domingo, 11 de dezembro de 2011

Proseando sobre... O Gato de Botas


O sucesso do gato de botas na série “Shrek” motivou um filme solo do personagem, contando suas origens e suas investidas românticas. A DreamWorks apostou e deu certo, constituiu um filme divertidíssimo com o gato ainda mais carismático e humorado. Aqueles impressionantes olhos grandes, redondos e piedosos escondem a habilidade de um caçador robusto empunhando espada, com um chapéu e calçando o famoso par de botas. Chris Miller de “Shrek Terceiro” é quem assumiu a direção, propondo uma trama antecedente o encontro com o ogro verde, tratando a infância do galã felino, o respeito pelo acolhimento de uma mulher num passado até uma traição que fez dele um legítimo fora da lei num meio western.

Os poucos 90 minutos englobam com energia uma narração sobre busca por redenção. Parte-se do pressuposto da dúvida conforme a idoneidade de seu protagonista, cometendo delitos e arrependendo-se graças a um golpe de sorte, ou melhor, a um gesto de heroísmo. Aí o estímulo ocasiona reviravolta e influi diretamente no ponto de partida do longa, o ovo Humpty Dumpty, um bullynado parceiro do gato de botas. Ambos cresceram juntos, no entanto seguiram caminhos opostos – muito bem explicados pelo roteiro – até uma conjunção fatídica anos depois, um tipo de acerto de contas, adentrando numa outra velha história: João e o Pé de Feijão. É típico da DreamWorks essas adaptações. Também estão nessa Jack & Jill.

Com aparatos técnicos competentes, e isso é visível em sua versão 3D abusando de profundidade, o diretor traz, mesmo que involuntariamente, resquícios de inspirações quase que inconscientes em suas boas cenas de ação: correria sobre telhados numa proximidade a “Ladrão de Casaca” até fugas em becos escuros. Há também a reverência a clássicos do faroeste, contexto habitado com clima e sotaque latino, estilo escolhido que possivelmente ganharia alguma espiada de gênios como John Ford e Sergio Leone.

O gato não está sozinho. Além de Humpty Dumpty, também pinta na história Kitty Pata-Mansa, uma gata habilidosa em furtos, atiçando duelos – inclusive dançando flamenco – e perturbando o felino ruivo galanteador. Os dois novos personagens não são avulsos, ambos ganham devida atenção dos roteiristas, dividindo espaço com o hilário protagonista, sem exceder piadas e desmotivando um provável romance carimbado. Todos emergem num ciclo cômico referente às suas espécies, apoiando-se em gags visuais – que ótima é a cena em que o gato de botas bebe leite num copo – e efeitos de câmera conciliadores ao ritmo ágil da narrativa.

Sustentado por um humor prático, “O Gato de Botas” está longe de ser uma das maiores animações do ano. Tem suas limitações narrativas, mas ganha pontos pelo saudoso designe de produção, reforçado pelas escolhas do diretor em trabalhar distintos tipos de filmagem, procurando explanar detalhes, valendo-se até de um slow motion contido, comparado a qualquer concepção de Zack Snyder. Miller não ousa alçar vôos mais altos, prende-se ao carisma natural de seus bons personagens e deixa rolar, imprimindo um charme característico relativo aos felídeos. É uma jornada em terra e nas alturas centrado no gato de botas atrás do ganso com os ovos de ouro, pensando que está riqueza possa enfim lhe libertar.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário