O pré
nazismo é ressaltado através de uma sociedade cuja utopia é registrada pelo
tradicionalismo religioso que motiva segregações, humilhações e violência. O
cineasta alemão Michael Haneke – diretor do oscarizado Amor (Amour, 2012) – explora o universo de uma Alemanha antes da
segunda guerra, centrando nos acontecimentos de uma pequena vila dominada por
um barão. O provincianismo se enaltece. Malevolências acontecem e ações
desumanas preocupam os moradores tementes locais. Mergulharemos num filme de
hipóteses e referências moldadas por uma abordagem bruta e crítica. No filme,
que motivação tal civilização tem para tomar as aversivas condutas as quais testemunhamos?
Quem se responsabiliza pela atrocidade social investida no universo religioso
retratado? Haneke incita sem medo e explora o homem a sua maneira: pessimista,
subversiva e violenta.
A Fita Branca é um trabalho competente e
penoso, fruto de um diretor cuja filmografia prioriza a agressividade humana
produzida em prol de um bem próprio. Quem acompanha o cinema de Haneke conhece
suas particularidades e suas tomadas minuciosas. Aqui o cineasta investe
profundamente em seus personagens e exibe com frieza a dinâmica de uma
civilização provinciana em formação, mostrando as mulheres inferiorizadas e as
crianças punidas por conta de atitudes incondizentes as crenças de seus
líderes. A motivação é dogmática. A fita branca, aliás, destaca a personalidade
das crianças e adolescentes, significando um símbolo de transição para a
maioridade, ou, como acreditam, a responsabilidade – usar a fita é um símbolo
de inocência e perdê-la é um propósito almejado. Signo de maturação.
A
fotografia contribui com os detalhes físicos, as locações sufocantes em tomadas
fechadas, o clima pesado e o aparato P&B é atraentíssimo, funcionando para
as pretensões do diretor em salientar o medo com seus princípios. As atuações de
modo geral edificam, principalmente pela imponência rígida do ator Ulrich Tukur
que vive o barão líder da comunidade.
O filme
retrata um modo de funcionamento social cujo resultado foi conhecido na segunda
guerra. A intolerância é denunciada partindo de geração para geração, vista nas
cenas onde punidas, as crianças se ressentem com privações e crescem numa
redoma castradora e pungente; e dessa forma, no longa, terminam como suspeitas
dos estranhos acontecimentos recentes naquela região. Com um olhar investigativo,
a esperança paira sobre um professor – aparentemente o único naquela comunidade
– que em seu estudo passa a compreender aquela gente que convive com um
aprendizado oprimido em nome da fé. Questionamentos são blasfêmias.
Esse
professor ainda vive uma paixão, numa representação sensível da hierarquia
imposta, após se declarar para uma babá e tempos depois pedir a mão da jovem em
casamento. Ele depara-se com duras condições para tal aceitação. O custo é
ponderado. Desconstruído em cena, esse ideal denunciado por Haneke é um
registro histórico poderoso cuja metáfora poética narrada explicita o homem e seus
valores obsoletos, não tão distantes de alguns fundamentalistas que acompanhamos
todos os dias em escândalos. O crime em nome da fé é um crime como qualquer
outro.
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