terça-feira, 26 de outubro de 2010

Proseando sobre... Ela é Demais Pra Mim


Algumas vezes assistimos filmes sabendo que em uma semana não iremos mais lembrar. É só distração, passatempo descompromissado. Com sorte, eles ainda conseguem nos tirar algumas risadas. Essas coisas costumam acontecer com comédias românticas, - veja, não estou desmerecendo - há algumas boas no mercado, é verdade. Mas a maioria, só de lermos o título acaba sendo inevitável não torcermos o nariz. Claro que isso não é exclusivo dessas comédias, há ainda aquelas pastelões, terríveis, às quais nos flagramos rindo de nós mesmos. Sim, isso é comum a todos os gêneros. Felizmente, há aqueles que sobressaem, e embora simples, impressionam. Exceções à regra.

“Ela é Demais Pra Mim” é um desses exemplos, uma pérola valiosa que merece ser reconhecida. Um cara conhece a mocinha e situações irão complicar a vida dos dois. Isso poderia ser uma sinopse de vários filmes e não é diferente aqui, no entanto, a surpresa começa com a musa da história, uma loira que atrai todos os olhares, a advogada Molly, vivida por Alice Eve (“Território Restrito”). Ela é um sucesso com os homens, leva uma vida muito mais que confortável e está em ascensão. No aeroporto, conhece Kirk (Jay Baruchel de “O Aprendiz de Feiticeiro”), um segurança sem grandes ambições, choroso pelo último relacionamento frustrado. Ele encontra o iPod da loira e, após uma ligação, é convidado a levar o aparelho até ela numa festa em um museu. Aí as coisas começam a acontecer. Um flerte, ainda mais com uma mulher como Molly, era algo impensável para Kirk e seus amigos. Considerada nota 10, o jovem se via como um mero 5 e tal avaliação era consentida por seus amigos, sobretudo por Stainer (T.J. Miller) que tem uma teoria sobre essas combinações numéricas.

O protagonista, desmotivado, refuta as perspectivas de Molly, interessada no rapaz e crente quanto à possibilidade de ser feliz com um homem simples. O roteiro ficou a cargo da dupla Sean Anders e John Morris, os caras que escreveram “Sex Drive”. Eles realizam um trabalho diferenciado tal como alguns exemplos recentes: “Ligeiramente Grávidos” e “Eu te Amo, Cara”. São filmes que brincam com seus personagens enquanto narra dramas naturais de jovens adultos com toda autenticidade e personalidade. “Ela é Demais Pra Mim” fala muito mais do que de relacionamento, se escora na idealização do futuro e nas inseguranças de caras comuns, trazendo notoriedade cativante através da caracterização de seus bem desenvolvidos personagens facilitando identificações.

É o tipo de filme que tem êxito pela simplicidade e cumplicidade com o espectador que acompanha uma verdadeira jornada sexual através das infelicidades de Kirk, preso num passado cômodo e quase incapaz de encarar a novidade e aceitar algo considerado pelo próprio absurdo acontecer em sua pacata e humilhante - socialmente, profissionalmente e entre os familiares - vida. O que torna alguém perfeito irá mover o filme e a cobiça desse ideal irá empurrar uma divertida história de medo, insegurança, ansiedade e confiança para o colo do espectador. Muito embora traga alguns elementos típicos de comédias clichês do gênero, às vezes em tom apelativo, não perde o brilho de sua originalidade.

O diretor Jim Field Smith tem em mãos atores em sintonia, colocando a mulher como referência e desejo no centro e os homens sem embates grotescos propensos a transformar a mocinha em mero troféu. Mérito também do diretor em não subestimar a inteligência do público e de seus personagens. Jay Baruchel parece uma versão atual de Justin Long em algumas cenas. Alice Eve convence e Lindsay Sloane, como a ex-namorada de Kirk, merece atenção. Ao final, deverá restar um sorriso no rosto do público e isso é o bastante.  



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