sábado, 12 de março de 2011

Proseando sobre... O Discurso do Rei


“O Discurso do Rei” se passa na década de 30 na Inglaterra, anos que antecediam a 2º grande guerra. O Rei George VI assumiu o trono do país após a renuncia do irmão Edward VIII (Guy Pearce) que pretendia se casar com uma mulher divorciada. Eram tempos em que a comunicação através do rádio se expandia favorecendo pronunciamentos e discursos, algo que levou líderes a comunicarem-se constantemente com a população. Essa facilitação era um problema para George VI que, sofrendo de gagueira nervosa que se intensificava frente a um grande público, teve de se virar e contornar tal situação, porém, cada vez mais exigido, seu problema tinha de ser revertido o quanto mais breve possível. 

Dirigido pelo inglês Tom Hooper de uma maneira bastante burocrática, o longa extasia pela segurança narrativa e pela motivação propagada. É um daqueles filmes que começam e terminam num ritmo leve levando lições de humanidade e de perseverança deixando o espectador com um sorriso no rosto e satisfeito. Isso não fará do filme inesquecível, mesmo tendo ganho o Oscar nas principais categorias. Convenhamos, boa parte de seus concorrentes eram muito melhores. E Hooper? Sua direção pouco atrativa quase não acrescenta a história que é conduzida com competência, mas sem qualquer ousadia ou destaque. O diretor cria planos comuns, é excessivo nos travellings e cadencia um ritmo o qual por vezes nos esgota (principalmente quando relacionados ao tratamento proposto).

O destaque fica por conta das atuações e do design de produção.

O Rei George VI vai em busca de um tratamento e encontra o fonoaudiólogo Lionel Logue cujo método nada ortodoxo é visto a princípio com olhos desconfiados, se convertendo logo após numa relação quase analítica transformando a dupla em confidentes íntimos. Essa relação se dá organicamente, mérito não só do roteiro bem amarrado de David Seidler, mas dos atores que compõe grandes personagens como Geoffrey Rush vivendo Logue, o ator credita uma performance cômica e diligente ao fonoaudiólogo enquanto Colin Firth entrega uma atuação deslumbrante vivendo o protagonista. Suas falas nos angustiam com a gagueira lhe acometendo como um transtorno e perceba que não nos identificamos apenas com seu problema, mas com seus gestos e bondade, evocando um personagem muito maior que aquele que sofre por gagueira, mas também por outras angústias lidando com elas com uma naturalidade cativante.

Há quem atire pedras por não mencionarmos Helena Bonham Carter, indicada ao Oscar por viver a Rainha Elizabeth, esposa de George VI, responsável direta pelo tratamento do marido. Carter oferece um desempenho bastante diferente do que estamos acostumados a conferir, sobretudo em relação às obras do marido Tim Burton – e isso talvez tenha sido determinante para sua indicação. Já o que deslumbra nessa obra de Hooper são seus artifícios técnicos, a recriação de Londres na década de 30, estonteante. O figurino correspondente e a trilha fortalecem ainda mais a obra poderosa do ponto de vista técnico.

O cinema emociona e provoca, é sua função e ele é extraordinário por isso. Este “O Discurso do Rei” visa muito mais a emoção, empolga e inspira como outros filmes fazem. O diferencial aqui é a realização coesa, o que explica tantos elogios, mas para vencer o Oscar de melhor filme e melhor direção era preciso muito mais.


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