domingo, 2 de janeiro de 2011

Proseando sobre... A Rede Social


Nasceu para ser obra-prima. Alguns naturalmente irão tê-lo como filme predileto, até por falar de uma geração e de suas características. Marcado como um longa de futuro promissor – jamais será esquecido, mas copiado – este “A Rede Social”, potencialmente capaz de levar os principais prêmios do Oscar 2011, é um exercício de linguagem cinematográfica contagiante, feito por quem entende de cinema, no caso, David Fincher. E não espanta ver ao longo da projeção elementos dramáticos que muito se aproximam de obras anteriores do diretor, como “Zodíaco”, e exaltando uma composição menos filosófica, mas pragmática e real, fugindo de “O Curioso Caso de Benjamin Button”. É uma cinebiografia afiada cuja originalidade lhe engrandeceu.

Um dia o jovem Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) criou o thefacebook e foi acusado de várias coisas, entre elas por plágio. Sua criação lhe rendeu atenção na faculdade, depois de outras instituições próximas, logo dos Estados Unidos e anos após de todo o mundo. Como um vírus virtual, contaminou uma geração e agregou numa rede social, chamada de facebook, um novo ideal de interação prestando um novo conceito de identidade, e nova possibilidade de ser visto. Para tanto, claramente influenciado por estímulos exteriores – para citar, sua motivação pela frustração e a demasiada atenção subversiva de outros sobre seu projeto – o jovem ganhou o mundo e perdeu aqueles que ainda o consideravam como amigo, especialmente o personagem brasileiro, Eduardo Saverin (vivido pela promessa “Andrew Garfield”).

Bom é notar a personalidade de Zuckerberg e sua relação sempre – e isso é evidente – distante dos outros, como uma redoma intelectual inacessível pela realidade. Chama a atenção seus relacionamentos, entre eles com garotas fãs de seu feito. Eisenberg, excelente no papel, demonstra frieza excessiva e uma ausência de emoção a seu personagem que impossibilita o espectador sentir qualquer compaixão por ele e se impressionar com sua indiferença pessoal. Esse é outro feito benéfico do filme, cuja mão apurada de Fincher revela sem escrúpulos um universo nerd sem tantas piadas. Em contraponto a essa singularidade tão definida, Saverin surge como um tipo de fiel escudeiro do protagonista e mesmo que vise defender a honra do amigo, se percebe cada vez mais afastado e traído, como já denuncia as cenas na primeira metade com o tribunal.

O filme não trata restritamente da criação do facebook, mas de seu criador e felizmente possui recursos narrativos que não só contribuem para a fluidez da história. Essa é contada através de breves cenas no tribunal e suas explicações representadas – maneira que remete a desenvolvida por Danny Boyle em “Quem Quer Ser um Milionário?”. Trata da subjetividade de seus ótimos personagens, com destaque para a dupla mencionada e aos gêmeos Winklevoss dispostos a enfrentar Zuckerberg por ter roubado suas idéias. O drama é virtuoso, entra cena e sai cena e a pose do protagonista não se altera, embora gestos denunciem o quanto ele percebe as mudanças a sua volta e o que sua criação lhe rendeu.

David Fincher entrega um trabalho competente e originalíssimo, propósito difícil quando se trata de retratar biografias. Apoiado por uma produção precisa onde a montagem, a fotografia e a trilha se destacam, o diretor concebe um precioso projeto, mas que não é sua obra-prima, no entanto uma consolidação de sua eficiência por trás das câmeras e o quanto é importante para o cinema recente. E se tratando do mundo virtual, contexto o qual estamos cada vez mais inseridos, ele faz um filme definitivo baseado em alguém que verdadeiramente o viveu e sofreu prejuízos, embora tenha se tornado o bilionário mais jovem do mundo, tornou-se também um dos sujeitos mais solitários mesmo com seus milhares de amigos no facebook. 


P.S Texto dedicado a @CyCarol , @georgegxp , @lord_vaynard e @paulo_policani 

5 comentários:

  1. Eu assisti... O próprio Marc diz que o filme tem várias coisas nada a ver com a real história do Facebook. Inclusive no filme a razão dele criar o mesmo é o término do namoro.Na vida real, a garota se quer existe.

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  2. Aqui em BH, esse filme está passando somente em quatro cinemas, por quê? Simplesmente porque, de acordo com uma pesquisa que eu vi na tv outro dia, o Facebook atinge majoritariamente as classes A e B.

    O povão gosta mesmo é do orkut!!!

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  3. Ótima resenha, ótimo filme!!!

    Forte candidato ao Óscar...

    Parabéns pela resenha!!!

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  4. O filme realmente é ótimo. O que mais me chamou a atenção foi a linguagem do filme. Uma linguagem bem dinâmica e com diálogos inteligentes.
    Vai se dar muito bem no óscar com certeza!

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  5. Realmente legal o filme e seu post. Obrigado pela dedicatória.
    Se eu descobrir a ideia de alguem ou criar minha propria para ser bilionario eu compartilho com voces.
    Abraço
    @paulo_policani

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