sábado, 18 de dezembro de 2010

Proseando sobre... Abraços Partidos

Três anos após filmar o ótimo “Volver”, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar retorna ao cinema com “Abraços Partidos”, trazendo novamente no elenco as espanholas Blanca Portillo e Penélope Cruz num filme sobre a fragilidade da alma diante perdas prematuras. O cineasta entende o cinema como um refúgio e como um espelho, detalhando temas do dia a dia sem pudores, com impressivas narrativas envolvendo tabus, radicando o desejo, tendo como planos de fundo cenários abarrotados de cores picantes somados a figurinos requintados e fotografias contrastadas em seu melhor estilo. Se uma de suas maiores características é favorecer o desenvolvimento de suas personagens femininas, nesse novo trabalho a história gira ao redor de um homem. 

Mateo Blanco é um ex-cineasta que após um acidente automobilístico perdeu a visão e a mulher que amava. Abandonando de vez o posto de realizador de filmes para seguir como roteirista, adota o pseudônimo Harry Caine. A história de Mateo nos é contada de maneira cronológica, opção de Almodóvar por mesclar personagens e a diferença considerável entre anos cujas primeiras lembranças nos leva ao início dos anos 90. Naturalmente, canções espanholas se exaltam à medida que as cenas se entrelaçam vinculando os personagens.

De início confuso, a resolução se dá graças a um incidente numa danceteria, onde o jovem Diego (Tamar Novas) desmaia, sendo socorrido mais tarde por Mateo. Episódio que incita as recordações do ex-diretor, seus amores antigos e trabalhos consagrados, bem como as razões que o levaram até ali. Mérito do ator Lluís Homar que transmite uma serenidade para os personagens Blanco/Caine ofuscando as preferências de Almodóvar, embora ainda conte com Penélope Cruz, sua musa absoluta, vivendo a charmosa atriz Lena, protagonista central de duas histórias da narrativa: o filme, e o filme dentro do filme. Uma brecha para o diretor denunciar sua adoração pelo cinema. E também por Penélope.

Ela é a causa indireta da trama envolta do desejo de dois homens, saliente no relacionamento que a atriz irá ter com a câmera do diretor desvendando-a e exibindo-a em beleza estética e artística, com gestos e tons de consumo da luxúria. O filme ganha forma pelas surpresas do roteiro, mas falha pelo excesso de explicações, algo incomum no cinema de Almodóvar. No entanto, é visualmente um esplêndido trabalho - e se é a visão a responsável pela desgraça de Mateo Blanco, a imagem morre junto ao amor pelo belo que o cineasta tanto era apaixonado, restando somente as lembranças do então Harry Caine. Lembra uma frase do próprio diretor, mesmo que esteja um pouco fora de contexto, é perfeitamente cabível: “afinal, o essencial é isso: sobreviver e manter a paixão”. E o que nos resta?

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá, Marcelo. Não resisti, tinha que comentar, pois cinema é algo que eu amo.

    Mais um filme de Pedro Almodóvar e esse tem uma história bem fascinante, sua resenha me deixou curiosa. Eu não sou fã da Penélope Cruz, mas talvez eu esteja subestimando a capacidade dela, quem sabe o filme não me abra uma outra visão. Sabe, as cores de Almodóvar, tão quentes e vibrantes, por si só dão algo memóravel em seus filmes, ficam impregnadas. É como na abertura de Blue Velvet (este é meu diretor favorito - David Lynch), aquelas tulipas coloridas ficaram na minha mente.

    T.s. Frank
    www.cafequenteesherlock.blogspot.com

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  3. Sou fã da Penelope '-'




    ----
    http://roxandsux.blogspot.com/

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  4. Penelope Cruz é fantástica!

    Com certeza seu trabalho engrandeceu muito esta obra.

    Seu blog está de parabéns!

    Visite o meu blog!

    www.gustavolincolnadm.blogspot.com

    Última postagem: Conheça a Clic Estágios

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