sábado, 30 de outubro de 2010

Proseando sobre... Insolação


A cineasta Daniela Thomas famosa por seu trabalho na direção de “Linha de Passe” e por participar do roteiro de “Abril Despedaçado” assume a direção ao lado do famoso diretor de teatro Felipe Hirsch nesse dramalhão intitulado “Insolação” que conta sobre o vazio existencial e amoroso.  Nome estranho, nada atrativo. Se tem gente que não gosta de cinema nacional, com esse título então!? Já ouvi gente dizer que os brasileiros não sabem dar nome à seus filmes. Discordo em partes. Esse projeto ainda conta com um elenco de respeito encabeçado por Paulo José, e ainda Simone Spoladore, o talentosíssimo Leonardo Medeiros e as ótimas Maria Luisa Mendonça e Leandra Leal.

O filme fala de solidão – desamparo, desejo inalcançável; essa última palavra deve ser destacada. Fala de amor de um jeito todo poético e de sua inacessibilidade através dos olhos de personagens bem compostos, incluindo, para pasmar, o almejo de uma criança frente a sua primeira paixão já bem crescidinha. O roteiro busca acessar a aspiração apaixonada e utiliza até uma ninfomaníaca entre outros tipos sobrevivendo a frustrações amorosas num litígio de amor mal resolvido. A solidão domina a tela, observe que a cidade – com locações em Brasília – é erma e as formas de vida se dão apenas com a presença dos personagens centrais.

O roteiro é escrito por Will Eno e Sam Lipsyte e os caras não dispensam a alegoria filosófica, presente logo em seu início quando o personagem Andrei (Paulo José) interage com o público levantando questões sobre a vida, cena fechada interrompida quando o leva até outro lugar com livros de baixo do braço entre eles uma introdução da literatura Russa. É o indicativo de onde a história toda foi inspirada. Ali ideais são levantados enlaçando os poucos interessados em ouvi-lo. Desenrola aí um discurso sobre o amor atingindo seus ouvintes incautos como uma flecha propensa a provocar e incomodar.

Não é um filme para todos os gostos. Daniela Thomas e Felipe Hirsch entregam uma constituição que cairia bem enquanto literatura, mas aqui com a oportunidade de fotografar. Nesse quesito o diretor de fotografia Mauro Pinheiro Jr. se sobressai. A história reúne o cotidiano dos personagens recortando cenas e misturando-as. O calor predominante e castigador de Brasília recai sobre esses solitários seres transitando a procura do amor confundindo sua afeição carente com insolação. Provém daí o título, como um símbolo em meio a tantos outros que apóiam a estrutura dramática desse filosófico drama pessoal o qual exercita a criatividade e a atenção de seus espectadores diante algo diferente, mas por vezes – aliás, muitas vezes – longínquo tal como o amor. 

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