quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Proseando sobre... O Fim da Escuridão

 
O retorno de Mel Gibson ao protagonismo prova que seu talento enquanto ator, ao longo desses vários anos fora das telonas, não se perdeu. Seu papel neste “O Fim da Escuridão” é um convite ao estilo que mais seduz Gibson, a vingança.

E se em muitos de seus trabalhos anteriores este ato se revela um extravasamento de seu deleite somando ainda cenas de violência chocantes nesta sua nova empreitada, realizada pelo veterano neozelandês Martin Campbell, responsável por dois filmes do 007 (“Contra GoldenEye” e “Cassino Royale”) o ator pode arcar com cenas cruas de violência sem muitas inibições e lágrimas. O espaço para lamentações de um longa com potencial dramático encurta sentimentalismo para propor uma ação instável, enigmática, partindo de um contexto que envolve mistérios de uma corporação relacionada a altos cargos políticos no governo norte americano.
Bojana Novakovic vive a filha de Gibson
O roteiro baseado numa série dirigida pelo próprio Campbell procura explorar com seriedade a ambição do personagem Craven em descobrir os responsáveis pelo assassinato de sua filha, Emma (Bojana Novakovic). A sequência inicial é bastante breve, apresentando o relacionamento entre pai e filha, sugestionando a ansiedade de Craven pretendendo se reaproximar da moça. Apesar dos esforços, a jovem se mantém na defensiva, procurando coragem para dizer algo ao pai a respeito de sua aparência enferma.
Gibson quer vingança
A apresentação dos personagens é bastante eficaz, com pequenos gestos dizendo muito mais sobre suas personalidades do que seus comportamentos. Em especial, o personagem de Gibson, Craven, é quase incapaz de dar algum sorriso, esconde sua arma e distintivo na cozinha, facilitando chamadas urgenciais. Já Ray Winstone vive Jedburgh, uma incógnita aos espectadores, incompreensível em suas ações, que acaba por ganhar a simpatia do público por sua sutileza mórbida e obscura.

Em meio a um emaranhado de dúvidas, suas soluções arrematam uma crítica justa à política e seus vícios de poder. A direção artística assombra logo no início com a imagem da lua refletida na água iluminando corpos boiando à deriva. O filme não deixa de buscar inspirações metafísicas, com Mel Gibson interagindo com o espírito da filha em vários momentos do longa, tendo seu ápice no ato em que um corredor se transforma numa passagem para o paraíso, parecidíssimo a cena final do ótimo “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”. Arrebatador e assustador, este “O fim da escuridão” não apela para o absurdo, mas levanta hipóteses questionáveis sobre sanidade e espiritismo, com Mel Gibson em forma voltando estar a frente de um projeto desempenhando um grande papel como há muito não fazia. 


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