terça-feira, 29 de novembro de 2011

Proseando sobre... O Preço do Amanhã



 Quanta correria. E como não poderia ser, uma vez que o tempo move o mundo de todas as maneiras. O mercado não é abalado pelo dinheiro, mas pelo tempo, pelo valor deste, em seus minutos, horas, meses, anos. Um segundo vale tanto. Eis a moeda de troca pela sobrevivência. Os mais ricos detém séculos de vida, os pobres lutam por mais um dia. Dentro dessa lógica, “O Preço do Amanhã”, o mais novo trabalho do escritor e roteirista neozelandês Andrew Niccol, se prolonga trazendo um modelo de funcionamento hierárquico universal como metáfora a ganância insaciável dos poderosos.

As diferenças sociais sustentam uma trama deliberadamente agitada. De um lado, pessoas vivem de caridade, prostituição, roubos e caminham pelas ruas desviando de cadáveres como se fossem insetos; de outro, a coordenação desse universo, o controle dominado por uma minoria com potencial de ser imortal, uma vez que inspecionam a maior riqueza humana, o tempo. No longa, o homem conquistou um de seus maiores desejos, a fórmula da juventude. Eles conseguem paralisar o envelhecimento, e, seguindo uma ordem, aos 25 anos, as pessoas passam a contar com dias a mais de vida de acordo com sua prestação de serviço.

Se delonga uma discussão sobre a eternidade, com um primeiro ato apresentando o tema através de um sujeito centenário, questionando a morte, crendo que a mortalidade seja um bem. Bons personagens surgem acompanhando essa idéia e o filme emerge nesse conteúdo, porém atribui sua funcionalidade a um longa de perseguição. Não há qualquer esforço em explorar seus personagens, o roteiro não caminha com propósito de ressaltar quem são eles – alguns simplesmente desaparecem – e entrega personalidades mutáveis agindo em caráter impulsivo. Talvez isso funcione dentro da (im)possibilidade do tempo, a movimentação sugere precipitação e todos embarcam em tal plano.

Will Salas (Justin Timberlake) é morador de um gueto, luta diariamente pelo amanhã ao lado de sua mãe, Rachel (Olivia Wilde, sim, Olivia Wilde). O elenco é predominado por jovens. Em uma noite fatídica, decide fazer vingança e utiliza de um presente para tentar mudar as regras daquele meio. No caminho, um mar de referências quanto à percepção do tempo, desde piadas a desastres. Logo pinta um par romântico usual, Sylvia Weis (Amanda Seyfried, morena), filha de um milionário miserável, surgindo na trajetória de Will e resolvendo acompanha-lo numa fuga desenfreada, escapando da fúria de ladrões de bairro e dos implacáveis agentes do tempo, liderados por Raymond Leon (Cillian Murphy, ótimo em cena).   

Esses personagens, correndo indiscriminadamente, olhando preocupadamente o relógio marcado em seus braços, transmitem a energia hollywoodiana com seus exageros comuns – perseguições e tiroteios exacerbados –, pleiteando uma moral válida de um argumento hábil. Pena encostar aí, não indo além de uma mera aventura bem intencionada com seus justiceiros – uma versão de Bonnie e Clyde fugindo de rajadas de balas. Trata-se de um exercício de estilo com alguma profundidade, parecido com outros trabalhos de seu diretor, por exemplo, os bons “O Senhor das Armas” e “S1mone”. Há muito o que se fazer num dia, para quem não tem tanto tempo, um momento é substancial.  


Um comentário: