A era moderna atingiu o poder da imaginação das crianças. Acreditar em Papai Noel tem sido cada vez mais raro. Mas o espírito natalino ainda renasce à medida que o 25 de Dezembro se aproxima com suas luzes, conservando na população uma singela projeção esperançosa, como se o significado do Natal pudesse ser atingido. Esse espírito popularmente costumeiro já foi tema de incontáveis filmes, e não tão cedo deixará de ser. E é sobre ele que o competente estúdio inglês Aardman apóia sua nova investida, trazendo o Papai Noel distribuindo presentes sob árvores para aqueles que lhe escreveram cartas confiadas e desejosas. Mas como conseguir dar conta de entregá-los a todas as crianças do planeta? Indagação óbvia que “Operação Presente” procura responder divertidamente.
O filme começa tomado por perguntas sobre o papel do bom velhinho e com a retratação dos dias atuais onde a internet mobiliza adultos e crianças. A casa do Papai Noel já foi insistentemente procurada no Pólo Norte através do Google Earth e nunca fora encontrada, será que ela existe mesmo? É uma das várias boas tiradas iniciais feitas por uma menina. Arthur (dublado por James McAvoy), o filho caçula do Noel, é quem armazena cartas. Atrapalhado, poucos acreditam que ele possa suceder seu pai um dia, ainda mais disputando com um irmão disciplinado e adepto de tecnologia de ponta, escondendo de baixo das geleiras um programa de monitoramento universal que causaria inveja no pessoal do Pentágono.
De narrativa leve e coesa, esta obra dirigida por Sarah Smith levanta aspectos de um verdadeiro filme de Natal, buscando num conflito familiar uma fonte de reestruturação em serviço da data – é material Capriano no melhor estilo moral. No caso, não se trata de uma família visando resoluções financeiras, psicológicas ou sociais, a confusão acontece no próprio Pólo Norte. O ofício do velhinho de barbas brancas é herdado por gerações. Fazem parte dela o avô centenário aposentado que usava trenó e renas como transporte; seu filho que assumiu os trajes vermelhos, mas esse já está prestes a entregar o cargo ao primogênito, Steve. Este é diferenciado, ordenado, cumpridor de metas e planos, apresenta-se como se preparasse para uma batalha. Ele comanda uma nave quilométrica juntamente a milhões de elfos, para atender a demanda de pedidos no planeta numa só noite. Neste contexto está Arthur, quase invisível.
A animação não aponta perspectivas de riso fácil, embora lide com clichês. Poucos deverão realmente gargalhar com o projeto, porém é provável que todos – incluindo adultos – divirtam-se pela sugestão natalina dada no filme, uma vez priorizar a crença de seus protagonistas pela representação do Natal, um suspiro com os valores da época espalhados. Reside nesse âmbito uma crítica delineada a globalização, alcançando a família Noel, com os aparatos tecnológicos e uma Mamãe Noel viciada em internet. Parece que o sonho converteu-se em obrigação, perdendo o brilho tradicional, e isso é o grande tema que Sarah Smith conquista com seu projeto, ao propor um retorno à tradição valorativa do período, retomando o luzir e seu sentido. O ponto de partida dessa discussão é o esquecimento de uma menina na Inglaterra. Ela acordará e não verá seu presente enquanto outras crianças estarão comemorando. E quem se importará com isso sendo que quase 100% estarão satisfeitas? Ela é um número, um número desprezível, dada às estatísticas de Steve.
Concebido num estúdio famoso por realizar sucessos em stop motion como “A Fuga das Galinhas” e “Wallace & Gromit”, esse “Operação Presente” se diferencia graficamente. Somos transportados a uma aventura natalina, fundindo o passado e o futuro por um ideal – como bagagem, a nave e o trenó, tão distintos, mas com propósitos comuns. Ainda difunde-se um discurso solidário, amoroso e gentil. Tanto altruísmo pode fazer com que alguns torçam o nariz, é compreensível, afinal trata-se da essência do Natal, com lapsos de seu simbolismo e críticas metafóricas do mundo atual. Os personagens construídos fortalecem tais metáforas, cada um tem uma função muito bem definida, como numa empresa grande – exemplificando, o Elfo embalando presentes com fitas ou o próprio Papai Noel que encara tudo como uma anual missão a ser devidamente concluída. Assim, perde-se sua constituição representativa e a origem do significado, transtornando a valia dos marcantes atos natalinos.
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