domingo, 17 de outubro de 2010

Proseando sobre... Tropa de Elite 2


Capitão Nascimento agora é Tenente Coronel
Não tem jeito. O capitão Nascimento – que agora é Tenente Coronel Nascimento – deixou de ser apenas um personagem do cinema para se tornar em definitivo um ícone da ficção nacional. Seus feitos tomaram uma dimensão tão grande que quando aparece em cena – enchendo a tela com o talento de Wagner Moura – é possível ouvir suspiros de seus fãs quando este diz alguma frase de efeito ou resolve algum problema com violência. “Tropa de Elite 2” vem surpreender. Se é tão bom ou melhor que o primeiro, é discutível. No entanto, tem elementos de sobra para sobressair-se e reverenciar-se como o melhor filme nacional da atualidade, e um dos grandes filmes do cinema do ano.  

Novas descobertas nesse segundo filme
A violência nessa segunda parte diminui o ritmo, dando espaço a uma nova discussão – a um novo inimigo – que, se não é uma novidade para o público ciente da política nacional e a corrupção envolvendo assustadora parte de seus membros, ressalta sua veiculação através de um roteiro astuto e facetado, lançando informações ao público, novamente auxiliado por uma narração em off do próprio Coronel Nascimento – igualmente ao primeiro filme – contando sobre as novas condições que está inserido 15 anos após aos acontecimentos do primeiro longa, quando ainda era do BOPE.

Logo depois de uma missão mal sucedida em Bangu I, Nascimento acabou destituído do BOPE pelo governo e logo promovido subsecretário de segurança do Rio de Janeiro – como o personagem diz, ele caiu para cima. É o cara que pensa as ações tendo contato com câmeras e escutas de toda a cidade. Nesse novo contexto, o então Tenente Coronel passa a ter uma visão que não só restrita aos embates nas favelas, – ele põe fim ao tráfico de drogas - mas descobre os caminhos que resultam nelas, reconhecendo um problema ainda mais severo em relação ao tráfico combatente, os grandes mandatários, as milícias formadas agregando policiais, políticos mais do que corruptos e a mídia. Para piorar, as eleições estão próximas e os envolvidos com ela atônitos.

Nascimento ao lado do filho, Rafael (Pedro Van Held)
Nascimento é o mesmo, tem toda a vitalidade imponente e o olhar cada vez mais descrente no final de cada dia. Igual a ele, André Matias (André Ramiro) se revela ríspido e crucial quando empunha uma arma e parte para uma nova missão, distribuindo tiros com uma expressão centrada e grave, abandonando aquele personagem que fizera no outro filme. O diretor José Padilha juntamente ao seu parceiro roteirista Bráulio Mantovani inserem um ideal nessa perspectiva fundamentada dos caveiras de irem a campo e resolverem sem demora os assuntos mesmo custando sangue: os direitos humanos. E parece piada que, o representante desses direitos, o ativista deputado Fraga (Irandhir Santos), oponente a regra do BOPE, ainda é o novo marido da ex esposa do Tenente Coronel. As relações que já eram estreitas inflamam e hostilizam.

José Padilha cria um filme inteligente e sóbrio a respeito da política e dos crimes envolvendo-as. Ainda que beire a um pragmatismo a cerca da resolução com violência, “Tropa de Elite 2” mostra o outro lado, com política podendo ser resolvida com política – e a fineza de como isso chega ao público atordoa pela linguagem rudimentada fazendo o espectador pensar e se interessar por um país melhor. E claro, não faltarão cenas antológicas, sobretudo protagonizadas por Wagner Moura que é um monstro atuando, fazendo recordar bordões que o primeiro filme deixou como herança. É um filme para todos os gostos, necessário em sua proclamação mesmo carente de resoluções, onde um fio de esperança flerta com sacrifícios e toque em feridas apenas para provocar (o que é uma façanha grandiosa) – e vendo vidas inocentes serem tiradas, tais feitos não irão parecer tão absurdos, mas necessários e impugnados pela honra e boa vontade de um país próximo de escolher seu novo presidente.

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