Tubarões famintos no cinema. Isso nos faz recordar de incontáveis filmes, especialmente de “Tubarão” do Spielberg, obra chocante dos anos 70. Ainda hoje ela funciona. Porém a prole de filmes semelhantes afundaram o gênero. Alguns até divertem, outros não temem a bizarrice e se orgulham de ser trash, como o recente “Piranha”. A onda 3D motivou a construção deste novo trabalho, afinal, que legal seria ver tubarões devorando pessoas através da tridimensionalidade. Ou não. Essa expectativa é deturpada, quase não vemos membros dilacerados e assistiremos pouco banho de sangue. Testemunhamos apenas água, movimentos e gritos. Que público o filme busca? Ahhh, mas é um filme da Disney, um filme de terror da Disney... assim até o Bruce de “Procurando Nemo” nos parece bem mais ameaçador.
Um grupo de jovens sai da cidade em direção ao lago em Louisiana a fim de passar um final de semana na casa de Sara (Sara Paxton). O clima descontraído de seu início rendendo piadas sobre os personagens converte-se em tensão quando, durante uma parada, deparam-se com dois homens do campo, arredios quanto a presença dos universitários. Após a primeira intriga, o grupo segue para o lago e iniciam a curtição até que sofrem o primeiro ataque. Trama usual. Priorizar os dois caipiras talvez teria sido bem mais curioso. A ótica dos habitantes locais, inclusive a desses dois, caras que provavelmente passam muito tempo conferindo reality shows, daria uma tonalidade nova a narrativa.
O lago de água salgada – sim, o filme faz questão de focar que isto é possível – onde vivem tubarões guarda outros segredos. Estes segredos responsabilizam-se por reviravoltas estapafúrdias, esperando da platéia um sobressalto e indignação. O roteiro de Will Hayes e Jesse Studenberg insiste em querer ser sério, amedrontar e horrorizar. Funcionaria, talvez, com crianças. Os espectadores já perderam a fé neste tipo de obra. Alguns querem ver carnificina, outros não esperam menos do que mulheres nuas. Isso é incitado, mas no final o diretor recorre ao bom comportamento. E mais, o longa prova da caridade e gentileza do grupo. Em cena estão jovens românticos e heróis. Num ato tornam-se primitivos, mas desejando vingança por um amor. Esqueceram? É da Disney.
Há ainda algo a se acrescentar. O melhor amigo do homem está presente, e não é preciso comentar muito para prever qual sua função dentro da trama. Eis o ser pensante no filme, o labrador. A saída ao tentar aproveitar alguma coisa no projeto é justamente o 3D. Não é uma exuberância, mas ele garante alguns sustos e closes interessantes. Só. O diretor David R. Ellis de “Premonição 2 e 4” prioriza mais a estética que o conteúdo. Os personagens pouco acrescentam, são figuras estereotipadas e marcadas pelo selo da produtora. Faltou eles ensaiarem alguma coreografia e começar a cantar. Já as máquinas assassinas sobressaem, fazem o que tem que fazer, devorar, sem que nós vejamos. E dizem que “Piranha 3D” é uma droga, ao menos dentro do que propõe, ele é bastante autêntico.
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