quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Lixo Extraordinário


Documentários reservam surpresas soberbas. “Lixo Extraordinário” é extraordinário por sua sutileza em tratar o dia a dia de catadores de lixo do maior aterro sanitário da América Latina em Duque de Caxias, o Jardim Gramacho. A história de vida empolga, não no sentido de nos identificarmos com a situação desses trabalhadores em tal contexto, não o invejamos, nos surpreendemos e essa sensação causada pelo filme é um ode, pois fala de vidas consideradas por alguns como classe ordinária e encontramos em seus sorrisos sinceridades que não vemos em muita gente que tem muito mais do que eles. Com “Lixo Extraordinário” aprendemos arte e também a ver felicidade na simplicidade e que sim, apesar de tudo, apesar das mortes, do odor, da dor, da doença, é possível tirar algo. E como esse pessoal que divide espaço com máquinas e urubus tem a ensinar. Não que eles sejam felizes, no entanto suas tolerâncias são um exemplo.  

A proposta é ousada: mudar a vida desses trabalhadores através da arte. É com esse discurso que o artista plástico Vik Muniz inicia seu projeto entrevistando alguns trabalhadores locais, ouvindo um pouco de suas vidas, suas ambições e seus desejos. Acompanhamos sempre atentos o que se passa naquele contexto e a realidade amarga e injusta que alguns são sujeitados. Não é para sentir pena, é vibrar com o orgulho daqueles que não tiveram oportunidade – ou sorte, como julga o filme. E isso por que? Porque eles não serão apenas peças do projeto de Vik, mas participantes, conceberão arte e ganharão com isso. É lançada a oportunidade de sair por uns dias daquele contexto e investir em outro assunto.


Os catadores de lixo, ou melhor, de materiais recicláveis, acompanharão o passo a passo da concepção de quadros feitos a partir de fotos tiradas enquanto trabalhavam. Num barracão as imagens das fotos são projetadas e as sombras são tomadas por lixo. A coisa toda fica esplêndida e como é bom acompanhar esse desenvolvimento, a conclusão do trabalho enche os olhos. A satisfação daquelas pessoas ao verem o que fizeram é tão evidente que emociona – as cenas finais denunciam esse prestígio ufano. Concluir essas imagens é só o início, o filme prepara uma viagem com grandes dimensões. Vik Muniz é um artista plástico e fotógrafo brasileiro de sucesso que mora nos Estados Unidos e é uma referência graças a sua originalidade. Sua história não está longe das contadas pelas pessoas que acompanhou durante as filmagens e a impressão final é otimista e satisfatória. Diante a chance de fazer diferença com o lixo, fica uma lição para todos referente a possibilidade de fazer arte com o que tem em mãos. Eis uma lição de conscientização.

99 não é 100, cabe a cada um fazer sua parte. Ok, isso fará mais sentido para quem assistiu o filme.



O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS DE CALDAS PELO MENOS ATÉ DIA 17 (QUINTA), ÀS 20h30. 

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