quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Proseando sobre... Vidas que se Cruzam


O diretor Alejandro González Iñárritu precisa do roteirista Guillermo Arriaga e vice versa. Os dois se envolveram em discussões referentes à autoria de seus longas-metragens e finalizaram uma parceria poderosa resultante de filmes como “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”. Arriaga agora, além de roteirizar, também dirige e arrisca realizar sua nova história, “Vidas que se Cruzam”, que detém a característica natural de seus outros roteiros: a cronologia envolvendo todos os personagens. Mas há uma carência nessa transposição de seu atual trabalho: a ingenuidade e falta de intimidade no desenvolvimento dos protagonistas que são bastante esquemáticos, sem muita profundidade, dificultando o entendimento a respeito do que eles realmente desejam fazer. 

Charlize Theron é a estrela do filme
O salto no tempo dessa vez atinge anos, resolução que se faz no segundo ato do filme que traz no elenco, como grande estrela, a bela Charlize Theron vivendo uma personagem ambígua, que ao mesmo tempo em que controla um fino restaurante, também se aventura na cama diariamente com homens diferentes e desconhecidos. Ela é o ponto de ligação de duas histórias que se cruzam, unindo também o México e os Estados Unidos. Em outra instância, a veterana de beleza preservada Kim Basinger tem encontros com Nick (Joaquim de Almeida) às escondidas num trailer num deserto deixando em casa seu marido e filhos. É nesse retiro que, vislumbrado por um close da explosão desse trailer com os amantes dentro logo na primeira cena, duas famílias acabam enlaçadas pela vergonha durante o luto pelas mortes, especialmente as crianças. 

Basinger carrega um drama particular
Bem fotografado e cheio de mistérios, Vidas que se Cruzam” apresenta uma intrigante história desenrolada com naturalidade, mas que falha ao não extrair suposições dos motivos comportamentais de seus vários personagens. Aí Iñárritu faz muita falta. Sylvia (Theron) é a personagem melhor trabalhada, com atitudes atemporais, resquícios de sua angústia, encontrando solução em sua dor como é também na dor que ela encontra memórias. Íntimo do ponto de vista estético, as louras almejam o desejo do homem por suas belezas. Enquanto Sylvia não dificulta o acesso ao sexo daqueles que investem nela, a personagem de Basinger rejeita seu corpo por ter sido obrigada a extrair o seio por conta de um câncer. Os horrores pessoais se confrontam e fundam um elo que se esclarece ao longo dessa bela narrativa que sente falta de uma direção habilidosa, capaz de elevar o filme a um estudo de personagem bem mais intenso.  


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