a ouça. Ele é vivido por Michael Cera, um nerd de tantos outros filmes e aqui não é diferente. Sem qualquer pose máscula, com uma fala enrolada e lenta, o protagonista é um tipo que consegue ter atenção de algumas garotas, sobretudo de uma garota asiática mais jovem que se apaixona perdidamente – e note que ela se entrega a ponto de redescobrir um ídolo em algo que pouco teve acesso durante a vida, a música. Sua histeria pela banda denuncia seu descontrole de modo exagerado, no entanto suficientemente divertido. Mas Scott não é apaixonado por ela, e ainda vindo de uma frustrante relação amorosa, procura na garota uma possibilidade de esquecimento. Sem sucesso.

A coisa toda vai mudar. Seu coração reacende quando vê uma jovem de cabelos coloridos, a hardcore Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) e tenta uma aproximação de maneira constrangedora sobre a histórica do pacman. Sua investida sobre a jovem caminha e surpreende, e a forma como ele procura viabilizar a relação chama a atenção. Quando consegue – sim, naturalmente consegue – ele se vê diante um outro problema, um problema enfrentado na realidade por alguns casais: os ex! E aqui Ramona não só possui uma legião de ex-namorados, mas 7 ex-namorados ditos do mal que infernizarão a vida de Scott. O que já era inverossímil, vira uma brincadeira e somos convidados a fazer parte dela como se pegássemos um gibi e tudo saltasse em nossos olhos.

Por traz da história tão bem narrada – o roteiro da dupla Michael Bacall e Edgar Wright é estimulante – há uma alegoria dramática sobre as dúvidas e inseguranças de relacionamentos e suas inconstâncias. Para isso, se explora a vida amorosa do amigo gay de Scott que se aventura com diferentes caras, incluindo o namorado da irmã do protagonista, Stacey Pilgrim (Anna Kendrick) que manifesta outro indicativo romântico problemático. Mas o cerne está com o personagem de Cera e de Winstead, a segunda, tem uma vida repleta de romances que nada se parece com uma relação amorosa e isso fica claro nos diálogos propostos. A direção é de Edgar Wright (do engraçadíssimo “Chumbo Grosso”) e o cara retorna por trás das câmeras pra conceber um filme triste dentro da perspectiva cinematográfica – detalhes de locações e a neve – e otimista em seus acontecimentos. A montagem do filme é esplêndida. Não se pode deixar de notar os tipos de seus personagens e o duelo final com o comumente engraçado Jason Schwartzman vivendo o vilão absoluto, numa pose recreativa quase ilusória em sua composição enquanto líder do mal – é a representação de mais um dos leões que Scott tem de matar por dia para se reconhecer. 


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