“Ervas Daninhas” é o mais novo trabalho de Alain Resnais, diretor francês ícone, um dos grandes nomes do cinema em atividade. Atualmente com 88 anos, o homem é um astro quando se trata em explorar a natureza humana e seus comportamentos. Para retratá-los, o diretor, ao longo de sua carreira, fez uso de várias técnicas, esboçando ações muito além de inusitadas para constituir seus personagens, atrevendo-se a instigar no espectador dúvidas a respeito do que está rolando em cena. Poucos fazem isso tão bem. Igualmente a alguns trabalhos anteriores, Resnais aplica essa indagação em “Ervas Daninhas”, atualmente nas locadoras, e num cenário parisiense, esboça o amor louco sobre personagens bem caracterizados segundo sua tradição, cujas ações incondizentes justificam a particularidade já consagrada do diretor e de certa forma, causa desconforto em seus espectadores. Louco na perspectiva do senso comum, o filme é uma aula de direção e de câmera, e explora sem qualquer delicadeza, mas com notável intensidade, o ser humano e suas ações.
O filme, naturalmente, utiliza de uma metáfora já denunciada no título: as ervas daninhas brotando repentinamente em lugares inesperados. Tal como elas, o amor, a curiosidade brota e aquece o coração. Em cena, uma dentista ruiva, Marguerite Muir (Sabine Azéma), após comprar sapatos tem a bolsa levada por um ladrão. Somos inseridos em sua mente, em suas reflexões, e é muito pouco provável que o espectador concorde com elas. Minutos depois, num estacionamento de um shopping, Georges Palet (André Dussollier), encontra a carteira da Srta. Muir e estranhamente encantado pela mulher, decide por conta própria descobrir quem é ela. Se desenvolve a partir desse estranho acontecimento um relacionamento conturbado, rodeado de condutas questionáveis e situações nada corriqueiras, atingindo ainda a esposa do protagonista, a polícia (um dos policiais é vivido pelo ótimo Mathieu Amalric) e os pacientes da dentista.
Observe que uma sensação estranha ao fim da projeção é algo comum. Resnais se especializou nisso. Se ele consegue o feito, é que seu objetivo com o filme fora conquistado. Não é para ser normal, que ser humano o é? E não é para ser comum, sua particularidade cinematográfica garantiu-lhe status de gênio. Situações estranhas, um clima nonsense e uma trilha amena garantem a “Ervas Daninhas” uma revisitação a suas importantes antigas obras. É aula de cinema enquanto técnica e linguagem. A forma escolhida para contar a história é arrastada, porém charmosa, e permite ainda um humor refinado diante toda a piração. A intenção ao menos é clara, falar de condutas triviais humanas por vezes inexplicáveis que acomete a todos. Em seus filmes, reproduz a realidade de maneira vulgar, mas não falsa. Resnais admite a noção de homem cujos propósitos nos são íntimos e igualmente assustadores. Georges Palet é um personagem complexo e nos revela como proferir um “eu te amo” tem sido cada vez mais fácil.
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