terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Proseando sobre... Além da Vida


Clint Eastwood encontra Alejandro González Iñárritu, ou melhor, utiliza das abordagens do segundo. Não entendeu? Assista “Babel” e “Amores Brutos” e isso fará todo o sentido. Nos cinemas está em cartaz “Além da Vida”, novo trabalho do aclamado cineasta Eastwood e este concebe um filme que ninguém apostaria ser de seu feitio. O filme sugere a hipótese do que é a vida após a morte através da mediunidade de seu protagonista. A visão dessa vida é sempre sintética e nunca fica clara ao espectador, trata-se apenas de uma instigação. Eastwood planta a esperança nos corações descrentes como também tira risos dos céticos. De qualquer maneira, seu filme vai causar alguma comoção seja lá qual for à crença de seu público.

Partindo de uma narrativa facetada onde 3 histórias se desenvolvem até se cruzarem, – ao melhor estilo do mexicano já mencionado Iñárritu – “Além da Vida” se revela aborrecido e pouco emotivo diante a expectativa que seu cartaz, sinopse, trailer e título indicam. Mas isso é um problema que deverá ficar restrito justamente aqueles que esperam sair do cinema após ter derramado lágrimas, tal como fora nos brasileiros “Nosso Lar” e “Chico Xavier”. Aqui a emoção é restrita a breves cenas, aquelas onde o personagem George (Matt Damon) estabelece contato com os mortos. Há também uma empolgantíssima cena inicial onde um tsunami varre uma região. É uma injeção de ânimo para sustentar quase duas horas de desalento.

Tecnicamente o filme tem suas qualidades, mas é difícil enxergá-lo como uma obra de Clint Eastwood. A religião nunca pareceu ser um de seus grandes interesses, e a crença exposta em seu novo trabalho colabora para pensarmos sobre os novos rumos da carreira do cineasta que completou 80 anos em 2010. O filme: George é um médium que vem querendo abandonar este poder de acessar o mundo dos mortos e assim levar uma vida comum; Marie (vivida pela ótima Cécile De France) é uma francesa que viveu a experiência de quase morte no tsunami e está decidida a escrever um livro do que vira durante os minutos que esteve morta; Marcus é um garoto que perdeu seu irmão gêmeo e quer a todo custo falar com ele. Situações levam esses 3 personagens a um inesperado encontro. E há ainda uma quarta, vivida pela talentosa Bryce Dallas Howard, que, senão ignorada pelo roteiro, não teve a importância que merecia.

Arrastado em mais de duas horas, o longa encontra tempo para tratar outros assuntos como a dependência química, fator fundamental para a direção da narrativa envolvendo os gêmeos. A sensação é de que falta algo, ou decepção por expectativa, no entanto, tem sua discussão bem estabelecida que é o poder da mediunidade e suas conseqüências. George é alguém que não encara a mediunidade como um dom, mas uma maldição, a qual a morte passou a ser mais importante que a vida. Ele não quer essa responsabilidade e tenta a todo custo se afastar dela, mas de várias formas parece impossível se livrar desse tormento com as pessoas sempre o encontrando. Há ainda o interesse, o abuso desse poder em prol de dinheiro, como seu irmão que insiste nesse comércio. Ótimas são as cenas que vários charlatões aparecem prometendo ter contato com os mortos. Esse é “Além da Vida”, uma reunião de breves e emocionantes cenas em meio a um arrastado limbo narrativo.


O FILME ESTÁ EM CARTAZ EM POÇOS PELO MENOS ATÉ DIA 10 (QUINTA), ÀS 15h00, 18h00, 21h00.

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