quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Proseando sobre... Preciosa - Uma História de Esperança



Quando assistimos um filme como “Preciosa - Uma História de Esperança” percebemos que a maioria de nossos problemas, na verdade, não são tão grandes assim. Servindo de consolo, ou de mera inspiração, no final resta reflexão. E reflexão é justamente o que este indigesto filme de Lee Daniels irá provocar ao expor a vida de Claireece Jones Precious – a preciosa do título sugestivo a ironia de uma vida repleta de humilhações. Precious cresce sobre uma tempestade de violência física e emocional, submetida às agressões da mãe, violada sexualmente pelo pai, analfabeta, pobre e demasiada obesa. Anda à deriva, tomada por devaneios desejosos de fazer sucesso, ser reconhecida, olhada, admirada.
 
Ela é uma mulher que se perde quando se choca com fantasias, confundindo-se com programas televisivos em que se desloca em suas idealizações, ficções distantes e praticamente inalcançáveis, perdendo a cara de cinema Hollywoodiano para se aproximar da imagem projetando a realidade convencional. Sendo o cinema um espelho da vida, “Preciosa” reflete esperança, incomoda com a protagonista mergulhada na angústia do desprezo e do maltrato. São acasos que alcançam sua filha e sua recente nova gravidez. A atriz até então desconhecida Gabourey Sidibe, oferece uma performance fina a protagonista, mas quem rouba a cena é Mo'Nique, vivendo Mary, a mãe de Precious, uma das personagens mais grotescas dos últimos anos cujas infâmias lhe renderá um marco entre as interpretações antagonistas mais cruéis do cinema. Não só isso, a atriz garantiu seu nome na história do Oscar por melhor atriz coadjuvante.

 Lee Daniels tem em mãos um roteiro vigoroso de Geoffrey Fletcher, adaptado a partir do romance de Sapphire, que embora se entregue a nuances da história da personagem título, querendo talvez atenuar a experiência dos espectadores em assistir o filme, prova sua força no desenvolvimento de sua mensagem, sem jogar no colo do público uma solução heróica, e sim condições que possam fazer diferença. “O amor não fez nada por mim...” é uma das frases exaltadas durante a projeção definindo um pouco do que é o filme. Ácido, é merecedor de todos os elogios que recebeu ao tratar de um assunto tão amargo com tamanha autenticidade.

Quantas crianças passam por experiências semelhantes por aí e acabam tendo um destino semelhante? Essa representação, muitas vezes feita no cinema, em poucos momentos flertou com tantos assuntos como em “Preciosa”. O espectador comum deverá torcer o nariz, o cinéfilo encontrará um filme cujo tema ecoará por anos. O desprezo tão dolorido da protagonista nos acomete e quase nos obriga a senti-lo juntamente. Atualmente nas locadoras, deve ser visto. No elenco ainda estão Mariah Carey e Lenny Kravitz quase irreconhecíveis, e Paula Patton chamando a atenção como a professora Rain. O filme, portanto, é um retrato sentido de vítimas cujas válvulas de escape são seus próprios sonhos. Sonhar ainda não custa nada.  


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