segunda-feira, 28 de março de 2011

Proseando sobre... A Fita Branca



O pré nazismo é ressaltado através de uma sociedade cuja utopia é registrada pelo tradicionalismo religioso que motiva segregações, humilhações e violência. O cineasta alemão Michael Haneke – diretor do oscarizado Amor (Amour, 2012) – explora o universo de uma Alemanha antes da segunda guerra, centrando nos acontecimentos de uma pequena vila dominada por um barão. O provincianismo se enaltece. Malevolências acontecem e ações desumanas preocupam os moradores tementes locais. Mergulharemos num filme de hipóteses e referências moldadas por uma abordagem bruta e crítica. No filme, que motivação tal civilização tem para tomar as aversivas condutas as quais testemunhamos? Quem se responsabiliza pela atrocidade social investida no universo religioso retratado? Haneke incita sem medo e explora o homem a sua maneira: pessimista, subversiva e violenta.

A Fita Branca é um trabalho competente e penoso, fruto de um diretor cuja filmografia prioriza a agressividade humana produzida em prol de um bem próprio. Quem acompanha o cinema de Haneke conhece suas particularidades e suas tomadas minuciosas. Aqui o cineasta investe profundamente em seus personagens e exibe com frieza a dinâmica de uma civilização provinciana em formação, mostrando as mulheres inferiorizadas e as crianças punidas por conta de atitudes incondizentes as crenças de seus líderes. A motivação é dogmática. A fita branca, aliás, destaca a personalidade das crianças e adolescentes, significando um símbolo de transição para a maioridade, ou, como acreditam, a responsabilidade – usar a fita é um símbolo de inocência e perdê-la é um propósito almejado. Signo de maturação.

A fotografia contribui com os detalhes físicos, as locações sufocantes em tomadas fechadas, o clima pesado e o aparato P&B é atraentíssimo, funcionando para as pretensões do diretor em salientar o medo com seus princípios. As atuações de modo geral edificam, principalmente pela imponência rígida do ator Ulrich Tukur que vive o barão líder da comunidade.

O filme retrata um modo de funcionamento social cujo resultado foi conhecido na segunda guerra. A intolerância é denunciada partindo de geração para geração, vista nas cenas onde punidas, as crianças se ressentem com privações e crescem numa redoma castradora e pungente; e dessa forma, no longa, terminam como suspeitas dos estranhos acontecimentos recentes naquela região. Com um olhar investigativo, a esperança paira sobre um professor – aparentemente o único naquela comunidade – que em seu estudo passa a compreender aquela gente que convive com um aprendizado oprimido em nome da fé. Questionamentos são blasfêmias.  

Esse professor ainda vive uma paixão, numa representação sensível da hierarquia imposta, após se declarar para uma babá e tempos depois pedir a mão da jovem em casamento. Ele depara-se com duras condições para tal aceitação. O custo é ponderado. Desconstruído em cena, esse ideal denunciado por Haneke é um registro histórico poderoso cuja metáfora poética narrada explicita o homem e seus valores obsoletos, não tão distantes de alguns fundamentalistas que acompanhamos todos os dias em escândalos. O crime em nome da fé é um crime como qualquer outro.   



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